segunda-feira, 30 de novembro de 2015

HOMO PRIMATA

A maioria das pessoas que conheço considera o homem bastante distinto dos demais seres vivos a habitar Gaia. Um caso único, muito especial, extraordinário.
Mais de 90% dessa maioria têm uma resposta (e creem nela de uma forma inabalável): Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, de acordo com o mito criacionista (judaico-cristão). Outros repercutem ideias da ufologia e da ficção científica: somos filhos do espaço, criaturas gestadas, como elucubra Zecharia Sitchin, a partir do óvulo de uma fêmea homo erectus e do espermatozoide de nefilim, habitante de um planeta que orbitaria pelo Sistema Solar a cada 3.600 anos. 
Ideias extravagantes como essa não faltam para explicar a origem do homo sapiens.
Apenas uma minoria, por intuição ou conhecimento do processo evolutivo da vida na Terra, percebe o homem como partícipe desse processo. Com o avanço da biologia, especialmente da genética, não há mais como negar que a espécie humana descende do gênero homo e da ordem primata. Homem e chimpanzé compartilham 98,4% do mesmo DNA (segundo O terceiro chimpanzé: a evolução e o futuro do ser humano, de Jared Diamond.) Isso significa que as duas espécies tiveram um ancestral comum no passado, entre 6 e 7 milhões de anos AP.
O que impede o criacionista de compreender a verdade sobre nossa evolução? A crença no mito judaico-cristão? O preconceito antropocêntrico? A superestimação especista? 
Alguma coisa é, diferente da ignorância pura e simples.

MÁ EDUCAÇÃO


Na madrugada de domingo, o Banco do Brasil foi pichado (conforme as fotos acima). Antes de considerar o teor discursivo das pichações, deve-se reconhecer a nova modalidade de vandalismo em Santiago, que se associa àqueles que puxam a corda no sentido contrário à "Cidade Educadora". Essa ordem imaginada, cada vez mais, distancia-se de sua efetivação, à medida que cresce assustadoramente o número de pessoas mal-educadas.  

sábado, 28 de novembro de 2015

LINGUADO

Leitor, saberias me dizer por que o linguado tem os dois olhos no mesmo lado da cabeça?

SANTIAGO PAGA(?)

INFELIZMENTE, a cidade assume a culpa pelas coisas erradas que acontecem ou deixam de acontecer dentro de seus limites geo-humanos.
A boa e a má fama parecem disputar cabo-de-guerra num declive, tendo, na ponta da corda que puxa para baixo, todas as pessoas (físicas ou jurídicas) com tendências à negação - dentro de um amplo espectro que vai da ignorância pura e simples à maldade deliberada. 
Coerentes com essa alegoria, os exemplos indesejáveis não param de se constituir no horizonte de eventos do universo santiaguense. 
Nos últimos dias, o nome da nossa cidade esteve mais uma vez na berlinda, porque um indivíduo, ainda não revelado pela Polícia Federal, natural da Terra dos Poetas, liderava uma fraude contra a Previdência Social. Na sequência, uma quadrilha de abigeatários é presa (a partir de seu advogado). 
O show com Fernando e Sorocaba é outro exemplo, malgrado a boa intenção de seus idealizadores, que acabou culpabilizando Santiago - ao frustrar pela segunda vez a expectativa dos fãs do sertanejo universitário.
Uma cidade, segundo uma ideia do historiador Yuval N. Harari, está mais para uma ordem imaginada, intersubjetiva, que uma realidade objetiva, que é a soma de espaço geográfico, povo, cultura etc.
Minha sugestão é que, doravante, sejam declinados os nomes das pessoas/organizações responsáveis pelas coisas certas e pelas coisas erradas que acontecem aqui. O mérito ou a culpa (principalmente a culpa) dessas pessoas/organizações se diluem com a substituição metonímica da parte pelo todo.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

CASOS DE FÉ (III)

Ninguém fora do Rincão dos Machado conhece meu pai pelo nome de batismo. Todos o chamam de Vatinho (apelido que derivou da corruptela “atinho”, diminutivo de Átilo).
Octogenário, ainda aplica injeção em gente e bicho com uma delicadeza muito requisitada. Outra fama também o acompanha nas últimas décadas: benzedor. Ele aprendera as palavras indecifráveis com que Manuel Maria, antigo morador do Mato da Erva, fazia levantar vaca prestes a servir de repasto aos urubus.
Numa de minhas visitas ao Rincão, a vizinha veio procurá-lo para que benzesse um boi infestado por uma bicheira horrenda. O pai prometeu-lhe o benzimento assim que saísse para o campo. Ela foi embora, e vim para a cidade – como o faço desde os catorze anos.
Marcos Antônio, meu irmão, contou-me mais tarde que a vizinha bateu à porta três dias depois. Ao avistá-la ao longe, o pai levou as mãos à cabeça, inconformado: esquecera-se de benzer o boi abichado.
Ela entrou na casa, despejando palavras de agradecimento ao compadre Vatinho. Segundo seu testemunho, a bicheira caíra num instante, feito um milagre. 

terça-feira, 24 de novembro de 2015

CASOS DE FÉ (II)


Alguns indivíduos, condicionados pelo Corão (com seus 164 versículos jihadistas), armados com o fuzil “kalashnikov”, invadem casas noturnas de Paris e matam 129 pessoas.
A metade ocidental do mundo se horroriza com o massacre, classificado como selvageria ou barbárie – nunca como ato deliberado da nossa civilização (que precisa ser preservada em seu princípio teleológico).
Oriundos do bairro Molenbeek de Bruxelas, os assassinos são (ou eram) uns jovens marginalizados, românticos, vítimas fáceis do fundamentalismo político-religioso. A responsabilidade de suas ações foi transferida para a organização terrorista que os recrutara clandestinamente.
Entre os atingidos emocionalmente pelas mortes, todos com a presunção de uma consciência evoluída, inclui-se o Papa Francisco, como figura mais proeminente do universo cristão.
O que ele disse não vem ao caso (por sua obviedade discursiva), mas a sua presença midiática faz-nos lembrar de outro massacre ocorrido em Paris, na noite de São Bartolomeu, em agosto de 1572. Não se sabe ao certo o número de mortos, entre dois mil e setenta mil protestantes. Seus algozes católicos foram autorizados pelo rei Carlos IX (com a idade dos rapazes de Bruxelas).
O fundamentalismo religioso daquela época centrava-se no Vaticano. O papa de então, Gregório XIII, mandou organizar preces festivas e contratou Giorgio Vasari, para pintar um afresco em homenagem à carnificina.
O paralelo macabro nos leva facilmente à conclusão a que chegou Sam Harris: “Parece haver um sério problema com algumas de nossas crenças e convicções mais caras acerca do mundo: elas estão nos levando, inexoravelmente, a matar uns aos outros”.     

CASOS DE FÉ (I)


Sócrates, o “Pai da Filosofia”, era religioso. Platão não faltaria com a verdade no princípio de A República: “Fui ontem ao Pireu com Glauco, filho de Aríston, para orar à deusa”.
A fala de Sócrates denuncia um dos motivos por que o condenaram á morte: a apresentação de ouros deuses à juventude de Atenas. Essa atitude do filósofo foi considerada um desrespeito aos deuses oficiais da pátria, Zeus e Cia.
A deusa, referida acima, tratava-se de Bêndis, levada à Ática pelos trácios. O povo grego a identificou com Ártemis, como ocorreria dois milênios mais tarde, no Brasil, com a Nossa Senhora dos Navegantes (catolicismo) e Iemanjá (candomblé).
A forma de conhecimento sistematizada por Sócrates e Platão (não necessariamente nessa ordem), somando-se à ciência fundada por Aristóteles, criariam um paradigma novo, que continua a excluir os deuses criados por todas as religiões.
Hoje sabemos que Zeus e sua trupe olimpiana não passavam de mito, de ficção. Bêndis, a deusa cultuada por Sócrates também uma criação da fantasia religiosa (que ainda dizem ser necessária ao homem). Há 25 séculos, todavia, caso um cidadão afirmasse a não existência desses deuses, sua vida valeria uma taça de cicuta.
Por que Nossa Senhora dos Navegantes, Iemanjá, santos e orixás continuam sendo cultuados como reais? Por que Jeová ainda vige? Por que Alá? Eles seriam animados pela fé de bilhões de pessoas? 
No futuro, saberemos que sim. 

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

INEFICAZ, LENIENTE

O Brasil, por sua posição deslocada do eixo primeiro-mundista, não figura como alvo provável do terrorismo político-religioso.
Presentemente, nosso inimigo é outro: a droga. Muito mais perigoso, na medida em que sua cabeça, ao contrário do terror, encontra-se dentro do território nacional, agindo sob os olhares pusilâmines das autoridades.
Os traficantes continuam a comandar as atividades criminosas de dentro dos presídios, com maior segurança.
Esses absurdos são possíveis por duas razões muito simples: o estado ineficaz e a sociedade leniente (parte dela constitui todo o mercado consumidor da droga).

UBÍQUO, NEFASTO

O século XXI está mais para pacífico que belicoso. A amostra significativa destes 15 anos assim o caracteriza empiricamente. Da mesma forma o será, segundo perspectivas traçadas por uma prancheta inteligente.
As guerras hediondas, que registra a história recente, não mais se repetirão, malgrado o armamento nuclear desenvolvido a partir de Alamogordo, no Novo México. Os catastrofistas de plantão se calam ante a postura mais civilizada dos estados-nações.
O inimigo novo a ser rechaçado é o terrorismo. Não podemos classificá-lo como externo, uma vez que ele recruta seus soldados dentro do território a ser atacado. A cabeça do mal é facilmente localizada, mas seus braços são ubíquos.
O terrorismo é a síntese do que há de mais nefasto na política e na religião, ordens imaginadas que se revesaram na organização das guerras mais sangrentas dos últimos cinco mil anos.
O marco inicial deste século são os ataques conjugados nos Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001. (Do século passado fora o início do conflito mundial de 1914). 

domingo, 22 de novembro de 2015

CRIACIONISTA VERSUS EVOLUCIONISTA



O criacionista (judeu, cristão, muçulmano e espírita) encontra uma dificuldade insuperável para compreender o contraponto evolucionista, que desconstrói toda ficção religiosa, todo mito. Ele pertence, segundo Christopher Hitchens, à “infância de nossa espécie”, porque teima no que acredita. O máximo que consegue articular discursivamente sobre a evolução da vida pela seleção natural se resume a algumas anedotas que ridicularizam Darwin e sua descoberta (r)evolucionária.
À maneira de uma criança, ele responde afirmativamente ao questionamento  proposto por Richard Dawkins em O relojoeiro cego: “O olho humano poderia ter surgido diretamente de olho nenhum, em um único passo?”. O sim denuncia sua incapacidade de entender o não como resposta. Na sequência, tampouco se interessa pela outra questão, cuja resposta é sim: “O olho humano poderia ter surgido diretamente de algo ligeiramente diferente de si mesmo?”.
Tempo houve suficiente para que o olho humano evoluísse, gradual e continuamente, de um olho rudimentar – que não é o ponto inicial da trajetória evolutiva. Antes dele, preexistia uma forma de vida sem olho algum. Em certas espécies atuais, esse órgão dos sentidos continua pouco desenvolvido, cumprindo a única função, por exemplo, de identificar a direção da luz. Mas essa limitação é incomparavelmente melhor que a escuridão completa. Uma variação genética que permitisse ao indivíduo identificar a luz com um pouco mais de nitidez, certamente o dotaria de melhores condições de sobreviver e de passar adiante seu gene.
Eis, na essência, a evolução pela seleção natural.
O olho humano é citado, com frequência, pelo adepto do design inteligente, como exemplo de complexidade incapaz de ter sido gerado pela seleção natural. Aliás, o homem como um todo, feito a imagem e semelhança do próprio criador concorre para o fundamento de sua religião.
 Segundo a História Natural, o homem encontra-se classificado como pertencente ao reino animalia, filo chordata, subfilo vertebrata, classe mammalia, ordem primata, subordem antropoidea, superfamília hominoidea, família hominidea, gênero homo, espécie homo sapiens. A águia, por exemplo, pertence ao mesmo reino, filo e subfilo do homem, distinguindo-se a partir da classe. A águia é uma ave, e o homem, um mamífero. As duas espécies evoluíram de ordens distintas, de famílias distintas, de gêneros distintos, de espécies ancestrais distintas, as quais apresentavam um olho com X-1 de capacidade. Nem por isso, o olho deixava de cumprir suas funções.
Malgrado o caminho diferente na evolução anterior ao surgimento das duas espécies em pauta, criacionista e evolucionista são unânimes em julgar que o olho do homem e o olho da águia são “perfeitos”. A concordância entre os dois, todavia, não ultrapassa esse juízo.
A “perfeição” do olho (no homem e na águia), para o criacionista, constitui o resultado (e a prova) de um ato único de Deus – o designer inteligente. Assim encontra-se narrado nas Escrituras Sagradas, assim ele acredita inabalavelmente. Para o evolucionista, o olho evoluiu de um modelo um pouco menos desenvolvido, que, por sua vez, evoluíra de um modelo anterior um pouco menos desenvolvido. O recuo no tempo chega ao olho rudimentar (e deste, a olho nenhum).
As aspas colocadas nos termos “perfeição” e “perfeitos”, nos parágrafos acima, têm o propósito de dizer uma coisa ainda mais surpreendente: a evolução do olho em qualquer espécie viva não chegou ao fim. A natureza continua a fazer a seleção dos indivíduos que veem melhor. Exceto com a interferência humana, dando oportunidade aos menos aptos e conduzindo espécies inteiras à extinção. 

terça-feira, 17 de novembro de 2015

DOIS ARGUMENTOS


        Num diálogo de Os irmãos Karamázov, de F. Dostoiévski, Mítia fala a Aliocha:

– O único problema que me atormenta é Deus. E se por acaso Ele não existisse? Então, se ele não existisse, o homem seria o senhor da terra, da criação do mundo. Magnífico! Mas como o homem seria virtuoso sem Deus?

Smerdiakov, outro personagem do romance acima, parece responder na sequência: “Se Deus eterno não existe, tampouco existe virtude”.
Sartre, ao atribuir a frase “Se Deus não existisse, tudo seria permitido” a Dostoiévski, caracterizava o existencialista como o primeiro teísta saudoso de Deus, obrigado a viver num mundo laicizado.
A partir do questionamento de Mítia (“como o homem seria virtuoso sem Deus?”) e da angústia existencialista, aproximo-me do senso comum (para quem Dostoiévski e Sartre são dois estranhos), dando-lhe a oportunidade de conhecer dois argumentos que denegam sua crença (como responsável por conduzir o homem no caminho da moral necessária).
O primeiro argumento é de que a moralidade precede a criação dos deuses e das organizações religiosas. O homo sapiens do paleolítico foi capaz de sobreviver dezenas de milhares de anos em grupos cada vez maiores, graças a uma ordem social. Christopher Hitchens acertou em cheio: “A decência humana não deriva da religião – é anterior a ela”.
Antes de expressar o segundo argumento, saliento que o budismo, a despeito de ser uma religião, não tem deus. Nenhuma outra ordem imaginada conseguiu dar à criatura humana maior doçura e felicidade.
Assim como houve moralidade antes de deus (e de todas as formas de culto a ele dirigidas), passou a haver depois, com o processo de secularização. O primeiro alvor da era secular que estava por vir foi contemplado no ano de 1543, com a publicação do livro Da revolução de esferas celestes, de Nicolau Copérnico. Sua claridade aumentou com o empirismo e o racionalismo (não metafísico). O sol despontou com o iluminismo, aumentando seu brilho com Charles Darwin, Karl Marx, Friedrich Nietzsche, Sigmund Freud, Albert Einstein, Edwin Hubble, Círculo de Viena, Richard Dawkins, os filósofos ateus contemporâneos… No âmbito político, ela se configura na laicização do estado moderno.
A era expressa nesse segundo argumento, diferente da New Age, evolui para um ateísmo absoluto, ao contrário do que vislumbrou André Malraux para o século XXI, sem as concessões feitas por Charles Taylor à multirreligiosidade. A civilização ocidental marcha a passos largos para se libertar dos mitos do sobrenatural.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

RELIGIÃO + TERROR

ADEPTOS DO ISLAMISMO saem em defesa de sua religião, assim que os terroristas associam o nome de Alá à natureza dos atentados que assumem em Nova Iorque, Nairóbi ou Paris. 
A jihad é sistematizada em 164 versículos do Corão, o livro sagrado do Islã. Ao contrário do judaísmo e do Cristianismo, cuja tábua moral preceitua o "não matarás!", a ordem principal do jihadismo é combater e matar (os incrédulos).
Por mais de mil anos, o cristianismo desobedeceu ao próprio mandamento, fazendo guerra às outras religiões coirmãs, ou perseguindo e matando até mesmo cristãos (os protestantes).
Dessa forma, assombro semelhante ao provocado pelo avanço do islamismo na Europa foi outrora causado pela cruz a outros povos.
Um dos versículos do Corão trata exatamente dessa revanche:
"Combatei, pela causa de Alá, aqueles que vos combatem.... Matai-os onde quer que se encontrem e expulsai-os de onde vos expulsaram, porque a perseguição é mais grave do que o homicídio".
Alguém disse, com metade de acerto, que não foi o islamismo que se tornou terrorista, mas o terrorismo que se islamizou. Seu discurso é coerente com a defesa que adeptos do mundo inteiro fazem de sua religião.

sábado, 14 de novembro de 2015

O OVO DE SERPENTE

Antes do ataque às Torres Gêmeas, conhecido como o 11 de Setembro, o presidente dos Estados Unidos já alertava sobre o grande inimigo a ser enfrentado doravante: o terrorismo.
O mundo ressentido da esquerda vibrou com a agressão ao "império" - levada a cabo pela organização criminosa liderada por Bin Laden. Vibra agora com a imigração em massa, criando os maiores problemas à Europa (onde prevalece a democracia).
Os imigrantes são fiéis ao islamismo, cujos filhos acabarão marginalizados em Paris, em Londres..., presas fáceis do fundamentalismo criminoso (mescla de política e religião).
Já me expressei sobre isto anteriormente: a imigração (vista pela opinião pública como uma coisa grandiosa, filantropia em grande escala) oculta um "ovo de serpente".

terça-feira, 10 de novembro de 2015

VERDADE E BELEZA

       Dois princípios expressos pela lógica enfeixam verdade e beleza, que a arte conceitual não consegue fazer. O primeiro é o da não contradição: a proposição não pode ser verdadeira e falsa ao mesmo tempo. O segundo é o do terceiro excluído: toda proposição ou é verdadeira ou é falsa, isto é, verifica-se um destes casos e nunca um terceiro.
         Pari passu com a teoria do conhecimento, a lógica exclui a metafísica, a qual gera proposições (sentenças, enunciados) não obedecendo aos princípios acima, denominadas de pseudossentenças por Rudolf Carnap.
         Verdade e beleza, todavia, não servem como fundamento de uma moral para a vida. Esta se deixa influenciar pela contradição ou pelo sem sentido dos termos do discurso.
 Mateus 6, 24 preceitua: “Ninguém pode servir a dois senhores… a deus e às riquezas materiais”. (Nessa sentença, “deus” tem um sentido metafórico, representando os mais altos valores espirituais, como o altruísmo, a caridade, o desapego às riquezas materiais.)
  Na realidade, observa-se que o cristão diz amar a deus, mas corre atrás do dinheiro. Sua fé elimina a partícula “ou” do princípio da não contradição, substituindo-a pelo “e”. Sua prática, seja mística ou seja mundana, deixa de ser contraditória e, ao mesmo tempo, resolve o problema da má consciência. Os pastores evangélicos (que enriquecem com a contribuição dos fiéis) são a personificação viva dessa moral sem princípios.
A política, por seus atores principais, constitui outro âmbito em que prevalece a contradição e o terceiro incluído (quando o terceiro se trata de empresários fornecedores de propina).  

domingo, 8 de novembro de 2015

YUVAL NOAH HARARI


Leitor, reserva alguns minutos de teu tempo, para assistir a um vídeo com esse cara. Não te arrependerás. Acessa AQUI.

EVOLUÇÃO VERSUS DESIGNER INTELIGENTE

As pessoas que não entendem o evolucionismo recorrem ao argumento de que o homem é muito inteligente para ser o resultado do acaso (ou ter descendido do macaco). Elas respondem, em coro, que todo design complexo requer a existência de um designer - deus.
Essas pessoas tomam o modelo presente e o transportam para um passado nunca suficiente, uma vez que o cérebro humano, nas palavras de Richard Dawkins, só é capaz de lidar com "processos que se desenrolam em segundos, minutos, anos ou, no máximo, décadas". Em alguns casos, alongo esse recuo temporal (por minha conta) para séculos e milênios.
Nesse passado, o homem já possui uma linguagem (falada), já domesticou plantas e animais etc., tal como o é representado pelo mito bíblico (por exemplo).
Antes da Revolução Agrícola, o homo sapiens perambulou pelo planeta por um tempo vinte vezes superior ao estabelecido pela narrativa mítica. Sua espécie evoluiu de uma outra muito semelhante, que sobreviveu por milhões de anos.
Exceção à regra, como sei disso?
Os fósseis, a medição do Carbono 14 e o registro de cientistas honestos me levam a entender a evolução humana como um todo. 
A Revolução Agrícola ocorreu há 10 mil anos. Quem era o homem anterior a ela? Coletor e caçador. Entre 10 mil e 70 mil anos AP, quais eram as nossas principais realizações? Representações pictóricas da realidade (feita na parede das cavernas), linguagem verbal, armas de lançamento à distância... Um recuo ainda maior, antes da chamada Revolução Cognitiva, o homo sapiens é física e cerebralmente um protótipo mal acabado de seu descendente atual.
Os criacionistas, caso viajassem no tempo, ainda sustentariam o design complexo para seu ancestral de 200 mil anos AP? E 200 mil é pouco, considerando-se os 6/7 milhões de anos em que surgiram os primeiros hominídeos. 
Como negar a evolução? A posição ereta, o machado de pedra, a descoberta e o domínio do fogo, a capacidade de organização social cada vez maior, a linguagem, a domesticação de plantas e animais, a roda, o emprego do metal, da eletricidade, do motor, da nave espacial, da internet... Tudo acontecendo em tempos distintos. 
A descoberta do fogo, por exemplo, provavelmente tenha ocorrido de uma forma acidental, mas tornou o homem mais inteligente (com a percepção do fenômeno e o seu domínio). 
A inteligência se desenvolveu gradual e cumulativamente. GRADUAL e CUMULATIVAMENTE. Não há necessidade de um designer que justifique sua manifestação no atual estágio evolutivo.
A evolução continuará atuando (com algum objetivo desta vez, diga-se de passagem), e o homem do futuro será cada vez mais inteligente - a ponto de rir do que seus ancestrais acreditavam num tempo passado (o atual). 

sábado, 7 de novembro de 2015

O ANIMAL QUE SE TORNOU DEUS

O título acima é do Epílogo de Sapiens - Uma Breve História da Humanidade, de Yuval Noah Harari. Transcrevo abaixo o texto da 427ª página do livro:
"HÁ 70 MIL ANOS, O HOMO SAPIENS AINDA ERA UM ANIMAL INSIGNIFICANTE cuidando da sua vida em algum canto da África. Nos milênios seguintes, ele se transformou no senhor de todo o planeta e no terror do ecossistema. Hoje está prestes a se tornar um deus, pronto para adquirir não só a juventude eterna como também as capacidades divinas de criação e destruição.
"Infelizmente, até agora o regime dos sapiens sobre a Terra produziu poucas coisas das quais podemos nos orgulhar. Nós dominamos o meio à nossa volta, aumentamos a produção de alimentos, construímos cidades, fundamos impérios e criamos grandes redes de comércio. Mas diminuímos a quantidade de sofrimento no mundo? Repetidas vezes, os aumentos gigantescos na capacidade humana não necessariamente melhoraram o bem-estar dos sapiens como indivíduos e geralmente causaram enorme sofrimentos a outros animais.
"Nas últimas décadas, pelo menos fizemos algum progresso real no que concerne à condição humana, com a redução da fome, das pragas e das guerras. Mas a situação de outros animais está se deteriorando mais rapidamente do que nunca, e a melhoria no destino da humanidade ainda é muito frágil e recente para que possamos ter certeza dela.
"Além disso, apesar das coisas impressionantes de que os humanos são capazes de fazer, nós continuamos sem saber ao certo quais são nossos objetivos e, ao que parece, estamos insatisfeitos como sempre. Avançamos de canoas e galés a navios a vapor e naves espaciais - mas ninguém sabe onde estamos indo. Somos mais poderosos do que nunca, mas temos pouca ideia do que fazer com todo esse poder. O que é ainda pior, os humanos parecem mais irresponsáveis do que nunca. Deuses por mérito próprio, contando apenas com as leis da física para fazer companhia, não prestamos conta a ninguém. Em consequência, estamos destruindo os outros animais e o ecossistema à nossa volta, visando a não muito mais do que nosso próprio conforto e divertimento, mas jamais encontrando satisfação.
"Existe algo mais perigoso do que deuses insatisfeitos e irresponsáveis que não sabem o que querem?".

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

POBRE POESIA!

A página do Zero Hora, Almanaque Gaúcho, publica hoje o poema abaixo, cuja autoria é de S.P.F.:

SEGURE MINHA MÃO

Segure minha mão
E andemos lado a lado
Enfrentaremos a desunião
E o amor não será acabado.

Segure minha mão
E na queda nos ajudaremos
Segure-a com carinho e paixão
Unidos então estaremos.

Segure minha mão
Pois muito precisarei
Viveremos com perfeição
E para sempre te amarei.

Segure minha mão
E seguiremos uma rota juntos
Seguiremos com afeição
Seguiremos em conjunto.

Segure minha mão
E continuaremos sempre juntinhos
Tu dentro do meu coração
E eu dentro do teu com carinho.

            A partir da leitura dos primeiros enunciados “segure minha mão / e andaremos lado a lado”, fica evidente que se trata de um poema.
            Numa imitação do criador bíblico, ela viu que sua obra era boa, enviando-a ao ZH. Isenta-se de culpa. No jornal, alguém recebeu o texto e o publicou na página supracitada. Este agente, em contrapartida, assume a responsabilidade pela publicação.
       Duas possibilidades conspiram em sua defesa: primeira, não dispunha de outro poema para fechar a página; e não conhece poesia o suficiente para distinguir o trigo do joio.
       Não existe qualidade em “Segure minha mão”.
  Morfologicamente, o emprego abusivo de verbos empobrece o texto, ao contrário dos substantivos. A primeira estrofe, por exemplo, constitui uma verborragia, com a locução paupérrima no último verso: “e o amor não será acabado”. Como o diálogo do eu-lírico é com a segunda pessoa, o correto é “segura” (tu), e não “segure” (você).  
     Semanticamente, a opção pela negação é infeliz, com “desunião” e “não será acabado”, contradizendo o caráter afirmativo dos versos anteriores. Há incoerência flagrante na mescla de tempos e modos verbais.  
       Poeticamente, o texto apresenta imperfeições primárias. O ritmo é desastroso, sendo que os dois primeiros versos têm seis sílabas, o terceiro tem nove, e o quarto, oito. As demais estrofes, de maneira irregular, são compostas por versos de seis a dez sílabas. As rimais são muito pobres, batidas, como mão – desunião.

CAMINHOS DESENCONTRADOS


Amanhã será lançada a 2ª edição de Caminhos Desencontrados, de Carlos Humberto Aquino Frota. (A 1ª edição é de 1950.) 
Graças ao projeto político-cultural da administração do município, ao patrocínio da família Frota Dillenburg e ao trabalho intelectual de algumas pessoas, mais uma obra de autores homenageados na Rua dos Poetas é (re)editada (visando trazer a público o ineditismo, caso de Tempo Pássaro, de Ney A., ou de possibilitar o acesso a edições já esgotadas, caso de Trovas da Estância do Abandono, de Zeca Blau). 
Felizmente, o nome de Carlos Humberto transcende a própria criação literária, ao denominar um bairro e uma escola de nossa cidade. Justa homenagem ao gênio que, aos 18 anos escrevia num estilo idiossincrásico, brilhante, desenvolvido apenas pelos grandes literatos. 
À parte seu vasto conhecimento linguístico, Frotinha transitava discursivamente com igual desenvoltura pela política, filosofia, literatura e jornalismo. Em razão da rica intertextualidade de sua prosa, foi necessário anexar uma relação de notas remissivas, para facilitar a leitura. 
O livro é subdividido em Crônicas e Ensaios
Na primeira parte, destacam-se Cemitério de Chumbo, muito conhecida dos leitores mais experientes, Borges de Medeiros e Serenidade, onde filosofa: “A verdade não deve ser barulhenta, como a pororoca, nem estrondosa, como as cachoeiras. A verdade, se a quiséssemos representar por uma imagem arrancada dos livros de geografia, ganharia a suavidade dos riachos, falaria com a simplicidade das águas tranquilas, que não encrespam de irritação nem quando as tempestades desabam”
Na segunda parte, há estudos sobre Monteiro Lobato, Arthur Koestler, Joaquim Nabuco, entre outros.
O livro será distribuído gratuitamente. Amanhã, na Feira do Livro de Santiago, dia 7, às 19h30min.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

PAZ EM NOSSA ERA

O título acima é de um tópico analisado por Yuval Noah Harari, em Sapiens. O autor constata que vivemos uma era pacífica, com as guerras sendo menos frequentes. Para apoiar seus argumentos, lança mão da estatística:
"No ano 2000, guerras causaram a morte de 310 mil indivíduos, e crimes violentos mataram outros 520 mil. Cada uma das vítimas é um mundo destruído, uma família arruinada, amigos e parentes com cicatrizes para a vida toda. Mas, de uma perspectiva macro, essas 830 mil vítimas representam apenas 1,5% dos 56 milhões de pessoas que morreram em 2000. Naquele ano, 1,26 milhões de pessoas morreram em acidentes de carro (2,25% do total de mortes) e 815 mil pessoas cometeram suicídio (1,45%). 
"Os números de 2002 são ainda mais surpreendentes. Dos 57 milhões de mortos, apenas 172 mil pessoas morreram em guerra e 569 mil morreram de crimes violentos (um total de 741 mil vítimas de violência humana). Por outro lado, 873 mil pessoas cometeram suicídio. Acontece que no ano que se seguiu aos ataques do Onze de Setembro, apesar do muito que se falou em terrorismo e guerra, um cidadão médio tinha mais probabilidade de se matar do que ser morto por um terrorista, um soldado ou um traficante de drogas".
Uma das causas dessa diminuição da violência, Yuval atribui, em grande parte, à ascensão do Estado.
Dos dados apresentados acima, surpreendeu-me o número de pessoas que cometeram suicídio. No ano 2000, foram 815 mil. No ano 2002, 873 mil. Isso me surpreende realmente.

SUPERESTIMAÇÃO DE SI


O Facebook é um imenso diário, onde são registrados diversos eventos, numa gama que vai do mais particular ao mais universal. Nesse aspecto, o site tomou do Blog e do Orkut os mesmos gêneros textuais.
Um dos motivos recorrentes no Face é a documentação de um novo costume de seus usuários: as viagens.
A melhora econômica do país, a partir da estabilidade do nosso dinheiro e de um contexto internacional favorável, propiciou a expansão de horizontes geofísicos a muitos brasileiros. Em menos de uma década, Portos de Galinhas, Genipabu ou Jericoacoara ficaram mais acessíveis; Machu Pichu passou a figurar mais vezes nos álbuns digitais; a Torre Eiffel virou figurinha batida…
Quem não gosta de viajar, ou é doente, ou tem medo de avião (meu caso). A viagem se transformou num bem de consumo. Cedo ou tarde, o mercado o exigiria como item necessário para uma vida feliz. Não demorou.
O pensador não concorda é com essa necessidade. O maior filósofo dos tempos modernos, Kant, nunca saiu de sua Konigsberg, na Alemanha. Azar o dele. Na pós-modernidade, as pessoas são felizes (sem pensar duas vezes) e viajam muito, basta o aval de suas economias.
Nada há de errado nesse novo costume, exaustivamente comentado nas redes sociais. O usuário, todavia, não consegue disfarçar seu umbiguismo, seu exibicionismo, sua falta de alteridade, independentemente dos lugares mais incríveis e mais distantes que possa visitar. Qual é a primeira coisa (senão a única) que ele providencia ao chegar lá? Faz um selfie, com a sua figura em primeiríssimo plano tomando conta da paisagem, ou das demais pessoas.
O facebookiano exclui o outro no diário digital mantém na rede, espaço exclusivo para a superestimação de si mesmo.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

MACAQUINHOS DE HARLOW

"Em 1950, o psicólogo norte-americano Harry Harlow estudou o desenvolvimento de macacos. Harlow separou macacos recém-nascidos de suas mães várias horas após o nascimento. Os macaquinhos foram isolados dentro de gaiolas e criados por ma~es artificiais. Em cada gaiola, Harlow colocou duas mães artificiais. Uma era feita de fios de metal e equipada com uma mamadeira na qual o macaquinho podia mamar. A outra era feita de madeira coberta com tecido, que a fazia lembrar uma mãe macaca de carne e osso, mas não fornecia ao macaquinho nenhum sustento material."
(Excerto do livro Sapiens - uma breve história da humanidade, de Yuval Noah Harari, do capítulo que trata das necessidades emocionais e sociais dos animais.)
Baseado no exposto acima, resolvi inquirir os leitores:
Com qual das mães os macaquinhos passavam a maior parte do tempo?
Por quê?
Caso a experiência fosse feita com bebês humanos, o resultado seria diferente?

ARIANO SUASSUNA CRIACIONISTA

ARIANO SUASSUNA – DEFESA CONTRA
A TEORIA DA EVOLUÇÃO

        Ariano Suassuna ganhou a mídia tardiamente, de uma forma que caracteriza o espírito brasileiro: a humorística. Filiada a esse espírito, sua literatura ficou a meio caminho da melhor produção contemporânea.
No vídeo que roda no YouTube, contra a teoria da evolução, ele arranca aplausos de uma plateia boquiaberta, incapaz de perceber os disparates ditos para causar humor. Ato contínuo à informação de que é dono de uma inteligência cética, diz-se católico.
Ao dizer-se católico, escarnece de Engels, que era ateu, e de Darwin, o grande descobridor e estudioso do evolucionismo (não mais uma teoria, mas um fato passível de provas).
Eis o primeiro parágrafo do artigo Sobre o papel do trabalho na transformação do macaco em homem, escrito por Engels em 1876:

O trabalho é a fonte de toda riqueza, afirmam os economistas. Assim é, com efeito, ao lado da natureza, encarregada de fornecer os materiais que ele converte em riqueza. O trabalho, porém, é muitíssimo mais do que isso. É a a condição básica e fundamental de toda a vida humana. E em tal grau que, até certo ponto, podemos afirmar que o trabalho criou o próprio homem.

Em seguida, Engels cita Darwin (que publicara A descendência do Homem cinco anos antes). Nessa citação, o termo macaco é facilmente interpretado no sentido metafórico, para representar nossos antepassados peludos antes que desenvolvessem o bipedalismo. A nova posição ereta, todavia, não ocorreu num salto, mas demorou mais de milhão de anos. É a ela que o pensador se refere como “o passo decisivo para a transição do macaco ao homem”.
Em nome do rigor científico, macaco designa uma espécie do gênero macaca, que se apartou da superfamília hominoidea há 25 milhões de anos. Dessa superfamília, descenderia o gibão, o orangotango, o gorila, o chimpanzé e o homem (todos sem cauda).
Suassuna, não aceitando tais verdades, duvida que um macaco faça um simples prendedor de roupas em 500 milhões de anos. Tampouco um chimpanzé o fará. O homem o fez, depois de trabalhar 4 milhões de anos com mãos as livres. Inferir de um prendedor de roupa (ou da Nona Sinfonia de Beethoven) que a inteligência do homem é de origem divina, todavia, é ignorar todo o processo lento, gradual e cumulativo por que passa o homo sapiens.