segunda-feira, 4 de abril de 2016

FURÚNCULO(S)

A metáfora do iceberg não é a mais adequada para significar a crise política no Brasil. A massa de gelo flutuante é desconhecida do vulgo brasileiro, que já conhece muito bem uma outra, a da lama. Minha originalidade, assim, fez-se água. 
No lugar de iceberg, outros termos se encaixam para ilustrar o discurso "num âmbito de significação que não é o seu" (segundo Mattoso Câmara). 
Agora me ocorre esta mais nojenta: furúnculo. Um grande furúnculo sob a pele do Estado. O impeachment é a pontinha amarelada, que se sobressai no centro de uma intumescência vermelha. 
"Apear" Dilma Rousseff do poder executivo é extrair a ponta purulenta. Não irá adiantar, na medida em que quase toda a podridão persiste aumentando de tamanho, corroendo o tecido em volta. 
Uma reforma política que não extirpar o furúnculo por inteiro será incompleta. Atrás da presidente, preso por liames de pus, vem seu partido, o PT. Em seguida, Temer e seu partido, o PMDB. Os partidos políticos (com exceção de alguns "nanicos") constituem a grande parte do furúnculo. 
Tenho minhas dúvidas se o Legislativo também se junta ao grande furúnculo ou compõe um furúnculo menor.
E o Judiciário? Uma ferida à parte? Ou a tenaz extraordinária que removerá o carnegão? 
O mais doído é que o órgão vivo em que se aloja o mal é a própria sociedade brasileira. 

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