segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

SPOTLIGHT


O Oscar premiou Spotlight - Segredos Revelados como melhor filme, desbancando outros mais favoritos como A grande aposta e Regresso
O filme é baseado em uma história real, envolvendo um grupo de jornalistas em Boston que reúne milhares de documentos capazes de provar diversos casos de abuso de crianças, causados por padres católicos.
Esse tema é apenas aludido superficialmente em minhas Considerações neoateístas, que irá para editoração em março. 
O cinema mexe com uma das podridões morais que emerge dos subterrâneos do Vaticano, ainda encoberta pelo discurso bonzinho de seu arauto-mor, o papa Francisco. 

sábado, 27 de fevereiro de 2016

BASE NACIONAL CURRICULAR COMUM

O Ministério da Educação é tendenciosamente ideológico ao propor mudanças na Base Nacional Curricular Comum, que deverá viger a partir de junho deste ano. Suas interferências na educação básica são cada vez mais desastrosas, não se excluindo como uma das causas do fracasso do ensino básico no país. 
A proposta de eliminar a literatura portuguesa do currículo até que passa, malgrado a impossibilidade de ser ensinada a literatura informativa e o barroco sem falar na literatura de Portugal. O maneirismo, por exemplo, remete a figura paradigmática de Camões. À exceção da literatura brasileira, nenhuma outra mais, que ficariam destinadas aos estudos superiores. 
Não posso admitir a pouca importância dada à História Universal, em prol da história nativa e africana. Não posso admitir a pouca importância dada à Gramática no ensino de linguística. Como saber sobre a evolução da nossa civilização, excluindo a Grécia, por exemplo, onde a gramática constituía uma das três disciplinas humanísticas?
A história dos indígenas, a história dos africanos e outras histórias seriam estudadas nos cursos superiores (conforme a sugestão acima em relação à literatura portuguesa e outras literaturas). 
O ensino de literatura nacional ganhará mais tempos para as expressões regionalistas, mais próximas da vida do aluno. 
Espero que o MEC acolha algumas das mais de 10 milhões de sugestões até março, quando se encerra o período de discussão para a implantação da BNCC. 

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

ÚLTIMO ARTIGO DE OPINIÃO DE ECO

Estou cada vez mais irritado com uma expressão com a qual me deparo em relatos parlamentares, entrevistas, artigos de jornal e afins.
As pessoas dizem que "cometeram um erro", quando na verdade o que deveriam dizer é que cometeram um crime. Por exemplo, "eu posso ter cometido erros no passado, mas agora vou me dedicar a trabalho voluntário". Ou "responderei à Justiça caso tenha cometido um erro". Ou um jornalista escreverá que certa pessoa "cometeu um erro", mas deveríamos perdoá-la.
Tenho o péssimo hábito de consultar um dicionário sempre que desejo entender o significado pleno de uma palavra. Um "erro", segundo o "Webster's New World College Dictionary", é uma "falha de entendimento, percepção, interpretação" ou "uma ideia, resposta, ato, etc., que está errada; (uma) falha".
Tendo por base essa definição, me parece claro que aqueles que "cometem erros" o fazem de modo não intencional. O contador que faz um cálculo errado comete um erro, assim como o chef que coloca acidentalmente um ingrediente errado em um prato favorito, ou o médico que erra no diagnóstico de um paciente. Em cada caso, a pessoa tinha a firme intenção de fazer a coisa certa mas não foi bem-sucedida, e todas inicialmente não estavam cientes de seus erros.
Mas com extrema frequência, atualmente são criminosos e homicidas – pessoas que praticam extorsão e aceitam propina, fazem uso ilícito dos cartões de créditos de outros, aplicam golpes em pessoas vulneráveis e ingênuas, até aquelas que matam suas avós com machados ou jogam ácido na face de sua ex-mulher– que são descritos como tendo "cometido um erro".
É claro, essas pessoas não simplesmente cometeram erros. Elas fizeram o que sabiam ser contra a lei e a moralidade pública. Elas cometeram um crime, dizendo claramente. Em termos religiosos, elas "pecaram", o que significa que agiram errado de forma intencional, mesmo que aqueles que cruzaram um sinal vermelho cometam uma ofensa venial, e aqueles que matam suas avós cometam uma mortal.
Descrever conhecidos malfeitores como tendo apenas cometido "erros" é um eufemismo despudorado que atenua a responsabilidade deles por suas ações, como se fossem crianças que somaram descuidadamente dois mais dois para chegar a cinco. É criminoso chamar um crime evidente de "erro".
(O texto acima foi produzido por Umberto Eco para o site UOL. Identifiquei-me com ele no quesito de "consultar um dicionário sempre que desejo entender o significado pleno de uma palavra". Já me expressei sobre esse hábito por mais de uma vez. 

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

O LIVRO


Toda vez que posso (e posso muitas vezes) passo na LIVRARIA E CAFÉ INOVE, ali na Getúlio Vargas 1542. Enquanto proseio com o Miguel, a Ester, o Rayson ou a Suzane, perscruto as estantes, para ver alguma novidade.
Hoje estive na livraria e... meu olhar se fixou em SAPIENS - UMA BREVE HISTÓRIA DA HUMANIDADE, de Yuval Noah Harrari, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém. 
Não vou aqui tecer elogios à obra (foto da capa acima), que se enquadra perfeitamente dentro do paradigma da complexidade proposto por Edgar Morin, de ligações dos saberes. O livro está entre os cinco melhores que li nos últimos 40 anos. 
Caro leitor, sugiro que corra à livraria, compre o livro do professor Harrari, leia-o e me mande um e-mail com um breve comentário sobre. 



terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

DROGA E CRISE

(O título acima pode ser mudado ao bel-prazer do leitor: crise e droga, a droga da crise, a crise da droga...)
Salvo melhor juízo, a crise econômica parece ter acelerado o consumo de drogas (aumentando os pontos de venda e, consequentemente, dobrando a necessidade de controlar esses pontos). Porto Alegre é a prova dessa nova realidade.
O aumento do consumo de droga, por sua vez, tem gerado uma crise, o que não deixa de ser paradoxal. Na falta do gene VMAT2, que controla o fluxo de serotonina entre neurônios, as pessoas buscam alternativas na farmácia ou na "boca".
Com o aumento dos consumidores, aumenta o número de traficantes, aumenta o crime e aumenta o número de gente nos presídios. 
O Estado está em crise não só econômica, não só política, mas ética, incapaz de debelar a crise social. 

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

FRASES DO EXPRESSO ILUSTRADO

Uma das seções mais lidas do EI, o que justifica sua editoração na segunda página (ao lado da coluna da Sandra Siqueira), consiste em repercutir discursos de personalidades conhecidas. 
Na última edição, foram transcritas frases de Antônio Bueno (ex-vereador do PT e bancário), Guilherme Bonotto Behr (pré-candidato a prefeito por uma das oposições) e Haroldo Pouey (secretário municipal). 
Conhecendo os editores do jornal, sob a direção do João Lemes, penso que há a intenção de provocar o leitor com as frases publicadas. 
Da parte que me cabe, interpreto o que disse o Antônio como um preconceito petista, ou uma falácia de generalização apressada (do tipo "fato isolado"); o que disse o Guilherme, como uma contradição (ou discurso da raposa ante as uvas verdes); e o que disse Haroldo, como uma demagogia.
Frase do Antônio:
"'Ocupação dos hotéis é 35% maior em 2016 no Carnaval', diz jornal do Rio. 'Conseguir casa na praia, só com muita sorte. Vaga na orla? Tem que chegar cedo!'. Reafirmo: desliga a TV que a crise acaba". 
A crise não existe?
Desvalorização do Real, inflação, desemprego, aumento da dívida pública... são invenções da imprensa (golpista)? No mínimo, outros hotéis deveriam ser consultados, principalmente fora dos pontos turísticos.
Frase do Guilherme:
"Não há desforra! Saí do PP porque quis. Meu objetivo não é político. Não quero tirar o PP do poder, mas prestar um serviço que melhores pra todos".
Como prestar seu serviço (elegendo-se prefeito) sem tirar o PP?
A frase do Haroldo:
"Quem gasta mais, paga mais; quem gasta menos, paga menos; e há os que não pagam nada".
Iluminação pública não é distribuída de forma equitativa para todos os munícipes, indistintamente. Quem gasta mais em casa paga mais a iluminação da rua? Não há lógica nessa fórmula, usada em certas políticas do governo federal. 
Se foi a intenção do jornal provocar o leitor, acertou em cheio mais uma vez. Parabéns Expresso Ilustrado! 


sábado, 20 de fevereiro de 2016

UMBERTO ECO


Umberto Eco, 84 anos de idade, faleceu na noite passada em Milão. Semiólogo, linguista, filósofo e romancista muito conhecido, Eco foi um grande intelectual do nosso tempo. 
Seu romance O Nome da Rosa é um dos melhores de toda a literatura, cujo sucesso obliterou as demais obras do gênero, como O pêndulo de Foucault e A ilha do dia anterior
O terceiro livro que li desse do autor italiano é Como fazer uma tese, que me interessou na época da Universidade. 

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

CICLISTA DA TARDE

Hoje fui dar uma volta de bicicleta. Perigoso e desconfortável. Não é fácil disputar um espaço na via com os automóveis. Não é fácil vencer as subidas com as pedaladas constantes. Muito suor.
No alto do trevo da RS-377, saída para São Francisco, tive uma recompensa nesse fim de tarde: um enorme e vívido arco-íris cobria quase toda Santiago. Lamentei não dispor de uma câmera fotográfica (não carregava o celular). 
O novo posto de combustível do Grupo Batista (em fase de conclusão) ocupa um lugar privilegiado, a cavaleiro da cidade. 
Mais adiante, vem a indecisão: sigo no asfalto até a Polícia Rodoviária ou pego a vicinal para o Paraíso? Tomo minha água e retorno, para admirar o arco-íris de frente. 

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

ANTES DO PRESENTE


Em publicação anterior, argumentei sobre os equívocos do nosso calendário, suficientes para denegar toda pretensão de a uma civilização adiantada. Erro físico: não há um ponto no movimento de translação, que sirva de referência para o início do ano (os solstícios são dois). Erro matemático: o ano tem a duração de 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 47 segundos, mas só se consideram os dias (o restante perfaz um dia a mais ao cabo de quatro anos). Erro linguístico: os meses de setembro, outubro, novembro e dezembro, por seus radicais (em todas as línguas europeias), conservam a denominação numérica do calendário anterior, quando o início do ano era 1º de março. Erro político: a mudança do primeiro do ano para janeiro ocorreu há 2.170 anos, por uma decisão do senado romano, em razão de que deveriam ser nomeados dois cônsules imediatamente.
Naquela oportunidade, achei conveniente não me referir ao erro mais irrefutável, malgrado minha condição de ateu. Em respeito ao universo social em que vivo (norteado pelo paradigma cristão), omiti o viés religioso, que relativiza ainda mais o calendário gregoriano. Mais tarde, ao compreender o processo de secularização em marcha, resolvi seguir a tendência neoateísta, de engajamento à causa de um novo e necessário iluminismo. (O neoateu é uma evolução do ateu, que, para começar, detona o preconceito da inquestionabilidade da religião, o tabu de que fala Daniel Dennett.)
Dessa forma, não vejo problema em expressar este outro argumento, qual seja, o do nosso calendário ser fundamentado na história cristã, cuja extensão mal ultrapassa dois mil anos. O referencial do calendário mexido pelo papa Gregório XIII, aquele que festejou o massacre da noite de São Bartolomeu, consiste no mito fundador da cristandade. As principais datas, da Epifania ao Natal, têm uma origem religiosa, com um santo para cada dia e dia de todos os santos. Esse caráter religioso, sempre próximo do político, constitui um atraso para o amálgama civilizacional, para a globalização (já bastante adiantada na economia, por exemplo).
 Minha primeira atitude neoateísta (no âmbito do discurso), coerente com o que declinei acima em relação ao nosso calendário, é a de justapor a expressão “Antes do Presente” (AP) a toda data passada. Exemplos: “O Neolítico teve início por volta de 12 mil anos AP”; “O assassinato do imperador Júlio César ocorreu 2.060 anos AP”; “O Brasil foi descoberto no ano 516 AP”. Obviamente, a expressão é dispensada com o verbo haver: “O Brasil foi descoberto há 516 anos”. O que é válido para anos, também o é para décadas, séculos e milênios. Exceto na transcrição de outros autores, meu Considerações neoateístas faz uso do “AP”, que substitui "a. C." e "d.C.". 
         Minha sugestão para o futuro é de um calendário laico, universal. 

domingo, 14 de fevereiro de 2016

NEOATEUS


Em meu livro (que irá para a editoração), incluo um resumo de Deus, um delírio, A morte da fé, Deus não é grande e Quebrando o encanto, respectivamente de Richard Dawkins, Sam Harris, Christopher Hitchens e Daniel Dennett (foto acima). 
Esses "quatro cavaleiros do Apocalipse" são engajados em transformar a realidade presente, libertando-a da tradição religiosa que atravanca o processo de secularização. 

HOMEM CONTRA VÍRUS

Um mosquitinho, até há pouco tempo insignificante, transforma-se no alvo principal de uma luta terrível entre os dois seres mais violentos que a evolução natural gestou no planeta: o vírus e o homem. 
O primeiro se coloca no topo da automultiplicação, para a qual desenvolve estratégias surpreendentes dentro de seu exíguo habitat, a célula viva do indivíduo que o hospeda sem saber. 
O segundo, ainda mais agressivo na ação de levar outras espécies à extinção, imaginou uma segunda natureza, em que ele é o bonzinho da história. Sua jactância, porém, não passa de especismo, um grande e incorrigível preconceito. 
Bonzinho da história? 
Tampouco seus declarados adversários (os vírus) são capazes de estuprar, torturar e matar os próprios semelhantes. Os homens, sim, unidos agora para uma batalha que promete ir longe, com resultados imprevisíveis. 
A tática humana é atacar indiretamente seu adversário microscópico, exterminando com o mosquito rajado, que tem a denominação científica de Aedes aegypti (odioso do Egito). 
Uma das estratégias do vírus é usar esse mosquito como meio de transporte até o homem, essa montanha de células bem vitaminadas. 
O aedes, por sua vez, também se vira pela própria sobrevivência, como se reproduzir em água limpa, ser silencioso, picar durante o dia etc. Só é odioso na medida em que transporta o vírus da dengue, da zika, e da chicungunya. 
Até o homem conseguir acabar com ele, os verdadeiros inimigos já terão um “plano-b” naturalmente. 

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

BURACOS-NEGROS


Um grupo de cientistas norte-americanos acaba de descobrir uma onda gravitacional provocada pelo choque entre dois buracos-negros, ocorrido há 1,3 bilhões de anos. A soma da massa envolvida na fusão é de 65 vezes maior que a do nosso Sol. 

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

SENSACIONALISMO NA CIÊNCIA

Os cientistas não estão imunes contra o sensacionalismo, o uso da informação para causar impacto na opinião pública, “sem que haja qualquer preocupação com a veracidade” (complementa Houaiss). No âmbito jornalístico, essa tendência já não mais compromete a qualidade da informação. O consumidor, acrítico, deseja ler, ver ou ouvir coisas que o impactam a todo momento.
Um exemplo de sensacionalismo: ontem foi descoberto um exoplaneta inteiramente de diamante. A descoberta de um exoplaneta é fato corriqueiro neste século, não vem ao caso, mas a sua constituição geológica é sensacional. A priori, o diamante não passa de uma hipótese, cuja confirmação é tecnicamente improvável.
Ultimamente, o estudo da genética vem oferecendo algumas “pérolas” sensacionalistas. Em 2005, o cientista sul-coreano Hwang Woo-souk anunciou a clonagem de embriões humanos. Presa fácil do sensacionalismo, foi obrigado a reconhecer seu equívoco mais tarde. Antes disso, nos anos noventa, o neurobiólogo e geneticista norte-americano Dean Hamer publicou um artigo sobre um gene responsável pela homossexualidade, o Xq28. A lambança foi grande, com estudos contrários ao de Hamer, que o fizeram descer repentinamente todos os degraus da fama.
Todo escárnio sofrido, todavia, não foi suficiente para que Hamer superasse sua propensão ao sensacionalismo, à polêmica. Ao abandonar o “gene gay”, passou a se dedicar à genética da religião. Não se passaria uma década para que o dr. Hamer descobrisse o VMAT2, o “gene de Deus”. Essa denominação vulgar se presta ardilosamente para disseminar o mal-entendido: o homem seria constituído geneticamente a crer em Deus, cuja existência ficaria provada pela ciência.
Daniel Dennett, em seu Quebrando o encanto, dedica uma página ao VMAT2:

No capítulo 3, introduzi brevemente a hipótese de que nosso cérebro pode ter evoluído um “centro de Deus”, mas observei que seria melhor, por hora, considerá-lo um centro do quê, que mais tarde foi adaptado ou explorado por elaborações religiosas de um tipo ou de outro. Agora temos um candidato plausível para preencher a lacuna: aquele que capacita a propensão à hipnose. Além disso, em seu livro recente, The God Gene, o neurobiólogo e geneticista Dean Hamer (2004) alega ter encontrado um gene que poderia ser atrelado a esse papel. […] O gene VMAT2 é polimorfo nos seres humanos, ou seja, há diferentes mutações dele em pessoas diferentes. As variantes do gene VMAT2 são idealmente colocadas, então, para explicar as diferenças nas reações emocionais ou cognitivas das pessoas aos mesmos estímulos, e poderiam justificar porque algumas pessoas são relativamente imunes à indução hipnótica, enquanto outras são prontamente postas em transe. Nada disso está perto de ser provado, e o desenvolvimento da hipótese de Hamer é marcado por mais entusiasmo que sutileza, um ponto fraco que poderá repelir pesquisadores que, de outra maneira, o levariam a sério.

De uma forma didática, Dennett explica o papel do gene VMAT2, um receituário de monoaminas, proteínas “que levam os sinais que controlam os nossos pensamentos e nosso comportamento”. Esse controle diz respeito à reposição de neuromoduladores e neurotransmissores (entre um neurônio e outro) e de transportadores (dentro do neurônio). A serotonina, por exemplo, é uma monoamina.
Uma pessoa com altos níveis de VMAT2 está propensa a crer mais fácil e intensamente. Nos Estados Unidos, o projeto FUNVAX trabalha na criação de uma vacina, que inibiria a função do gene e, consequentemente, o fundamentalismo religioso. O novo vírus é financiado por Bill Gates. Realidade beirando a paranoia.
O site evolucionismo.org, num fórum sobre a pretensão do dr. Hamer, publica o que se segue:

O comportamento místico dos humanos seria uma forma branda de “distúrbio mental”, que atenderia às necessidades dos emocionais, interferiria na sua capacidade de enxergar, distorceria o raciocínio (…). A fé criaria ilusões e chegaria a ponto de fazer com que alguns afirmem que “Eu sei que Deus é real, porque ele ouve minhas preces e fala comigo”. […] Não existe “gene de Deus”, assim como não há “gene do xadrez” nem “gene do partido verde”. (…) a maioria dos genes humanos se comporta de uma forma que chamamos de pleiotropia: afetam muitas características ao mesmo tempo.

O VMAT2, mais que predispor o indivíduo à hipnose, segundo Dennett, propicia-o um bem-estar psíquico-emocional, que é também causado pelo ecstasy, Prozac, psilocibina (cogumelo), LSD e outras drogas. Nesse estado, ele fica mais suscetível de ter uma experiência mística, como, por exemplo, acreditar em anjos. Com LSD, além de acreditar, o drogado os vê e tenta imitá-los no voo.
O próprio dr. Hamer redimiu-se mais tarde do exagero sensacionalista, afirmando que o título mais adequado para seu livro seria “um gene entre vários que está envolvido na fé” e não O gene de Deus. Demorou! 

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

SILOGISMO DA LUXÚRIA


A bunda é carne
O carnaval é bunda
        Logo, o carnaval é… 

A ORIGEM DAS ESPÉCIES


Releio A origem das espécies, de Charles Darwin, depois de 25 anos. Minha primeira leitura, reconheço, foi insatisfatória, feita de uma forma isolada, mais por curiosidade. No início dos anos noventa, ainda me dedicava à literatura e à filosofia. Mais tarde, despertei para a astronomia e a história natural, o que me levou a ler Carl Sagan, Marcelo Gleiser, Stephen Hawking, S. J. Gould, Jared Diamond e Richard Dawkins. Esses gênios do conhecimento científico, aproximaram-me da ciência (que passou a ocupar o lugar da poesia em minha preferência intelectual). Obviamente, não deixei de gostar do gênero literário, que cria uma beleza ilusória, inexistente no mundo verdadeiro. Mas continuo a não gostar de Platão, que excluiu os poetas de sua república ideal. Não abandono a filosofia, na medida em que ela diz a verdade, e a verdade, concordando com Aristóteles, é mais querida. A propósito, Aristóteles foi um dos maiores intelectos produzidos pela humanidade, criador da biologia, da física, da lógica... O maior livro continua sendo A origem das espécies.  

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

CRÔNICA SANTIAGUENSE

As tardes de verão são insuportavelmente quentes em Santiago, malgrado a posição meridional desta cidade. A soalheira se precipita inclemente sobre as árvores da Moisés Vianna, que resiste com o estrídulo desesperado das cigarras. Os mamíferos humanos, mais sensíveis ao calor, reaparecem nas últimas horas, quando as sombras se alongam e a brisa sopra timidamente.
Ontem nos sentamos em frente à Matriz, na calçada que circunda a praça. O sino anuncia a missa, e os católicos apostólicos santiaguenses da terceira idade se aproximam da igreja. Alguém do círculo de chimarrão fala que o padre recém-chegado quer trazer os jovens de volta. Ele mal sabe que a juventude, com o espírito de liberdade que a caracteriza, já adere à onda de laicização.
Não deixo por menos, propondo ao grupo a seguinte reflexão: diz-se que os principais atributos de Deus são a onipotência, a onisciência e a onipresença, disso nenhum teísta tem dúvida. Por que se reza a ele com o intuito de pedir-lhe algo? A própria oração parece negar a onipresença: Pai Nosso, que estás nos céus
Minha irmã, frequentadora ocasional da igreja, sorri amarelo. Regina prefere não pensar em assuntos religiosos, determinada a fazer uso da razão apenas para sustentar sua fé, não para questioná-la dialeticamente. (Martinho Lutero advertira que a razão é a maior inimiga da fé.) Mais resoluta, Cris sai em defesa da pessoa que acredita no poder da oração.   
As posições acima podem ser sintetizadas, respectivamente, pelos termos alienação, medo e relativismo. Outra tríade também possível: encanto, tabu e subjetividade. Maria segue a religião que lhe foi ensinada desde a primeira infância, cujos ritos e dogmas apresentam uma verdade absoluta. Regina já consegue questionar, se é certo sua tia costureira reservar à igreja uma parte do dinheiro que ganha com muito trabalho, mas não passa a limpo as contradições no âmbito do “sagrado”. Cris pertence a uma geração mais jovem, porta-voz das minorias, defensora dos animais, adepta inconsciente da New Age.
 Antes de reconhecer a inviabilidade do diálogo iniciado por mim, ouso afirmar que o problema continua sendo o homem, criador de deuses por excelência. Toda religião não passa de ficção – que ganhou o estatuto de uma ordem imaginada.
         A conversa é encerrada informalmente. Não há mais água para o chimarrão, as luzes públicas começam a ser acesas, as cigarras diminuem seu canto de atração e a noite passa a envolver a cidade com seus tentáculos úmidos.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

ORIGEM DAS ESPÉCIES


A flor da ilustração acima é o trevo vermelho (trifolium pratens), nativo da Europa e Ásia, cultivada na América.
Ao reler A origem das espécies, de Charles Darwin, página 73, achei interessante a seguinte relação entre o trevo vermelho e o gato. 
"Só os zangões visitam o trevo vermelho, pois os outros himenópteros não podem atingir o néctar... Se todo o gênero dos zangões chegasse a extinguir-se ou a ser muito raro na Inglaterra, o trevo vermelho desapareceria por completo. O número de zangões numa área depende em grande parte do número de ratos de campo, que destroem seus ninhos... Mais de dois terços dos zangões são destruídos em toda a Inglaterra.... O número de ratos depende muito, como todos sabem, do número de gatos... O coronel Newman diz: 'Junto das aldeias e populações pequenas encontrei os ninhos de zangões em maior número que em qualquer outra parte, o que atribuo ao número de gatos que destroem os ratos'.
O capítulo que discorre sobre esse assunto é Complexas relações mútuas de plantas e animais na luta pela existência.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

SEMEADOR

Quem semeia vento, colhe tempestade. 
Quem semeia tempestade, colhe o quê? A bonança (que vem depois)? 
Quem semeia trigo, colhe o pão.
Quem reparte o pão, colhe o quê? A salvação (que vem depois)?
Quem semeia flores, colhe frutos, colibris, borboletas...
O semeador deve saber o que semeia. 
Eu, por exemplo, semeio palavra. Palavra-flor, palavra-vento.