quarta-feira, 16 de abril de 2014

PAIXÃO

O termo paixão, que hoje expressa um sentimento intenso, tem origem etimológica no latim passio -onis, derivado de passus, e significava sofrer. 
A liberação de oxitocina e vasopressina embriaga de felicidade o apaixonado, que pouco se importa com os efeitos colaterais, como a aceleração cardíaca e a instabilidade emocional. 
A juventude não vê diferença entre paixão e amor, por isso é mais vulnerável ao sofrimento (que não nega a etimologia). 
Sexta-feira Santa é o momento em que a cristandade rememora a paixão de seu deus encarnado. Não houvesse a cruz, o sangue derramado e a morte, dificilmente constituir-se-ia o cristianismo. 
Deus crucificado é uma apostasia com que Paulo de Tarso, o primeiro grande idealizador dessa religião, faria o contraponto decisivo para o domínio da fé. 
O apóstolo escreveu aos coríntios sobre Cristo crucificado: “escândalo para os judeus, e loucura para os gregos”. O deus dos judeus era poderoso e vingativo, não poderia, repentinamente, tornar-se fraco, deixar-se castigar e morrer por reles humanos. Um escândalo! O deus dos judeus torraria seus inimigos, como já fizera anteriormente. Para os gregos, então dominados pela filosofia estoica, deus constituía uma potência infinita, que estruturava todas as coisas do Universo. De que maneira esse deus, repentinamente, assumiria a dimensão de um homem? Uma loucura! 
O ensinamento de Paulo: a “loucura” do deus cristão era mais sábia do que a sabedoria dos gregos; a fraqueza dele era mais forte do que poderia acreditar os judeus. A grandeza desse deus seria confirmada pela ressurreição de Cristo ao terceiro dia. 
A paixão só tem um sentido transcendente com essa relação pascal. Noutro sentido, o mundano, a paixão pode ser comparada a Eros num devaneio gostosamente febril. 

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