terça-feira, 30 de setembro de 2014

ATÉ DOMINGO

Discurso recorrente neste país: "Os brasileiros não sabem votar", "a sociedade é culpada pelo governo que tem", ad nauseam
Ignorantes e culpados (uma aporia filosófica) têm até domingo para provar que sabem, votando no candidato certo, que fará um governo irrepreensível. 
Minha sugestão é que os sujeitos desse discurso indiquem até domingo qual é o candidato certo: Dilma? Marina? Aécio? ...? ...?


NOVA INOVE


Um irrecusável aconchego as novas instalações da Livraria & Café Inove na Av. Getúlio Vargas, nº 1542 (em frente ao relógio eletrônico da Praça Franklin Frota). 
A loja pode ser vista da janela da Seção da Comunicação Social da 1ª Bda C Mec, onde trabalho de segunda à sexta.
A Inove inovou com a mudança, oferecendo café e salgado aos clientes que a visitam nesse novo endereço. 
Foi-se o tempo de justificar a não leitura pela falta de livros comercializáveis em Santiago.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

SENSACIONALISMO BURRO

Num site noticioso, leio a seguinte matéria (apenas a introdução dela):
Um estudo apresentado nesta quinta-feira (25) indica que metade da água do planeta talvez seja mais antiga do que o Sistema Solar, o que aumenta a possibilidade de existir vida fora de nossa galáxia, a Via Láctea.
Pergunto ao leitor se podemos considerar séria essa informação.
É óbvio que não.
O que há de errado?
O salto hiperonímico entre o Sistema Solar para a galáxia. 
O texto pode ser facilmente corrigido trocando o termo "fora" por "em".

O QUE É O HOMEM?


PROTÁGORAS: "O homem é a medida de todas as coisas"

PLATÃO: "O homem é corpo e alma"

ARISTÓTELES: "Animal racional", "Animal político"

SANTO AGOSTINHO: "O homem é a imagem de Deus" 

FRANCIS BACON: "O homem é aquilo que sabe"

DESCARTES: "Ser pensante"

PASCAL: "Ser obscuro"

HOBBES: "O lobo do homem"

ROUSSEAU: "Ser bom por natureza"

KANT: "Ser que julga"

HEGEL: "Espírito subjetivo"

SCHOPENHAUER: ""Ser egoísta"

MARX: "Instinto econômico"

NIETZSCHE: "Ser que manifesta a vontade de potência"

FREUD: "Ser da libido"

FROMM: "O homem é o produto de princípios culturais e biológicos"

MAX SCHELER: "Ser aberto ao mundo"

HEIDEGGER: "Ser-no-mundo", "Ser-aí"

SARTRE: "O homem é o resultado de suas escolhas"

CASSIRER: "Ser simbólico"

FROILAM: "Criador de deus(es)"


domingo, 21 de setembro de 2014

LEITURA INCÔMODA

        Uma coisa me incomoda ao ler Descartes, o “pai do racionalismo”: o salto que ele propõe de seu princípio de racionalidade, o cogito, para a metafísica.
A ideia de Deus prova sua existência.
(O termo “existência” aqui não tem a acepção heideggeriana, dada com exclusividade ao homem.)
Não é estranho que até hoje ninguém limitou essa prova de Descartes aos deuses vigentes, cultuados pelas religiões ainda ativas? Deuses que vigem: Jeová (que passou a ser denominado de “Deus” por etnocentrismo da cultura judaico-cristã), Alá, Vixnu, entre outros.
Os deuses que vigeram também eram a ideia de homens, povos e civilizações, não menos vivos em seu tempo do que somos hoje, os ocidentais.
Ninguém que vivesse na Grécia Antiga defenderia a não existência de Zeus (e dos Olimpianos). Mais que coragem, faltar-lhe-ia argumentos para convencer seus concidadãos. Séculos ou milênios mais tarde, todavia, o deus poderoso dos gregos acabou relegado ao mito. Crença, culto, conceito, imagem, tudo não passava de uma ilusão milenar, civilizatória.
Em relação a nossa civilização, Nietzsche ainda é o melhor exemplo de coragem e argumentação. Depois dele, o século XX se encheu de filósofos e cientistas a prolongar seu discurso.
Da parte que me cabe, modéstia à parte, já vislumbro um tempo em que judaísmo e cristianismo (grafados com minúsculas) não passarão de mito, e a Bíblia, a expressão escrita de uma mitologia.
A laicização aponta para esse tempo.
Ela não será páreo para o fundamentalismo islâmico, que se intromete na Europa sem qualquer resistência. Para deter esse avanço, penso que a cruz ainda se fará necessária a partir de sua última cidadela (na América).
Essa tergiversação sobre uma leitura de Descartes também me incomoda.  

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

NOVA BABEL

         Uma nova babel ergue seu edifício nestes dias com uma rapidez que logo comprometerá a própria sustentação. Com o mesmo instrumento, a língua, sujeitos diferentes conseguem elaborar uma diversidade tão grande de discursos, que já dificulta o entendimento recíproco, a interlocução.
            Um “tijolo” (ou “pérola”) dessa construção babélica foi oferecido pela juíza Cármen Lúcia Antunes Rocha, vice-presidente do Supremo Tribunal Federal: “Tenho muita fé em que os cidadãos vão entender com clareza cada vez maior que qualquer condenação que ultrapasse o direito é vingança, não justiça. E vingança se tem na barbárie, não na civilização” (VEJA, 17 Set 14).
         Dos conceitos primitivos empregados pela juíza, proponho uma análise de vingança, justiça, barbárie e civilização. Os dois últimos fazem referência a estágios de desenvolvimento da humanidade. A barbárie se encerrou com o surgimento da escrita, há seis mil anos aproximadamente, quando teve início a civilização.
            Certamente, não foi essa significação que a juíza Cármen Lúcia deu aos termos, reduzindo-os a seus hipônimos atuais: vingança (para barbárie) e justiça (para civilização).
         A denominação de barbárie ao ato de crueldade é de uso corrente, que não distingue os “babelianos”, da elite intelectualizada ao senso comum. O uso falacioso dessa inversão tem o objetivo de preservar a nossa civilização, por intermédio do mito teleológico, que atribui a ela uma evolução contínua para melhor. Ao ato de boa educação, fraternidade e amor, diz-se que é civilizado.
         (Segundo a frequência com que ocorrem esses antípodas do comportamento humano, o mal continua identificando-se à realidade, e o bem, à idealização. Não obstante o gigantesco imperativo moral ou religioso.)
         Ao associar uma condenação mais dura à barbárie, não à civilização, a juíza reduz coisas opostas numa coisa única, com graus diferentes de intensidade na ação de punir quem tenha sido condenado. Ela saberia explicar melhor (ou “desbabelizar”) em que consiste uma “condenação que ultrapasse o direito”? Em contrapartida, há um “ficar aquém” do direito? Neste caso, continuaria havendo justiça? Na confusão instituída pela nova babel, a impunidade é barbárie ou civilização? Ou esta só existe dentro da exata medida do Direito?
          O magistrado que “ultrapasse o direito” de punir não cometeria um exagero, uma severidade, um equívoco. Por que vingança (julgando-se crimes do chamado “colarinho branco”)?
         Afinal, o que realmente disse a juíza Cármen Lúcia? Suas opiniões (publicadas na VEJA) contribuem para aumentar a algaravia discursiva que levanta uma babel às avessas nestes dias.   

O MUNDO DE PARMÊNIDES


Mais um livro para a minha biblioteca. Transcrevo o excerto da contracapa:
"O mundo de Parmênides é uma exploração brilhante da complexidade do pensamento grego antigo por um dos principais filósofos do século XX. Evidenciam-se aí a grandeza da filosofia pré-socrática e a substantiva dívida de Popper para com a leitura de Parmênides, Xenófanes e Heráclito".
Dos pré-socráticos acima, destaco Xenófanes, o primeiro a pensar o antropomorfismo. Em meu primeiro livro de poemas, Ponteiros de palavra, escrevi o seguinte siloi sobre o pensador:

xenófanes

o grande engenho
do homem
que o levaria
aos céus
(montado
sobre o abdômen)

foi deus

Siloi era o gênero textual de Xenófanes (semelhante a um pequeno poema satírico). O entre parêntesis do meu poema (montado sobre o abdômen) é uma alusão a Nietzsche: "É o abdômen que impede o homem de se considerar facilmente um deus". 

terça-feira, 16 de setembro de 2014

NATUREZA X ARTIFÍCIO

O mundo, em sua configuração presente, apresenta uma geografia dual: natureza versus artifício. A natureza é representada por tudo que existe independente do fator humano, e o artifício, pelo contrário. O mês de setembro, por exemplo, pode ser descrito sob esses dois grandes domínios. Sem o homem (mão, linguagem e inteligência), não haveria uma medida para o tempo de 30 dias, o mês com a denominação setembro. Os campos e as matas, no entanto, continuariam a florir nestas manhãs azuis. As borboletas e os pássaros continuariam a voar entre as flores, sobre os campos e as matas naturalmente. A estação continuaria a se repetir a cada ciclo determinado pela posição do planeta em sua órbita translacional, não obstante a presença daquele que a denominaprimavera. A árvore e o fazendeiro ainda convivem dentro do mesmo dia 21 a eles dedicado contraditoriamente. O fazendeiro ainda derruba a árvore, beneficia seu tronco e queima seus galhos. Nessa prática tão antiga, ele foi agente de destruição do meio natural, com a extração madeireira, o cultivo da roça e a ampliação da pastagem. À medida que o artifício aumenta seus poderes, todavia, a natureza não apenas perde os seus, como passa a sofrer as mais diversas formas de agressão. O choque entre natureza e artifício já aponta para um desfecho pouco alvissareiro para a humanidade. Ela é ainda movida pelo princípio antrópico, ou pior, pelo preconceito antropocêntrico. Não demorará a dar sinal de que personifica o lado mais fraco obviamente. A falta de alimento, de água e de energia em determinados lugares da Terra (em decorrência de uma desigualdade globalizada de consumo), constitui os primeiros sintomas de um mal futuro. Setembro continuará a existir em tempo de catástrofes naturais e artificiais, as quais mudarão a geografia do mundo. 

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

SUGESTÃO PARA O TRÂNSITO


Em alguns cruzamentos de ruas de nossa cidade, mais movimentados e com duplo sentido da via (como é o caso da Sete de Setembro e da Silveira Martins em Santiago), sugiro que sejam colocadas barreiras (cimento ou plástico) no centro do cruzamento. O sentido deverá ser indicado por placas de sinalização vertical no alto da (falsa) rotatória. Seja permitindo todas as mudanças de sentido ou não. 
Noutros cruzamentos menos movimentados, a barreira terá a função de apenas estreitar a faixa, obrigando o automóvel a reduzir a velocidade. 
No meu próximo livro, Palavras de fogo, escrevo sobre o motorista borderline
A história sobre esses jovens que se acidentaram na Sete de Setembro poderia ser diferente. Num universo paralelo, onde a fatalidade não cede à sorte, eles teriam perdido a vida, enlutando o sábado santiaguense. Os familiares já estariam pedindo justiça, contra o prefeito que mandou asfaltar aquela via, contra a fábrica do automóvel acidentado (que o capacitou de uma potência muito acima do necessário), contra as lojas de conveniência que vendem bebida alcoólica, contra a polícia que não fiscalizou o trânsito, contra a carência de médico legista em Santiago, ad nauseam. O mundo real não foi abalado, todavia. O sábado continua azul. Logo mais, à noite, outros jovens correrão o risco de morte. Esses notívagos transitam na linha que separa os dois mundos, da sorte e da fatalidade, da vida e da morte.  

Na verdade, a culpa nunca é do outro (contrariamento ao que sói acontecer em caso de acidente), mas do sujeito da ação de dirigir.  

domingo, 7 de setembro de 2014

REAIS E HIPOTÉTICAS

Nietzsche vislumbrou com acerto: há um excesso de sensibilidade na cultura ocidental (como um indicador de declínio). No Brasil, esse excesso tem um reconhecimento legal, no excesso de direito.

O xingamento gera situações interessantes (para não dizer contraditórias). Num estádio de futebol, trinta mil torcedores gritam em coro: “Fulano, viado!”, referindo-se ao locutor famoso.  Nada acontece, uma vez que o jornalista não é homossexual. Noutro estádio, um torcedor grita: “Fulano, viado!”, referindo-se ao árbitro. O clube é processado por homofobia, uma vez que o juiz é homossexual.

Numa discussão acalorada entre dois homossexuais, o primeiro chama seu contendor de “viado”. Nada acontece. Noutra discussão acalorada entre dois homens, o primeiro, heterossexual, chama o outro de “viado”. Crime homofóbico. Caso os dois homens sejam heterossexuais, a palavra “viado” não passa de uma simples provocação.

Num estádio de futebol, trinta mil torcedores gritam em coro: “Filho da puta!”, referindo-se ao árbitro que deu um pênalti inexistente para o time adversário. Nada acontece, uma vez que “filha da puta” é uma força de expressão, não ofende a moral da senhora mãe do vaiado. Noutro estádio, um torcedor grita: “Macaco”, referindo-se ao árbitro ou a um jogador. O clube é processado por racismo, uma vez que o vaiado tem a pele escura. Num terceiro estádio (ou arena), um torcedor joga um vaso sanitário na cabeça de outro torcedor, tirando-lhe a vida. Nada acontece ao clube. A ofensa referente à cor da pele é mais grave que o assassinato.

Um usuário do Facebook, cuja cor da pele é escura, publica o seguinte: “Estudo revela que mulher que namora homem negro é mais feliz”. Nada acontece, além do riso estilizado (kkkkk). Outro usuário do mesmo site interativo escreve: “Estudo revela que mulher que namora homem branco é mais feliz”. Crime de racismo.


A Constituição da República Federativa do Brasil, marco oficial do crescente excesso de direito (individual/minorias), preceitua em seu Art. 5º: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. Outra lei institui que, em todas as universidades e institutos federais, alunos terão vagas reservadas para escola pública, levando-se em conta a cor e a raça inclusive. Todos são iguais, ou há diferença entre uns e outros?
Haja lei neste país!

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A ILHA DO CONHECIMENTO


A partir de uma pequena reportagem da VEJA, fui atrás do último livro de Marcelo Gleiser, A ilha do conhecimento
Certamente, coloco-me entre os maiores fãs desse carioca, professor de Filosofia Natural e de Física e Astronomia no Dartmouth College. À exceção da Física (sempre fui um péssimo aluno em Matemática), as outras duas disciplinas ensinadas por Gleiser estão entre as áreas do conhecimento que mais gosto.
Sobre esse livro, transcrevo um excerto da orelha:
"Em A ilha do conhecimento, o físico Marcelo Gleiser traça nossa busca por respostas a questões fundamentais da existência. E chega a uma conclusão provocativa: a ciência, principal ferramenta que temos para encontrar respostas, é fundamentalmente limitada. A essência da realidade é incognoscível".
Gleiser é excessivamente autocrítico. Sempre é cedo demais para concluir que a "realidade é incognoscível". Muito da realidade incognoscível para filósofos e cientistas de um passado distante hoje é conhecido. 
O conhecimento é uma ilha, que aumenta de tamanho continuamente. O contraponto de Gleiser é de que esse aumento é acompanhado pelo aumento do que há para conhecer em volta. Na Astronomia, por exemplo, o aumento do alcance dos instrumentos ópticos é mais ou menos anulado pela expansão acelerada do Universo.
Outros livros de Gleiser que recomendo: A dança do Universo, O fim da Terra e do Céu e Criação imperfeita