sexta-feira, 18 de setembro de 2015

CLARO ENIGMA


Esse livro de Carlos Drummond de Andrade é considerado pela alta crítica um dos três livros mais profundos da poesia brasileira. "Maduro, clássico, filosófico", escreve Samuel Titan Jr. no posfácio.
Na abertura, o poema Dissolução

"Escurece, e não me seduz
tatear sequer uma lâmpada.
Pois que aprouve ao dia findar,
aceito a noite.

E com ela aceito que brote
uma ordem outra de seres
e coisas não figuradas.
Braços cruzados.

Vazio de quanto amávamos,
mais vasto é o céu. Povoações
surgem do vácuo.
Habito algum?

E em destaco minha pele
da confluente escuridão.
Um fim unânime concentra-se
e pousa no ar. Hesitando.

E aquele agressivo espírito
que o dia carreia consigo,
já não oprime. Assim a paz,
destroçada.

Vai durar mil anos, ou
extinguir-se na cor do galo?
Esta rosa é definitiva,
ainda que pobre.

Imaginação, falsa demente,
já te desprezo. E tu, palavra. 
No mundo, perene trânsito,
calamo-nos.
E sem alma, corpo, és suave.

O penúltimo poema é A máquina do mundo, eleito o melhor poema brasileiro do século XX por um grupo de críticos e especialistas consultados pelo jornal Folha de S. Paulo. O poema é composto por 32 tercetos de versos decassílabos.
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Os outros dois livros que compõem a tríade da melhor poesia brasileira são:
A educação pela pedra, de João Cabral de Melo Neto; e
Árvore do mundo, de Carlos Nejar.

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