sábado, 29 de outubro de 2016

TEMPO DE PITANGA

          

    
      O ano demorava mais a passar ao longo da minha infância, marcado por ciclos sazonais – reconhecidos pelas frutas que davam em volta de casa, no campo e mata do Rincão dos Machado.
        O ano iniciava-se com a melancia e o melão, tão apreciados à sombra do cinamomo. Entre março e abril, a natureza produzia goiaba do campo e ariticum (foi uma decepção saber mais tarde o nome correto dessas frutas silvestres: feijoa e araticum). Logo depois, vinha a vergamota, consumida ainda verde. Depois da geada, ela ficava mais doce (como a laranja).
         A próxima estação, profusa em flores, produzia a pitanga. Nas cores laranja, vermelha e preta. Eram demasiadamente doces as pitangas daquele tempo. Meus lábios tingiam-se com o seu suco dulcíssimo.
     Minha concepção do tempo mudou, mudei também. A impressão é de que o ano passa mais depressa agora. O sabiá, todavia, continua a cantar nas pitangueiras da redondeza, e estas continuam a produzir seus frutos coloridos e doces.
        Nesta manhã, fui ver meu irmão plantar soja com o trator (plantio direto). Passei por um bosque de pitangueiras no retorno, deliciando-me com as mais maduras. 

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