quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

ÊNIO KINZEL


O homem morre, mas ficam suas palavras, suas ideias, suas realizações, sua fina educação, tudo muito nítido em nossa memória. Graças a esse perfil inapagável, ele transcende a própria existência e, de certa forma, continua vivo. 
Identificava-me com Ênio Kinzel, sobretudo por sua preocupação com o meio ambiente. Numa terra em que se sobressaem os interesses individuais, imediatistas, ele compunha o pequeno grupo de pessoas que pensam pelos outros, pelo futuro. No escritório do Dr. Valdir Pinto, conversávamos longamente sobre os mais diversos assuntos. O único ponto em que discordávamos referia-se à exploração do Aquífero Guarani. Em relação à construção de uma nova barragem para Santiago, ninguém melhor que ele desenvolveu os mais convincentes argumentos. 
Hoje fui ao auditório da Câmara de Vereadores, não para me despedir do amigo, mas para abraçar seus familiares mais próximos. 
O homem morre, mas ficam suas palavras, suas ideias, suas realizações, sua fina educação, tudo muito nítido em nossa memória.
Nosso diálogo continua em aberto...

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

TRÁGICO, TRAGÉDIA...



Ante a morte, o homem é um ser inexoravelmente trágico (no sentido que Aristóteles deu a conhecer na Poética sobre os heróis do teatro grego). Essa característica nele se evidencia nos momentos em que age desafiando a morte de uma forma perigosa, a despeito de sua fragilidade (nunca autopercebida). Por mais elevada sua posição, cedo ou tarde, acaba sucumbido pela própria fortuna, pelo próprio destino. Todo o artifício de que se cerca não é suficiente para que tenha inteiro domínio sobre os elementos naturais. Sua relação com o fogo, por exemplo, é desastrada algumas vezes, sobretudo pela ocorrência de uma centelha (em contato com um material explosivo), ou pelo volume que escapa à manipulação. Há quase meio milhão de anos, esse elemento passou a auxiliar na sobrevivência hominídea. Principal energia para a confecção dos alimentos, para a resistência ao frio, para a forja dos metais, para o cultivo da roça, para a vitória nas guerras, para o puro entretenimento, entre outras tantas finalidades. Essas práticas milenares, todavia, quando não controladas cem por cento, resultaram em incêndios devastadores, em grandes sinistros. Outras vezes, o fogo, provando sua origem, ocorre sem a intervenção de seu manipulador humano. Exceto em tais ocorrências, mais raras, as demais são de responsabilidade do homem. Antes do acidente na boate Kiss, em Santa Maria, ninguém pensou que uma única porta era insuficiente (para saída de 1500 pessoas em caso de emergência). Ninguém pensou na inspeção dos extintores. Na impossibilidade de acender um sinalizador contra o teto inflamável. Ninguém pensou, ninguém fez. Antes, e não depois. A tragédia tem uma causa ontológica: o homem. Herói e anti-herói de si mesmo.    

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

SE UM EXTRATERRESTRE...

Se um extraterrestre, inimaginavelmente mais inteligente que os humanos, testemunhasse as nossas tragédias, diria o seguinte (por ele próprio traduzido): 
"Vocês têm uma forma perigosa de se divertir, muito próxima da morte. Tal aproximação é tão realista na alegria que precede a tragédia (escapando da visão limitada de que são dotados) e tão poética na tristeza que a segue". 
Os acidentes de trânsito exemplificam seu discurso. (Para que citar o caso mais recente?) Há um prazer, há uma volúpia na velocidade que arrebata todo aquele que dirige um automóvel. Um segundo após, a dor, o luto. 
Lembro-me do naufrágio do Bateau Mouche na Baía de Guanabara, 31 de dezembro de 1988. Festa e tragédia (causa e consequência). 
Se um extraterrestre...

domingo, 27 de janeiro de 2013

TRÁGICO NOS DOIS SENTIDOS

Ante a morte, podemos dizer que o homem é um ser inexoravelmente trágico. Não o é tanto como nos momentos em que, frágil e arrogante, ele a desafia de uma forma perigosa. 
Entre os elementos naturais, o fogo ainda mantém certa dubiedade em relação ao domínio humano. Há quase meio milhão de anos, esse elemento passou a ser responsável pela sobrevivência hominídea. Principal energia na confecção de alimentos, no combate ao frio, na forja de metais, no cultivo da roça... 
Essas práticas, todavia, quando não controladas cem por cento, resultaram em incêndios devastadores, em grandes sinistros. Às vezes, sem a intervenção de seu manipulador, o fogo teve origens naturais, inevitáveis.
As mortes causadas pelo fogo/ fumaça, quais as ocorridas na boate de Santa Maria, apontam para o descuido do homem, para suas irresponsabilidades. Antes dessa tragédia, ninguém pensou que a porta de entrada era estreita, que deveria haver outra opção de saída (em caso de emergência). Ninguém pensou na recarga dos extintores. Na ventilação interna. Na impossibilidade de acender um sinalizador na hora do evento.
Mais necessário que pensar é a ação que se efetiva em seguida.  
Certo está o Corpo de Bombeiros em exigir mais e mais segurança para os prédios em que habitamos, trabalhamos e nos divertimos.
___.o.___   
Entre os jovens que morreram tragicamente na boate Kiss, encontrava-se um primo de minhas sobrinhas Andrieli e Cristina. 

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

NÃO TENHO RAZÃO?

No segundo dia da Copa Santiago de Futebol Juvenil (12 JAN), publiquei a postagem seguinte:

Por ocasião da Copa Santiago de Futebol Juvenil do ano passado, comentei aqui sobre a decadência da equipe gremista, sempre abaixo do ano anterior. Isso continua sendo válido para a deste ano, a partir do resultado do jogo de ontem (contra o Avaí). O time poderá reagir nas próximas rodadas, com possibilidade de até ganhar a Copa. 
O Inter, em contrapartida, recupera-se das estreias fracas e chega ao título inclusive. Foi assim no ano passado.
Ou o Grêmio anda mal nas categorias de base, ou a sua diretoria não está dando atenção à Copa Santiago.

Tenho ou não tenho razão?
Foi o pior time do Grêmio Sub-17 vindo a Santiago em todas as edições da Copa Santiago. Apenas um dos meninos se revelou bom jogador, Murilo. Alguns deles, a gente pode imaginar, são filhos de papais importantes.
A Grêmio perdeu tudo nessa quarta/ quinta: para a LDU, na Libertadores; para o Canoas, no Gauchão (que precisa vencer este ano); e para o Criciúma, na Copa Santiago. Na Copa São Paulo, o Sub-20 fora goleado pelo Bahia.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

LIÇÃO GRATUITA

O texto é poético porque rompe com a sucessão sintagmática da prosa. É metafórico, associa elementos semânticos (e sonoros). Muito do que é produzido na Terra dos Poetas, embora com temas amiúde desenvolvidos pela poesia, não passa de prosa (cujo trabalho extra do autor é mudar de linha antes do final). 
O texto em prosa, como o artigo de opinião abaixo, orienta-se  sobre o eixo da contiguidade (em que se ordenam os sintagmas). 
Na poesia, cria-se pela própria linguagem. Na prosa, pelas ideias.
Exemplo 1:
percussão

o vento
a soprar
     o fio

             o fio
             a cortar
             o vento

                              tenso
                                  fio

                                            lasso
                                            vento

                                                         asso
                                                           vio

Exemplo 2:
"Os nossos desejos e frustrações ocorrem com a mesma intensidade e revelia - sístole e diástole de um individualismo que beira a enfermidade".

O primeiro exemplo é do meu livro Ponteiros de palavra; o segundo, da postagem abaixo. São inconfundíveis. 
Um e outro devem apresentar a sua credencial de originalidade. Nesse aspecto se identificam. 

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

SOBRE NOSSA SURDEZ

No verão, não ouvimos o estrídulo desesperado da cigarra macho. Certamente, isso não ocorre porque o espécime homóptero desapareceu ante a soalheira da tarde (sem encontrar sua fêmea), mas porque, para ouvi-lo, não temos mais o sentido suficientemente apurado. Não temos mais - o que nossos antepassados tinham no mais alto grau de desenvolvimento. A mente moderna passa a sofrer de uma perda crescente da sensibilidade, causada pelo barulho que fazemos artificiosamente. Isto mesmo! Nosso dia a dia é movido pelo artifício, o grande paradigma que nos distancia das vozes da natureza. O estrídulo da cigarra é apenas uma dessas vozes, entre milhares de outras (desde a emitida por um simples inseto à música das esferas). A nossa surdez é um fato ainda não percebido em decorrência da insensibilidade da razão, que se faz mais e mais insensível em decorrência do próprio fato gerado por ela. À exceção do relógio que tiquetaqueia em algum lugar da casa e do sino da Matriz (que marca o meio-dia e a hora da Ave-Maria), tudo mais agride pela falta de ritmo. Ouvimos das coisas seus descompassos, seus ruídos determinados pela forma aleatória com que se arranjam no tempo e no espaço. Ouvimos do coração sua arritmia, não o ritmo natural. Por isso, os versos que produzimos são tão ruins, a despeito de reivindicarmos a condição de poetas. Por isso, os nossos desejos e frustrações ocorrem com a mesma intensidade e revelia - sístole e diástole de um individualismo que beira a enfermidade. Não apenas apresentamos problemas de audição, mas também de memória, a ponto de nos esquecermos do outro, ainda que o outro seja, por exemplo, nosso pai idoso num asilo, ou nosso filho bebê num automóvel. A prova dessa verdade consiste em não ouvirmos o estrídulo desesperado da cigarra macho no verão. 

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

LUGAR FELIZ



Uma coisa que muito gostava em menino era ouvir a conversa entre os adultos. (Obviamente, sem me intrometer, que configurava falta de educação.) Suas conversas, de certa forma, ampliavam meu mundo, ainda restrito ao Rincão dos Machado (nos primeiros anos), ao Bom Retiro, Vila Florida, Linha Nove, Linha Oito, Buriti e Vila Branca (nos anos seguintes). Ernesto Alves, onde residiam meus avôs Camilo Fiorenza e Maria Colpo, parecia-me um lugar muito longe, diferente de tudo o que conhecia até então. Eles falavam em Santiago e Jaguari, cidades localizadas além do horizonte que alcançavam meus olhos nas manhãs claras de abril (ou de outubro). Antes de conhecer essas cidades efetivamente, já sabia por alto como eram pelas conversas entre pais, tios, vizinhos... Não demorou, passaram a falar em Porto Alegre. Algumas pessoas iam para a Capital e vinham nas férias, descrevendo coisas extraordinárias de lá. Apenas aos onze anos conheci Santiago, onde bati com a cara num poste, tomei uma indigestão de sorvete e corri atrás de um avião até quase o aeroporto. Aos dezessete, fui a Porto Alegre. Mais tarde, morei em Santiago e em Porto Alegre. Continuavam a falar em lugares mais distantes, como Curitiba e Rio de Janeiro. Com a mesma atenção de menino, continuei a ouvir, porque esse método dava certo para o alargamento geográfico de meu universo. Hoje ainda ouço alguém contando suas viagens a Ushuaia, Machu Pichu, Paris, Nova Iorque, Viena, Katmandu e fico pensando que talvez não haja tempo para tamanha aventura. Esse pensamento é suficiente para me fazer olhar para o passado (ou para dentro de mim). Lá se encontra o lugar mais feliz da minha vida, para onde sempre retorno: Rincão dos Machado.

domingo, 20 de janeiro de 2013

O PAPA É CULPADO?

"117. O Vaticano, por si só ou sendo usado apenas para sustentar a reivindicação da condição de Estado à Santa Sé, não atende à exigência de uma 'população permanente', o que demandaria, no mínimo,  a existência de uma comunidade estável e reconhecível. O povo do Vaticano não é um 'povo' em qualquer sentido, mas sim apensa um corpo burocrático temporário da Igreja, com dignitários, diplomatas e funcionários visitantes, em um palácio do qual esses 'cidadãos' podem ser expulsos a qualquer momento pelo papa. Em resumo, a Santa Sé não tem uma sociedade humana estável - o único membro 'permanente' do vilarejo do Vaticano é o próprio pontífice - e uma série de televisão recente mostra que ele muitas vezes vai com seu helicóptero até sua residência na Itália, Castel Gandolfo (a cinquenta quilômetros de Roma), para jantar, aproveitando-se dos produtos da fazenda orgânica papal, com tudo preparado pelo seu chef italiano, que se gaba do saber de seus 'cordeiros de Deus'."
(Do livro O papa é culpado?, de Geoffrey Robertson.)
A Santa Sé é como uma organização milenar, sua riqueza não pertence ao papa, apesar dele usufruí-la. Com as igrejas que vicejaram nos últimos cem anos, cujo melhor exemplo é a IURD, a riqueza pertence ao pastor. 

COMBATE LEAL

A postagem abaixo motivou um comentário interessante, de alguém que não se identificou (por isso não o publiquei). Pelo conteúdo, subentende-se de autoria de uma pessoa evangélica. Ela sugere que se substitua a palavra "pastor" pela palavra "papa", talvez pensando em meu possível catolicismo. Uma vez fui católico, na primeira fase de minha vida (idade média pessoal). A evolução por que passei (e passo) me conduz ao ateísmo. O fato de me reconhecer ateu causa certo furor, principalmente aos evangélicos fundamentalistas. Mas o ateísmo, em si, não lhes provoca tanto a ira quanto a dicotomia criada pela Reforma e que resultou em séculos de derramamento de sangue numa Europa cristã. Os católicos, com o apoio de reis, passaram ao fio da espada muitos protestantes. Hoje são os protestantes que contra-atacam com a palavra, condenando as contradições católicas, entre as quais a maior delas, o próprio Vaticano. A disputa da atualidade não é pela fé, graças ao que os ateus foram esquecidos dos discursos incriminatórios e salvos das fogueiras inquisitoriais, mas é pelo dinheiro (facilmente arrecadável pela fé). A Igreja Católica já enriqueceu, agora é a vez de milhares de outras igrejas perseguirem o mesmo caminho. 
No dia 5 de outubro de 2012, postei sobre o livro O papa é culpado?, de Geoffrey Robertson. Ali transcrevi um parágrafo dessa obra acusadora. Para a tranquilidade do meu comentarista, não sou um Paulo de Tarso antes da conversão ao cristianismo (criado por ele). Não combato discursivamente os cristãos (penso que os islâmicos mereceriam muito mais), mas as suas contradições, seus preconceitos, suas hipocrisias.    

sábado, 19 de janeiro de 2013

PASTORES RICOS

Leio num site noticioso que Edir Macedo lidera a lista dos pastores mais ricos do Brasil. Macedo é o criador da Igreja Universal do Reino de Deus. 
Pergunto se esse fato não denuncia uma evidente contradição, com base nas grandes lições dos evangelhos. Cito apenas o que lembro, sem folhear o Novo Testamento: 
Jesus ensina que não é para armazenar tesouros na Terra, onde a traça e a ferrugem...; que ninguém pode servir a dois senhores, Deus versus as riquezas materiais; que para ser perfeito (dirigindo-se ao jovem rico), ele deveria vender os bens que tinha e dar aos pobres, que isso lhe daria um tesouro no céu; que é mais fácil um camelo passar pelo orifício de uma agulha, do que um rico entrar no reino de Deus.
Todo cristão sabe que Jesus nasceu numa família pobre, optou pela pobreza voluntária. Todo cristão sabe que o grande profeta que antecedeu Jesus, João Batista, era voluntariamente pobre. Todo cristão sabe que os grande ascetas do cristianismo optaram pela pobreza. 
Edir Macedo, subvertendo as escrituras, elabora uma doutrina nos anos setenta que reconcilia riqueza e Deus, a chamada doutrina da prosperidade terrena como prova de.
A riqueza desse pastor é uma agressão aos fiéis que o seguem religiosamente. Um crime contra a ética, contra a moral. 
Muitos outros pastores enriqueceram no Brasil pelo mesmo tipo de exploração de milhões de seguidores. Exploração direta. 

COMENTÁRIOS DIVERSOS

Muito fraco o futebol apresentado pelos meninos nesta edição da Copa Santiago de Futebol Juvenil. Aquém do ano anterior (que já foi fraco). O primeiro tempo de Grêmio e Guarani, ontem, foi sonolento de tão ruim. O número de torcedores no Alceu Carvalho era similar ao nível futebolístico da competição. Fico pensando no esforço dos organizadores, capitaneados por João Miguel Durgante (Maninho), na torcida que fazem pelo sucesso do evento. Os santiaguenses devemos tirar o chapéu para esses desportistas.
___.o.___

Nunca antes, a Gaúcha esteve tão lotada quanto nessa sexta-feira. Show com Neninto Sarturi e seus quatro instrumentistas: Leonardo Sarturi (violão), Anderson Mireski (violão), Diego Piani (gaita) e Dionathan Farias (contrabaixo). 
Juntando-se aos frequentadores ocasionais, dois formandos do curso de Direito da URI comemoraram suas conquistas acadêmicas na mesma churrascaria. A convite do Nenito, compareceram os dirigentes da delegação de futebol do Internacional. Fizeram-me companhia à mesa: Erilaine, Maria, Cláudio, Vanderleia, Ana Cláudia, João Vítor, Cristina, Luciano e Luís Felipe. 
Cláudio Fiorenza de Oliveira, meu irmão que serve em Brasília, foi indicado agora para compor uma equipe brasileira junto à ONU, responsável pela missão de paz no Haiti.
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A vizinha do apartamento de baixo atravessou a noite proseando com três ou quatro visitantes. Às seis horas, ainda batiam trela animadamente. Os demais moradores do edifício Dom Manuel foram obrigados a levantar mais cedo neste sábado. Quase impossível evitar os incômodos de uma vida suspensa nestas gaiolas de alvenaria. Não bastasse o barulho, hoje me levaram o Zero Hora (deixado sob a porta de entrada do edifício).
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Todo sofrimento de que nos queixamos (em razão de um excesso de sensibilidade) não é nada se comparado com o da família do delegado José Soares de Bastos, cuja filha de onze meses faleceu em decorrência de desidratação, esquecida dentro do automóvel em Santa Rosa. O choque emocional desse rapaz é qualquer coisa que não vivenciamos ainda. 

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

UMA POMBA APENAS

Por volta das 23 horas de ontem, encontrava-me navegando em mares hipertextuais, quando uma pomba, em pleno voo, chocou-se contra a metade fechada de minha janela. Incontinenti, estendi o braço e apanhei a pequena ave. Bastante atordoada, parecia inteira um coração batendo trezentas vezes por minuto. Nesse estado, ela não conseguia voar mais que curtos espaços dentro do quarto, o que me impediu de soltá-la do alto do terceiro andar. Provavelmente, cairia sobre o telhado do restaurante ao lado, onde há gatos caçadores, prontos para transformar a doce pomba num delicioso repasto. Antes de me deitar, levei minha visitante improvável para a área de serviço, dentro de uma caixa de papel, deixando a janela aberta. A liberdade é um valor inerente à vida. Não gosto de ver animais preso em gaiola, invenção que deveria limitar-se aos próprios inventores, os homens. Na manhã de hoje, a primeira coisa que fiz ao me levantar foi ir ao aposento da pomba. Ela estava recuperada, alçou voo e saiu pela janela para sempre. A impressão é que minha manhã começou mais azul.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

ASSALTO EM SANTIAGO


Ontem, entre 18 e 19 horas, houve um assalto em Santiago. Dois indivíduos armados com revólveres, meia na cabeça, invadiram a "loja" (onde o dinheiro estava sendo contabilizado) e renderam proprietário e vendedores. Segundo o relato de um vendedor (que se esgueirou do local), os assaltantes fugiram num carro vermelho, acompanhados por uma motocicleta. Não foi dado parte à polícia por um motivo que prefiro deixar implícito.
Mais uma vez, os blogs de plantão nada publicam.
Sobre o assalto, já desenvolvi uma tese: 
O "negócio" rende muito no Rio Grande do Sul, sendo motivo até de uma ampla reportagem no Zero Hora, crescendo os olhos dos cariocas, monopolizadores desse mercado sui generis. Quadrilhas especializadas virão ao Estado (ou serão aqui contratadas) para praticar esse tipo de assalto, forçando os donos de loja (ainda iniciantes) a cederem seus "estabelecimentos" a empresários mais experientes. O truste impondo sua estratégia de expansão, noutras palavras.      

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

ALTURAS


"QUANTO MAIS NOS ELEVAMOS, MENORES PARECEMOS AOS OLHOS DAQUELES QUE NÃO SABEM VOAR"
F. NIETZSCHE

PEQUENO SOBREVOO

"Se eu fosse a Natureza", disse Anatole France, "não faria o homem e a mulher à semelhança dos grandes macacos, mas à semelhança dos insetos que depois de um período de lagarta viram borboletas e na última parte da vida só pensam em amor e beleza. Eu poria a mocidade no fim da existência humana... Arranjaria que o homem e a mulher, desdobrando rutilantes asas, vivessem por um tempo no orvalho e no desejo, e morressem num beijo de êxtase."
(Transcrito do livro Obras filosóficas, de Will Durant, filósofo e historiador norte-americano.)

A inversão expressa pelo grande escritor se não ocorre no plano físico, serve de metáfora para o que se passa com a alma (psique) não atingida por uma das mil e uma enfermidades. As ideias se tornam mais claras depois dos cinquenta anos de idade, possuidoras de "rutilantes asas". Limitados pelos corpo, cheio de dores, tornamo-nos cada vez mais sábios. Não tão somente pela experiência de vida (as viagens, concordando com o Ruy Gessinger, constituem experiências interessantes, autoevolutivas), mas pelas leituras mais seletivas que fazemos.
Cito mais uma vez meu amigo Ruy, transcrevendo sua última postagem:

Leio, meio enfarado, a repetida notícia, de que  trocentos milhares rodaram no exame da  OAB.
Bocejo, enquanto ouço vagidos e gritos contra os professores, contra a OAB, contra as faculdades.
Nada disso me surpreende:
a) não é possível cursar, com PROVEITO,  uma faculdade trabalhando o dia inteiro e estudando de noite. Triste, mas real. Não dá para assoviar e mascar chiclé ao mesmo tempo.
b) não é possível o estudante não ter sua própria biblioteca; só anotações de aula - piada!
c) se você veio de um colégio em que só festas eram importantes,  fica difícil sua situação;
d) não há lugar para todos no mundo jurídico. entendeu? Muitos querem, faculdades há até em Quixaremobim. Mas tu: estudas? lês? 
Amigo:  na vida no andar  de cima não há lugar para quem dorme demais ou acorda tarde ou culpa os outros.
Ou não?

Chamo a atenção dos leitores deste blog para a sapiência do Ruy. Em poucas palavras, num pequeno sobrevoo, manifesta um argumento verdadeiro e belo. Há beleza na verdade - apenas percebida de uma certa altura. 

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

QUEDA

a flor
se despe
tal

o
vento

só 
sobra
o
ta
lo
morto

espinho
de fera

(que)
espe
tala
restos
do tom
       b
       o

ab
  so
    luto

ETERNO RETORNO


a manhã
faz cesto
com as flores
para levar
o orvalho
às faces
da tarde

mas tropeça
no caminho
e retorna
com os pássaros
para dentro
de um viveiro
de auroras

(Poema publicado em Ponteiros de palavra, 2006.)

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O VINHO ERA VINHO OU NÃO ERA VINHO?

No sábado, fui a um casamento de dois jovens evangélicos. No discurso que oficializou a união religiosa, o pastor citou versículos do Eclesiastes e de João (segundo). 
Do primeiro livro, capítulo 4, versículos 9, 10 e 12: 
"Melhor dois do que um, porque eles têm boa recompensa pelo seu trabalho árduo. Pois, se um deles cair, o outro pode levantar seu associado. Mas, como será com apenas aquele um que cai, não havendo outro para levantá-lo? E se alguém levar de vencida a um que está só, dois juntos poderiam manter-se de pé contra ele. E um cordão tríplice não pode ser prontamente rompido em dois".
Do segundo, capítulo 2, versículos de 1 a 10. Nesse trecho, narra-se as bodas de Caná da Galileia, quando Jesus transformou água em vinho. 
No jantar que se seguiu à solenidade religiosa, todavia, não havia vinho, mas água e refrigerante. A propósito, a falta de bebida alcoólica e de dança foram as únicas diferenças para um casamento católico. 
Referindo-me às bodas citadas na Bíblia, um rapaz evangélico que compartilhava da mesma mesa me assegura que o vinho transformado  não continha álcool, qual (sempre preferível a "como") um suco de uva.
O ateu é sempre considerado um debatedor inoportuno, uma vez que apela  para argumentos insofismáveis, irretorquíveis, não perdendo o azo de contradizer por contradizer. Pois sou diferente, aprendi a ser ético no ateísmo, transcendendo o prevalecimento de tripudiar sobre um criacionista, por exemplo. 
Para não abrir uma discussão inútil, fingi concordar que o vinho, milagrosamente transformado por Jesus, não continha álcool. 
Não bastasse a língua, a própria história bíblica nega a interpretação do jovem conviva. Vinho foi traduzido do grego "oinos", que significa vinho (qual o conhecemos, fermentado). 
Nas discussões que mantenho com interlocutores cristãos, emprego a mesma fonte bíblica citada por eles. No Gênesis, milhares de anos antes de Jesus, as filhas de Lot embebedaram o velho pai com vinho, para fazer o que fizeram (19: 35). (Incesto abençoado por Jeová.) Em Cantares, 7: 9, afirma-se que o bom vinho "faz falar os lábios dos velhos". 
No dia em que aconteceu o milagre, narra-se que o bom vinho foi levado ao dono da festa para que ele o provasse. Não há provadores de suco de uva, qualquer um poderá fazê-lo. 
Outra saída de meus interlocutores cristãos é de suprimir toda a referencialidade objetiva do discurso bíblico, o qual não passaria de uma alegoria, de uma metáfora. O vinho não seria vinho, mas alegria (por exemplo). Assim fica difícil!
No caso do vinho sem álcool, penso que é para justificar (racionalizar) a proibição de se ingerir bebida alcoólica, rigorosamente seguida pelos evangélicos.                                                                                                                                   

domingo, 13 de janeiro de 2013

CRÔNICA DO RUY GESSINGER



Corria o ano de l965. Recém eu concluíra o primeiro ano de Direito na UFRGS, era dezembro e eu estava sem um vintém. O curso supletivo onde eu dava aulas não pagava nada durante as férias.
Foi quando meu  inseparável amigo Sulzbacher me avisou:
- Tem vagas de auxiliar de pesquisador do IEPE. É um  americano que estuda as colônias italianas da Serra.
Pagavam bem e lá me fui numa Rural Willys com Mr. Erwin e mais três colegas, entre os quais o Sulzbacher. Mr. Erwin deixava cada um de nós  numa entrada de propriedade rural com um questionário e depois  nos recolhia. Numa noitinha ele decidiu nos distribuir  mais uma vez.
Coube-me uma propriedade  cuja casa ficava láááá em baixo, descendo uma montanha. Desci e a cachorrada me acuando. Apareceu um homem jovem, chapéu de palha e perguntou o que eu queria.
Expliquei-lhe e ele me convidou para passar para dentro.  Sala e cozinha eram conjugadas, não havia instalação elétrica. Sobre a grande mesa um enorme pão feito  em casa e um baita queijo. Perto do fogão a lenha vários embutidos pendurados.
Duas meninas fortes, altas, de uns 15 anos, vestidas de camiseta, sem soutien, e calção desses de futebol, cabelos pretos, olhos azuis bem claros e pele queimada me olhavam quais duas corças.
Depois de responder ao questionário, que não quis assinar, o gringo, de seus 40 anos, me ofereceu um vinho de sua própria produção, com pão, queijo e salame. A esposa, ainda jovem, só observando.
Fomos conversando, ele perguntou pela minha família. Vibrou muito quando eu disse que um dos meus lados era de colonos. Ví um acordeão sobre um banco e falei que tocava violino. Para mostrar meu conhecimento de italiano cantei para eles " canzone per te". O gringo pegou a gaita e tocou várias canções italianas, algumas delas eu acompanhei, como " La Montanara" e " Santa Lucia".
A mãe das gurias disse que tinha gostado muito de mim e se eu quisesse voltar poderia. Ao que o gringo retrucou: e até tu pode escolher uma dessas gurias, são gêmeas. E dava risada, "tem que escolher uma só".
E as gurias espetavam o dedinho indicador no ar:
- Escolhe eu!
- Não, escolhe eu! dizia a outra.
Enquanto isso Mr. Erwin já tinha recolhido meus outros colegas e buzinava insistentemente, lá  na entrada da propriedae, que distava uns mil metros. Claro que não ouvi.
E dê-lhe vinho!
Mr. Erwin mandou o Sulzbacher me buscar.
Quando a cachorrada o anunciou o gringo gritou:
- Chegou o outro  noivo de uma das filhas!
O gringo insistiu e meu amigo também começou a beber vinho.
A noite ia avançando, veio o outro colega, até que Mr. Erwin também chegou enfurecido e nos levou por diante de volta para a maldita Rural Willys.
As gurias nos fizeram prometer que em seguida a gente voltaria.
A esposa do gringo estava com os olhos úmidos. As duas meninas de mãozinhas ficaram acenando, tendo ao fundo um lampeão.
Se voltei lá?
Não deu tempo....
De novo.
________________.o.__________________

Gostei muitíssimo dessa crônica do Ruy, que resolvi postá-la mesmo sem sua prévia autorização. 

sábado, 12 de janeiro de 2013

A HISTÓRIA SE REPETE

Por ocasião da Copa Santiago de Futebol Juvenil do ano passado, comentei aqui sobre a decadência da equipe gremista, sempre abaixo do ano anterior. Isso continua sendo válido para a deste ano, a partir do resultado do jogo de ontem (contra o Avaí). O time poderá reagir nas próximas rodadas, com possibilidade de até ganhar a Copa. 
O Inter, em contrapartida, recupera-se das estreias fracas e chega ao título inclusive. Foi assim no ano passado.
Ou o Grêmio anda mal nas categoria de base, ou a sua diretoria não está dando atenção à Copa Santiago. 

MARCELINO RAMOS



A foto publicada no Almanaque Gaúcho, Zero Hora de 4 de janeiro de 2013, como sendo de Santiago, na verdade é de Marcelino Ramos. Dr. Valdir Pinto me passou sobre esse equívoco do editor Luís Bissigo. Imprensa apressada! 

CARLOS ALEXANDRE NETTO

O nome acima identifica o reitor da UFRGS, que tem um artigo de opinião publicado no Zero Hora deste sábado. 
Referindo-se ao concurso vestibular que se realizará amanhã, domingo, o reitor discursa um mundo de mil maravilhas na educação superior do país.
Por aí começa minha discordância, minha atitude responsiva negativa. 
Em seguida, atribui à Lei das Cotas o momento sublime de "grande transformação" na educação superior. Esclarece que a medida é constitucional, que o critério de mérito é mantido e que o sistema não privilegia os menos capazes.
Para justificar a a manutenção do mérito, escreve que "todos os candidatos devem atingir os pontos de corte para serem classificados". Isso passa como verdadeiro antes de juntar-se ao terceiro fundamento: o sistema não privilegia os menos capazes.
Como "não privilegia"?  (Se não privilegia, por que instituir o sistema de cotas?)
O reitor afirma que não privilegia, "mas oferece oportunidade competitiva de acesso ao Ensino Superior público e qualificado". Falta coerência entre "não privilegia os menos capazes" e "oferece oportunidade competitiva...". Esse fundamento não passa de um sofisma.
O articulista encerra com outra premissa falsa "todos ganham com as cotas". Ganham os cotistas (é óbvio!), ganha a universidade ao diminuir as desigualdade sociais (como?) e ganham os estudantes do acesso universal (é óbvio que não!). 
Como os estudante do "acesso universal" são beneficiados, se ficam de fora com nota superior aos beneficiados pelo sistema de cotas.     

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

CAUSA DOS TREMORES NA VILA ITU

Há alguns dias, venho pensando nas mais diversas causas que explicariam os tremores na Vila Itu. Ao ler a opinião de Fábio Brum Prestes sobre o assunto (publicada no Nova Pauta), resolvi não mais adiar esta postagem. 
Mais que conhecimento dedutivo, muita imaginação é necessária para criar um leque de possibilidades, da mais a menos plausível. Num extremo do leque, é possível colocar a não ocorrência dos tremores, a despeito dos testemunhos. Tratar-se-ia de um tipo de paranoia coletiva? Menos factível que os túneis jesuíticos sugeridos pelo Fábio. 
Na hipótese dos tremores serem de natureza geológica, origem descartada pela inteligência acadêmica da URI, por que tal ocorre apenas sob a Vila Itu? Algum vazio se formou a pouca profundidade, em torno de uma poderosa vertente, por exemplo? A pouca profundidade explicaria por que os tremores só são sentidos na vila. O epicentro da vibração poderia se localizar, mais exatamente, sob uma rua em que trafega veículos pesados. 
Ao invés da vertente, por que não a escavação de um poço clandestino com pequenas e controladas explosões? Por que não pequenas e controladas explosões para outras finalidades.
Outras causas subterrâneas são possíveis, apesar de se distanciarem da dedução racional, aproximando-se da ficção fantástica, do sonho ou da fantasmagoria. 

SORTE NA ACADEMIA... AZAR NO AMOR

O título acima é dado a uma matéria da revista BRAVO (janeiro de 2013). Luís Roberto Amabile escreve sobre o livro Os grandes filósofos que fracassaram no amor, do norte-americano Andrew Shaffer.
O primeiro pensador a ser citado é Sócrates, autor desta frase conhecidíssima: "Se conseguir uma boa esposa, vai ser feliz; se conseguir uma péssima, vai se tornar filósofo". (A propósito, uma lastimável tradução!) 
Sócrates, feio e baixinho, casou-se aos 60 anos com Xantipa, quatro década mais jovem. A ranhetice de Xantipa virou lenda, tanto que importunava o célebre autor da maiêutica, método filosófico que consistia em dar à luz a verdade em seu interlocutor. Imagino que as principais queixas de Xantipa se referia às goteiras dentro de casa, à falta de comida e aos atrasos do homem (que se distraía falando nas ágoras atenienses). Há dois mil e quatrocentos anos, as mulheres não reclamavam do sexo (coisa que passou a acontecer abertamente a partir da segunda metade do século XX). Xantipa deveria  ter lá suas frustrações, que eram racionalizadas obviamente.
O segundo exemplo é René Descartes. Este filósofo teve apenas uma relação sexual ao 38 anos. Apaixonou-se por uma princesa da Boêmia, mas não foi além da amizade (Freud escreveu que esse sentimento é motivado pela libido inibida em seus objetivos). 
O terceiro exemplo extraído do livro de Shaffer é Nietzsche (que muita gente escreve sem o "z" ou sem o "s"). Apaixonou-se duas vezes. "A primeira recusou seu pedido de casamento, pois amava outro. A segunda, 17 mais jovem, rejeitou diversas vezes a proposta do autor de Ecce Homo". O relacionamento conturbado do filósofo com Lou Salomé é bem conhecido dos nietzschianos. 
F. Dostoiévski e Louis Althusser, frustrados que eram no amor, "tiveram ganas de matar a mulher". O primeiro transformou esse desejo em literatura (ler o romance O jogador), e o segundo estrangulou de fato sua cara metade ao fazer-lhe uma massagem no pescoço.
Nietzsche amava Lou Salomé (foto abaixo), que amou Nietzsche,  Sigmund Freud, Rainer Maria Rilke, Paul Rée, entre outros. 
 

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

LAMENTÁVEL

Não há otimismo que me convença de que a ordem sempre sobrevirá à desordem no âmbito dos grupamentos humanos (que constituem sistemas analisáveis pelo princípio de uma entropia social). O desperdício de energia e a consequente desorganização ocorrem ao natural, a despeito de todo o esforço contrário. No momento em que a situação beira o insustentável, institui-se uma reforma ou explode uma revolução. 
Fui motivado a pensar isso por um fato lamentável para Santiago: a destruição, na Rua dos Poetas, da réplica em pedra da Bruxa de Arno Gieseler e do monumento a Adelmo Simas Genro. 

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

UMA ANALOGIA POSSÍVEL

A partir da abertura no jogo de xadrez, cujos lances devem obedecer a uma sequência consagrada pelos grandes mestres, e de suas variantes respectivas, toda jogada é tão simplesmente uma escolha do enxadrista. Baseada na capacidade de raciocínio, de desenvolver uma estratégia de ataque (ou de defesa), o jogador dispõe de muitíssimas opções para mover suas peças. Entre tais opções, certamente, uma é a melhor, que o encaminha à vitória, e outra é a pior, que o leva à derrota.
O jogo (que é esporte, arte e ciência) imita a vida - que imita o jogo.  Para jogo e vida, a razão constitui um instrumento eficaz para o indivíduo fazer a melhor escolha (independentemente do lobby fortíssimo do desejo, da vontade). 
Ser racional é isto: pensar em diversas jogadas (no maior número delas possível) e optar pela melhor, a que resulta em maior ganho (ou menor perda). Ganho em fruição, conhecimento, liberdade e tudo mais. 
A razão não é essa coisa fria, calculista, descrita pelos ignorantes, pelos preconceituosos. Garry Kasparov, o melhor enxadrista de todos os tempos, jogava um xadrez considerado artístico, romântico. 
Nos finais de jogo, quando poucas peças restam sobre o tabuleiro (da vida), a razão continua indispensável para o equilíbrio. Nesse momento, não existem lances predeterminados, exigindo-se, para realizá-los, uma sempre apurada intuição (esgotados os cálculos). A despeito disso, todo jogador, A ou B, acaba levando xeque-mate uma última vez - sem que se possa apertar a mão do adversário.

QUEM É O CORVO?

"Cría cuervos, y ellos te sacarán los ojos"

(Repito a postagem de 6 de dezembro de 2012, como leitura de certas relações pessoais/trabalhistas que ocorrem em Santiago. A sabedoria  desse provérbio espanhol é de uma luminosidade...!)

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

TREMORES MISTERIOSOS

Genial a ideia do Oracy de escrever uma quadra em que tematiza os "abalos sísmicos" na Vila Itu. 
Desafiado a imitá-lo, produzi os versos seguintes:
tremores na Vila Itu
já não causam mais abalo:
nas profundas, um tatu
(que) corre feito cavalo

Brincadeira à parte, penso que logo será descoberta a causa desses tremores misteriosos. 

CARÁTER BRASILEIRO

O adiamento do uso obrigatório das novas regras do Acordo Ortográfico apenas confirma o caráter brasileiro (por excelência). 
1. Somos apressados. Ante todas as dúvidas e indecisões em relação às mudanças, nossas autoridades correram para publicar o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP). Repleto de incorreções, diga-se de passagem.
2. Somos lenientes. No caso das mudanças ortográficas, não pensamos duas vezes: concordamos com elas.
3. Somos cedentes. Inconscientemente, apressamo-nos e, facilmente, reconhecemos isso, concordando com os nossos contrários (mais ponderados). 
Falta-nos pensadores de palavra (não bastassem os políticos).  

domingo, 6 de janeiro de 2013

SÓCRATES


“só sei
uma coisa,
e é que nada
                      sei”

se nada sabe
como sabe
que nada
                  sabe?

o sofisma
traiu
o sábio

sábado, 5 de janeiro de 2013

COMENTÁRIOS E PREVISÕES

Comentário com base na constatação evidente: CHOVE EM SANTIAGO. 
Previsão com base na evidência constatada: CONTINUARÁ A CHOVER NOS PRÓXIMOS DIAS EM SANTIAGO.
Comentário com base na atual constituição da Câmara de Vereadores de Santiago: HAVERÁ MUITA BRIGA NAS SESSÕES LEGISLATIVAS. DOIS ATACANDO, E DOIS DEFENDENDO O PODER EXECUTIVO MUNICIPAL. O PRESIDENTE DA CASA PROMETE QUE IRÁ GRUDAR O DEDO NA CAMPAINHA, EXIGINDO COMPOSTURA. 
Ontem, no centro, encontrei um vereador que ficará na cômoda posição de neutralidade. Argumento para ele que os vereadores deverão dar o exemplo de urbanidade, coerentes com o grande projeto de transformar Santiago numa "Cidade Educadora". Ele sorriu negativamente, assegurando-me que haverá briga, sim.
Alguém me lembrou de que a última sessão de 2012 fora um horror. 
Não restam dúvidas, CONTINUARÁ A CHOVER, COM TROVOADAS RETUMBANTES.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

O QUE (NÃO) MUDA

Meu 2013 começou exatamente como terminou o 2012. A sequência dos dias imediatamente anteriores e posteriores à passagem do ano podem muito bem ser comparada a qualquer outra sequência (escolhida à revelia). No que diz respeito à leitura, por exemplo, comecei a ler O ópio dos intelectuais, de Raymond Arondia 27 de dezembro, e continuo a lê-lo neste 4 de janeiro. No que diz respeito ao trabalho, idem. Cumpri expediente na 1ª Bda C Mec dia 27 de dezembro e continuo a cumpri-lo a partir de ontem. 
Não quero (já querendo) com isso dizer que a realidade desmi(s)tifica uma sobrenatureza, algo que sofreria influência divina, astrológica, numerológica ad nauseam. O que muda, paulatinamente, é a idade, a soma de uma sequência contínua de dias. 

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

VENTO FRIO E RECOMENDAÇÕES PARA 2013

Para quem gosta do inverno, este friozinho em pleno verão é um presente da Natureza (que tanto nos presenteia, sem intenção naturalmente). Como me incluo entre os primeiros da lista, saio à rua de mangas curtas para melhor sentir o vento. 

Recebi um e-mail com algumas recomendações para manter a saúde em 2013:
1. Beba mais água (nunca bebi tanta água quanto em 2012, uma vez que diminui as crises de gota);
2. Coma mais o que nasce em árvores e plantas, e menos comida produzida em fábricas (nunca comi tanta verdura quanto em 2012, tentando diminuir o ácido úrico);
3. Viva com os 3Es: Energia, Entusiasmo e Empatia (energia, depois dos 50, diminui consideravelmente; entusiasmo, idem; empatia, ao contrário, desenvolvo-a em seu mais alto grau);
4. Arranje tempo para orar (para quem? A Natureza não tem ouvidos);
5. Jogue mais jogos (nunca joguei tanto xadrez online quanto em 2012);
6. Leia mais livros do que leu em 2012 (será difícil cumprir essa meta, bati todos os meus recordes em 2012);
7. Sente-se em silêncio pelo menos 10 minutos por dia (boa recomendação! Sou contemplativo, amo o silêncio);
8. Durma 8 horas por dia (essa nunca cumprirei);
9. Faça caminhadas de 20-60 minutos por dia e enquanto caminha sorria (não tenho automóvel, enquanto caminho, contemplo, penso e cumprimento as pessoas). 
Das recomendações acima, destaco a de número 6: Leia mais livros do que leu em 2012. A leitura faz bem para a saúde do intelecto, do espírito, quase metafísica. Para o principal órgão dos nossos sentidos, a visão, a prática é desgastante. Outra coisa, calculo que o autor dessa recomendação não tenha lido em 2012. Falar bem da leitura é moda hoje em dia, mas o que se vê amiúde são não leitores.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

IRONIA

"O primeiro bebê nascido na cidade de Coqueiros do Sul em 2013 é menino(a)." 

"Crime bárbaro em Sertão: J.N.T. desferiu três tiros em D.L.O. A polícia prendeu em flagrante o suposto autor. Trata-se de um acerto (faz) de conta."

Os exemplos acima imitam certas notícias publicadas pela mídia em nossa cidade (inclusive na blogosfera). O exagero é proposital, recurso estilístico que auxilia na compreensão do enunciado. 
No primeiro, qual a relação entre os leitores/ ouvintes santiaguenses com a cidade de Coqueiros do Sul?
No segundo, a mesma pergunta sobre o interesse pode ser feita. Não se conhece ninguém pelas iniciais. Em muitos casos, mesmo com o flagrante, a linguagem legal insiste com o "suposto" autor do crime. "Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença condenatória", preceitua o inciso LVII do art. 5º da Constituição Federal. Qual a inocência que pode ter um assassino confesso?
Não poderia haver o princípio da culpabilidade evidente? Ou da evidência de culpa?
Mas isso é assunto que foge ao tema desta postagem.
A conclusão "acerto de conta" é brilhante (ironicamente falando).


terça-feira, 1 de janeiro de 2013

VONTADE X RAZÃO

A esperança é irmã do otimismo, e ambos são filhos do desejo do homem. A "família" vive a um passo da utopia, descontente com a realidade (que a incomoda dia e noite). 
Por isso, ao fecho de um ano, ao fecho de uma realidade determinada, esperança e otimismo se regozijam num abraço fraterno. A alegria é geral, envolvendo realistas, pessimistas e catastrofistas, que também brindam o próximo ano.
Independentemente das coisas boas que ocorreram no ano passado, como a colheita rentável, a promoção no trabalho e a conclusão do curso superior, os filhos do desejo querem mais e mais. A insatisfação com o presente os identifica, bem como a crença no futuro. São ingratos com a fortuna recebida, ressentidos com o infortúnio (em que se enquadra o sonho não realizado). 
Essa falta de agradecimento ao ano velho infere que o muito da esperança foi malogrado, que o muito do otimismo dobrou-se ao peso da realidade.
A chegada de um ano novo constitui uma oportunidade extraordinária para outro sonho, para desejar uma coisa (que se torna boa pela chancela do desejo).
Como racional, antecipo que 2013 não será muito diferente de 2012. Esses números não passam de uma convenção da cultura ocidental. Há um tempo contínuo que não se fragmenta, como se o 31 de dezembro e o 1º de janeiro fossem apenas um dia após o outro, tão iguais e tão dessemelhantes quanto sói ocorrer com qualquer outra sequência temporal.
A lógica é irmã do realismo, e ambos são filhos da razão do homem.

NOVO ANO



Texto produzido para o Facebook, observando sua filosofia de troça.