A
noite foi, com toda certeza, a mãe do medo humano. Ela gestou em suas entranhas
as criaturas mais horripilantes: bichos-papões, fantasmas, espíritos do mal...
Esses
seres disformes aterrorizaram a infância da humanidade, cujos memes ainda se
manifestam mais uma vez no indivíduo (ao longo de seus primeiros anos de vida).
A
adoração ao Sol, observada em quase todas as culturas, originou-se no fato de a
luz dele advinda dissipar a escuridão a cada dia. O horror ficava restrito aos
sótãos e porões, às florestas fechadas, ao mundo subterrâneo…
Antes
do culto solar, o homem primitivo conheceu o fogo e o domesticou, para, entre
outros empregos, proteger-se das assombrações noturnas.
Durante
o primeiro estágio da evolução religiosa, chamado de animismo, nossos ancestrais endeusaram elementos ou fenômenos
naturais. O próprio Sol não escapou dessa mitificação, para o qual se rendeu
culto (inclusive com o sacrifício humano). O trovão, outro exemplo, foi
personificado como “senhor do raio”, que poderia fulminar um indivíduo
inescapavelmente.
A
morte, mais assombrosa que todas as noites juntas, desencadeou um outro
processo de mitificação (ainda inconcluso). Não sendo possível evitá-la, arranjou-se
uma forma de transcendê-la. Nenhuma religião foi mais pretensamente exitosa
nesse mister do que o Cristianismo, que vige atualmente graças à promessa de
vida eterna a partir do mito fundador: a ressurreição de Jesus Cristo.
Com
a revolução industrial, o homem passou a morar em cidades cada vez maiores e
melhor iluminadas, vindo a perder o medo da noite. Em relação à morte, todavia,
ele continua a temê-la instintiva e racionalmente.
A
mitificação de uma outra vida além da “cova gélida e escura”, Nietzsche
percebeu isto muito claramente, conspirou contra a vida terrena, real e única,
enchendo-a de medos e dúvidas novos.
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