domingo, 11 de janeiro de 2015

ENSAIO CRÍTICO

A maioria dos debates realizados sobre o trânsito equivale a jogar conversa fora, não ultrapassando o âmbito da mera opinião – que se sabe eivada de preconceitos e falácias.
Um dos debatedores, que também é usuário, atribui ao outro a culpa de infringir as normas de conduta, ou que falta fiscalização. O agente da lei, em contrapartida, opina que o problema se deve à falta de educação do usuário.
Os achismos acabam num círculo vicioso em torno da verdade que buscam alcançá-la sem êxito. O centro dessa verdade é constituído pelo ego-sujeito da ação de dirigir, o qual continua incognoscível e, por conseguinte, não responsabilizado. O “véu de Maia” que o esconde já foi retirado pela Psicanálise, desde quando Sigmund Freud descobriu o inconsciente humano.
O acidente com morte consiste no principal problema do trânsito, não as “barbeiragens” e os congestionamentos nos centros urbanos. A causa desses acidentes nas estradas e rodovias é a velocidade alta, muito acima da regulamentada pela engenharia (isto é, pela razão). A causa da velocidade alta, por sua vez, constitui o prazer que ela propicia ao volante. Esse prazer não é diferente de outros prazeres que pontuam o dia a dia de cada indivíduo, tomados como doses homeopáticas da felicidade.
Depois do acidente, que poderia ser evitado, alega-se uma necessidade de andar mais rápido, em vista de um compromisso, de um horário marcado. No máximo, atribui-se ao estresse. Nunca à volúpia da velocidade.
Dessa forma, preserva-se o sujeito da ação, não permitindo o acesso à verdade. Ainda insipiente, o eu desse sujeito é fortemente dominado pelas pulsões, pelos desejos.
O prazer da velocidade é pulsional. Para dominá-lo, exige-se um processo racional que conduziria o indivíduo que o manifesta ao autoconhecimento. Krishnamurti ensinava que o conhecimento próprio começa com a observação de si mesmo, no exato momento em que se está agindo desta ou daquela maneira.
Uma fiscalização cem por cento eficiente no trânsito demandaria a presença de um agente para cada condutor, como um carona atento e rigoroso. Isso é possível numa personalidade madura, num sujeito ético. O superego substituiria o agente.
Essa falta de maturidade também se verifica nas mesas redondas, formadas para debater sobre os problemas do trânsito. As opiniões, via de regra, não são esclarecidas.

(Para entender o que seja pulsão, assistir ao vídeo www.youtube.com/watch?v=RMZ3bsrtJZ0)

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