quinta-feira, 5 de novembro de 2015

SUPERESTIMAÇÃO DE SI


O Facebook é um imenso diário, onde são registrados diversos eventos, numa gama que vai do mais particular ao mais universal. Nesse aspecto, o site tomou do Blog e do Orkut os mesmos gêneros textuais.
Um dos motivos recorrentes no Face é a documentação de um novo costume de seus usuários: as viagens.
A melhora econômica do país, a partir da estabilidade do nosso dinheiro e de um contexto internacional favorável, propiciou a expansão de horizontes geofísicos a muitos brasileiros. Em menos de uma década, Portos de Galinhas, Genipabu ou Jericoacoara ficaram mais acessíveis; Machu Pichu passou a figurar mais vezes nos álbuns digitais; a Torre Eiffel virou figurinha batida…
Quem não gosta de viajar, ou é doente, ou tem medo de avião (meu caso). A viagem se transformou num bem de consumo. Cedo ou tarde, o mercado o exigiria como item necessário para uma vida feliz. Não demorou.
O pensador não concorda é com essa necessidade. O maior filósofo dos tempos modernos, Kant, nunca saiu de sua Konigsberg, na Alemanha. Azar o dele. Na pós-modernidade, as pessoas são felizes (sem pensar duas vezes) e viajam muito, basta o aval de suas economias.
Nada há de errado nesse novo costume, exaustivamente comentado nas redes sociais. O usuário, todavia, não consegue disfarçar seu umbiguismo, seu exibicionismo, sua falta de alteridade, independentemente dos lugares mais incríveis e mais distantes que possa visitar. Qual é a primeira coisa (senão a única) que ele providencia ao chegar lá? Faz um selfie, com a sua figura em primeiríssimo plano tomando conta da paisagem, ou das demais pessoas.
O facebookiano exclui o outro no diário digital mantém na rede, espaço exclusivo para a superestimação de si mesmo.

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