sábado, 30 de junho de 2012

RELIGIÕES SEGUNDO O CENSO

Há alguns dias, leio Religião para ateus, de Alain de Botton. A tese central do livro é de que as religiões apresentam aspectos úteis, interessantes ou consoladores, "que surgiram para atender demandas eternas e universais". (O termo "eternas" é um exagero.) A leitura me fez postar duas vezes, conforme se lê abaixo. Nesta postagem, a citação do livro me serve apenas de gancho para analisar sucintamente alguns dados sobre o Censo 2010, agora divulgados pelo IBGE. O ZH publica hoje os números relativos à fé dos gaúchos. 
Entrevistados: 10.103.986 (pouco menos que a população do Rio Grande do Sul). 
Católicos: 7.359.675 
Luteranos: 449.779
Metodistas: 10.131
Batistas: 56.022
Adventistas: 70.514
Assembleia: 408.894
Quadrangular: 133.301
Universal: 64.824
Deus é Amor: 36.179
Mórmons: 26.206
Testemunhas de Jeová: 57.008
Espírita: 343.784 
Umbanda e Candomblé: 157.599
Judaísmo: 7.805
Budismo: 6.107
Islamismo: 3.375
Sem religião: 631.128
Tendo como referência o Censo de 2000, as igrejas que diminuíram foram a católica, metodista, batistas e universal. A IURD foi a única a perder fiéis entre as pentecostais. Perda substancial: 103.322 para 64.824. Por que isso ocorreu com uma igreja pentecostal (que mais ganharam católicos dissidentes)? Reação à mercantilização mais desavergonhada da fé?  
Entre as que mais aumentaram o número de adeptos, aparecem o Evangelho Quadrangular e o Espiritismo. 
Nenhum aumento, todavia pode ser comparado ao de pessoas que declaram sem religião: 478.341 para 631.128. Esse número é muito maior se considerarmos que uma parcela de católicos não-praticantes tem nessa religião apenas um rótulo (que acompanha seu currículo de vida). Outra parcela, diga-se de passagem, segue uma outra prática religiosa (ainda não assumida). 
Sem religião não é equivalente a ateísmo. A percentagem de ateus no Rio Grande do Sul é de 0,47%, isto é 47.488.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

RELIGIÃO E ATEÍSMO

"Por que ateus não são capazes de recorrer à cultura com a mesma espontaneidade e rigor que os religiosos empregam em seus textos sagrados?
"Ao mesmo tempo em que as universidades conquistaram uma competência sem paralelos na transmissão de informação factual acerca da cultura, elas permanecem de todo desinteressadas em treinar os estudantes para usá-la como repertório de sabedoria - com esse último termo referindo-se a um tipo de conhecimento relacionado a coisas que não apenas são verdadeiras, mas intrinsecamente benéficas, UM CONHECIMENTO QUE SE PROVA RECONFORTANTE PARA NÓS QUANDO CONFRONTADOS PELOS INFINITOS DESAFIOS DA EXISTÊNCIA...
"Muitos ateus têm se oposto de tal forma ao conteúdo da crença religiosa que deixaram de apreciar seu objetivo geral inspirador e ainda válido: fornecer aconselhamento bem-estruturado sobre como conduzir nossa vida.
"A religião propõe que a questão central para a educação não é como neutralizar a ignorância - como sugerem os educadores seculares - mas como combater nossa relutância em agir de acordo com ideias que já compreendemos inteiramente em um nível teórico. Ela acompanha os sofistas gregos na insistência em que todas as lições deveriam apelar tanto para a razão (logos) como para a emoção (pathos)."
.
Extraído do livro Religião para ateus, de Alain de Botton.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

LITERATURA REDENTORA

Alain de Botton questiona em Religião para ateus se a cultura poderia substituir a Escritura. 
"As máximas de Marco Aurélio, a poesia de Boccaccio, as óperas de Wagner e os quadros de Turner poderiam ser os novos sacramentos da sociedade secular"
"A literatura, antes descartada como digna de estudo apenas por moças adolescentes e convalescentes, foi reconhecida como um campo sério e apropriado de análise dentro das universidades ocidentais durante a segunda metade do século XIX
"Em sua aula inaugural na Universidade de Oxford, em 1922, George Gordon, professor de literatura em Merton, enfatizou a escala da tarefa que caíra sobre seu campo de estudos: 'A Inglaterra está doente...  e a literatura inglesa deve salvá-la. Com as igrejas (no meu entendimento) tendo fracassado e os remédios sociais sendo lentos, a literatura inglesa agora tem uma função tripla: de ainda nos encantar e instruir, suponho, mas também, e acima de tudo, de salvar nossa alma e curar o Estado'
"Afirmações de que a cultura poderia substituir a Escritura - de que Middlemarch* poderia assumir as responsabilidades previamente atribuídas aos salmos ou os ensaios de Schopenhauer satisfariam necessidades outrora preenchidas por A cidade de Deus, de Agostinho - ainda soam excêntricas ou insanas em sua combinação de impoedade e ambição
"As mesmas qualidades que os religiosos encontram em seus textos sagrados frequentemente podem ser descobertos em obras da cultura. Romances e narrativas histórias podem habilmente transmitir instrução moral e edificação. Grandes pinturas de fato fazem sugestões a respeito de nossas necessidades de felicidade. A FILOSOFIA PODE, DE MANEIRA PROVEITOSA, LIDAR COM ANGÚSTIAS E OFERECER CONSOLAÇÃO. A literatura pode transformar nossa vida".
* Middlemarch é um romance totêmico escrito entre 1869 e 1871 por George Eliot, descreve a analisa o império inglês nos anos conturbados que antecedem a ascensão da rainha Vitória. Apesar do nome masculino com o qual assinava suas obras, George Eliot (cujo nome verdadeiro era Mary Ann Evans), traz em sua literatura uma defesa profunda e analítica do comportamento feminino.
(Dados do site  
http://www.revistabula.com/posts/livros/middlemarch-um-romance-totemico)

Dedico esta postagem a Erilaine. Não pensava encontrar alguém que gostasse tanto de literatura quanto eu.

terça-feira, 26 de junho de 2012

MERAS PALAVRAS

O secretário da ONU diante do texto elaborado na Rio -20: "ambicioso, amplo e prático".
Bah, (em) ki moon (do)está?

segunda-feira, 25 de junho de 2012

LARÍ NO LETRAS

Hoje não estava legal até voltar para casa, um sintoma de labirintite me levara ao médico. Sobre a mesa de leitura, havia um exemplar do jornal Letras Santiaguenses, cuja capa presta uma homenagem ao poeta Larí Franceschetto. O Larí é meu amigo. Já fui a Veranópolis exclusivamente para visitá-lo. Alguns versos seus beiram a epifania poética. 
Parabéns aos editores do Letras pela excelente escolha. 
Meu dia mudou para melhor com homenagem ao poeta veranense. Muito obrigado! 

RIO -20 (RIO MENOS VINTE)


Rio -20: essa inversão do sinal é uma possibilidade, que somente agora, a posteriori, passa ao domínio da crítica. O insight me ocorreu nos dias em que os diplomatas se reuniam no Rio de Janeiro para a produção de um texto sobre a sustentabilidade. Para ser mais exato, dia 20 de junho. A sacada nada tinha de profético, uma vez que se sustentava na observação, na experiência. Todos os encontros entre chefes de governo anteriores, a partir da Conferência de Estocolmo (1972), produziram documentos sem qualquer resultado prático, ecologicamente correto. Para dar um exemplo (que meus leitores possam entender muito bem), cito o Protocolo de Kioto (1997), o qual propunha a redução de 5% na emissão do dióxido de carbono até 2012. Em vista de certas urgências, quinze anos é tempo em demasia. Já vivemos 2012, sem redução alguma do CO2. Pelo contrário, o boom de desenvolvimento na última década, mais visível na China, índia e Brasil (inclusive), tem como consequência um aumento incalculável na produção do gás carbônico. Somando-se a essa causa, o desflorestamento continuou desenfreado. Kioto foi uma piada. Rio +20, uma piada. A despeito da seriedade que exige as questões ambientais, essas conferências apresentam certo potencial cômico, muito sutil (por conta da contradição entre o texto e a sua desconexão com a realidade). Rio +20 faz referência à ECO92, realizada na “Cidade Maravilhosa” em 1992. Mais vinte anos pode parecer que houve uma evolução no trato do meio ambiente. Todavia, não é isso o que está acontecendo efetivamente. O estado de degradação do planeta já abriu contagem regressiva. Por isso, Rio -20. Vinte anos a menos. Pronto o texto, formou-se uma avalanche de opiniões para criticá-lo. De certa forma, ele reflete a incompetência crônica para a execução de uma agenda séria.     

(Nosso planeta é amiudamente comparado com uma nave, ou com um navio. Somos seus tripulantes. Baseado no texto acima, comparo-o ao Titanic, o imenso transatlântico que naufragou em 14 de abril de 1912, quando realizava a viagem inaugural entre Southampton (ING) e Nova York (EUA). O capitão, mesmo alertado da possível existência de iceberg na região em que navegavam naquela noite, ordenou qualquer coisa como "máquinas a todo vapor". Sem os equipamento óticos (apenas encomendados para a embarcação), os marinheiros na cabine de comando avistaram o grande iceberg a uma distância incapaz de evitar o choque. Hoje o planeta-navio desloca-se numa velocidade (a)celerada. Lotado com 7 bilhões de humanos, que não fazem outra coisa senão alimentar as máquinas propulsoras. Os alertas estão sendo inúteis. Até quando...?)

domingo, 24 de junho de 2012

NOITE DO CINEMA

Nesse sábado, Noite do Cinema no Clube União. Decoração sui, shows musicais, jantar e filme. Roteiro e direção do meu colega e amigo Sílvio Menezes: O fantasma do Clube União

sábado, 23 de junho de 2012

RAPIDEZ VERSUS DEMORA

Não discutirei aqui a legalidade do impeachment do presidente do Paraguai, Fernando Lugo; se houve golpe (como dizem uns), ou se o processo respeitou os princípios da democracia (como defendem outros, entre os quais um analista entrevistado num canal de TV). Outrossim, não saberei dizer se o impeachment foi consequência de uma instabilidade política, ou se desencadeará a instabilidade no país vizinho. 
Depois do governo ditatorial de Alfredo Stroessner, com duração de trinta anos, os paraguaios demonstram que aprenderam a lição e, por intermédio de seus congressistas, julgaram sem demora pelo impeachment. A repercussão no Brasil é de estranhamento, não quanto à (i)legalidade do processo, senão de sua rapidez. Estamos acostumados com a lentidão do nosso Congresso, quase como uma estratégia para a acomodação, para a impunidade. Somos cordiais (como bem definiu o grande sociólogo) até com os nossos corruptos e criminosos. Um excesso de direitos (e uma subjetividade na interpretação do direito) faz com que também nossa justiça seja de uma morosidade a toda prova. O impeachment de Fernando Collor foi uma exceção. Pela rapidez, não por outro motivo. Depois de Collor, coisas piores acontecem no Brasil, mas se é para "desestabilizar a democracia" que fique assim.

JANTAR NO COXILHA

Como tornei público em postagem abaixo, ontem fui ao Coxilha de Ronda, para o jantar beneficente  organizado pelo Binho Gomes (e com o patrocínio do consulado do Internacional). A renda obtida com o evento destina-se a apoiar financeiramente a família de João Francisco. Essa causa reveladora de alto espírito de solidariedade me levou ao CTG, não como gremista raro (que já superou a paixão terra a terra pelo tricolor). Na comitiva colorada da capital, vieram Vacaria, Caçapava e Claudiomiro. Aproximadamente 400 pessoas estiveram presentes ao jantar. 

quinta-feira, 21 de junho de 2012

DUAS NECESSIDADES



Em Religião para ateus, o filósofo Alain de Botton disserta que "inventamos as religiões para servirem a duas necessidades centrais", que atravessam os milênios sem outra solução: 
"a necessidade de viver juntos em comunidades e em harmonia apesar dos nossos impulsos egoístas e violentos profundamente enraizados";
"a necessidade de lidar com aterrorizantes graus de dor, que surgem da nossa vulnerabilidade ao fracasso profissional, a relacionamentos problemáticos, à morte de entes queridos e a nossa decadência e morte". 

quarta-feira, 20 de junho de 2012

CONSCIENTIZAÇÃO


Os pais sempre falam para seus filhos não brincarem com o fogo, para não meter a mão no fogo, porque tal brincadeira acabará com uma queimadura. Por mais cuidadosos, repetitivos com a recomendação, os pais  quase sempre fracassam em sua educação protecionista. Cedo ou tarde, os  pequenos acabam metendo o dedo (a mão) no fogo, nem tanto para desobedecer simplesmente os pais, senão por desconhecimento empírico. A certeza de que o fogo queima é menor que a curiosidade de comprovação. A razão da obediência, menor que o instinto da desobediência. O resultado disso é uma queimadura (simples ou grave), não apenas no dedo, na mão dos novos aprendizes, mas de qualquer parte do corpo. Apenas depois da queimadura é que o conhecimento se torna efetivo.
Um paralelo pode ser traçado entre a criança que ainda não se queimou e o usuário da água, cuja semelhança maior é a falta de conhecimento efetivo (necessário para a conscientização). A exigência que se faz ao consumidor, no sentido de que ele não desperdice a água limpinha que sai das torneiras, equivale ao pedido para a criança não brincar com o fogo. Mesmo sendo noticiado o fato de que a nossa barragem se encontra no nível mais baixo dos últimos 40 anos, apelando-se para a economia, a maioria dos usuários não mudará seus hábitos em nada parcimoniosos. A imagem da nossa barragem secando dia após dia e o racionamento forçado terão o efeito benéfico de despertar a população para o problema. Com a falta efetiva de água (que equivale à queimadura, no caso do fogo), o processo de conscientização dará um salto para frente.

MATEMÁTICA AMBIENTAL

Rio -20

POEMA

a escada
d
   e
      s
         ç
            o
dura e fria


degraus
engrenagem


para os ofícios
do dia

terça-feira, 19 de junho de 2012

METÁFORA

facas de cimento
fios
        e
              pontas
contra a pele
da manhã

ALITERAÇÃO

a cidade 
amanheceu
sob um céu
nada seu

domingo, 17 de junho de 2012

ECO NA PROSA

As discrepâncias ocorrem amiúde entre as duas traduções. Qual a melhor? Tal avaliação me exige um conhecimento da língua inglesa superior ao dos dois tradutores. Como isso não é verdadeiro, devo aceitar o que foi traduzido pelos dois. Penso que a prosa também é distorcida pela tradução, não ao mesmo grau de deformidade que a poesia. No excerto de Ulisses, segundo Houaissou Ulysses, segundo Caetano Galindo (poeticamente, a mudança de uma letra já é considerável), a oração "um coração(zinho) assado recheado" é sonoramente horrível. O eco na prosa faz mal aos ouvidos. Em inglês, a oração acima apresenta outra sonoridade.  

TRADUÇÕES DE ULISSES

Antônio Houaiss traduz Ulisses desta forma: 
"Mr Leopold Bloom comia com gosto os órgãos internos de quadrupedes e aves. Apreciava sopa de miúdos de aves, moelas amendoadas, um coração assado recheado, fatias de fígado empanadas fritas, ovas de bacalhoa fritas. Mais do que tudo gostava de rins de carneiro grelhados que davam ao seu palato um delicado sabor de tenuemente aromatizada urina.
"Rins tinha em mente no que se movia suave pela cozinha, dispondo as coisas do desjejum dela sobre a bandeja encalotada. Luz e ar gélidos havia na cozinha mas fora de casa meiga manhã estival por toda parte. Fazia-o sentir-se um tico apetente.
"Os carvões avermelhavam.
"Outra fatia de pão e manteiga; três, quatro: bem. Ela não gostava de prato cheio. Bem. Virou-se da bandeja, levantou a chaleira da grade e colocou-a de lado sobre o fogo. Essa ali assentou, parada e atarracada, o bico saltado para fora. Xícara de chá pestes. Bom. Boca seca. A gata andava tesa ao redor da perna da mesa com o rabo ao alto.
"-Minhau!
"Oh, aí estás - disse o senhor Bloom, voltando-se do fogão."
.
Caetano Galindo traduz o excerto desta forma:
"Mastigava destemperadamente, o senhor Bloom, as vísceras de aves e quadrúpedes. Gostava de sopa grossa de miúdos, moelas acastanhadas, um coraçãozinho recheado assado, fatias de fígado fritas com farinha de rosca, ovas de bacalhoa fritas. Acima de tudo gostava de rins de carneiro grelhados que lhe davam ao paladar um fino laivo de tênue perfume de urina.
"Tinha rins na cabeça enquanto movia delicadamente pela cozinha, ajustando as coisas do café da manhã dela na bandeja calombuda. Gélidos ar e luz estavam pela cozinha mas lá fora doce dia de verão por toda parte. Dava-lhe uma fominha.
"As brasas avermelhavam.
"Outra fatia de pão e manteiga; três, quatro: certo. 
"Ela não gostava do prato cheio. Certo. Voltou-se da bandeja, ergueu a chaleira da boca e pousou-a de lado no fogo. Lá fora, fosca e atarracada, de bico embeiçado. Xícara de chá logologo. Bom. Boca seca. A gata andava rígida em torno de uma perna da mesa com o rabo para cima.
"-Mqnhao!
"-Ah, olha só você aí, o senhor Bloom disse, voltando-se do fogo."

(Para Galindo, Ulysses.)

COLIGAÇÃO (OU DECADÊNCIA)

Verdades são necessárias, nem que o mundo se faça em estilhaços (já sentenciava o sábio). Vejo na política santiaguense sinais da pior política feita no país, ou seja, de um partido que, chegando ao governo, tudo faz para não perdê-lo. Aqui o PT não chegou a lugar algum, felizmente, mas já aprendeu a grande lição do Lula: coligar-se. Não há mais ideologia, senão a falácia que ainda chamam de democracia. Parte dos militantes dos anos oitenta se revolta e funda um novo partido (qual Luciana Genro); parte se mantém calada, sofrendo na observância às novas orientações do partido (qual meu amigo Juarez Girelli); parte, a grande parte, adapta-se às mudanças, condicionada pela cantilena arrivista de seus líderes. A coligação a qualquer preço levou os recém-chegados ao governo a instituir o chamado "mensalão", cujo julgamento já deveria ter ocorrido, sob pena de Brasília tornar-se igualmente a capital da corrupção, da imoralidade. A coligação já é uma forma de decadência, dentro dos próprios partidos e - por extensão - dos segmentos sociais representados por eles.
Não posso me limitar a essas verdades, qual arauto da degeneração ética (à frente de outras formas de degeneração, como a ambiental, por exemplo). Elas me causam nojo. A Literatura é tábua de salvação. Arte que torna tão verdadeiro o enunciado nietzschiano: "a existência do mundo não se pode justificar senão como fenômeno estético".   

sábado, 16 de junho de 2012

BLOOMSDAY

Um 16 de junho delimita cronologicamente toda a narração de Ulisses, de James Joyce. Por isso, esse dia passou a ser comemorado como Bloomsday, referência ao período vivido pelo personagem principal desse grande romance: Leopold Bloom. Do livro, diz-se que é muito comentado e pouco lido. Para me contrapor a esse mito literário, li duas vezes (1987-89). Não demora, lerei pela terceira vez. Em minha biblioteca, conto com uma biografia fantástica de James Joyce, produzida por Richard Ellmann (mil páginas).
Achei necessário fazer esta postagem hoje. Na Irlanda, é feriado, o único feriado no mundo dedicado a um livro de literatura. Isso não é extraordinário?!

PLANETA ENFERMO

Com os desacordos iniciais da RIO+20, o termômetro do nosso planeta enfermo continua a subir, a subir.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

PARALELO

Machado de Assis dialoga amiúde com o leitor, usando e abusando da metalinguagem e da epilinguagem. Em Dom Casmurro, por exemplo, "agora que expliquei o título, passo a escrever o livro", "a vida é uma ópera" (em que dedica um capítulo para explicar o enunciado), "eu, leitor amigo, aceito a teoria do meu velho Marcolini" e por aí vai. Tal interferência do narrador é uma coisa chata em Machado.
Houellebecq é machadiano nesse aspecto. A grande sacada de seu O mapa e o território é fazer de Houellebecq um personagem. O romance ganhou o Goncourt em 2010, prêmio literário mais importante da França. Mas, porém, contudo, todavia... Sobre a câmera fotográfica de Jed Martin: "... adquiriu uma Betterlight 6000-HS, que permite capturar  imagens de 48 bits em RGB, com uma resolução de 6.000 x 8.000 pixels". Sobre a Musca domestica, encontrada em volta do cadáver de Houellebecq, Houellebecq escreve uma enciclopédia, com os últimos conhecimentos sobre o inseto. Nos agradecimentos, o autor refere-se à Wikipedia, "cujos verbetes às vezes utilizei como fonte de inspiração". 
(Li 150 páginas ontem e hoje, concluindo a leitura do romance.)

quinta-feira, 14 de junho de 2012

MICHEL HOUELLEBECQ

Em O mapa e o território, Michel Houellebecq beira o extraordinário. Realista convincente, transforma-se em personagem do romance que produz e, com crueza houellebecquiana, narra o momento em que a polícia encontra seu cadáver três dias depois de ter sido assassinado de uma forma hedionda dentro da própria casa. O estado do corpo (cortado em pedaços), o mau cheiro e a nuvem de moscas provocam vômito nos policiais experientes.
Em nossa literatura, há o caso de um autor-defunto, que narra suas Memórias póstumas de Brás Cubas. A obra alçou Machado de Assis ao topo da ficção brasileira.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

POR QUÊ?


Por que apenas os colorados se mobilizam pelo João Francisco em Santiago? A causa exige-nos solidariedade, não rivalidade. Da parte que me cabe, irei ao jantar no Coxilha, dia 22. 

LUCAS ARAÚJO DE OLIVEIRA

A E.E.E.F.Lucas Araújo de Oliveira está comemorando 40 anos nesta semana. A convite da direção, fui à escola para falar aos alunos de 7ª e 8ª séries, dividindo o espaço à frente do auditório com o Jones Diniz. Depois de relatar minha experiência na condição de aluno do então Colégio Polivalente, passei  a falar sobre livro, leitura e escrita. Dei meus três livros aos alunos que citaram o nome de um escritor santiaguense homenageado na Rua dos Poetas, de um escritor vivo e do autor do soneto mais belo da literatura brasileira (após declamá-lo). As três respostas foram, respectivamente: Caio Abreu, Márcio Brasil e Vinícius de Moraes (Soneto da Fidelidade).  A plateia gostou, manifestando-se com palmas e gritinhos. O Jones a exortou para o amor à escola. Também gostei. 

segunda-feira, 11 de junho de 2012

FEIRA DO LIVRO 2012

A 14ª Feira do Livro de Santiago já tem slogan e patrono definidos, graças à reunião coordenada pela Secretaria de Educação e Cultura.  
O slogan é LER: EMBARQUE NESTA ESTAÇÃO!
A patronnesse é FÁTIMA FRIEDRICZEWSKI.
Este ano, a feira muda de cenário: Estação do Conhecimento. Mais cedo: 18 a 21 de outubro. 

quinta-feira, 7 de junho de 2012

AUTOR-PERSONAGEM

Um dos personagens de O mapa e o território, de Michel Houellebecq, é Houellebecq. O protagonista é Jed, que vai da pintura à fotografia, e da fotografia à pintura. Para escrever o catálogo de sua  primeira exposição, o artista plástico pensa em Michel Houellebecq, escritor francês que vive na Irlanda. Houellebecq inova ao criar um personagem realista, "com fortes tendências misantrópicas" - ele mesmo.   

A CAVALEIRO DA DECADÊNCIA

Meu olhar transcende a civilização a que pertenço (mais alicerçada em Judá do que na Grécia). Felizmente, a civilização a que pertenço encontra-se em acelerada decadência.

VERDADE E ADEQUAÇÃO

O bispo auxiliar do Ordenariado Militar do Brasil, José Francisco Beltrão, esteve em Santiago nessa quarta-feira, para rezar uma missa na Igreja Matriz. Ontem foi celebrada a Páscoa dos Militares na guarnição, um evento religioso cuja extemporaneidade tem uma explicação muito simples: o soldado cristão em campanha, não podendo comemorar com os seus familiares a Páscoa no tempo certo, passou a comemorá-la após seu retorno. 
Com 18 anos, por ocasião da minha incorporação ao Exército, não entendi por que celebrar a Páscoa fora de sua data prefixada em tempo de paz. Nessa época já me perguntava muitas coisas (filosoficamente). O germe ou meme do ateísmo não se contentava com respostas prontas, fundamentadas no próprio mito.
Em sua homilia para explicar a origem da Páscoa, o bispo Beltrão falou meia hora em História Natural, Astronomia, Psicologia, Filosofia... Do que disse, anotei na minha caderneta o mais interessante: "o homem criou os deuses". Xenófanes já expressara essa verdade há dois milênios e meio. O bispo - que veio de Brasília para rezar com os militares católicos -, com essa verdade, argumentava sobre o politeísmo. No momento em que fazia a anotação, deixei de ouvi-lo explicar como o monoteísmo judaico, cristão e islâmico  significa o inverso: "deus criou os homens". A crença num deus único, diga-se de passagem, os judeus trouxeram do Egito. 
Qual a diferença entre "o homem criou deuses" e "o homem criou deus"? Por favor, leiam A essência do cristianismo de L. Feuerbach.
Pela primeira vez, com estes ouvidos que a terra há de, ouvi uma autoridade religiosa adequar a doutrina cristã à ciência, ao conhecimento. Um avanço extraordinário, considerando-se o milênio inquisitorial, ao longo do qual a ciência era considerada coisa do demônio. O bispo Beltrão associou, sem nenhum problema, o Big Bang ao "Faça-se a luz!" bíblico. Já escrevi sobre essa adequação. Vida extraterrestre, por exemplo. Mesmo que ela se comprove futuramente, após uma resistência inicial, os crentes saberão adequar sua fé ao fato novo.
A força da fé é inegável. Depois de resistir a Copérnico, aos absurdos da igreja e dos homens, a Darwin, a Nietzsche, a Freud, à genética... o que dizer dela?
Por que seria verdadeiro o deus dos judeus, dos cristãos e dos islâmicos? Falso todos os outros. Aliás, os cristãos não consideram verdadeiro o deus dos judeus e dos islâmicos, uma vez que consideram simples profetas Jesus Cristo (essa idealização de Paulo de Tarso). Nem Javéh nem Alá. Apenas o deus que se triparte em pai, filho e espírito santo.
Não gosto de parecer imodesto, mas o futuro confirmará isto: as sagradas religiões judaica, cristã e islâmica serão consideradas nada mais que mitologias. Apenas mitologias, que, por um tempo determinado, foram consideradas religiões verdadeiras em razão das práticas, dos ritos que as mantinham vivas.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

PAIXÃO DOS SANTIAGUENSES

A paixão que mais envolve os santiaguenses não é o futebol, não é o rodeio, não é a poesia, não é mesmo. A história do município, ainda não registrada com a imparcialidade que requer o cientificismo, revela o que realmente anima o espírito de nossos cidadãos: a política. Essa paixão se evidencia na época em que acontecem eleições, principalmente para prefeito e vereadores. Por influência da bipolarização na política gaúcha do passado, que levou a revoluções sangrentas, fratricidas, aqui também se pegou em armas, disparando-as, inclusive, como ocorreu no ano de 1936, na Vila Florida. Ainda que evoluísse da bala para a palavra, atualmente, os pleitos municipais são marcados por um embate que vai da dialética ao bate-boca num instante (dificilmente, no sentido contrário). Em Santiago, felizmente, não involuímos da palavra para o ato corruptível, caracterizado pela compra de apoio e venda de cargo, prática que ficou conhecida como “mensalão” em âmbito nacional. A paixão pela política local é fortemente determinada pelos antípodas Partido Progressista – demais partidos. De um lado, o pepismo açambarcante, imbatível, e de outro, o frentismo desarticulado, nunca passando de uma idealização. Paixões menores, expressas pelos líderes oposicionistas, impedem a coalizão. Ninguém abre mão de seu interesse pessoal mais premente, qual seja, o de representar ele próprio a frente. Com a popularização dos blogues, fenômeno midiático dos últimos anos, o discurso apaixonado se antecipa à campanha eleitoral, eivando o hipertexto com o que há de mais abjeto. Como pressuposto desse sentimento generalizado, reconhece-se o pouco amadurecimento psico-emocional daqueles que o extravasam com facilidade espantosa. 

domingo, 3 de junho de 2012

OS CULPADOS

O culpado pelo encontro entre Lula e Gilmar Mendes no escritório de Nelson Jobim é Nelson Jobim. 
Pela divulgação do encontro entre Lula e Gilmar Mendes no escritório de Nelson Jobim, VEJA é culpada.
O ex-presidente e o ministro do Supremo, independentemente de quem mente, são inocentes.

sábado, 2 de junho de 2012

NOVO CRIME

O novo crime no Brasil é denunciar um crime. A imoralidade e a antiética estão instituídas desde o princípio deste século. 

sexta-feira, 1 de junho de 2012

O MAPA E O TERRITÓRIO

Já estou lendo o romance de Houellebecq. Palmas para a Livraria Saraiva virtual. 

OS MERCENÁRIOS

Não acredito na terceira lei de Newton para as relações humanas, para cada ação existe uma reação contrária de igual intensidade. Isso no plano da realidade. Outrossim, não acredito na lei metafísica "o que aqui se faz, aqui se paga". O inferno não existiria. Também não acredito no inferno. Não acredito em nada. Ou tenho certeza de alguma coisa, ou penso sobre ela.
O exemplo de Ronaldinho Gaúcho e seu rompimento com o Flamengo, diriam aqueles que acreditam na justiça divina, prova que estou equivocado. No retorno desse jogador ao Brasil, seu empresário e irmão, Roberto de Assis Moreira, campeão do mau-caratismo, esnobou do Grêmio (mais uma vez) e do Palmeiras. Após longas negociatas (com a atenção da mídia), Ronaldinho acabou no Flamengo, porque pagava mais - entre outros motivos. A festa era geral, exceto para o treinador Luxemburgo. Toda festa, é regra, acaba cedo ou tarde, às vezes de uma forma escandalosa. Assis se encarregou de colaborar, fiel ao seu caráter, com a apropriação de camisetas de uma loja do clube carioca. A princípio, a dívida era de quatro milhões. Agora, com o rompimento definitivo, são quarenta milhões (numa proporção tipo 8 ou 80). 
Ronaldinho está rico, beneficiando-se, inclusive, de seu instituto (mantido com verbas públicas). Todo dinheiro que o Flamengo lhe deve não corresponde à paga justa de que expressa a sabedoria popular. Toda a antipatia que tem da torcida gremista, da mesma forma que os 40 milhões do Flamengo, nada representa para os irmãos Moreira. Mesmo que o Flamengo não pague um centavo, ainda é pouco. 
Ronaldinho e Assis devem algo impagável ao Grêmio. 
Depois dessa ruptura com o Flamengo, penso que não há mais clima para o jogador no Brasil. Mercenário como é (por conta de Assis), deverá ir para a China, Arábia, Japão, Estados Unidos...