quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014
UM POEMA, ENFIM
TEMPO
(tributo a Agostinho)
o tempo é fluxo
contrário
ao real
- um ir sempre
de trás
para frente
tudo mais
vem da frente
para trás
e passa por nós
e passamos
no momento presente
(o incapturável
presente)
terça-feira, 25 de fevereiro de 2014
PÃO E CIRCO
O Brasil, por intermédio de seus últimos
governantes, não faz mais que repetir uma política criada em Roma há dois
milênios: pão e circo. O primeiro item foi institucionalizado com o nome de
Bolsa Família; o segundo é preparado mais perdulariamente nestes dias que
antecedem o grande espetáculo da Copa do Mundo de Futebol. Os gastos totais com
a brincadeira orçam em aproximadamente 30 bilhões de reais. Na política romana,
satirizada pelo poeta Juvenal, os gastos com pão e circo foram enormes,
forçando a elevação de impostos e comprometendo a economia do Império. Aqui os
impostos já sufocam os brasileiros (leia-se, os que produzem), sobrando a
alternativa de cortar no orçamento anual – tão necessário para o real
desenvolvimento do país. A distribuição do pão é feita de forma simples:
transferência direta de renda, dos que produzem (e pagam impostos) aos que não
produzem, pobres e miseráveis. O “milagre” não é questionável, a não por uma
filosofia que defende o ensino da pesca ao invés de dar o peixe. Ao contrário
dessa aceitação tácita, a preparação do circo vem suscitando críticas e
manifestações de rua violentas. Inclusive grandes entusiastas pelo esporte se
colocam na linha de frente, onde o discurso é forjado (e logo transformado em
respaldo moral para as ações dos black bloc. Apenas para a construção/ reforma dos estádios, o evento custará 97%
aos cofres públicos. A presidente Dilma, todavia, afirma que o dinheiro não
terá essa fonte. Pelé argumenta (?) que as despesas serão recuperadas com o
turismo. O circo, cujo significado primordial era diversão gratuita ao
povo, virou mercado para poucos beneficiados: a Federação Internacional de
Futebol (FIFA) e as empresas que administrarão os estádios depois da Copa do Mundo.
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
OUTRO EQUÍVOCO
Outro equívoco que venho cometendo há algum tempo se assemelha ao expresso na postagem abaixo, qual seja, o de superestimar meu blog, como se ele fosse acessado por centenas ou milhares de leitores.
Ultimamente, o número de acesso não passa de uma dezena, o que ainda não é motivo suficiente para pensar num salto temático, ou até mesmo encerrar de vez com as atualizações desta página (criada no ano de 2006).
Em consideração aos poucos leitores que leem meu Contra., continuarei a postar aqui os mesmos gêneros digitais que o caracteriza desde o princípio.
Assim como a fila diante do edifício (em que funciona uma livraria e uma casa lotérica em Torres) destinava-se ao jogo na Mega Sena acumulada, na blogosfera o acesso está atrás de notícias e fofocas da nossa cidade. Há uma equivalência entre essas duas procuras.
As pessoas não apostam em ideias.
Elas querem porque querem enriquecer materialmente (de preferência sem muito trabalhar para isso). São exceções, belas exceções, as que buscam conhecimento, a sabedoria. Infelizmente, esse é um ideal ultrapassado dentro da cultura ocidental.
Ao postar sobre um aspecto do budismo, citando-o como modelo para uma vida mais simples, pensei expressar o quanto meus contemporâneos se afastam em direção a um caminho inverso, cuja complexidade beira o absurdo.
MEU EQUÍVOCO
Em Torres, numa tarde dessas, vejo uma enorme fila em frente a uma livraria em que comprara alguns livros no dia anterior. Ainda comentei com a Erilaine, que seria lançamento com autor presente. Nada disso. Ao lado da livraria, dentro do mesmo edifício, funcionava uma casa lotérica. A fila de gente era para apostar na mega sena acumulada. Na hora, achei graça do meu equívoco.
sábado, 22 de fevereiro de 2014
O HOMEM-DEUS
Mesmo na praia, não deixei de ler. O livro, cuja capa é acima ilustrada, comprei numa livraria de Torres. Gosto muito dos pensadores franceses da atualidade, entre os quais Clement Rosset, André Comte-Sponville, Michel Onfray e Luc Ferry (autor de O homem-deus).
O livro tem uma extensa introdução: Do sentido da vida: o recuo de uma questão. Depois se divide em três capítulos: A humanização do divino: de João Paulo II a Drewermann; A divinização do humano: a secularização da ética e o nascimento do amor moderno; e O sagrado com rosto humano. E uma conclusão: O humanismo do homem-deus.
Trechos que iluminei:
"Os católicos, em sua maioria, se tornaram, no sentido voltariano do termo, "deístas". Conservam, é certo, o sentimento de uma transcendência, mas cada vez mais abandonam os dogmas tradicionais em proveito de uma conversão à ideologia dos direitos do homem. As pessoas se dizem ainda católicas, mas submetem os mandamentos do Papa ao crivo humanista do exame crítico e não mais acreditam tanto na imortalidade da alma, na virgindade de Maria nem sequer na existência do Diabo...
"Dois discursos mais ou menos convencionais, dissimulam a base dos debates que cruzam atualmente o universo da religião. O primeiro, o da "revanche de Deus", visa aos fundamentalistas de todo tipo... O islã de Khomeini, o cristianismo do reverendíssimo Lefebvre, ou o judaísmo da extrema direita israelense podem ser entendidos como facetas diversas de um fenômeno único e inquietante: o integrismo. Por outro lado, porém, todas as pesquisas sociológicas sérias revelam a dimensão do movimento de secularização que ganha o mundo democrático europeu".
terça-feira, 18 de fevereiro de 2014
REFLEXÕES ANTE O MAR
A grande lição do budismo é de que
devemos compreender nossos desejos, (se possível) dominá-los e reduzi-los
consideravelmente.
Grande parcela do nosso sofrimento advém da existência dos
desejos, principalmente daqueles que não se realizam.
Dos milhões de exemplos,
cito o desejo de progresso – material, espiritual, intelectual, artístico...
Em
nossa cultura, poucos homens não desejam adquirir bens móveis e imóveis, raros
não desejam enriquecer. Entre as exceções, alguns desejam, por exemplo, liderar
uma igreja, outros ganhar notoriedade com as ideias ou com a arte.
Há quem
consegue isso com muita determinação e trabalho. A maioria das pessoas, todavia, tem
seus sonhos continuamente adiados.
Essa maioria compõe a massa dos comuns, que
são dominados pelos desejos, pelas pulsões.
O desejo tem a sua metafísica: a
esperança.
Também neste ponto o budismo ensina que é a des-esperança uma condição
para a felicidade.
Nisto estão de acordo Krishnamurti, Comte-Sponville, Luc
Ferry e (modestamente) este colunista: esperar por algo significa que não se
tem algo, que se é feliz apenas com ele. Por extensão, esperar é ser infeliz.
(Citei duas vezes o budismo, mas não o faço mais. Essa religião/filosofia
dispensa deus, não a reencarnação, que é necessária para o homem, libertando-se
das ilusões do Eu, alcançar a iluminação.)
Numa lógica de difícil entendimento,
só quem é feliz hoje, neste momento, pode continuar a ser feliz amanhã.
Não há
um felicitômetro para medir o estado
de contentamento das pessoas, mas ele não mediria diferente a felicidade de um
simples pescador que traga em seu barquinho um peixe enorme e a de um rico
empresário que adquira um iate de luxo.
A
propósito, faço tais reflexões diante do mar, desde esta belíssima praia de
Torres.
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
ITAIMBEZINHO
Os cânions são formações geológicas de bilhões de anos, que encantam e assombram ao mesmo tempo. A um passo do observador, os alcantis verticais descem ao fundo, centenas de metros abaixo.
O mais visitado dos
cânions é o Itaimbezinho, que dista 18 quilômetros de Cambará do Sul.
Uma trilha de 750
metros contorna o chamado “vértice”, que é onde começa o cânion. No sentido
contrário, a partir da sede do parque, outra trilha de 3 quilômetros leva ao
“cotovelo”, ponto em que o cânion muda de direção, formando um ângulo
aproximado de 90º.
Vários mirantes ao
longo das duas trilhas permitem uma melhor visão para o turista (que
imediatamente aponta sua lente fotográfica).
Alguns riachos se
precipitam no vazio, formando belíssimas cascatas, entre as quais o Véu de
Noiva, a mais registrada pelas câmeras.
Na parte mais baixa do
cânion, entre pedras e vegetações, corre um rio – filete de prata com o
refletir a luz do alto.
Motivo para a
contemplação ou para a vertigem, os cânions representam a natureza, diante de
cuja expressão o homem ainda é capaz de admiração e respeito.
domingo, 16 de fevereiro de 2014
A VIAGEM CONTINUA
CAMBARÁ
DO SUL
Cambará é uma cidadezinha de 6 mil habitantes (ainda não
beneficiados com uma agência do Banco do Brasil), localizada nos “campos de
cima da serra”, entre São Francisco de Paula e São José dos Ausentes.
Sua
altitude está acima dos mil metros, onde se registra as temperaturas mais
baixas do Rio Grande do Sul. Nessa sexta-feira, por exemplo, o termômetro em
frente à igreja marcava 12ºC.
Por
conta dos cânions que se formam no município, o local é um chegar e sair de
turistas, que movimentam a cidade (e lhes assegura a sustentação econômica).
O
poder público municipal entregou a administração dos parques ambientais ao
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão federal de comprovada
ineficiência. O pessoal que trabalha em Itaimbezinho é pago pela prefeitura.
Aqui
se colhe um mel saborosíssimo, que justifica o título a Cambará do Sul de
capital desse produto natural.
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014
LUCIANA OLGA SOARES
Antes de seguir para Cambará do Sul, uma demorada visita à Livraria Miragem (em São Francisco de Paula). Mais interessante que os livros e peças de antiquário, que ocupam os espaços dos três pisos de uma construção antiga e muito bem conservada, é a proprietária, uma senhora septuagenária, Luciana Olga Soares. Dona Olga é de um tipo de pessoa inteligentíssimo, cada vez mais raro. Não podemos confundir inteligência com esperteza, que caracteriza muita gente em nossa sociedade. Ela é ativista ecológica, tendo liderado o Manifesto Serrano, contra práticas que transformam o bioma dos Campos de Cima da Serra. Protetora dos animais, Dona Olga é a Fátima Friedriczewski de São Francisco de Paula. À semelhança da "Cãominhada" de Santiago, aqui ela criou a "Caminhada Cães Felizes" - desfile de cães (conduzidos por aqueles que se dizem seus donos). Ao concordar com seus argumentos sobre o "ônibus que despenca numa ribanceira" (metáfora para a decadência do homem e do mundo como um todo ordenado), citei Nietzsche e James Lovelock, e ela brincou que esses pensadores lhe haviam plagiado.
Ao efetuar a compra de três livros (Livro do desassossego, de Fernando Pessoa, Guia Ilustrado de Astronomia, de Ian Ridpath e Poesia galega, org. por Fábio Aristimunho Vargas), disse-me que não trabalha com cartão de crédito, mas que levasse os livros e depois depositasse em sua conta. Confiança que só pessoas inteligentes conseguem desenvolver. (Não confundir com ingenuidade.)
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014
"A SOCIEDADE É CULPADA"
O título acima é uma sentença do presidente do Tribunal Superior Eleitoral e ministro do STF, Marco Aurélio Mello. Segundo essa alta autoridade, a sociedade "reclama do governo e se esquece de que quem colocou os políticos lá foi ela própria".
(Mais uma vez, tiro o chapéu para a revista VEJA, que nos brinda com uma inteligente entrevista nas páginas amarelas.)
O motivo que me leva a fazer esta postagem é uma outra maneira de olhar para o problema político no Brasil, que não será resolvido com uma nova constituinte. Sabiamente, o entrevistado afirma que "não precisamos de novas normas", mas "precisamos é de homens, principalmente públicos, que observem as já existentes".
Já manifestei meu pensamento neste blog (e noutras publicações), que absolve a sociedade votante. A opção é engessada, feita entre dois ou três candidatos, A, B e C, que são indicados pelos partidos. Qualquer que seja a escolha, dirá a crítica mais tarde que a sociedade não sabe escolher. Se a opção pelo PT verifica-se hoje que foi um equívoco, da mesma forma se verificava no final do governo de FHC, do PSDB.
Em duas décadas, a sociedade fez as duas opções, elegendo A (na primeira década) e B (na segunda). Os governos é que não responderam às expectativas da sociedade, estiveram aquém (à exceção dos primeiros anos de FHC e seu Plano Real).
O ministro afirma que a sociedade é culpada. Por que reclama, ou por que elege os políticos que conduzem o governo?
Como ela estaria certa? Não reclamando ou, numa nova escolha, elegendo os outros, o candidato da oposição? Essa última alternativa já ocorreu nas duas últimas décadas (como foi expresso acima) e não adiantou.
Penso que a sociedade pode ser culpada, sim, pela irresponsabilidade, pela inconsequência. Todavia, esses defeitos são motivados pelos governantes ao longo de seus mandatos.
Em duas décadas, a sociedade fez as duas opções, elegendo A (na primeira década) e B (na segunda). Os governos é que não responderam às expectativas da sociedade, estiveram aquém (à exceção dos primeiros anos de FHC e seu Plano Real).
O ministro afirma que a sociedade é culpada. Por que reclama, ou por que elege os políticos que conduzem o governo?
Como ela estaria certa? Não reclamando ou, numa nova escolha, elegendo os outros, o candidato da oposição? Essa última alternativa já ocorreu nas duas últimas décadas (como foi expresso acima) e não adiantou.
Penso que a sociedade pode ser culpada, sim, pela irresponsabilidade, pela inconsequência. Todavia, esses defeitos são motivados pelos governantes ao longo de seus mandatos.
terça-feira, 11 de fevereiro de 2014
BORGES
Não me canso de ler Borges. Desenvolvi esse prazer estético desde 26 de janeiro de 1989. Nessa ocasião, li Ficções num único dia. Nesse livro, encontram-se reunidos alguns dos melhores contos do argentino, entre os quais As ruínas circulares, A Biblioteca de Babel, O jardim de caminhos que se bifurcam e O Sul.
A prosa de Borges beira a perfeição literária.
Ao ler Borges, você despertará para Julio Cortázar. Depois de Cartázar, você lerá outros escritores, entre os quais Juan Carlos Onetti (uruguaio), José María Arguedas (peruano), García Márquez (colombiano), Miguel Ángel Asturias (guatemalteco), enfim, lerá todos os grandes escritores latinos-americanos, responsáveis por um ápice da literatura universal.
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
CHURRASCO SALGADO
Ontem fui a uma festa na Fontana Freda, interior de Jaguari. Muito calor, muita terra, muita gente. O programa não foi dos mais confortáveis: fila para apanhar o risoto (que era dos melhores há 30/ 40 anos), fila para apanhar o churrasco, fila para comprar bebida (água).
Não confiando inteiramente no arroz, resolvi reforçar o almoço com a carne assada. Não assada, mas sapecada. Carvão por fora, sangue por dentro. Nunca tinha experimentado um churrasco tão salgado. Fiz um comentário sobre esse aspecto, e alguém me explicou que é para aumentar a venda de cerveja.
A despeito da ingenuidade com que é conhecido o homem do interior, essa estratégia de lucro não é honesta. O fim, a renda destinada à igreja da localidade, não justifica os meios, o sal em excesso na carne. Para não jogar fora o churrasco (no valor de R$ 45,00), trouxe para casa, pensando em fazê-lo picado com arroz.
Na impossibilidade de tomar cerveja, a estratégia não funcionou comigo, sendo lesado em meu apetite.
No primeiro domingo de março, Bom Retiro fará sua festa anual, em prol da Igreja Nossa Senhora do Monte Bérico. Antecipadamente, peço que não salguem com excesso a carne para vender mais cerveja.
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014
ESFERA DE DYSON*
Astrônomos mais especulativos pensam na possibilidade de vida inteligente fora do Sistema Solar. Alguns estudam a possibilidade de existirem supercivilizações, o que provoca frisson entre os ufólogos.
Na última Superinteressante, há uma matéria sobre essa busca, liderada pelo astrônomo americano Geoff Marcy (que já descobriu mais de cem planetas a orbitar outras estrelas).
A hipótese de Marcy, no rastro de Feeman Dyson, é de supercivilizações necessitam de fontes maiores de energia, como a própria estrela que rege o sistema.
Fundamentado-se na demanda maciça de energia, não temos uma supercivilização na Terra. Recém agora começamos a usar painéis solares. Ainda somos dependentes dos combustíveis fósseis, maior responsável pelo aquecimento global por ação do homem.
* Megaestrutura hipotética, a qual orbitaria uma estrela de modo a rodeá-la completamente,
capturando toda ou maior parte de sua energia emitida. Dyson especulou
que tal estrutura seria a consequência lógica da sobrevivência e da
escalar necessidade de energia de uma civilização avançada
tecnologicamente e propôs que a busca de evidências de tal estrutura
poderia levar a detecção de vida extraterrestre com inteligência avançada
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
SECANTE?
Leio no blog do Júlio Prates uma sugestão pertinente, propondo um debate sério sobre a nossa barragem. O assunto levantado pelo blogueiro diz respeito à existência de lavouras em volta dessa fonte/ reservatório de água que abastece Santiago. Essas lavouras estariam usando secante e outros produtos químicos, para evitar ervas daninhas e pragas. Estariam ou estão? Mesmo hipoteticamente, isso não é concebível (pelo risco de contaminação).
A Corsan local faz coleta e análise da água bruta de hora em hora, para comprovar a presença de elementos ou substâncias nocivas à saúde. Da água tratada, a análise é feita três vezes por semana. Mesmo assim, o debate é salutar, que envolva principalmente o(s) proprietário(s) das lavouras, engenheiros e técnicos da Corsan.
Ontem, por exemplo, consumi 5 litros de água, sendo que a quinta parte foi da água da Corsan (passada pelo filtro ecológico que tenho em casa).
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014
A RAIZ DO PROBLEMA
Na postagem abaixo, escrevo muito abreviadamente sobre a forma como os nossos jovens adquirem autonomia. Não mais a adquirem por intermédio da família (envolvida em outros conflitos irresolúveis), muito menos por intermédio do Estado. Mais cedo do que pode suspeitar a confiança dos pais, os filhos passam a conhecer a rua, a desejar a própria inclusão no grupo social que nela se estabelece aleatoriamente. No caminho entre a casa e o mundo, a escola constitui um facilitador, um subterfúgio, um álibi. A educação do lar/ escola, cujo objetivo mais sublime (para não dizer utópico) é a liberdade do indivíduo, não é páreo para a realidade extramuro.
ONDE ESTÃO OS PAIS?
A primeira coisa
sensata que nos vem à mente, ao assistir a um vídeo com
adolescentes depredando automóveis no centro de Santiago, consiste
na pergunta "onde estão os pais?". Já sabemos onde se
encontram pai e mãe desses notívagos. Provavelmente, assistindo ao
primeiro beijo gay do telenovelismo brasileiro, locupletando-se com
as intimidades do Big Brother, postando fotos de cães e gatos no
Facebook, perdidos na noite (separados), ou dormindo o sono dos
justos. O único lugar em que eles não estão é junto aos filhos.
Um pouco por omissão deles, um muito por opção dos filhos,
confirma-se o que escreveu G. K. Gibran: "Vossos filhos não são
vossos filhos; são filhos e filhas da ânsia da vida por si mesma".
Mais cedo que nunca, eles adquirem autonomia, embora não saibam
muito bem para quê. Não foi uma boa educação que os transformou
em indivíduos autônomos, mas uma iniciação marginal,
reconhecidamente anárquica, agressiva. A responsabilidade que
queremos atribuir aos pais, como única alternativa para moralizar os
mais jovens, é algo quase irresgatável, que se perdeu (nas últimas
décadas) e que continua a se perder nestes dias. Diante dessa
incapacidade moral, já devemos pensar como o Estado poderia resolver
o problema, mais abrangente e mais sério do que aponta nossa análise
superficial. A organização política costuma intervir com as mesmas
ferramentas (medidas reificadas) de sempre. Sua ineficiência
decorre, a princípio, em razão de nossa omissão como pensadores do
ethos social. Na prática, falhamos como pais, agentes e
pacientes de uma desestruturação familiar, porque agimos sem a
reflexão necessária. Na teoria, não podemos falhar na condição
de cidadãos, de indivíduos éticos. Se o Estado falhar, essa
condição corre o risco de não mais nos caracterizar politicamente.
domingo, 2 de fevereiro de 2014
REFLEXÕES SOBRE A VIOLÊNCIA HUMANA
Uma coisa que parece não entrar nas cabeças bem intencionadas, que pensam uma solução para os problemas sociais, é que a agressividade constitui uma característica inata do homo sapiens (sapiens?).
Todo conhecimento científico que faz do homem seu objeto, da História Natural à Psicologia, aponta para esse aspecto que desmistifica a grandeza engendrada pelos preconceitos antropocêntricos e pelas orientações judaico-cristãs (base mítico-religiosa da nossa civilização ocidental).
Não há necessidade de Nietzsche para concluir, antes da experiência finda, que o processo de transformar indivíduos broncos em pessoas do bem não teve, não tem e não terá êxito.
(Continuo mais tarde.)
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