quarta-feira, 28 de março de 2018

MINHA LEITURA DE AUGUSTO CURY

Augusto Cury é, provavelmente, o segundo autor brasileiro mais lido em âmbito nacional – atrás de Paulo Coelho. Esse dado não pressupõe que haja muitos leitores no país, cujo deficiente de leitura aumentou consideravelmente com a massificação de computadores e celulares.
Do campeão de venda acima citado, consegui chegar ao fim de O alquimista, um livro muito aquém da crítica. Da extensa obra de Augusto Cury, adquiri dois títulos: Inteligência Multifocal e Ansiedade (como enfrentar o mal do século). O primeiro fui obrigado a abandonar já nas primeiras páginas, e o segundo leio apenas para destacar as passagens em que o autor, não raro, expressa sua imodéstia ou seu blefe pseudocientífico.
Em cada página de seu livro é possível destacar uma referência às próprias teorias, seja a da Inteligência Multifocal, seja a da Síndrome do Pensamento Acelerado. Ele considera tal síndrome como o “mal do século”, a despeito do século contar tão somente com 15 anos em sua primeira edição. Com frequência, para fazer valer suas ideias, escreve que grandes pensadores e cientistas estão equivocados:

O processo de construção de pensamentos e todas as suas implicações psicológicas e sociológicas não foram estudados sistematicamente por brilhantes pensadores como Freud, Jung, Roger, Skinner, Piaget, Vygotsky, Paulo Freire, Nietzsche, Jean-Paul Sartre, Hegel, Kant, Descartes, entre outros (p. 31).

Líderes espirituais, políticos, juristas, médicos comentem erros seriíssimos porque creem que o pensamento é instrumento da verdade (p. 42).

Neurologistas, psiquiatras, psicólogos e psicopedagogos, ao observar crianças e adolescentes agitados, inquietos, com dificuldade de concentração e rebeldes a normas sociais, chegam a diagnósticos errados, atribuindo tais comportamentos ao transtorno de déficit de atenção ou hiperatividade, quando a grande maioria desses pacientes é vítima da Síndrome do Pensamento Acelerado (p. 46).

O blefe pseudocientífico de Cury consiste num misto de tautologia e paráfrase de ideias já existentes, como nos excertos abaixo:

Tudo o que mais detestamos ou rejeitamos será registrado com maior poder, formando janelas traumáticas, que denomino killer (p. 31).

Estamos na era do conhecimento, da democratização da informação, mas nunca produzimos tantos repetidores de informações, em vez de pensadores (p. 33).

A construção de pensamento não é unifocal, mas multifocal, não dependendo apenas da vontade consciente, ou seja, do Eu, mas de fenômenos inconscientes (p. 35).

... o primeiro ato do teatro psíquico ocorre em milésimos de segundo e não através da atuação do Eu, mas através de dois atores inconscientes, o gatilho e as janelas da memória (p. 40).

           

            Com o objetivo específico de destacar outras passagens do livro, que justifiquem o culto a si mesmo e os disparates de seu autor, continuarei a leitura de Ansiedade. Farei um esforço para chegar à última página e reescrever este texto posteriormente. Não é pretensão desmascarar o autor em pauta, coisa que outros mais capacitados não conseguiram com uma crítica mais elaborada. Preocupa-me, todavia, a baixa qualidade da leitura de meus compatriotas.  

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