O ano demorava mais a passar ao longo da minha infância, marcado por ciclos sazonais – reconhecidos pelas frutas que davam em volta de casa, no campo e mata do Rincão dos Machado.
O ano iniciava-se com a melancia e o
melão, tão apreciados à sombra do cinamomo. Entre março e abril, a natureza
produzia goiaba do campo e ariticum (foi uma decepção saber mais tarde o nome
correto dessas frutas silvestres: feijoa e araticum). Logo depois, vinha a
vergamota, consumida ainda verde. Depois da geada, ela ficava mais doce (como a
laranja).
A
próxima estação, profusa em flores, produzia a pitanga. Nas cores laranja,
vermelha e preta. Eram demasiadamente doces as pitangas daquele tempo. Meus
lábios tingiam-se com o seu suco dulcíssimo.
Minha concepção do tempo mudou, mudei
também. A impressão é de que o ano passa mais depressa agora. O sabiá, todavia,
continua a cantar nas pitangueiras da redondeza, e estas continuam a produzir
seus frutos coloridos e doces.
Nesta manhã, fui ver meu irmão plantar
soja com o trator (plantio direto). Passei por um bosque de pitangueiras no
retorno, deliciando-me com as mais maduras.
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