segunda-feira, 10 de agosto de 2015

HOMEM-BOMBA É FIEL

Um cristão acha absurdo um muçulmano acreditar que, se morrer pela causa político-religiosa, vai para o céu, onde desfrutará da doce companhia de virgens. 
Há dois motivos que o levam a fazer esse julgamento moral, depreciativo: a "causa político-religiosa" inclui a morte de dezenas, centenas ou milhares de pessoas não islâmicas; e, como objeto de fé, o regalo de virgens.
Não se encontra estudo com o chamado homem-bomba, uma vez que ele é o próprio dispositivo a provocar a explosão e o primeiro a ser inteiramente despedaçado. O que se passa na cabeça dele, segundos antes de levar a cabo sua missão? Obediência à causa? Desejo de se transformar em herói post mortem? Fé no paraíso?
Dessas três especulações, uma resposta afirmativa coincide com a do cristão: a fé no paraíso.
Isto posto, continua-se a indagar. O que há no paraíso, que leva a cristandade a desejá-lo ingenuamente? A presença de Deus? Como, ele não é onipresente? Felicidade eterna? Essa pretensão atemporal não nega a criação do mundo, sua temporalidade? Lugar aprazível? O "comer da árvore da vida" (segundo o Apocalipse)? 
Não há diferença significativa entre o cristianismo e o islamismo, quando à fantasia do paraíso.
Ao criticar a fé do homem-bomba, exemplar típico do fundamentalismo jihadista, o cristão incorre no desrespeito à fé do outro, contrariamente à exigência que faz em relação à sua fé.
Essa contradição, engendrada por uma suposta superioridade da religião cristã, é cada vez mais flagrante quanto mais se recua na história dos últimos quinze séculos. Não há necessidade de voltar à Idade Média, todavia, para ilustrá-la com fatos. Em 1929, o Papa Pio XI firmou um acordo com Benito Mussolini (um dos maiores fascistas da História), para confirmar o catolicismo como religião única na Itália - ato ditatorial que já fizera o imperador Teodósio em 1625 AP. 
Pelo Tratado de Latrão, protestantes (também cristãos), judeus, muçulmanos, entre outros religiosos, foram relegados à clandestinidade.

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