A Wikipedia é um site colaborativo: o usuário participa na elaboração dos verbetes. Sobre
Caio Fernando Abreu, por exemplo, diz-se que era possuidor de um “estilo
econômico”.
Tal análise crítica me engendrou uma
dúvida desde a primeira vez que a ouvi (num desses encontros para homenagear o
escritor santiaguense). Mais tarde, fui à fonte desse equívoco: https://pt.wikipedia.org.
Antes de ser taxado de polemista
pelo leitor, sugiro-lhe que pesquise sobre os conceitos de estilo,
termo-calidoscópio que, de acordo com Massaud Moisés, apresenta um “caráter
fugidio”, cuja compreensão exige um estudo completo da estética literária.
Coerente com a síntese de Buffon
(apud Massaud Moisés), de que “o estilo é o homem”, é certo que Caio Abreu
possui uma característica individual inconfundível, em face do material
disponibilizado pela língua. Mas opinar sobre seu suposto “estilo econômico” é
outra coisa.
No prefácio de O ovo apunhalado, Lygia Fagundes Telles assim se expressa:
Quando nos
seminários de literatura os teóricos pedantes acabam por condenar a palavra,
minha vontade é simplesmente mostrar-lhes um livro como este. Provar-lhes a
atualidade da desacreditada palavra com a própria palavra, quando a serviço de
uma técnica rica em recursos.
A “técnica rica em recursos” não
contradiz um “estilo econômico”?
Caio Abreu não poupa palavras.
Usa-as em profusão. Mil delas para dizer apenas uma palavra, sem incorrer em
circunlóquios inexpressivos. Às vezes, mil palavras para deixar em suspenso o
enunciado, como no conto Para uma avenca
partindo. No conto Além do ponto
(do livro Morangos mofados), o
primeiro que incluí na Ruadospoetas –
Antologia 1, as palavras jorram torrenciais para significar que “chovia,
chovia, chovia…”.
Esse estilo pródigo enriquece os
fatores de expressividade e afetividade, o grande diferencial literário de Caio
Abreu.
No sentido dado por Hênio Tavares,
para quem uma das principais qualidades do estilo é a originalidade, aquilo que
distingue o autor por sua criação, Caio não foi nada “econômico” ao se levar em
conta a extensão e a profundidade temática de sua obra (como um todo). Desconheço
outro autor que tenha rompido frontalmente com o tabu da homossexualidade,
dissecando-o hiper-realisticamente.
Ainda que de uma forma fragmentada,
por força do gênero literário (crônica e conto), a obra de Caio constitui uma
metáfora da solidão do indivíduo, quase profética ante a pós-modernidade que se
avizinha – como um assombro.
A primeira conclusão – que me
permite chegar o exposto acima – aponta para uma direção contrária ao do
“estilo econômico”, que caracterizaria o escritor Caio Fernando Abreu. (Infelizmente,
não há como eliminar o meme
hipertextual.)
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