segunda-feira, 16 de maio de 2016

(RE)BATISMO DE BOLSONARO

         As redes sociais, como bem avaliou Umberto Eco, prestam-se para dar voz a uma “legião de imbecis”, pessoas que, em princípio, não sabem (e não conseguem) processar um grande número de informações veiculado a todo momento. Todavia, tal dificuldade não as impede de efetivar a enunciação.
         Uma dessas informações, por exemplo, dá conta do batismo de Jair Bolsonaro nas águas do rio Jordão, em Israel. A imagem do rito cristão (evangélico) é bastante clara, apresentando alguns homens em túnicas brancas dentro do rio. Entre eles, o deputado e o pastor Everaldo (este na função de João Batista).
          O contexto religioso só se esclarece sob a leitura, a fortiori, do contexto político. Mais que ser pastor humilde (sic) da Assembleia de Deus, Everaldo Dias Pereira é presidente do Partido Social Cristão (PSC). A propósito, o assembleiano foi candidato ao cargo de Presidente da República nas eleições de 2014 (obtendo 0,75% dos votos).
        Esse batizado excêntrico é uma condição para a candidatura de Bolsonaro à presidência do Brasil nas próximas eleições. O PSC, dessa forma efetiva, passa a reunir religião e política, mistura que sói ocorrer em países islâmicos, onde o sistema de governo predominante é a teocracia, e o fundamentalismo, uma tendência social.
       Toda aliança político-religiosa vem na contramão da laicidade, que passou a caracterizar o Estado moderno nos últimos séculos. Ademais, recalcitra contra o avanço da secularização no âmbito da nossa sociedade ocidental, processo que separa definitivamente as coisas terrenas das espirituais.
         O ato em que foram protagonistas os homens acima mencionados se reveste de uma simbologia cristã que denega a virtude cívica, de natureza republicana. Por que o batismo se realizou em Israel (tão distante da pátria de ambos)? Nisso a religião e a política se separam de uma forma intempestiva – para se reencontrar logo adiante.
           Os enunciadores nas redes não aludem a nada disso. Eles se limitam ao escárnio ignóbil ou à ovação personalista. 

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