As redes sociais,
como bem avaliou Umberto Eco, prestam-se para dar voz a uma “legião de imbecis”,
pessoas que, em princípio, não sabem (e não conseguem) processar um grande
número de informações veiculado a todo momento. Todavia, tal dificuldade não as
impede de efetivar a enunciação.
Uma dessas informações, por exemplo,
dá conta do batismo de Jair Bolsonaro nas águas do rio Jordão, em Israel. A
imagem do rito cristão (evangélico) é bastante clara, apresentando alguns
homens em túnicas brancas dentro do rio. Entre eles, o deputado e o pastor
Everaldo (este na função de João Batista).
O contexto religioso só se esclarece
sob a leitura, a fortiori, do
contexto político. Mais que ser pastor humilde (sic) da Assembleia de Deus,
Everaldo Dias Pereira é presidente do Partido Social Cristão (PSC). A
propósito, o assembleiano foi candidato ao cargo de Presidente da República nas
eleições de 2014 (obtendo 0,75% dos votos).
Esse batizado excêntrico é uma
condição para a candidatura de Bolsonaro à presidência do Brasil nas próximas
eleições. O PSC, dessa forma efetiva, passa a reunir religião e política,
mistura que sói ocorrer em países islâmicos, onde o sistema de governo predominante
é a teocracia, e o fundamentalismo,
uma tendência social.
Toda aliança político-religiosa vem
na contramão da laicidade, que passou a caracterizar o Estado moderno nos últimos séculos. Ademais, recalcitra contra o avanço da secularização no âmbito da nossa
sociedade ocidental, processo que separa definitivamente as coisas terrenas
das espirituais.
O ato em que foram protagonistas os
homens acima mencionados se reveste de uma simbologia cristã que denega a virtude
cívica, de natureza republicana. Por que o batismo se realizou em Israel (tão
distante da pátria de ambos)? Nisso a religião e a política se separam de uma
forma intempestiva – para se reencontrar logo adiante.
Os enunciadores nas redes não aludem
a nada disso. Eles se limitam ao escárnio ignóbil ou à ovação personalista.
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