quarta-feira, 25 de março de 2015

FÉ - ALIMENTO DOS DEUSES

O que é a fé? Houaiss assim define em seu Grande Dicionário: “confiança absoluta (em alguém ou em algo)”. Confiança é sinônimo de crença. Etimologicamente, a palavra se origina do grego “pistia” (acreditar) e do latim “fides” (ser fiel).
Você concorda com a definição de Houaiss?
Sim? Não?
Ao considerar a afirmação, a próxima pergunta é óbvia: em quem ou em que a fé está direcionada.
Os objetos de fé perfazem uma relação tão extensa quanto o número de coisas e seres existentes (ou imaginados).
Para abreviar a inquirição, você concorda que Deus encima essa relação?
O sim é condição para seguir em frente.
Tribos, povos, civilizações se constituíram historicamente em torno da crença num deus ou deuses.
Disso não há negação.
Sobre a fé ainda. Há diferença entre a fé de alguém que viveu há mais de três mil anos e a fé de outro nosso contemporâneo? Há diferença entre a fé de Aquenáton, o primeiro homem a crer num deus único, e a do papa Francisco (também crente num deus único)?
O deus de Aquenáton era Aton, também chamado de Deus – uma vez que era único. O deus de Francisco é Jeová, que os evangelizadores cristãos passaram a chamar de Deus – pelo mesmo motivo anterior.
Aton era um deus diferente de Jeová (deixando de existir com o fim da civilização egípcia)?
Ou Aton e Jeová são nomes para designar o mesmo deus (que estaria muito acima de cada cultura)?
Você compreende a verdadeira extensão desses questionamentos?
O primeiro, se afirmativo, pressupõe que Jeová também terá o mesmo destino de Aton com o fim do Cristianismo.
O segundo, se afirmativo, fica demonstrado que Deus, ou não passa de uma representação, ou é inominável.
Na época de Aquenáton, quem teria coragem de sustentar a não existência de Aton? Isso era inconcebível diante do representante divino na Terra: o próprio Faraó.
Tal manifestação de ateísmo, todavia, seria atemporalmente verdadeira: Aton não passava de uma representação para a crença dos egípcios no tempo de Aquenáton.
Na Idade Média, o ateu que sustentasse a não existência de Jeová era queimado em praça pública (pelos representantes do deus cristão). Hoje o ateu não corre o risco da execução, mas continua discriminado pela sociedade a que pertence.
Há muito me questiono: o papa realmente acredita no deus bíblico?
Futuramente, alguém constatará que esse deus constituiu um dos grandes mitos orientadores de uma religião que dominou a civilização ocidental.
Teólogos e (alguns) filósofos tentaram provar a existência de deus com argumentos pretensamente lógicos. Santo Anselmo é um dos mais conhecidos nesse mister. A maioria dos filósofos e (alguns) cientistas tentam provar a não existência de deus da mesma forma, por intermédio de argumentos racionais.
Por que não partir da experiência? Quantos deuses já foram  motivo de fé? Deuses que eram considerados existentes por aqueles que o cultuavam: Osíris, Amon, Zeus, P’an Ku, Odin, Tupã, ad nauseam. Todos eles desapareceram, foram desmitificados.
Por que apenas Brama, Jeová, Alá, entre outros, são deuses vivos?
A fé os alimenta.

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