Ninguém fora do Rincão dos Machado
conhece meu pai pelo nome de batismo. Todos o chamam de Vatinho (apelido que
derivou da corruptela “atinho”, diminutivo de Átilo).
Octogenário, ainda aplica injeção em
gente e bicho com uma delicadeza muito requisitada. Outra fama também o
acompanha nas últimas décadas: benzedor. Ele aprendera as palavras
indecifráveis com que Manuel Maria, antigo morador do Mato da Erva, fazia
levantar vaca prestes a servir de repasto aos urubus.
Numa de minhas visitas ao Rincão, a
vizinha veio procurá-lo para que benzesse um boi infestado por uma bicheira
horrenda. O pai prometeu-lhe o benzimento assim que saísse para o campo. Ela
foi embora, e vim para a cidade – como o faço desde os catorze anos.
Marcos Antônio, meu irmão, contou-me
mais tarde que a vizinha bateu à porta três dias depois. Ao avistá-la ao longe,
o pai levou as mãos à cabeça, inconformado: esquecera-se de benzer o boi
abichado.
Ela entrou na casa, despejando palavras
de agradecimento ao compadre Vatinho. Segundo seu testemunho, a bicheira caíra
num instante, feito um milagre.
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