domingo, 22 de julho de 2012

SEM(TI)ÁGUA III

Do caos em que vivem os santiaguenses, causado pelo racionamento e falta de água, gera-se a estrela da conscientização. Essa frase, ligeiramente modificada a partir de um aforismo nietzschiano, expressa o bem maior que se sobressai da crise: cada indivíduo passa a contribuir mais efetivamente pelo social. Os desperdícios de água, que ocorriam amiúde por conta da prepotência individualista, não foram mais observados. A dor não só ensina a gemer, a suportar a própria dor, mas a desenvolver a empatia (tendência que revela uma pessoa para sentir o que sentiria caso estivesse na situação vivida pelo outro). Empatia e alteridade. Para surpresa dos adversários políticos do programa “Cidade Educadora” (muito desacreditado a princípio), a sociedade deu uma resposta positiva aos decretos baixados em caráter excepcional. Os racionamentos cada vez mais frequentes,  impostos pela Companhia antes do dia primeiro de setembro, criaram um mal-estar geral, uma animosidade nos bairros mais altos, que passaram a acusá-la de beneficiar uns e não outros. Acusação injusta, uma vez que o sistema de abastecimento não dispõe de um controle mais preciso que o da gravidade. Dessa forma, não há parcialidade ou favorecimento. O centro é tão atingido quanto o subúrbio mais distante da estação de tratamento. Sem divisão do espaço, em bairros ou zonas, a alternativa foi dividir o tempo para o abastecimento e o corte, reduzindo-se as horas de abastecimento e aumentando as de corte. Cada vez mais, à medida que secava a barragem – transformada numa clepsidra do desespero, da dor (que ensina a gemer e que capacita o indivíduo a compreender a dor alheia como tão séria quanto a sua). Talvez chova amanhã, depois de amanhã, segunda-feira, terça-feira, quarta-feira... Talvez não.  
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Texto publicado na última edição do Expresso Ilustrado.    

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