O
criacionismo ganhou uma variante pós-moderna, cujo mito fundador requer
estatuto de ciência: a Ufologia. Alguns visionários creem que seres
extraterrestres, superinteligentes, visitavam os homens no passado, com o fito
de instruí-los em novas tecnologias. Zecharia Sitchin radicaliza essa
influência, atribuindo aos nifilim (habitantes de um planeta que orbitaria o
Sistema Solar a cada 3.600 anos) a própria criação do homo sapiens moderno.
A
legião de seguidores a repercutir essas ideias estapafúrdias aumenta
assustadoramente, à medida que os mitos antigos não resistem à desconstrução
filosófica e científica. Dez religiões surgiram no último século, para celebrar
os UFOs e seus tripulantes imaginários.
Ao
longo de treze anos, tive um colega de trabalho que sabia O 12º planeta de traz para frente. Ele citava o primeiro enunciado
do livro de Sitchin como axioma basilar, a partir do qual justificava sua fé:
“o homem moderno é um estranho à Terra”.
Entre
parêntesis: fé se distingue de convicção, uma vez que independe de provas, até
mesmo de provas contrárias.
As
conversas entabuladas por nós dois tinham início e término em torno da premissa
acima, cuja presunção de verdade contradiz o evolucionismo gradual e
cumulativo.
Eis o argumento
de Sitchin:
"[…] súbita e
inexplicavelmente, há 35.000 anos, uma nova raça de homens – homo sapiens (o “homem pensante”) –
apareceu como vinda do nada e varreu o Homem de Neandertal da face da Terra".
Meu
interlocutor repetia o equívoco de seu mestre (que era um estudioso de
Arqueologia). A propósito, a dificuldade em conceber o tempo passado constitui
uma das limitações do nosso cérebro, deveras ocupado em processar milhões de
informações do tempo presente.
Sitchin
estabelece uma divisão evolutiva para o homem, ocorrida há 35.000 anos, que não
houve. Análises recentes de pinturas rupestres asseguram que tais ocorreram de
cinco a dez mil anos antes da data acima estipulada para o surgimento do Homem
de Cro-Magnon. Nesse aspecto, Sitchin se assemelha a Erich von Daniken, acusado
de fraude na produção de Eram os deuses
astronautas?
A
expressão “súbita e inexplicavelmente” escancara um reducionismo enganador, com
que Sitchin ignora dezenas, centenas de milhares de anos. A “revolução
cognitiva”, para seu governo, iniciou-se entre 70.000 e 100.000 mil anos atrás,
com a descoberta do uso de símbolos pelos humanos.
A
hipótese central de O 12º planeta é
de que o homo sapiens moderno
resultou de uma melhoria genética, conduzida pelos nifilim. Óvulos de fêmeas antropoides foram fertilizados com espermatozoides de extraterrestres.
Manipulação genética interplanetária, ora!
Meu
colega não me respondia por que o DNA do homem moderno e o do chimpanzé
apresenta uma diferença de apenas 0,6%. A variação de ordem cromossômica que
deu origem às duas espécies, sabemos agora, aconteceu entre seis e sete milhões
de anos AP. A molécula de DNA, o replicador mais importante para a vida no
planeta, tem uma história superior a três bilhões de anos.
Toda
vez que lhe fazia alguns questionamentos como esse, meu interlocutor
tergiversava (à maneira dos criacionistas cristãos).
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