domingo, 10 de maio de 2015

A BÍBLIA NÃO TEM RAZÃO


          Noventa e nove por cento da sociedade (cristã)  não sabe que alguns mitos bíblicos foram adaptados de outras culturas. Mitos expressivos – sem os quais não seria concebível o livro organizado pelo rei Josias e sua equipe de sacerdotes e profetas em Judá, há 2.700 anos. Um exemplo desses mitos emprestados para tecer a saga do povo de Israel: o Dilúvio, copiado do épico Gilgamesh – Rei de Uruk, escrito na Suméria. A mítica distorceu consideravelmente a História, que não é confirmada pela Arqueologia em muitos fatos narrados no livro. Exemplo: o êxodo da Egito.
         As contradições contidas no Gênesis são inumeráveis. Uma dessas contradições constitui a primeira manifestação especista da civilização ocidental: a espécie humana dominadora de todas as demais. Contradição mais evidente é a criação dos animais domésticos antes de seu domesticador. A história real (com H maiúsculo) nos ensina que a domesticação é um fenômeno muito recente, por volta de dez mil anos atrás. Antes de serem domesticados, todos os animais que se submeteram ao jugo do homem eram selvagens. Inclusive o cão. Segundo o grande zoólogo Raymond Coppinger, o cão de povoado já evoluíra do lobo (antes de agir a seleção artificial).
         Filósofos e cientistas do século XX (cujos bons exemplos são Peter Singer e Desmond Morris), foram responsáveis por denunciar o especismo, a depreciação, dominação ou exploração das demais espécies pelo homem. No âmbito ocidental, a genealogia dessa superioridade encontra-se justificada mitologicamente no livro judaico-cristão.
         Em Levítico, 11: 13-19, a suposta palavra de Jeová recomenda quais são as aves que não servem de repasto humano. Na relação, inclui-se o morcego. Não sabiam os velhos escribas da época da primeira consolidação textual da Bíblia que o morcego é um mamífero. A propósito, Richard Dawkins escreve sobre a “árvore de parentesco”:

Que obra magistral é o esqueleto de um mamífero! Não falo da beleza em si, embora eu ache que seja belo. Refiro-me ao fato de podermos falar em “o” esqueleto mamífero: o fato de uma coisa tão complexa e interligada ser tão esplendidamente diferente de um mamífero para outro. […} Vejamos o esqueleto de um morcego. Não é fascinante que cada osso tenha sua contrapartida identificável no esqueleto humano? […] A mão humana e a mão do morcego obviamente são – nenhuma pessoa mentalmente sadia poderia negar – duas versões de uma mesma coisa.

A mão do morcego é sua asa, cuja estrutura óssea só difere da mão humana pelo alongamento dos ossos. Essa semelhança, que é chamada de homologia, bastaria para comprovar que o homem e o morcego, ambos mamíferos, compartilham de um ancestral comum.
         A evolução das espécies (a evolução das formas vivas no planeta Terra) é um fato, talvez o mais extraordinário de todos. Um fato que desmistifica o criacionismo (e outras teorias místico-ufológicas que pregam ser o homem de natureza distinta (divina), vindo de fora e o escambau). O desconhecimento da evolução pela seleção natural (a grande descoberta de Darwin) é que ainda permite ao criacionista crer num mito.

Um comentário:

Leite disse...

Caro Froilam,

Parabéns pela abordagem do tema. Sei o quanto é difícil tratar dessa questão, que é científica, mas as crenças arraigadas na nossa tradição cultural teimam em obstruir qualquer reflexão e discussão.

Abraços,

Vulmar