Esta tarde chuviscosa e longa, depois da
sesta, de um trabalho de marcenaria e do banho, propicia-me um momento adequado
para escrever algo. Não basta o barulho da chuva como estimulante, o drink é
fundamental para me indicar a “toca do coelho”.
A última expressão acima não significa
que saio da realidade, para mergulhar feito Alice ao encontro de uma alegoria.
Minha condição não é a de um personagem, o que me impõe tomar as rédeas da elocução.
É exatamente isso que faço neste momento.
O Rincão dos Machado, costumo dizer às
pessoas com quem me relaciono na cidade, representa meu cantinho telúrico, de
uma poesia rude e delicada ao mesmo tempo. Rude como a vida no âmbito rural,
delicada como as boninas que florescem no campo. Aqui encontro o silêncio (tão
precioso aos indivíduos contemplativos), às vezes interrompido pelo canto dos
pássaros, pelo volume do rádio ligado na cozinha, ou pelo som da chuva. Aqui
encontro a simplicidade, tão agradável ao meu espírito. Aqui vivo a liberdade,
depois de tantas dependências e enleios (que me fizeram penar anos e anos). Aqui
meu pai e meu irmão também vivem livres, trabalham bastante é verdade, mas são
donos de seus destinos.
A chuva que cai continuamente provoca um
aumento no fluxo de água do rio Rosário, encobrindo a ponte que nos leva à
cidade. Somos obrigados a dar uma volta maior, caso decidirmos experimentar as
benesses da civilização. O lamentável é que as estradas continuam em péssimo
estado, malgrado as promessas do prefeito.
A tarde se foi, uma vez que as duas
janelas da sala onde me encontro desapareceram do meu campo visual. A noite
chega previsível, ainda mais silenciosa que a tarde. Apenas o coro dos sapos me
chama a atenção (ao sair lá fora por um motivo óbvio). O açude está em festa.
Na conclusão desta crônica, para manter
a coerência textual, devo retomar algo expresso em sua introdução. Dessa forma,
digo que o drink estava ótimo. Pouco poético, mas autêntico como sói ocorrer ao
realista, que toma a liberdade de colocar
o ponto final e pronto.
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