sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

ONFRAY ESCREVE

"Não recrimino os homens que consomem expedientes metafísicos para sobreviver; em contrapartida, os que organizam esse tráfico - e de passagem se cuidam - estão radical e definitivamente postados na minha frente, do outro lado da barricada existencial - vertente ideal ascético. O comércio de além-mundos dá segurança a quem os promove, pois encontra para si mesmo matéria para reforçar sua necessidade de socorro mental [...]
"O crente, ainda passa; aquele que se pretende seu pastor, aí é demais! Enquanto a religião se mantém como assunto entre o indivíduo e si mesmo, trata-se afinal apenas de neuroses, psicoses e outros assuntos privados. [...] Meu ateísmo se ativa quando a crença privada torna-se assunto público e em nome de uma patologia mental pessoal organiza-se também para os outros o mundo que convém. [...]
"A morte de Deus foi um artifício ontológico, número de mágica consubstancial a um século XX que vê a morte por toda parte: morte da arte, morte da filosofia, morte da metafísica, morte do romance, morte da tonalidade, morte da política. Que se decrete hoje então a morte dessas mortes fictícias! Essas notícias falsas em outros tempos serviam a alguns para cenografar paradoxos antes da virada de casaca metafísica. A morte da filosofia permitia livros de filosofia, a morte do romance gerava romances, a morte da arte obras de arte etc. A morte de Deus, por sua vez, produziu sagrado, divino, religioso, seja o que melhor for. [...]
"Baal e Javé, Zeus e Alá, Rá e Wotan, mas também Manitu devem seus patronímicos à  geografia e à história: aos olhos da metafísica que os torna possíveis eles dão nomes diferentes a uma única e mesma realidade fantasística". 

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