Nossa sociedade se regala no auge de um
modelo de vida caracterizado pelo consumo, que passou a ganhar status de exclusividade na segunda
metade do século XX. Ele é tão cativante e açambarcador (de corpos e mentes),
que inibe a tendência crítica de tudo submeter ao juízo.
A prática consumista é considerada, por
um lado, como a própria felicidade e, por outro, como um mal (da
impossibilidade de controlar os desejos, no âmbito da individualidade, à
agressão causada ao meio ambiente, no âmbito coletivo).
Eis um paradoxo a desafiar pessoas inteligentes,
ainda com coragem para ir de encontro à torrente humana, que toma as ruas e
invade as lojas de todas as cidades do país.
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A chave para compreender essa corrida
desenfreada e sem sentido é o desejo.
Aquém da necessidade e do poder de
compra vem o desejo, a identificar ricos e pobres.
O budismo, em sua filosofia mais
interessante, percebeu essa causa de infelicidade, de dor (segundo seu
fundador, Sidarta Gautama), dois milênios e meio AP.
O que é o desejo? Mais especificamente,
o que é o desejo de consumir?
Não há por que buscar uma resposta na
psicanálise, em Krishnamurti, em Baudrillard, em qualquer autoridade sobre o
assunto. Basta a experiência pessoal, a realidade.
O desafio não é fácil: abstrair a si
mesmo da condição de objeto do desejo, para assumir-se como sujeito, que
observa o desejo no momento imediatamente anterior à sua satisfação.
Esse (auto)percebimento é o que basta
para o controle do desejo de consumir em si próprio.
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A época que antecede as festas de Natal
e Ano-Novo é uma oportunidade excelente para analisar o desejo de consumir em
si próprio e nos outros.
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O comercial de uma joalheria de nossa
cidade beira as raias do absurdo, altamente persuasivo: para demonstrar seu
amor, dê uma joia de ouro à pessoa amada.
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O consumismo substituiu a religião
cristã, a igreja/templo pelo shopping
center, Jesus Cristo pelo Papai Noel, o bem espiritual pelos bens
materiais…
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“Ninguém pode servir a dois senhores”
(Mt 6,24). O que deus separou, Edir Macedo uniu, por intermédio da doutrina da
prosperidade.
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Tudo o que se encontra no alto de uma
trajetória (parábola) tende a cair. Com o consumismo não será diferente. A
queda não provocaria dor, caso os consumidores compreendessem seu desejo.
Infelizmente, antes desse processo de autoconhecimento, a crise econômica obriga a diminuição do consumo. Ela o faz de uma forma dolorosa, cortando na carne e
no espírito.
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