sábado, 11 de abril de 2015

TROCA DE PAPEL

Antes de chegar a Porto Alegre, divisando-a na linha do horizonte, lembrei-me do que lera em Zygmunt Bauman sobre as cidades em tempos pós-modernos. 
O sociólogo polonês começa por dizer que, desde a Mesopotâmia, as cidades nasceram e cresceram com a preocupação de proteger seus habitantes das ameaças externas. Na época da hegemonia romana, tais ameaças eram representadas pelos bárbaros, designação dada a qualquer povo supostamente menos civilizado. No plano diretor das cidades havia construções monumentais com o fito de evitar o assalto dos saqueadores organizados: muralhas, fossos, entrada única (guarnecida por vigias permanentes e fechada por portões imensos), acidentes geográficos etc. No espírito de seus protegidos, além do medo, desenvolvia-se o sentimento que hoje é denominado de xenofobia. 
Modernamente, com o crescimento desordenado (causado pelo enriquecimento capitalista e advento da sociedade de consumo), as cidades passaram a gerar suas próprias mazelas, entre as quais um excesso de violência. Para resolver parte desse problema (des)urbano, é que se passou a construir os condomínios, ambientes residenciais cercados por muros altos, entrada única, alarmes, vigias etc. O perigo se encontra dentro das cidades modernas. 
Essa retomada do pensamento de Bauman me levou a brincar com a Erilaine, dizendo-lhe que a gente, ao vir de fora da metrópole, vivemos o papel oposto do bárbaro. Já não somos mais os invasores, mas as vítimas potenciais (indo ao encontro do perigo).

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