quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

GERAÇÃO DE NOTÍVAGOS

A partir de um giro completo em torno do próprio eixo, a Terra apresenta dois momentos distintos, considerando-se sua relação com o Sol: dia e noite. 
À exceção das regiões polares, todo lugar da superfície terrestre passa pela alternância de receber a luz e mergulhar na escuridão. 
Ao emergir da natureza inconsciente, o homem descobriu e criou formas de controlar o fogo, para, entre outras práticas, tornar menos difícil as horas noturnas. 
Por milhões de anos, sem ou com esse elemento natural, a noite foi destinada ao sono, à recuperação do corpo e da mente. 
Com a crescente sedentarização humana (desde o início do Neolítico), as cidades passaram a transformar o modo de vida de seus habitantes, ampliando-lhes a vigília. Isso se evidenciaria com a recentíssima descoberta da eletricidade, a qual propiciou maior iluminação à noite. (Atualmente, para bloquear a luminosidade artificial, as cortinas de tecido vêm reforçadas com o chamado blecaute, isto é, um plástico totalmente opaco.) 
Sob a luz, o homem continua aceso, motivado não apenas pelas atividades de lazer. Diretamente proporcional a isso, elevou-se o nível de ruído, o que forçou a criação da “lei do silêncio” (via de regra, não obedecida). 
Plugada a uma revolução tecnológica, a vida noturna engendrou as primeiras gerações de notívagos no seio da sociedade moderna. Seus indivíduos, parafraseando Vinícius de Moraes, de manhã escurecem, de dia tardam, de tarde anoitecem e de noite ardem. 
Eles tomam o trânsito depois da meia-noite, quando ocorre um acréscimo de entropia na já debilitada ordem dos centros urbanos. 
As grandes manifestações realizadas no Brasil no ano que passou, entre anárquicas e violentas, foram lideradas pelos notívagos, denominados “black bloc”. 
Falta-lhes a doçura das manhãs, a claridade solar.   

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