sexta-feira, 16 de outubro de 2015

"ESTILO ECONÔMICO"?

A Wikipedia é um site colaborativo: o usuário participa na elaboração dos verbetes. Sobre Caio Fernando Abreu, por exemplo, diz-se que era possuidor de um “estilo econômico”.
Tal análise crítica me engendrou uma dúvida desde a primeira vez que a ouvi (num desses encontros para homenagear o escritor santiaguense). Mais tarde, fui à fonte desse equívoco: https://pt.wikipedia.org.
            Antes de ser taxado de polemista pelo leitor, sugiro-lhe que pesquise sobre os conceitos de estilo, termo-calidoscópio que, de acordo com Massaud Moisés, apresenta um “caráter fugidio”, cuja compreensão exige um estudo completo da estética literária.
            Coerente com a síntese de Buffon (apud Massaud Moisés), de que “o estilo é o homem”, é certo que Caio Abreu possui uma característica individual inconfundível, em face do material disponibilizado pela língua. Mas opinar sobre seu suposto “estilo econômico” é outra coisa.
            No prefácio de O ovo apunhalado, Lygia Fagundes Telles assim se expressa:

Quando nos seminários de literatura os teóricos pedantes acabam por condenar a palavra, minha vontade é simplesmente mostrar-lhes um livro como este. Provar-lhes a atualidade da desacreditada palavra com a própria palavra, quando a serviço de uma técnica rica em recursos.

            A “técnica rica em recursos” não contradiz um “estilo econômico”?
            Caio Abreu não poupa palavras. Usa-as em profusão. Mil delas para dizer apenas uma palavra, sem incorrer em circunlóquios inexpressivos. Às vezes, mil palavras para deixar em suspenso o enunciado, como no conto Para uma avenca partindo. No conto Além do ponto (do livro Morangos mofados), o primeiro que incluí na Ruadospoetas – Antologia 1, as palavras jorram torrenciais para significar que “chovia, chovia, chovia…”.
            Esse estilo pródigo enriquece os fatores de expressividade e afetividade, o grande diferencial literário de Caio Abreu.
            No sentido dado por Hênio Tavares, para quem uma das principais qualidades do estilo é a originalidade, aquilo que distingue o autor por sua criação, Caio não foi nada “econômico” ao se levar em conta a extensão e a profundidade temática de sua obra (como um todo). Desconheço outro autor que tenha rompido frontalmente com o tabu da homossexualidade, dissecando-o hiper-realisticamente.
            Ainda que de uma forma fragmentada, por força do gênero literário (crônica e conto), a obra de Caio constitui uma metáfora da solidão do indivíduo, quase profética ante a pós-modernidade que se avizinha – como um assombro.
            A primeira conclusão – que me permite chegar o exposto acima – aponta para uma direção contrária ao do “estilo econômico”, que caracterizaria o escritor Caio Fernando Abreu. (Infelizmente, não há como eliminar o meme hipertextual.)

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