segunda-feira, 15 de junho de 2015

A ROSA E O JARDINEIRO

Bernard Le Bovier de Fontenelle, poeta e filósofo francês do século XVII, escreveu que "uma rosa jamais se lembra de ter visto um jardineiro morrer". Cita-o Michel Serres em seu livro O incandescente
Este outro pensador prossegue: "O jardineiro vê a rosa nascer, desabrochar, murchar e, em seguida, desaparecer num curto espaço de tempo". 
A frase de Fontenelle constitui uma metáfora, uma maneira de representar as diferentes percepções que temos da passagem do tempo. Algo que tem uma duração de horas, dias, semanas, meses ou anos, cujo aparecimento e desaparecimento podemos testemunhar, dizemos que é efêmero, passageiro. Em contrapartida, algo que transcende a duração da nossa própria existência, cujo aparecimento e desaparecimento abarca séculos, milênios ou milhões de anos, dizemos que é duradouro. 
Somos precisos para o que podemos ver (ou medir); exagerados para o que não podemos fazê-lo com o escantilhão do nosso próprio testemunho. 
Há um consenso vulgar de que os diamantes são eternos. Os átomos (de carbono) que o compõem, forjados numa estrela que existiu bilhões de anos antes do Sistema Solar, diriam que os diamantes são efêmeros.
Para o teu bichinho de estimação, és comparável ao jardineiro. Em relação à montanha que se azula ao sul de tua casa, és comparável à rosa.
Uma rosa, o espírito humano. Um jardineiro, o tempo. 

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