sábado, 29 de junho de 2013

DIVERSOS

Marcos Rolim escreve no caderno Cultura, ZH deste sábado: "Os protestos das ruas e das redes [...] são uma janela aberta para renovar a triste e sufocante política brasileira". 
Esse discurso é contraditório, quando seu seu autor é um dos principais arautos dessa política, participando dela como vereador, deputado estadual e federal pelo PT. 
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Uma das reivindicações dos protestos de rua é pela educação. Também é contraditório que alguém adiante seu voto pela reeleição da presidente Dilma, justificando que a educação vai muito bem. Por que a presidente não anunciou 100% dos royalties do petróleo para a educação antes do povo sair à rua?
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A PROPÓSITO DE REELEIÇÃO, QUALQUER REFORMA POLÍTICA QUE NÃO ACABAR COM ESSE MAL SERÁ INÚTIL.
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Há uma unanimidade nacional: os baderneiros são estranhos, não pertencem ao movimento reivindicatório (e democrático) que ocorre nos últimos dias. Os analistas mais sensatos só não opinam que os manifestantes de rosto coberto são de outro país, de outro planeta. Já estão dizendo que pertencem a outro tempo, o da barbárie. 
A baderna é um fato social. Quem a produz pertence à nossa sociedade. A banalização do crime é uma das consequências do homem civilizado. 

sexta-feira, 28 de junho de 2013

JUSTIÇA

A justiça gera questões que têm envolvido filósofos (talvez apenas abaixo dos estudiosos do Direito). 
No começo de A República, Platão expressa pela boca de Trasímaco o seguinte: 
"E cada governo faz as leis para seu próprio proveito: a democracia, leis democráticas; a tirania, leis tirânicas, e as outras a mesma coisa; estabelecidas estas leis, declaram justo, para os governados, o seu próprio interesse, e castigam quem o transgride como violador da lei, culpando-o de injustiça. Aqui tens, homem excelente, o que afirmo: em todas as cidades o justo é a mesma coisa, isto é, o que é vantajoso para o governo constituído; ora, este é o mais forte, de onde se segue, para um homem de bom raciocínio, que em todos os lugares o justo é a mesma coisa: o interesse do mais forte".
No século passado, Michel Foucault produziu uma obra dedicada ao tema: Microfísica do Poder. Não o li, mas sei que o livro trata da dominação do homem pelo Estado. Algo que se assemelha ao transcrito acima, do diálogo entre Sócrates e Trasímaco.
Minha intenção inicial era (e continua sendo) perguntar se há justiça no julgamento de um assassino, como o ocorrido hoje em Santiago. A resposta do senso comum é sim, corroborada ao mesmo tempo pela percepção dos representantes do Estado e dos familiares da vítima. 
A partir da condenação do réu a 16 anos de reclusão, pode-se dizer que foi feito justiça. O criminoso  infringiu uma das leis mais antigas dos códigos religiosos e morais: não matar. Ao matar (da forma como o fez), ele cometeu a mais grave injustiça. 
Filósofos mais antigos que Platão consideravam que "cumpre-se a justiça somente quando se restaura a ordem original, quando se corrige e se castiga o excesso". (Esse conhecimento me é passado por José Ferrater Mora.) Noutras postagens sobre as mortes causadas pelo incêndio na boate Kiss, perguntei se haveria justiça, como exige a Associação dos Familiares das Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria.
Segundo os pré-socráticos, no caso de um homem tirar a vida de outro, a prisão representa o castigo, nunca a restauração da ordem anterior ao crime. Não há indenização (por mais elevada que seja), não há pena máxima dada ao assassino que trará a vida de volta, que compensará o sentimento de perda, a dor da ausência definitiva. Tampouco a vingança, o "olho por olho, dente por dente". 

quinta-feira, 27 de junho de 2013

A PALAVRA COMO FIGURAÇÃO DO SER

"Capaz de articulação discursiva e de palavra, o homem é naturalmente expressivo da sua descoberta original da existência, constituindo a poesia, no entender de Heidegger, o dizer genuíno e ontologicamente mais significativo, pois que vocacionado para explicar possibilidades existenciais abertas pelo sentimento de situação, ou seja, pela experiência de se encontrar já sendo e a ter de ser.
"Na mesma linha de reflexão e explorando a mediação linguística e hermenêutica da cultura na elucidação do sentido da existência, abriu a filosofia de (Paul) Ricoeur fecundas perspectivas sobre a metáfora e a narrativa enquanto imitação (mimesis) criadora da ação, através da qual o sentido do ser como tempo se refigura e reinventa. [...]
"A metáfora explicita a riqueza do ser, descobrindo novas possibilidades e enunciando-as numa predileção pertinente. Ela constitui assim, como viu Aristóteles, uma mimesis da ação, a figuração do acontecer vivo do ser, eclodindo e manifestando-se onticamente através da atualização de possibilidades. [...]
"É que, como também viu Heidegger, a palavra, no seu sentido originário e criador, não é um ente, mas um evento, esse mesmo pelo qual coisas e mundo são na sua diferença. Ela pertence, por isso, como o tempo, de que é a flor e o fruto, à ordem do constituinte, sempre já pressuposto pelo trabalho de constituição da consciência racional. Escapando como aquele à vontade de domínio desta, é a palavra que, jorrando de modo imprevisível dos abismos do fluxo temporal, propõe à imaginação novos modos de fazer aparecer o ser em configurações insuspeitadas de sentido.
"Há, assim, na linguagem, como salientou Gadamer, um poder e um querer-dizer, que superam todo o conteúdo proferido: trata-se da força universal de compreensão e de revelação do ser, tal como ocorre em cada língua particular. No poema, na ficção, a língua continua a falar, para lá do já dito, exercendo um poder-ser, que supera todo o dado efetivo."
(Do livro Introdução à Ontologia, de Mafalda de Faria Blanc.)

terça-feira, 25 de junho de 2013

EXISTÊNCIA


há um repouso
não sentido
dentro
      do movimento

há um fluxo
não pensado
dentro
      da mesmidade

há uma diferença
não medida
dentro
         da igualdade

há uma potência
não conhecida
dentro
             do possível

dentro do real
o irreal
o imaginário
                tudo há

segunda-feira, 24 de junho de 2013

FATO: A INTOLERÂNCIA

Tão evidente quanto o vandalismo como fato social nos protestos de rua é a intolerância aos militantes partidários. A causa primeira dessa intolerância cabe preponderantemente a dois partidos: PT e PMDB. A maior bandeira do movimento apartidário é um grito contra a corrupção, mais evidente em Brasília, no palácio e na casa, onde (des)mandam gente dos partidos acima. Seus arautos vêm agora acusar os manifestantes de fascistas, ditatoriais. 
Cristovam Buarque  fez uma leitura correta. Há uma crise política que nenhuma eleição irá resolver.

domingo, 23 de junho de 2013

VÂNDALOS, HUNOS...

Uma causa houve para que os vândalos saqueassem e destruíssem tudo: os hunos.
Os vândalos emigraram do norte para o sul, fixando-se num território próximo ao Mar Negro. No início do século V, os hunos atacaram os vândalos, que rumaram para oeste até bater de frente com os francos. Vinte mil vândalos morreram nos combates. Com o apoio do alanos, que também migravam para oeste (também forçados pelos hunos), os vândalos venceram os francos e invadiram a Gália, onde saquearam e destruíram tudo o que encontravam pelo caminho. 
Na Península Ibérica, os vândalos (e os alanos) receberam terra dos romanos. Atacados pelos suevos, atravessaram o estreito de Gibraltar e chegaram a Cartago, onde fundaram um reino. Mais tarde, atravessaram o Mediterrâneo e saquearam Roma, já em decadência. Em represália, o imperador Justiniano, de Bizâncio, mandou uma grande esquadra de guerra arrasar o reino dos vândalos.
A língua dominante no mundo civilizado (não tanto civilizado) europeu era o latim, de onde o termo vandalus passou a significar figurativamente aquele que destrói bens público. 
Uma ideia expressa durante os protestos Brasil afora chama de vândalos políticos que se locupletam no poder. O grande Housaiss define por extensão o termo como "aquele cuja ação ou omissão traz prejuízo à civilização, à arte, à cultura (o ministro foi um v. ao cortar verbas da cultura) (política educacional v.)".
Os vândalos atuais, amplamente televisionados, teriam seus hunos? O Estado? A própria sociedade? De certa forma, os protestos são uma tomada de consciência da sociedade, por enquanto contra o establishment, o "sistema" (que praticaria um vandalismo oficial), mas que evoluirá para o mea culpa, para o autoconhecimento. Não faltaram os próprios exemplos de vandalismo. Sim, o vandalismo é um fato social. 
Paro por aqui. A minha análise é prematura d +.  

sábado, 22 de junho de 2013

TEMPO

para o cientista,
dimensão
do universo
pós-
       singularidade

para o metafísico,
adveniência
do ser
           absoluto

para o poeta,
rio
de margens
impossíveis

sexta-feira, 21 de junho de 2013

CORTÁZAR


Julio Cortázar é tema de uma matéria da Bravo deste mês, cujo autor é o chileno Alejandro Zambra, também ficcionista. Zambra cita O jogo da amarelinha, discordando de certos críticos (pago para saber seus nomes), para quem o romance "envelheceu mal".

Cortázar exerceu enorme influência sobre Caio Fernando Abreu, sobressaindo-se, neste aspecto, sobressaindo-se da sombra de Clarice Lispector. Em O ovo apunhalado, por exemplo, o contista argentino é transcrito em duas oportunidades, como epígrafe do conto Visita e do último capítulo do livro. 

Ao recomendar a leitura de Cortázar, cito o conto A saúde dos doentes, do livro Todos os fogos o fogo. O final da história é sensacional. Não tenho dúvida de colocá-lo entre os melhores que li  nos últimos 40 anos. 

A propósito do que expressei acima, enumero outros dois contos que colocaria na lista dos melhores: El Sur, de Jorge Luis Borges; e A terceira margem do rio, de Guimarães Rosa. 

quinta-feira, 20 de junho de 2013

ONTO-LÓGICO

o universo
é um pulsar
do tempo

movimento
          p   i
    s      o    r
e     d         a
             a   l

presente
futuro
e passado

o homem
é um ponto
apenas
pensante
pensado

ser
e ente

MOVIMENTO BOM

Os primeiros protestos de rua ocorreram em Porto Alegre, no mês de março, servindo de inspiração para São Paulo, Rio de Janeiro e demais cidades do país. São Paulo e Rio incrementaram as manifestações com atos de violência. Mais tarde que possível, a ideia motora para a execução do fenômeno social chega a Santiago. Ninguém tem coragem de se posicionar contra o movimento, sob pena de ser atropelado (literal e figurativamente) pelos manifestantes, de repente surtados pela democracia, pela liberdade. Os objetivos iniciais do movimento se diluem em nossa cidade, justificando-se, inclusive, no próprio direito de protestar. Exceto pela depredação, pela violência, o movimento é bom, principalmente porque sem a ingerência de partidos organizados, de políticos aproveitadores.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

CAUSA - EFEITO

Por que aumenta a passagem de ônibus?
Entre as respostas mais objetivas, 1) porque o combustível, pneus, peças automotivas e impostos aumentam e 2) porque os empresários do setor de transporte querem continuar lucrando com o serviço prestado.
Por que aumenta o preço dos combustíveis?
A Petrobras tem em vista seu faturamento, mantendo-se entre as empresas mais ricas do mundo. Os 400 milhões aplicados na construção do Itaquerão (estádio do Curíntia) são trocados.
As pessoas também devem protestar contra as causas do aumento.

terça-feira, 18 de junho de 2013

INTRODUÇÃO À ONTOLOGIA



Hoje recebi a nota da prova presencial de Filosofia: 10. Nada de marcar com X, mas cinco questões cabeludas, como distinguir o conceito de felicidade em Aristóteles e em Stuart Mill, comentar sobre a importância de Tales de Mileto para a Filosofia, sobre as diferenças entre o pensamento científico e o religioso, sobre a postura da Igreja Católica em relação à Teoria da Evolução, sobre a maneira de filosofar de Sócrates, Platão, Aristóteles e Zenão de Eleia. Cada resposta requeria as quinze linhas disponíveis.
As próximas disciplinas são de amargar: Ontologia e Lógica. Justamente meus dois pontos fracos, em razão do menor volume de leitura. Desde o dia 5 de julho de 1990, carrego Ser e Tempo, de Heidegger, daqui pra lá e de lá pra cá, sem conseguir lê-lo. Dessa mesma data, disponho de El ser y la nada, de J.P.Sartre, que continua não lido. Todavia, nos próximos meses, devo encarar a Ontologia. Nesse sentido, mandei vir Introdução à Ontologia, de Mafalda de Faria Blanc (ilustração acima). A autora é professora do Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras de Lisboa. Li metade do livro de ontem pra hoje. Com relação à Lógica, já me aventurei mais longe, lendo A lógica da pesquisa científica, de Karl Popper. 
A primeira e mais profunda questão ontológica é a distinção entre ser e ente
O 10 não se repetirá desta vez.   

CARAS-METADES

A mulher do coronel
tem cara de quartel

A mulher do carcereiro
tem cara de chaveiro

A mulher do agiota
tem cara de cofre

A mulher do visionário
tem cara de calvário

A mulher do bispo
tem cara de noviço

A mulher do psiquiatra
tem cara de psicopata
...
A mulher do motorista
tem cara de autopista
...
A mulher do professor
tem cara de retroprojetor

A mulher do palhaço
tem cara de palha de aço
...

O poema acima faz parte da Coletânea de poesia gaúcha contemporânea. Deixo de citar seu autor por um motivo óbvio. 
Dentro de cada dístico, os versos não apresentam uma regularidade rítmica, com uma preocupação rímica que beira o ridículo.  

PÃO E CIRCO

Aqueles que discursavam contra a política do "pão e circo" nas décadas de oitenta e noventa, encantando milhões de jovens (militantes), praticam-na nos últimos dez anos. No governo, os arrivistas de ontem fazem muito pior: distribuem o pão para determinada classe e o circo para outras. A Copa do Mundo e as Olimpíadas serão espetáculos para as classes A e B. 

domingo, 16 de junho de 2013

INCOERÊNCIA

O poema tinha como título Arrumando a casa, fixado na janela de um ônibus em Porto Alegre. Ele fazia uma relação de objetos encontrados dentro da gaveta de uma cômoda: "uma lâmina de barbear", "uma argola de pescoço fosco", "fotografias da última viagem" etc. Os versos colocados entre aspas são a transcrição ipsis litteris
Não condeno o erro de concordância em "uma argola de pescoço fosco", como se ele bastasse para condenar o poema. A correção gramatical não é a única exigência para o bom começo da produção textual. Meu(s) difamador(es) teima(m) em insinuar o contrário. Em relação à incoerência, à ilogicidade, à falta de conhecimento, sim, não posso ser condescendente. Como fazer a correção? Não basta um revisor diante da necessidade da reescrita. 
O poema da janela do ônibus começava mal, com um gerúndio no título. Todo emprego de verbo nas formas nominais empobrece o texto poético. O revisor acertaria a concordância, com a substituição de "fosco" por "fosca". O que fazer, todavia, ante o verso "fotografias da última viagem"? 
Os objetos elencados pelo(a) autor(a) tinham em comum pertencer a um passado relativamente distante, quase esquecidos na gaveta pouco usada de uma cômoda. De repente, "fotografias da última viagem"... Como se juntam objetos antigos com fotografias da última viagem? 
Não há como corrigir sem alterar semanticamente o verso. Até é admissível reunir num mesmo espaço fotos, lâminas de barbear, argola de pescoço e outras quinquilharias. Fotos menos relevantes, de alguma viagem, nem a primeira e tampouco a última até é possível.
O(a) autor(a) arrumou a gaveta de uma cômoda, metonímia da própria casa, mas desarrumou o poema.  

IGNORÂNCIA E ESTRESSE

Diversas obras estão em andamento na capital gaúcha, principalmente para melhorar o trânsito no centro e saída para a Zona Sul. Em razão disso, formam-se enormes congestionamentos nos finais de tarde. 
O Gigante da Beira-Rio recebe as estruturas metálicas que darão suporte à cobertura do estádio-sede da Copa do Mundo de Futebol de 2014. A propósito, quanto melhor o estádio pior o time (regra que também vale para o Grêmio). Será que o Corinthians pagará pela construção do Itaquerão? Até a Petrobras entrou com 400 milhões. 
Há um excesso de preocupação com obras, o que é coerente com o materialismo do atual estágio de nossa civilização. O excesso de fazer e de ter não tem sua contrapartida do ser, que se encontra desmilinguido. Tecnologia dez, educação zero.
Em Porto Alegre, caso dependa dos taxistas ou dos funcionários públicos (que encontrei na Casa de Cultura Mário Quintana, por exemplo) o turista não será bem atendido. Aqueles são estressados, e estes, não sabem, ignorantes, descompromissados. 

sábado, 15 de junho de 2013

SANTIAGO NA PÁGINA POLICIAL

O Zero Hora de hoje publica sobre o caso do bebê desaparecido em Santiago. Deve ser a mesma matéria do Diário de Santa Maria, uma vez que seu autor é Patric Chagas (do DSM). 
A reviravolta consiste na possibilidade de o bebê não estar morto, mas vivo (adotado por um casal santiaguense). Dos males, o menor. Muito próximo de um final feliz. 

BÔNUS - ÔNUS

Todo bônus implica um ônus proporcional. A liberdade de se manifestar (bônus) pode levar à prisão (ônus). O protesto de jovens estudantes contra o possível reajuste das passagens de ônibus urbano em Porto Alegre acabou com atos de vandalismo, o que obrigou a polícia a intervir. A agência do Banrisul, no térreo do edifício onde reside a Dona Renita Andretta (que me hospedou desde terça-feira), teve toda a vidraça quebrada por um grupo de manifestantes drogados e violentos. Logo atrás, vinham outros participantes colando o cartaz "ISSO NÃO REPRESENTA O MOVIMENTO". A propósito, um movimento acéfalo, sem liderança. A passagem fora reajustada para R$ 3,05. Com as primeiras manifestações, esse valor foi reduzido para R$ 2,85. Mesmo assim, houve o novo protesto, agora inspirado em São Paulo e Rio de Janeiro (que se inspiraram em Porto Alegre). 
Outros protestos ocorrem no país, como o do Distrito Federal, contra a realização da Copa das Confederações. 
A democracia tem seu ônus.  

quinta-feira, 13 de junho de 2013

COLETÂNEA DE POESIA GAÚCHA

Hoje pela manhã, fui à Assembleia Legistativa para conseguir um exemplar da recente Coletânea de poesia gaúcha contemporânea. Havia um panelaço em frente ao Piratini, uma rotina segundo dizem os porto-alegrenses. A moça que me atendeu na recepção da AL não conseguia encontrar o número de registro da minha identidade. Disse-lhe que olhasse do outro lado, ao lado da foto. Em compensação, a atendente da biblioteca foi prestativa, passando às mãos um exemplar da coletânea.
O lançamento ocorreu no dia 4 de junho, no teatro Dante Barone da AL. A obra apresenta a produção de autores consagrados e daqueles que se destacaram nos últimos anos, num total de 91 poetas. Entre os consagrados, destaco Armindo Trevisan,  Carlos Nejar, César Pereira, Fabrício Carpinejar, Jaime Vaz Brasil, José Eduardo Degrazia, Luiz Coronel, Luiz de Miranda, Nei Duclós e Oracy Dornelles. A esse time pertence meu amigo Haroldo Ferreira, que foi excluído pelo organizador da antologia, Dilan Camargo (que se incluiu obviamente).
Dos autores que se destacaram nos últimos anos, há poemas que quase não se distinguem de uma "lista de supermercado" (palavras do Haroldo que faço minhas). Outros poetas novos não aparecem na coletânea, alguns bem melhores que os escolhidos. 

PORTO ALEGRE

Nos anos de 1981/82, residi, trabalhei e estudei no centro Porto Alegre. Moraria aqui sem problemas, porque gosto demais da nossa capital (especialmente do Centro e bairros adjacentes). 
Desde terça-feira, estou percorrendo o Centro, visitando os sebos, as galeias, os museus e, mais detidamente, a Casa de Cultura Mário Quintana, onde a Erilaine participa do 13º Fórum de Museus do Rio Grande do Sul. 
Já visitei o Quarto do Poeta, onde Mário Quintana viveu por muitos anos. 
Hoje tive o prazer de reencontrar meu amigo e grande poeta Haroldo Ferreira, que trabalha na restauração de livros na Biblioteca Pública de Porto Alegre (hoje ocupando a Casa de Cultura Mário Quintana, em razão de reformas de suas instalações).
O Haroldo está chateado por sua exclusão da antologia de poetas gaúchos contemporâneos, cujo organizador foi Dilan Camargo e teve o patrocínio da Assembleia Legislativa do Estado.
Essa exclusão confirma o que vem acontecendo ultimamente, isto é, a vulgarização da poesia pela participação de agentes políticos que interferem desastradamente na cultura. O governo do PT tem sido reincidente neste aspecto (MEC e Secretaria da Cultura, respectivamente em âmbito nacional e estadual). 
O Oracy Dornelles participa merecidamente dessa antologia. O Haroldo o admira também.  
A tiragem foi de 5 mil exemplares, mas não há livro disponível. 

HAITI É ALI (II)

Um povo não necessita exclusivamente de alimento (quando passa fome), de saúde (quando se encontra doente), de segurança (quando sofre todas as violências), de tantas outras necessidades básicas para viver dignamente. Ele também é carente de quem pense sua condição infra-humana. 
Os haitianos são as vítimas da miséria que mais necessitam de ajuda na atualidade. Seus vizinhos, todos os países do norte e do sul, esbaldam-se a consumir sem o mínimo problema de consciência (não obstante o princípio de universalidade, não obstante os preceitos que os orientam ética e religiosamente). 
Para você, caro leitor, ter uma ideia do que seja a miséria haitiana, basta digitar no Google “cozinha do inferno”. Diversos vídeos mostram o mercado de Porto Príncipe, ou a imitação mais pobre (literalmente) de um mercado, de uma feira. 
Até o final do século XVIII, no mesmo local funcionava Marche de La Croix-des-Bossales, o comércio de escravos da cidade. 
Quem esteve nessa capital nos últimos anos, como soldado da paz, comenta que o cheiro na “cozinha do inferno” é insuportável. As carnes expostas à venda são disputadas por pessoas e varejeiras. As comidas estragadas no chão servem de alimento para porco, cachorro, gato e mendigo. O primeiro é abatido em praça pública, queimado (para soltar o pelo mais facilmente) e cortado em pedaços. Tudo isso acontece em meio à montanha de lixo, que aumentou em 60 milhões de toneladas na cidade com o entulho do terremoto. 
O título acima pressupõe uma proximidade que não exclui o Brasil, comprovada pela vinda de imigrantes haitianos ao nosso país. Em nosso conforto, em nosso paraíso do consumismo, sabemos que Haiti não é cá, mas também não é lá, é ali. Não é uma ameaça, mas uma possibilidade.
Pensemos o Haiti.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

PÉROLA DO CARIBE


Haiti é ali

Depois de assistir a uma palestra sobre o Haiti, ler Combate da Paz (escrito por um integrante brasileiro da MINUSTAH), ver centenas de fotos e conversar com militares que conviveram com os haitianos por seis meses (nos últimos nove anos), resolvo expressar algo acerca desse país. A história do Haiti constitui um rosário de fracassos políticos (cujas contas são feitas de sangue). Ainda colônia da França, a terça parte da Ilha de Hispaniola (descoberta por Cristóvão Colombo em 1492) chegou a ser chamada “Pérola do Caribe”, em razão da produção de cana-de-açúcar, algodão e tabaco. Tudo produzido, todavia, por meio milhão de escravos sob o açoite. Um desses escravos, o negro Mackandal, iniciou uma revolta, utilizando-se do vodu para atemorizar os brancos dominadores. Preso e executado Mackandal, outros líderes o substituíram, entre os quais J.J. Dessalines, que proclamou a independência em 1804. Esse fato histórico passou a ser motivo de orgulho nacional. O Haiti foi a primeira nação latino-americana a livrar-se do jugo colonialista. Ao maior bônus cabe igual ônus. Eduardo Galeano escreve-nos que a Europa impôs ao Haiti “a obrigação de pagar à França uma indenização gigantesca, a modo de perdão por haver cometido o delito da dignidade”. A dívida externa forçava o país a pedir empréstimos, que não conseguia saldar. Os Estados Unidos intervinham, então, para forçar o pagamento. A “pérola” foi transformada em carvão, com o sangramento quase total da economia haitiana. Para Galeano, famoso por seu anti-imperialismo, o “assédio contra o Haiti” prova o “racismo da civilização ocidental”. Nossa civilização, escrevo, alicerçada na cultura cristã, não perdoa um sistema de crenças diferente como o vodu(n). 

 Publicado no Expresso Ilustrado, edição de 7 de junho de 2013.

domingo, 9 de junho de 2013

CONCERTO ESPECIAL

Fui ao concerto do Clube de Música Amigos de Beethoven nesse sábado, no auditório do Colégio Cristóvão Pereira. Os musicistas Diogo Bonatto (violão), Andrea Loreto Peres (flauta, Guilherme Rosa (barítono), Andre Peixoto Isaía (violino), Juliano Fank Saldanha e Ana Luiza Andres (piano), executaram Mozart, Brahms, Nazareth, Massenet, Chopin, Beethoven, Haendel, Schubert, Mendelssohn, Schönberg, Bizet, entre outros grande compositores. 
Concordo com o meu amigo Vulmar Leite: foi uma das melhores apresentações musicais já realizadas em Santiago. 
Estavam presentes duas pessoas que admiro muito: Albino Lamberti e Ivo Pauli. Para o professor Albino, o concerto deveria acontecer com maior frequência.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

PICHAÇÕES

Por mais que idealizemos uma evolução civilizatória para a nossa sociedade, por mais que façamos campanhas de conscientização, por mais que construamos obras que melhorem a vida das pessoas, somos esbofeteados pela realidade, que vem para cima de nós de uma forma prevalecida e arrogante
Cidade educadora é um ideal. A Rua dos Poetas é uma obra que amalgama funcionalidade e beleza, trânsito e contemplação. 
Numa noite, pichadores mal-educados submetem a escrita à imoralidade clandestina, anônima, incapaz de ser eticamente compreendida. Eles invadem a cidade, trazendo em suas mochilas o meme (in)cultural dos grandes centros (bem conservado na tinta de spray).  
Na mesma semana em que superestimamos as ações ambientais, os criminosos atacam pela primeira vez em Santiago, debochando do nosso ideal, manchando nossos monumentos. 
  
  

quarta-feira, 5 de junho de 2013

DIVERSOS

Depois de assistir a uma palestra sobre o Haiti, ler Combate da Paz (escrito por integrante brasileiro da MINUSTAH), ver centenas de fotos, conversar com militares que serviram nesse país por seis meses (nos últimos nove anos), chego à conclusão que a história haitiana constitui um rosário de fracassos políticos (cujas contas são feitas de sangue). 

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Santiago vive a Semana de Ações Ambientais. Toda atividade a ser realizada, certamente contribuirá para trazer à consciência algumas noções eco-lógicas, as quais servirão de base racional para ações significativas. Atualmente, pensa-se e age-se ainda dentro de velhos paradigmas.  
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Um tema interessante para o Direito: o significado de justiça para a Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria. Na condição de leigo no assunto, eu gostaria de entender o significado de justiça para os doutos envolvidos no caso da Boate Kiss. O significado me parece diferente entre o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul e o Ministério Público. Sempre será diferente entre os advogados de acusação e de defesa, em qualquer caso. Essa antinomia constituiria a causa da


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Um Código de Postura foi encontrado numa caixa guardada no Museu Pedro Palmeiro. Elaborado pelos conselheiros (vereadores) em 1886, dois anos após a autonomia político-administrativa do nosso município, o código, entre outras regulamentações, versava sobre a escravidão em plena existência. 

terça-feira, 4 de junho de 2013

QUEM? ONDE? QUANDO?


As fotos antigas ganham um atrativo especial, por conta do mistério que as envolve. Desde seus aspectos formais - a textura do papel, a cor indefinida, o contraste luz-sombra - ao seu conteúdo - a caracterização dos retratados (olhar, sorriso, vestes), os objetos ao redor, a paisagem ou cenário de fundo. 
A foto acima é completamente misteriosa para este blogueiro. Quem são os ocupantes do automóvel? Em que lugar foi tirada a fotografia? Em que ano? 
O Dr. Valdir Pinto, diligente colecionador de objetos valorados pelo tempo, cedeu essa foto para Erilaine (a mais recente museófila santiaguense). 
Solicito ao caro leitor que diminua o mistério da foto publicada nesta postagem, respondendo às perguntas do título.  
  

segunda-feira, 3 de junho de 2013

SANTIAGO NO CLICRBS

Essa foto da Aspirante-a-Oficial BRUNA, dentista do 9º B Log, foi publicada hoje no CLICRBS. O 9º B Log realizou ACISO durante Operação Ágata.

sábado, 1 de junho de 2013

COZINHA DO INFERNO


Caro leitor, sabes onde fica a "cozinha do inferno"? 
A foto acima permite identificar o lugar.
Haiti não é lá,
não é cá,
é ali. 

Em meio ao lixo, a feira do haitiano é chamada "cozinha do inferno". 

Um povo não necessita exclusivamente de alimento (quando passa fome), de saúde (quando encontra-se doente), de segurança (quando sofre todos os tipos de violência), de tantas outras necessidades básicas para viver dignamente. Ele necessita também de quem pense sua condição infra-humana. 

O primeiro país latino-americano a se tornar independente, já chamado de "Pérola do Caribe", hoje constitui a prova de um fracasso político. Não fosse a intervenção norte-americana e da ONU, a nação estaria mais abaixo ainda da linha da pobreza. 

Pensemos o Haiti.