Ante a questão de se saber qual a
importância da religião, o senso comum não titubeia em respondê-la com dois
exemplos, geralmente associados a mudanças de comportamento.
O primeiro é bastante real: fulano era
alcoólatra, violento e endividado (não necessariamente nessa ordem). A família,
já praticante, conseguiu levá-lo à igreja, onde foi apresentado a Jesus. Muitas
orações para resgatar sua alma da perdição. Hoje ele é outro homem. Mais
querido pelos seus, próspero nos negócios, temente a Deus.
O segundo exemplo é hipotético: sicrano
passará a se comportar mal em vista de não mais seguir uma religião. Nesse
aspecto, responde negativamente à indagação de Mítia, personagem de Os irmãos Karamázov, de Dostoiévski:
“Como o homem seria virtuoso sem Deus?”.
Alguns membros da sociedade santiaguense
seguiram uma trajetória semelhante à de fulano. Claro, entenda-se por
alcoolismo outros vícios; por violência, outros aleijões morais; por dívida,
outros problemas. Por outro lado, há membros que abandonaram sua religião (via
de regra, a católica), tornando-se ateus. Incluo-me neste grupo.
Daniel Dennett, em seu Quebrando o encanto, escreve o seguinte:
“Se eu lançar um mau olhado em você, você pode ficar seriamente amedrontado a
ponto de cair doente, mas se isso acontecer é porque você é crédulo, não porque
eu tenho poderes mágicos”. Analogamente, o alcoólatra traz dentro de si as
condições de deixar do álcool. Os Alcoólicos Anônimos, que não têm vínculo religioso, fazem “milagre” na recuperação de viciados em aproximadamente 90.000
grupos distribuídos em mais de 150 países.
Outras organizações não religiosas
também fazem esse trabalho com sucesso expressivo, provando que não é a religião
que opera o “milagre”. Meu tio, que muito fumou e bebeu ao longo de seus 70
anos, estava com problemas sérios. O médico foi peremptório: “Ou você deixa do
cigarro e do álcool, ou poderá comprar o caixão”. O que ele fez a partir da
hora da consulta? Deixou do fumo e do trago. Malgrado a crença numa vida além,
as pessoas querem mesmo é viver esta vida.
(Não falo em meu nome), todos os ateus
que conheço são pessoas corretíssimas. Elas não pensam que tudo é permitido,
porque Deus não existe. Obviamente, nem todos alcançaram amadurecimento
suficiente para não tripudiar daqueles que ainda creem nas crenças de sua
religião.
O senso comum é a maioria. Até há pouco
tempo, ele era porta-voz do poder eclesiástico da Santa Sé, que metia na
fogueira quem pensasse diferente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário