sexta-feira, 6 de novembro de 2015

POBRE POESIA!

A página do Zero Hora, Almanaque Gaúcho, publica hoje o poema abaixo, cuja autoria é de S.P.F.:

SEGURE MINHA MÃO

Segure minha mão
E andemos lado a lado
Enfrentaremos a desunião
E o amor não será acabado.

Segure minha mão
E na queda nos ajudaremos
Segure-a com carinho e paixão
Unidos então estaremos.

Segure minha mão
Pois muito precisarei
Viveremos com perfeição
E para sempre te amarei.

Segure minha mão
E seguiremos uma rota juntos
Seguiremos com afeição
Seguiremos em conjunto.

Segure minha mão
E continuaremos sempre juntinhos
Tu dentro do meu coração
E eu dentro do teu com carinho.

            A partir da leitura dos primeiros enunciados “segure minha mão / e andaremos lado a lado”, fica evidente que se trata de um poema.
            Numa imitação do criador bíblico, ela viu que sua obra era boa, enviando-a ao ZH. Isenta-se de culpa. No jornal, alguém recebeu o texto e o publicou na página supracitada. Este agente, em contrapartida, assume a responsabilidade pela publicação.
       Duas possibilidades conspiram em sua defesa: primeira, não dispunha de outro poema para fechar a página; e não conhece poesia o suficiente para distinguir o trigo do joio.
       Não existe qualidade em “Segure minha mão”.
  Morfologicamente, o emprego abusivo de verbos empobrece o texto, ao contrário dos substantivos. A primeira estrofe, por exemplo, constitui uma verborragia, com a locução paupérrima no último verso: “e o amor não será acabado”. Como o diálogo do eu-lírico é com a segunda pessoa, o correto é “segura” (tu), e não “segure” (você).  
     Semanticamente, a opção pela negação é infeliz, com “desunião” e “não será acabado”, contradizendo o caráter afirmativo dos versos anteriores. Há incoerência flagrante na mescla de tempos e modos verbais.  
       Poeticamente, o texto apresenta imperfeições primárias. O ritmo é desastroso, sendo que os dois primeiros versos têm seis sílabas, o terceiro tem nove, e o quarto, oito. As demais estrofes, de maneira irregular, são compostas por versos de seis a dez sílabas. As rimais são muito pobres, batidas, como mão – desunião.

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