Certos assuntos são propensos a incitar
a discussão, tanto no sentido de constituir uma dialética positiva, quanto de
enveredar para o lado oposto, em que a busca pela verdade dos interlocutores
leva ao primeiro estágio da agressão – o discursivo.
Desde meu começo como escritor (que
publica ideias), meados dos anos oitenta, tenho desenvolvido continuamente a
arte de espadachim (para empregar uma metáfora de Carlos Humberto Aquino
Frota). Algumas vezes, em condições inferiores, obriguei-me ao recuo, guardando
minhas palavras na bainha do silêncio. Por essa atitude, ouvi do vulgo não
identificável a depreciação que me imputava pusilanimidade, covardia. A derrota
aparente não me cegava o espírito (com o ressentimento, por exemplo), ao
contrário, dotou-me da humildade mais necessária na vitória (também aparente).
A longa experiência com as pugnas
discursivas, hoje me faz perceber com maior clareza a posição que ocupo, bem
como a posição do outro. Sua presunção e falta de humildade, a despeito da
inexperiência que não consegue dissimular (nas redes sociais, onde ensaia seus
primeiros passos), beiram o risível.
O interlocutor cristão, por exemplo, ao
contrapor com um clichê do discurso religioso, ilude-se com a perspectiva de
desconstruir meu ateísmo. Como digladiar com ele em condições de igualdade?
Fiel seguidor de uma religião que dominou nossa civilização ao longo de toda a Idade
Média (da baixa à alta), ele ainda não passou pela revolução moderna, iniciada
por Copérnico e continuada por Galileu, Descartes, Newton, Rousseau, Kant,
Darwin, Freud, Einstein, Hubble e tantos outros. O crente continua alheio ao
paradigma vigente, cujos fundamentos são as verdades filosóficas e científicas
dos últimos séculos. Como posso levar a sério alguém que sequer se libertou do
mito?
Destarte, é preferível não aceitar uma discussão
que, via de regra, acabará mal. Entre fé e razão, há, sim, um abismo incapaz de ser fixada uma ponte. Sua transposição só ocorre com um salto gigantesco - realizado por poucos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário