segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

FOLGA X JURAMENTO DE HIPÓCRATES (ÉTICA)

Ontem, domingo, nossa manhã foi abalada com a morte de Yuri. O menino era benquisto nas comunidades do Passo da Cruz e do Rincão dos Machado. Infelizmente, um acidente fatal interrompeu sua vida. 
A morte revela o trágico (no sentido interpretado por Nietzsche), uma vez que o homem nunca consegue vencê-la. 
No final da tarde, vim ao velório ainda com o falecido ausente. Treze horas decorreram desde o acidente ao retorno do corpo de Yuri (tragicidade mesmo depois da morte), que fora levado ao legista. Em Santiago não havia médico legista, estava de folga. Em Santa Maria (é inacreditável!) não havia médico legista. Apenas em Caçapava do Sul esse especialista foi encontrado. 
A propósito, a dita folga do médico legista de Santiago não contradiz o Juramento de Hipócrates? Caso ele se encontrasse na cidade, essa "folga" é injustificável. 

MEL DE MIRIM COM BOLO FRITO

No sábado, eu e meus irmãos, Marcos e Cláudio, fomos melar um mirim. João Vítor, filho do Cláudio, acompanhou-nos com aquela alegria de menino já experimentada por nós, adultos, há algumas décadas. Numa pequena restinga à beira da estrada que leva ao Bocal do Freio, a meio caminho do rio Rosário, cortamos de machado o tronco, em volta do pequeno tubo de cera de entrada das abelhamirins. 

Um logo favo encheu a vasilha que levamos para o fim de colher o mel, cuidadosamente separado da samora, ou saburá. O produto há havia alcançado o ponto de extrema doçura, passando a apresentar certa acridez (fenômeno que não acontecia no mês de dezembro anteriormente). Ao retornarmos para a casa do pai, havia uma pratada de bolo frito. Para mim, a festa me reportou a um tempo marcado em cores vivas no calendário da saudade. 

domingo, 30 de dezembro de 2012

ESPELHO DO SOL

A LUA
ESPELHO
DO SOL

reflete-o 
noite
a dentro

com seus
contornos
de prata

com suas
silhuetas

a lua 
espelha
o sol

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

O ÓPIO DOS INTELECTUAIS


Ontem me chegou o livro O Ópio dos Intelectuais, de Raymond Aron. Uma leitura pesada para encerrar 2012.
Escrito em 1955, O Ópio dos Intelectuais é "um tratado contra o fanatismo (de esquerda)". A obra precede a "tragédia dos "gulags",  o desnudamento da brutalidade do stalinismo por Kruschev, o "enorme surto econômico na Europa, nos Estados Unidos e Japão, o revisionismo do eurocomunismo dos dogmas da ditadura do proletariado, a descoberta dos "nouveaux philosophes" de que "o esquema marxista de evolução se havia covertido em dogma, a rebelião purificadora em opressão partidária e o determinismo histórico em esterilização intelectual".
Nas palavras de apresentação  feita por Roberto de Oliveira Campos, "foi uma obra de coragem, pois o marxismo era então a grande religião dos intelectuais". 

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

TEMA RECORRENTE

FIM DE (mais um) ANO. Para o colunista, um tema recorrente, muito oportuno às reflexões. Nenhum outro momento consegue aproximar passado e futuro imediatos, delimitados pelo ciclo anual. Retrospectivamente, 2012 está posto, disponível para as apreciações, das melhores às piores. Não necessariamente nessa ordem. Expectativamente, 2013 se apresenta como desconhecido, mas já valorado pelos desejos e planos. Aquele se fez ato, vivido; este se faz potência, sonhado. Ontem (2012) e amanhã (2013). Entre esses dois segmentos temporais, hoje é um ponto (em movimento contínuo), constituído de realidades e sonhos. Por isso, o ano velho e o ano novo, tão diferentes como realidade e sonho, são jungidos pelo presente. Para comemorar esse encontro único, que desafia a tabula rasa do devir, justifica-se o rito de passagem, a festa.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

LEITURA REALIZADA EM 2012

Um dos balanços que faço ao findar deste 2012 é dos livros lidos. A Internet, com toda sua dimensão hipertextual, não foi suficiente para diminuir o ímpeto deste leitor pré-digital. Penso que são equivocadas todas as análises que tendem a destinar um futuro incerto para o livro impresso. Nas últimas feiras do livro em Santiago, para citar um exemplo de amplitude social, percebi a crescente demanda por leitura impressa à Gutemberg de um público infanto-juvenil, digitalizado. 
Livros que li/ reli em 2012:
- Armas, germes e aço, de Jared Diamond;
- Tratado de ateologia, de Michel Onfray;
- Religião para ateus, de Alain Botton;
- Uma breve história da Filosofia, de Nigel Warburton;
- Deus, entre outros inconvenientes, Xavier Rubert Ventós;
- Ensaios sobre o conceito de Cultura, de Zygmunt Bauman;
- Reflexões autobiográficas, de Eric Voegelin;
- O caso dos exploradores de caverna, de Lon L. Fuller;
- Valor e verdade, de André Comte-Sponville;
- O mapa e o território, de Michel Houllebecq;
- Partículas elementares, de Michel Houllebecq;
- Plataforma, de Michel Houllebecq;
- O caminho de volta, de Júlio Rafael;
- Solidão continental, de João Gilberto Noll;
- El manifesto comunista (edición crítica), de Jordan B. Genta;
- A lógica do pior, de Clément Rosset;
- A Antinatureza, de Clément Rosset;
- Nietzsche e a Filosofia, de Gilles Deleuze;
- El malestar en la cultura, de Freud;
- El futuro de una ilusión, de Freud;
- Guia politicamente incorreto da Filosofia, de Luiz Felipe Pondé.

Alguns outros livros li pela metade, deixando-os de lado por outros:
- O terceiro chimpanzé, de Jared Diamond;
- Colapso, de Jared Diamond;
- Da horda ao Estado, de Eugene Enriquez;
- Compreender Kant, de Georges Pascal;
- O papa é culpado?, de Geoffrey Robertson;
- Ética prática, de Peter Singer;
- Ética pós-moderna, de Zygmunt Bauman;
- O livro da Filosofia, organizadores;
- Guia politicamente incorreto da história do Brasil, de Leandro Narloch;
- Dic de máx e expr em latim, de Christa Pöppelmann;
- A estrutura das revoluções científicas, de Thomas Kuhn;
- Escritos sobre a Psicologia do Inconsciente, de Freud.

Não incluo na relação acima os livros de poesia, os quais releio a todo tempo. Principalmente os de Carlos Nejar. Assino Zero Hora e VEJA ( recebo de brinde Superinteressante e Escola). Compro todas as revistas que saem nas bancas sobre Filosofia, Literatura, Astronomia, entre outras. 
O oftalmologista me receitou, e já mandei fazer óculos para leitura. Espero ter olhos suficientes para continuar lendo no mesmo ritmo em 2013.  

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

AMAR O PRÓXIMO?

A moral manda, a ética recomenda (faço minhas as palavras de Sponville). O Cristianismo, no que concerne ao afeto, é uma ética. Jesus não manda amar o próximo, ainda que seu enunciado esteja no imperativo. O amor não é comandando. Por isso, ética cristã. A cada cristão, que se digne ser assim chamado, não basta amar o próximo por obediência à doutrina (aliás, esse sentimento não é amor), mas querer amar o próximo. A religião não é uma verdade, mas um valor que se institui por intermédio da vontade, do desejo de quem a segue fielmente. A realidade (que é uma verdade) demonstra que não há amor entre as pessoas, exceto dentro da família (âmbito que também se presta para desenvolver o egoísmo). Não há amor mesmo. No máximo, alguns gestos e ações de caridade. Dessa forma, a lembrança de Jesus Cristo na época do Natal é uma contradição escancarada. O grande interesse de cada um e de toda a sociedade é de consumir e consumir. A propósito, as reuniões familiares acabam justificando o excesso de consumo (no sentido comercial e gastronômico). Por isso, a figura do Papai Noel faz mais sucesso, como grande protagonistas das Festas Natalinas.  

domingo, 23 de dezembro de 2012

MORAL OU ÉTICA?


O conhecimento é luminoso: vela, lanterna, sol, ou qualquer outra metáfora que se acende para reduzir as trevas, para eliminar os assombros engendrados pela ignorância e pela superstição. 
Há pouco concluí a leitura do ensaio Moral ou ética?, de André Comte-Sponville, e confesso-me estupefato com a claridade desse filósofo.   

sábado, 22 de dezembro de 2012

BUDISTAS NA DIREÇÃO?


Tanto pensei na questão do trânsito, principalmente nas causas que resultam em acidentes fatais, que cheguei a seguinte conclusão: apenas os budistas, à semelhança de Jorge Mello (ao meu lado na foto acima), poderiam dirigir automóveis com segurança. Eles conhecem a si mesmos, conhecem o eu e suas pulsões (algumas associadas à agressividade, à morte). Tais pulsões são irremovíveis (como o asseverou Freud), mas passíveis de controle a partir do autoconhecimento. Na cultura ocidental, no mundo em que vivemos, nossa consciência pode ser comparada a um bebê, um bebê condicionado a se transformar num homo automobile. Somos  ainda incapazes de autoconhecimento. Por isso entramos num carro e... Depois culpamos as árvores à beira da rodovia. 
Os budistas, todavia, dirigem seus eus por um caminho mais simples, onde não há esse caos de automóveis que denominamos de trânsito. 

NOVA LEI SECA

VÍDEOS, RELATOS E TESTEMUNHOS PASSAM A VALER COMO PROVA DE EMBRIAGUEZ.
O Código de Trânsito é de uma linha um pouco mais dura que a Constituição de 1988, mesmo assim credita(va) ao indivíduo um valor acima do que se observa na prática. A lei que obrigava o teste do bafômetro, expressa no Art. 277 do Código de Trânsito Brasileiro, para comprovar o estado alcoolizado do condutor, contradizia-se com o fato de produzir provas contra si mesmo. Essa "brecha" legal permitia a insubmissão ao teste, provando a ineficiência de um estado mínimo. A não confiabilidade no indivíduo, de seu comportamento ético, exige um estado máximo, de tolerância zero. Além do aumento significativo da multa, que será de R$ 1.915,40, o bafômetro não é mais condição (sine qua non) para a comprovação do crime. Agora o testemunho e o exame clínico serão fundamentais.  

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

DEPOIS DA CRENÇA, A TROÇA

Hoje a maioria das pessoas fazem piada sobre o tão profetizado "fim do mundo". Mas até ontem (talvez um pouco mais), elas oscilavam inconfessavelmente entre a superstição e a verdade. Da noite para o dia, deixaram de ser obscurantistas para assimilar o discurso científico, de que o Sol é que determinará o fim da vida em nosso planeta. Uma pena que essas pessoas continuam a acreditar em deuses, diabos, espíritos, horóscopos, aparições extraterrestres e tudo mais. 
Até ontem a profecia dos maias referia-se ao fim do mundo. Hoje há uma descarada moderação (feita por aqueles que oscilavam), no sentido de mudar o que repercutiam, o fim do mundo passou a ser o fim do calendário. Ninguém mencionava o fim do calendário. Agora é coro midiático.
Afora uma discussão que tive com meu cunhado e uma postagem desmistificadora que fiz aqui no dia 1º de abril de 2012, não me detive nesse assunto escatológico, sobre o fim do mundo. Honesto com as minhas convicções, não tinha motivo de rir ou cantar vitória antecipadamente, uma vez que meu adversário era muito fraco. 


quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

MANANCIAL DE SABER

Na Filosofia, encontra-se um manancial de sabedoria, basta que o leitor (sujeito) tenha discernimento para encontrá-lo.
Antes de Espinosa (citado abaixo), Montaigne anunciava em seus Ensaios que NÃO É PORQUE UMA LEI É JUSTA QUE DEVEMOS OBEDECÊ-LA (III, 13, 1072); AO CONTRÁRIO, É POR SER LEI E POR OBEDECERMOS A ELA QUE ELA É JUSTA. 
Desde os anos oitenta, bebo a água mais pura desse manancial.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

DESENCANTO

Eis um fato que percebo com tristeza: nossa blogosfera está minguando dia após dia. A maioria dos blogs encontra-se abandonada, não indo além do entusiasmo inicial que motivou seus autores. Uma leva de blogueiros migrou para o Facebook, onde há retorno imediato de tudo o que se publica. Outra simplesmente abandonou a escrita digital, decepcionada com a revolução que se especializa como forma de jornalismo 3.0. Apenas permanecem ativos os blogs que noticiam sobre fatos que rompem com a pasmaceira da cidade e região. As mortes causadas por acidente de trânsito têm elevado à estratosfera o número de acesso, confirmando-se a fraqueza humana pela sanguinolência. Publica-se sobre assassinatos ocorridos em cidades distantes daqui, sem qualquer relação com o nosso universo. A opinião ponderada, a reflexão, ou coisas do gênero não fazem eco na blogosfera local. Acumulam-se as gerações de indivíduos "educadas" pela televisão, que entrega tudo pronto em seus domicílios (sons, imagens, discursos etc.). Desencantado, titubeio entre postar diariamente neste Contra. e me refugiar à forma de escrita inventada por  Johannes Gutemberg.    

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

VALOR E VERDADE

"Como pensar a relação entre o valor e a verdade? 
e o valor é verdadeiro, como escapar da religião? Se não é, como escapar do niilismo?
Se a verdade comanda, como escapar do dogmatismo? Se obedece, como escapar da sofística?
Trata-se, aqui, de encontrar outro caminho, seguindo os passos de Diógenes e de Maquiavel, mas também de Montaigne, Pascal e Espinosa. O cínico, no sentido filosófico, é aquele que distingue as ordens: ele não tem ilusões sem sobre a verdade (que não tem valor intrínseco) nem sobre o valor (que não tem verdade objetiva); mas nem por isso renuncia a uma coisa nem à outra. A verdade só vale para quem a ama; o valor só é verdadeiro para quem a ele se submete. É aí que se cruzam o conhecimento e o desejo. É aí que o amor às vezes encontra a verdade que o contém. Daí uma moral, e muito mais. Os cínicos, dizia Montaigne, dão 'extremo preço à virtude'. O cinismo é uma filosofia sem fé nem lei, mas não sem fidelidade nem coragem."
André Comte-Sponville

SABEDORIA É ISTO

"Fica estabelecido por tudo isso que não nos esforçamos por nada, não queremos, não apetecemos nem desejamos coisa alguma por considerá-la boa; mas, ao contrário, consideramos uma coisa boa porque nos esforçamos em sua direção, queremo-la, apetecemo-la e desejamo-la."
Proposição 9 do livro III da Ética de  Espinosa

domingo, 16 de dezembro de 2012

O QUE É CULTURA?

Sexta-feira, no mesmo momento em que chegava o Papai Noel a Santiago, eu falava para poucas pessoas no Centro Cultural sobre Cultura: evolução conceitual
O primeiro slide que apresentei foi do filme 2001 - Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, em que aparece um ancestral do homem com um osso na mão, batendo contra o esqueleto de um animal a seus pés. Esse indivíduo, há 4 milhões de anos, teve um dos insigths fundador da espécie humana. O osso poderia ser usado como arma contra o bando rival. A machadinha de pedra lascada demoraria 2 milhões para ser inventada.
A ideia de transformar um osso em arma demarca a fronteira entre o que natural e o que é artifício no homem. 
Antes de expor sobre os diversos conceitos de cultura (os antropólogos Alfred Kroeber e Clyde Kluckhohn encontraram 167 definições diferentes), relacionei cultura com artifício.
O termo cultura, do latim colere, que significa cultivar, criar, cuidar, surgiu no final do século XI e estava relacionado ao cultivo da natureza, dando origem à palavra agricultura
No Renascimento, século XVI, o termo cultura passou a ser empregada no sentido figurado de cultivo do espírito, do intelecto. 
No século XVIII, os iluministas relacionaram cultura do espírito às artes, ciências e letras.
Nos séculos XIX e XX, com o desenvolvimento das Ciências Sociais, em especial a Antropologia, surge um novo conceito de cultura, formulado por Edward Burnett Tylor:
"Cultura é aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, as artes, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade".
Em Santiago, não diferente do país em que nosso município se situa, o conceito de cultura está restrito à produção artística, sobretudo a literatura, a pintura, a dança, o teatro... Tão restrito que o diferenciamos de educação, de leonismo (como informa um banner no auditório do Centro Cultural: leonismo e cultura), de tudo mais que se pensa, se crê, se porta, se veste, se diverte, se faz. Educação é cultura por excelência, leonismo é cultura.
Papai Noel é cultura. 
O Júlio Prates já havia manifestado sua inconformidade em relação a esse atraso (de aproximadamente três séculos). Os santiaguenses não temos culpa, uma vez que repetimos o atraso cultural do país. 

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

SEGUNDO ORTEGA Y GASSET

Na década de vinte do século passado, José Ortega y Gasset observava que na vida pública europeia era visível o "advento das massas ao pleno poderio social". O pensador chamava a atenção para não limitar "vida pública" à política, mas, sim, ao mesmo tempo "intelectual, moral, econômica, religiosa", incluindo-se hábitos coletivos. Na capa de seu livro A rebelião das massas, ele epigrafou: "De repente a multidão tornou-se visível, instalou-se nos lugares preferenciais da sociedade". No Brasil, isso ocorre nas duas últimas décadas do mesmo século XX, um atraso cultural de fácil compreensão. Neste país, as "elites" prolongaram a crítica dos marxistas (na Europa, o sonho se realizara com a Revolução Russa de 1917). Politicamente, o homem-massa triunfa na chegada do século XXI, com Luís Inácio da Silva eleito presidente. A primeira intenção de Lula (e continua sendo única) foi de querer que a massa da sociedade ocupasse o lugar das minorias excepcionais. No Rio de Janeiro isso ocorre todos os anos, nos dias de carnaval. A massa toma conta da cidade (antes) maravilhosa, não dando outra opção aos cariocas autênticos, já minoria, que se retiram para o litoral norte. Ortega y Gasset emprega esse termo mesmo, ao escrever que "dentro de cada classe social há massa e minoria autêntica". Com Lula e sua numerosa equipe, a massa se alçou ao primeiro plano social, utilizando-se para isso de toda esperteza e vulgaridade, que caracteriza o homem-massa. Não só a política, mas a educação foi nivelada por baixo, para eliminar tudo o que é "diferente, egrégio, individual, qualificado e especial". 

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

ATÉ QUE ENFIM

Até que enfim, alguém acusa o Lula de se beneficiar (fazer parte) do mensalão. De nada adiantou a proteção  de José Dirceu, Marcos Valério, outro condenado, dedurou o ex-presidente. Não fossem esses dedo-duros, Brasília andaria por entre flores, vivendo as maravilhas do poder. Inacreditável o fato de alguns petistas ainda saírem em defesa de Lula, de Zé Dirceu, dos deputados do PT condenados, da não existência do mensalão. Eles acusam a imprensa de golpista.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

MAIS LIVROS




Os dois livros acima ilustrados me chegaram por último. Ensaios sobre o conceito de cultura é o terceiro que leio do sociólogo polonês. Valor e verdade é o segundo que leio do filósofo francês. 
A leitura é indispensável, porque me faz ser melhor. 

DEVIR

Eis a melhor definição para o termo "devir", tão presente ao universo semântico da Filosofia e que lança claridade em possíveis dúvidas: 
"fluxo permanente, movimento ininterrupto, atuante como uma lei geral do universo, que dissolve, cria e transforma todas as realidades existentes". Do Grande Houaiss.
O primeiro passo para defini-lo filosoficamente foi dado por Heráclito. Com esse pensador pré-socrático, a Filosofia passa a contemplar o movimento, o fluxo perpétuo do universo. A formação e a morte das estrelas ilustram muito bem o devir no âmbito astronômico. 
Para Aristóteles, o devir é a passagem da potência ao ato.

domingo, 9 de dezembro de 2012

POR QUE LULA NÃO SE MANIFESTA?

O editorial do Zero Hora deste domingo tem esse título. "A cúpula dirigente do PT, estimulada pela ambiguidade do ex-presidente e confiante em que sua popularidade é eterna, continua a campanha de desmoralização de opositores."
"Está cada vez mais difícil de entender o silêncio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a respeito da Operação Porto Seguro, da Polícia Federal, que flagrou um esquema de corrupção comandado e operado por integrantes de agências reguladoras e da Advocacia-Geral da União. 
"Lula sempre manifestou sentimento contraditório em relação às irregularidades praticadas por correligionários e assessores próximos. No célebre episódio do mensalão, chegou a pedir desculpas à nação em 2005, dizendo-se 'traído por práticas inaceitáveis' sobre as quais nunca tivera conhecimento. Posteriormente, porém, passou a dizer que o mensalão era uma farsa e que, após sua saída do governo, faria o possível para desmascará-la. Com a confirmação do episódio pela Justiça e com a punição exemplar dos envolvidos, SILENCIOU."

A INCOERÊNCIA NO CASO

Por intermédio do voto do Presidente do Tribunal, na Suprema Corte de Newgarth, o caso dos exploradores de cavernas se resume ao que se segue: Em maio do ano 4299, cinco espeleólogos que ficaram presos no interior de uma caverna, depois de um grande desmoronamento. No 20º dia, foi descoberto que uma máquina sem fio, capaz de enviar e receber mensagens, foi levada para dentro da caverno. A primeira informação trocada foi de que seriam necessários mais 10 dias de trabalho para o resgate. A segunda foi da equipe médica, que assegurou que não havia possibilidade de os cincos sobreviverem nesse tempo. Um dos espeleólogos, chamado Whetmore, falou em nome dos outros. Ele perguntou ao médico se teriam condições de sobreviver consumindo a carne do corpo de um deles. Com relutência, a resposta foi afirmativa. Whetmore perguntou se seria aconselhável para eles tirarem a sorte para determinar qual deles serua usado de alimento. Não houve resposta. Whetmore solicitou um juiz, que não apareceu. Solicitou um padre ou pastor, também sem resposta. A comunicação foi interrompida a partir desse momento. Pensou-se erroneamente que a bateria da máquina havia descarregado. Para resgatá-los, ocorreu outro desmoronamento que matou 10 trabalhadores. Quando, finalmente, quatros exploradores foram encontrados vivos, soube-se que Whetmore fora morto no 23º de isolamento. Depois de completada a convalescença no hospital, onde foram tratados por desnutrição e choque, os quatro foram indiciados pelo assassinato de Roger Whetmore. Segundo eles, Whetmore propusera que se usasse algum método para tirar a sorte, apresentando um par de dados. Os demais concordaram com o plano. Antes do arremesso dos dados, Whetmore desistiu do acordo, querendo aguardar mais uma semana antes de colocar em prática a antropofagia salvadora. Os outros exploradores acusaram Whetmore de romper o trato e continuaram arremessando os dados. Na vez de Whetmore, perguntaram a ele se se opunha a que outro realizasse o lance e, diante de nenhuma objeção, a sorte foi contrário a Whetmore. O júri condenou os réus, e o juiz sentenciou que eles deveriam ser enforcados. O processo subiu para a  Suprema Corte, em que cinco juízes votam, condenando ou absolvendo os réus. 
O caso é fictício, serve para motivar o debate entre estudantes de direito, seguindo as diferentes filosofias do Direito. 
Vejo uma incoerência no caso, que foge à realidade. Um dos juízes quase a expressa em seu julgamento.
Apenas na ficção seria possível que os quatro exploradores resgatados relatassem que Whetmore, depois de propor aos demais que se lançasse os dados, se negasse a fazê-lo, concordando ao mesmo tempo que outro o fizesse por ele. O rompimento do acordo e a permissão que lançassem os dados por ele são contraditórios
Eis o último parágrafo do livro:
"A Suprema Corte, estando igualmente dividida, a convicção e a sentença do Tribunal de Apelação foi mantida. E foi ordenado que a execução da sentença deveria ocorrer às 6:00 horas da manhã de sexta-feira, 2 de abril de 4300, quando o Carrasco foi intimado a proceder ao enforcamento dos réus pelo pescoço até as suas mortes".
   

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

LEITURA DO CASO DOS EXPLORADORES DE CAVERNAS

Por indicação do Júlio Prates, li nesta tarde O caso dos exploradores de caverna, de Lon L. Fuller. A impressão é que o havia lido há muitos anos numa fotocópia encadernada, que se encontra nas caixa (aguardando um móvel mais demorado para sair das mãos do carpinteiro que parto de elefante). Do caso em si já sabia, não recordava dos votos dos juízes, em que ficam caracterizadas as principais escolas da Filosofia do Direito. Provavelmente, tenha lido a introdução do livro, ou parte do primeiro voto (do Presidente do Tribunal). 


quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

SOBRE A INGRATIDÃO

"Cría cuervos, y ellos te sacarán los ojos"


terça-feira, 4 de dezembro de 2012

LEITOR AUTOCRÍTICO

Sou de um tipo de leitor que mais de uma vez se perguntou se vale a pena continuar lendo livros e livros. Há pouco, ao iniciar a leitura de Ensaios sobre o conceito de cultura, de Zygmunt Bauman, formulei a pergunta avassaladora: para que ler? Toda a leitura que fiz desde a adolescência teve (ou tem) algum efeito, alguma vantagem depois de quatro décadas? Pragmaticamente, apresento uma facilidade e uma correção para me expressar na escrita (sobre uma gama bastante diversificada de assuntos). Essas qualidades, todavia, não são indispensáveis para que novos escritores surjam da noite para o dia, sem a condição de leitores experientes. Alguns deles logo se destacam com intuição e criatividade capazes de compensar uma possível deficiência técnica. Paulo Coelho, sobremaneira nas primeiras obras, serve de exemplo. Quais as outras benesses que me propiciou a leitura diuturna além de escrever bem? Prazer pelo prazer? Conhecimento pelo conhecimento? Um e outro, quando não compartilhados, levam ao isolamento, à angústia. Independentemente do gênero que se produza, a escrita constitui a salvação. Por isso continuo a ler depois das crises autocontemplativas, pequenas e esporádicas. 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

TODO POETA É UM CRÍTICO

Outro livro que tenho de Décio Pignatari é Semiótica & literatura, em que o autor revela vocação ensaística. 
Todos os grandes poetas que leio, ou foram tradutores, ou críticos, ou metalinguísticos. Exemplos: Mário Quintana, Carlos Drummond de Andrade e Pignatari.
O Oracy Dornelles, poeta santiaguense, apesar de não ter publicado algo do gênero, é um crítico com conhecimento profundo da arte poética. 
Acho ridículo alguém, recém aprendiz do be-a-bá, repetir o chavão de que o crítico (literário) é um artista (poeta) frustrado. 

domingo, 2 de dezembro de 2012

MORTE DE POETA


Décio Pignatari, o grande concretista brasileiro, morre em São Paulo aos 85 anos. Do poeta, tenho Poesia pois é poesia, que reúne quase toda sua produção literária.
Um dos poemas mais conhecidos de Décio Pignatari e Babe Coca:
beba coca cola
babe          cola
beba coca
babe cola caco
caco
cola
         c l o a c a

O FUTEBOL TAMBÉM

Na postagem abaixo, não citei o futebol como uma das coisas que me enojam nos últimos anos. Há midiatização exagerada sobre esse esporte no Brasil, justamente numa época em que se evidencia uma decadência na qualidade dos campeonatos regionais e nacionais. O Brasileirão deste ano foi pior que o do ano passado; o do ano passado, pior que o do ano anterior. O Fluminense, atual campeão, já perdeu para o Cruzeiro e o Vasco depois de ter conquistado o título antecipadamente. O time carioca foi o menos ruim. O grenal de hoje foi o pior dos últimos anos. Com o futebol apresentado por Grêmio e Inter, ambos poderiam ser rebaixados para a Segunda Divisão. A seleção brasileira, então, já vem caindo desde antes da Copa do Mundo na África do Sul. O técnico é sempre o bode expiatório da crise silenciosa por que passa o futebol (repito, em termos de qualidade). O Mano Menezes foi o bode da vez. O excesso de organização não encontra resultado dentro de campo.  É o que acontece com a toda poderosa CBF. Caso do Grêmio, agora com o estádio mais moderno do Brasil, mas jogando um futebol tão ruim (que o terceiro lugar não consegue negar). Impressiona-me como ninguém fala nessa decadência. Cadê um Inter dos anos setenta? Cadê um Flamengo dos anos oitenta? Um Grêmio e São Paulo dos anos noventa?  

sábado, 1 de dezembro de 2012

EVASÃO PELA POESIA

Os poetas românticos fugiam do presente, idealizando sobre a infância, a mulher amada, a morte. A vida presente era um incômodo, tema que faria Carlos Drummond de Andrade, um modernista, o maior poeta brasileiro. Hoje compreendo o que esses poetas sentiam em relação a realidade. A poesia, como arte de elaborar um texto refinado, tornou-se a própria fuga para mim. Este blog é a prova. Nos últimos dias, ele reflete meu estado de espírito, no qual se inclui um enojamento de coisas que contextualizam meu estar no mundo. Elas são demasiadamente feias (destituídas de qualquer consideração estética), açambarcadoras (contra as quais apenas se evidencia o sujeito impotente). Meu irmão veio de Brasília ontem, dizendo-me que o Brasil está quebrando, com a dívida interna duplicando nos últimos dez anos. As pessoas no alto escalão dos três poderes são mais sujas do que é noticiado, do que podemos imaginar. Política, meio ambiente, consumismo... Em tudo vejo corrupção, hipocrisia, contradição, ignorância. A poesia pertence a outra esfera, onde ainda há uma possibilidade de salvação. 



sexta-feira, 30 de novembro de 2012

SER

o ser
porque é
se audodefine

essência
plena
de existir
em que o ente
se efetiva
(ato
e potência)

tudo mais
é sofismo
de escol
             (ástica)

o ser
é o ser
e o ser
            é

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

PASTOR DE NUVENS


no fim de tarde reponto nuvens de duas cores primeiro as quentes plenas de poente depois as frias azuis sombrias reponto nuvens no fim de tarde

JÚPITER

Para ver o planeta Júpiter em movimento, basta acessar o link abaixo:
Leio num blog  sobre a passagem da Lua em frente a Júpiter. Esse planeta é o maior do Sistema Solar, duas vezes e meios a soma da massa de todos os demais planetas. Sua constituição é de 88 a 92% de hidrogênio (a imitar o Sol). Sua temperatura varia em torno de -108ºC, distante 778.412.010 km do Sol. Considerando Sol, Terra, Lua e Júpiter alinhados, para sabermos a distância entre Terra e Júpiter basta diminuir 149.600.000 km do número acima. Dessa forma, a distância entre os dois planetas é de 628.812.010 km. Como a Lua está a 384.405 km da Terra, a distância entre a Lua e Júpiter é 1.635 vezes a distância entre Terra e Lua. Tomando nosso olho como a posição da Terra, uma esfera a um metro representaria a Lua e outra esfera a 1.635 metros representaria Júpiter. 

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

POETA SÓ

     I
na cidade
toda
havia
um poeta
              só

vinha
            e ia
pela via
de pó
pedra
e poesia
.
     II
um poeta
              só
em casa
feita
das costaneiras
do dia

um poeta
              só
de agonia
a cantares
das trevas
à epifania
.
     III
um poeta
              só
havia
na cidade
(que não lia)

um decreto
fez poetas
e poetas
todavia


   IV

um poeta
              só
palavrou
derrisou
trovejou
com o novo
quadro
que via

a galera
ignorou
desculpou
bajulou
fazendo-lhe
companhia
            

   V

um poeta
             só
nas redes
sociais
virou
um poeta
(ponto) com

terça-feira, 27 de novembro de 2012

JESUS (A VERDADE POR TRÁS DO MITO)


A Superinteressante chega com uma matéria extensa sobre Jesus de Nazaré.  "Historiadores, cientistas e teólogos desmentem mitos criados em torno de Cristo." A começar pela aparência: "um homem típico do Oriente Médio e de cabelos curtos". 
ELE NÃO NASCEU EM BELÉM, NEM NO NATAL. 
OS TRÊS REIS MAGOS NÃO ERAM REIS. NEM ERAM TRÊS.
ELE ERA MORENO, BAIXINHO E DE CABELO CURTO.
JESUS ERA SÓ UM ENTRE VÁRIOS PROFETAS. 
MATEUS, MARCOS, LUCAS E JOÃO NÃO SÃO OS AUTORES DOS EVANGELHOS.
JUDAS PODE NÃO TER SIDO UM TRAIDOR.
O REINO DOS CÉUS ERA NA TERRA.
A própria Bíblia serve de fonte para embasar tais conclusões. Apenas um exemplo: "Numa passagem na Primeira Epístola aos Coríntios (15:5), Paulo diz que, depois de ressuscitar, Jesus apareceu para os 12 apóstolos, e não para 11". 
Não foram apenas os cientistas do diabo que concluíram isso, há um teólogo entre eles. 


segunda-feira, 26 de novembro de 2012

ERIC VOEGELIN

"Minhas razões para odiar o nacional-socialismo - e isso desde o primeiro contato que tive com ele, na década de 1920 - podem ser reduzidas a reações muitos elementares. De saída, havia a influência de Max Weber. Uma das virtudes que ele considerava indispensável em um homem de ciência era a 'intellektuelle Rechtschaffenheit', que podemos traduzir por honestidade intelectual. Não consigo ver nenhuma razão para a escolha das ciências sociais - ou das ciências humanas em geral - como área de atuação se não existe a intenção honesta de examinar a estrutura da realidade. As ideologias, seja o positivismo, o marxismo ou o nacional-socialismo, constroem edifícios intelectualmente insustentáveis."
(Extraído de Reflexões autobiográficas, de Eric Voegelin.)

A IDADE


Falou e disse um pássaro,
dois sóis, uma pequena estrela.
Falou para que calássemos
e disse amor, penúria, brevidade.
E disse disse disse
a idade da eternidade.

(Último poema do livro O chapéu das estações, de Carlos Nejar.)

domingo, 25 de novembro de 2012

SUGESTÃO PARA SEGUNDA-FEIRA


Amanhã, quando levantares, dá uma volta por esse lago, observando tudo a tua volta, como se fosse a primeira vez.  Vê as coisas sem denominá-las, sem o conhecimento que tens delas. Contempla a nesga de céu, a nuvem levada pelo vento, o edifício em construção, as flores da Rua dos Poetas, as cores do dia refletidas na superfície das águas. Não brigues com a realidade. 

FALTA DISCIPLINA

Hoje o Zero Hora publica uma ampla reportagem com o título "BOLETIM VERMELHO. Enem acende alerta para a sala de aula. Mais de 60% das escolas do Estado ficaram abaixo da média nacional".
A propósito, no meu tempo de estudante de 1º e 2º graus a nota vermelha era vergonhosa, humilhante. Em 1973, no então Colégio Polivalente, havia uma competição pelas notas mais altas. Pelo que sei, hoje não há mais essa competição, e o aluno que se destaca é visto com maus olhos pelo grupinho do fundo. (Nesse grupo estudou o comentarista anônimo que comentou a postagem abaixo, acusando-me de contradição.)
A média nacional é 51, o que permite dizer que as maiores escolas públicas de Santiago encontram-se abaixo da média, com nota vermelha. Sugeri abaixo que os diretores eleitos ou reeleitos têm o objetivo moral de elevar os próximos resultados ao âmbito azul. Acima da média, a Escola da URI e Medianeira. 
Todas as análises da péssima qualidade do ensino no Brasil apontam as mais diversas causas, menos uma (que existia em todas as escolas dos anos setenta): a disciplina. Não há mais disciplina dentro das escolas, ambiente que sofre a constante pressão extramuro. 
Na relação das dez  melhores escolas públicas do Rio Grande do Sul, por exemplo, aparecem o Colégio Militar de Porto Alegre e o Colégio Militar de Santa Maria. Por que? A resposta inclui obrigatoriamente a disciplina. Dos alunos, dos professores, dos pais.
Significado de disciplina (extraído do Houaiss): obediência às regras e aos superiores; regulamento sobre a conduta dos diversos membros de uma coletividade; ordem.

sábado, 24 de novembro de 2012

REBECA BERNARDO RIBEIRO


Olá, Rebeca! 
Reconsidera o propósito de leiloar tua virgindade. 
Faze uma campanha para ajudar tua mãe. 
Abç

VIRGENS LIBERAIS

A mais nova profissão, vender a virgindade, é semelhante à que dizem equivocadamente ser a mais velha, a prostituição. Uma pequena diferença é grande: a primeira não pode ser exercida pelo mesmo indivíduo, e a segunda,  ao contrário, vende o próprio corpo repetidas vezes. A condição essencial para se vender a primeira vez é logo perdida pelo indivíduo, que pode, no máximo, prostituir-se (condição já definida acima). Outra diferença diz respeito ao aspecto moral: a primeira vez sempre foi caracterizada por um extremo de vergonha, de intimidade, de afetividade e tudo mais que está na base de um relacionamento sexual inesquecível; a prostituição se caracteriza pela falta de vergonha principalmente. Com o auxílio da Internet, o indivíduo elimina a vergonha, obstáculo para o confronto cara a cara, e acaba vendendo seu  corpo não violado. Sem vergonha, vende também o próprio caráter, a própria alma. A mídia, mais do que a serpente do mito adâmico, oferece recompensas ao indivíduo (depois de tê-lo incitado a levar adiante seu projeto). 
Por que profissão?
Já não é mais um indivíduo isolado que propõe vender sua virgindade. Seguindo a catarinense Ingrid Migliorini, 20 anos, que conseguiu leiloar-se por 1,5 milhões, outra jovem faz a oferta de si mesma. Trata-se de Rebeca Bernardo Ribeiro, 18 anos, paulista. O primeiro lance foi de 60 mil.
Ingrid é excêntrica, perderá sua virgindade num voo intercontinental. Ela diz que fará casas populares com o dinheiro do japa, fiel à premissa moderna de que todo projeto precisa ter uma amplitude social. Seu caso me permite dizer o jargão do paraquedista: o avião caiu. 
Rebeca é mais realista: ajudará a mãe que sofreu um AVC. 
Faço-lhe meu lance: SUGIRO QUE RECONSIDERE A VENDA DE SUA VIRGINDADE, DESISTINDO DESSE PROJETO IMORAL POR UMA CAMPANHA MIDIÁTICA EM PROL DE SUA MÃE. 

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

EXERCÍCIO POÉTICO

a tinta se esvai
(na folha) em riscos azuis:
um simples haicai


num trom a tormenta
desaba sobre a cidade
agora cinzenta


um raio, dois raios,
três raios pintam de luz
a minha janela

NOVOS DIRETORES E ENEM

É possível fazer uma relação (futura) entre os novos diretores das escolas e o resultado do ENEM: os eleitos poderão colocar como principal meta de sua gestão uma nota melhor nos próximos exames. 

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

PAPEL DA POESIA

"No instante de um relâmpago vemos um cachorro, uma carruagem,uma casa, pela primeira vez. Tudo o que oferecem de especial, de louco, de ridículo, de belo nos abate. Imediatamente após, o hábito apaga essa poderosa imagem com sua borracha. Fazemos festa ao cachorro, paramos a carruagem, habitamos a casa. Não os vemos mais. Eis o papel da poesia. Ela desvela, com toda a força do termo. Ela mostra nuas, sob uma luz que sacode o torpor, as coisas surpreendentes que nos circundam e que nossos sentidos registram mecanicamente."
J. Cocteau 

Caro leitor, já leste algo tão breve e tão verdadeiro quanto o enunciado acima?

terça-feira, 20 de novembro de 2012

FAIXA DE SEGURANÇA

A faixa de segurança em frente ao Quartel-General, na Rua Júlio de Castilhos, foi pintada nessa manhã. Tal sinalização horizontal é necessária em todo lugar, na melhor ordenação do movimento de automóveis e pedestres no trânsito. Ela constitui uma das formas mais civilizadas com esse objetivo, fundamentada no intercurso ético dos usuários. O motorista, ante a faixa de segurança, não só deve prestar bastante atenção, como querer prestar bastante atenção e saber por que deve prestar bastante atenção e querer prestar bastante atenção. Uma postura correta compreende esses três estágios. O pedestre, em contrapartida, deve prestar bastante atenção, querer prestar bastante atenção e saber por que  prestar  bastante atenção. Sem essa condição atitudinal, o motorista corre o risco de atropelar o pedestre sobre a faixa de segurança, uma vez que esse local da via é destinado à sua passagem. O pedestre, consciente do risco de ser atropelado, não pode se sentir dono da faixa de segurança, desatento em relação ao fluxo de veículos. Outros meios para ordenar o trânsito são mais impositivos, como a presença de agente de trânsito, semáforo, rotatória, lombada eletrônica, quebra-molas etc. A faixa de segurança condiz melhor com uma cidade educadora, deferência aos santiaguenses, sejam motoristas ou pedestres. Dificilmente os primeiros farão por merecê-la, quando dirigem à noite. O pessoal da balada não obedece à norma alguma. Ainda há quem, à luz do Sol, não para na faixa de segurança, dando motivo para alguém dizer que ela demarca o local mais perigoso. Há quem pare sobre a faixa, quem acelere ante a faixa (como num quilômetro de arrancada). Numa sociedade aberta, sempre haverá mal-educados. Loucos inclusive. 

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

PROJETO FILOSÓFICO


Nessa manhã me chegou um livro extraordinário: Reflexões autobiográficas, de Eric Voegelin. A leitura desse filósofo será importante para meu projeto filosófico. 
A classificação de extraordinário não é apressada, como pode pensar o leitor crítico: há duas horas e meia estou debruçado sobre o livro, tendo lido vários capítulos, dentre os quais Ideologia, posturas políticas e publicações.
O próximo livro a chegar com o mesmo objetivo é O ópio dos intelectuais, de Raymond Aron.

domingo, 18 de novembro de 2012

ROLIM EQUIVOCADO

Marcos Rolim, no Zero Hora de hoje, escreve que "há um espaço crescente para o fascismo no Brasil". Ele cita dois "fenômenos" que corroborariam com a sua tese: "a desmoralização da atividade política e a projeção pública do ideário de segmento preconceituoso e cínico das classes médias (que sonega impostos, viola as leis do trânsito, repudia o garantismo, as políticas de inclusão e os direitos humanos, despreza as minorias, aplaude a violência policial)" etc. 
Lendo sua coluna, tenho a impressão de vivermos em países diferentes. 
Ele denomina de "fascismo" o programa de reserva, o currículo oculto, o discurso não escrito, "de parte importante de nossas elites e do senso comum". Elite e senso comum não delimitam toda a sociedade brasileira, excluindo-se outra(s) parte(s) da elite e aqueles que se encontram aquém do senso comum? Tal exceção, em que se incluiria seu próprio partido (fica subentendido), é responsável por desenvolver a democracia no Brasil.
Ele vê "Ovo de Serpente", um perigo à democracia, na articulação de um novo partido político com o nome de ARENA. Qual o problema? Não convivemos com partidos alinhados com regimes políticos ditatoriais e antidemocráticos? 
A "desmoralização da atividade política" é uma coisa ruim, segundo Rolim, cuja culpa ele atribui a um sujeito oculto que não os próprios políticos. 
Rolim revela um preconceito contra as classes médias, com segmento que viola as leis do trânsito, por exemplo. Segmentos de todas as classes violam as leis do trânsito, basta que tenha um automóvel. Dos filhos de ricos empresários que saem para as baladas noturnas aos mais pobres, motoristas assalariados. 
As ameaças à democracia emergem da crise do Estado e da sociedade como um todo. A corrupção e a criminalidade são mais nefastas à democracia que os males citados pelo colunista.

GAZA


GAZA NÃO GOZA
DE PAZ    A
                  FAIXA
É GUIZA
QUE NÃO ACABA
SOB UM CÉU
DE FOGO
À GUISA
                             DE GAZA

Poema publicado em meu livro Vozes e vertentes, 2010. Guiza, com "z", significa pranto, lamentação. Guisa, com "s", significa maneira, modo. Gaza, que encerra o poema, significa gaze, fazenda fina e transparente de seda ou algodão.

POR QUE ESTUDAR FREUD?

Por que estudar Freud e os grandes pensadores dos dois últimos séculos?
Em primeiro lugar, porque passo a conhecer melhor a mim mesmo.
Em segundo, porque, conhecendo um pouco melhor a mim mesmo, passo a conhecer melhor o outro. 
Na sequência, conhecendo-se melhor o homem, conhece-se a causa primeira dos fenômenos sociais.

sábado, 17 de novembro de 2012

FREUD SOCIÓLOGO E FILÓSOFO

FREUD foi, certamente, o pensador que expressou o maior número de verdades acerca do homem. 
Sou freudiano desde 1982, quando o li pela primeira vez. 
O que mais me atrai em Freud é justamente suas ideias sociológicas e filosóficas, não inteiramente aceitas pelos psicanalistas que o seguiram. 
Coerente com essa posição, destaco os livros Totem e tabu, O futuro de uma ilusão e O mal-estar na cultura. Penso (sempre preferível a acho) ser impossível alguém ler esses ensaios de Freud e não gostar deles.
O livro A interpretação dos sonhos, fundamental para explicar a grande descoberta freudiana, o inconsciente, não me chama a atenção como os citados acima. 

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

MARLENE E CAIO



Ao ler o livro Para sempre teu, Caio F., de Paula Dip, encontrei essa foto (pág. 458) em que o escritor aparece com a Marlene Bazana. Caio veio a Santiago em dezembro de 1995, para inauguração de sua foto na Galeria dos Escritores Santiaguenses. No dia 30 de dezembro, ele publicaria no Zero Hora a crônica A raiz do Pampa, em que relata sua viagem ao Passo da Guanxuma. 
(Cometi um equívoco ao identificar a pessoa que cumprimenta o Caio como sendo Denise Flório. Tânia de Oliveira, minha irmã, assegurou-me que é Marlene Bazana, então secretária de Educação e Cultura de Santiago. Denise e Marlene são pessoas amigas, dóceis, certamente perdoarão meu equívoco.)

ESTADO-SOCIEDADE EM CRISE

A violência praticada pelo crime organizado prova que a sociedade civil está em crise. A violência praticada por policiais prova que o Estado está em crise. 
Dicotômica ou dialética, a relação entre sociedade civil e Estado também está em crise.
Desde sua independência político-administrativa, o Estado brasileiro, restrito, segundo a classificação gramsciana, dominou a sociedade com mãos de ferro. 
Nos anos oitenta, o ideal democrático se tornou realidade, a partir da abertura e da Carta Magna. O Estado ganha um novo significado na consciência do cidadão, ampliando-se, estreitando sua relação com a sociedade civil. 
O casamento, que seria feliz no plano ideal, todavia, logo começa a apresentar muitos defeitos, entre os quais a corrupção na organização política e a libertinagem na organização social.
A situação atual permite dizer que o Estado não se mantém sem suas práticas totalitárias e, tampouco a sociedade sabe manter-se livre da coerção. 

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

(a)mar(é)

"a" anteposto
faz o mar
              maior

amar é
mar
imenso

"é" posposto
faz o mar
              maior

a maré
mar
imenso

ARMADILHA DAS TAXAS DE JURO



Uma parcela significativa da sociedade brasileira encontra-se endividada, presa a um, dois ou três empréstimos. A maioria dos devedores financiou a compra de carro novo. Eis o fato social (ou econômico). Toda dívida é bem comparada a uma bola de neve montanha abaixo. Esse fenômeno não pertence ao nosso contexto geográfico, mas constitui uma das figuras para representar o enrosco em que se envolve o endividado. Às vezes, ele é obrigado a pedir um segundo empréstimo para pagar o anterior. Bola de neve, avalanche, areia movediça... O gaúcho fala em atoleiro: Fulano de está atolado. Ouvindo a conversa de quem assim se encontra, pensando nas causas que o levaram à situação indesejável, chego a esta conclusão: há uma armadilha discursiva, preparada pelas instituições financeiras, para pegar os incautos, que caem ingenuamente (motivados pela expectativa de comprar um carro zero). A armadilha denomina-se taxas de juro. Hoje, por exemplo, o juro para financiamento de veículos é a seguinte: no Banco A é de 0,97%; no Banco B, de 0,95%; e no Banco C, de 0,89%. O futuro endividado, com margem consignável, decide fazer um empréstimo no Banco C, uma vez que é a menor taxa. A impressão que tenho é que ele não considera a prestação líquida e certa que lhe será descontada doravante, todos os meses. Qual a diferença entre pagar 0,89% e 0,95% de 1.000 reais, por exemplo? Os 1.000 reais serão descontados mensalmente de seu vencimento, mais as taxas de 0,89% (se o empréstimo foi realizado no Banco C) ou 0,95% (se no Banco B). Somam-se IOF e TAC. O problema de endividamento são os 1.000 reais, independentemente das taxas (8,90 no Banco C ou 9,50 no Banco B, cuja diferença fica na casa dos centavos).

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

LITERATURA ÓTIMA



Há alguns minutos, concluí a leitura do último romance de João Gilberto Noll. Na classificação de Massaud Moisés, quanto ao número e encadeamento das células dramáticas, Solidão continental melhor se classifica como novela. Noutros aspectos, sobretudo quanto à profundidade psicológica de seu narrador-personagem, o livro é um romance.
Literatura ótima! 
(O outro extremo da literatura ótima é a literatura ruim, esta sequer constitui o corpus da literatura que caracteriza uma época. Paulo Coelho pode vender milhões, mas não figurará ao lado de Noll, Caio Abreu, Rubem Fonseca, Nejar, Ferreira Gullar...)

RECOMENDO



Aos que confiam demasiadamente em si mesmos, recomendo a leitura de Auto-engano (autoengano),de Eduardo Gianetti.
Transcrevo o excerto abaixo, como prova para justificar minha indicação de leitura:
“Vivemos, de modo indeclinável, imersos em subjetividade. As perguntas fundamentais do auto-conhecimento – quem sou? O que realmente desejo? O que devo fazer da minha vida? Qual o sentido de tudo isso? – estão fora do escopo e do projeto constitutivo da ciência. Imaginar que ela será algum dia capaz de atender a nossa demanda de auto-conhecimento, valores e inteligibilidade é como esperar que um transmissor de fax interprete o sentido de um texto".
Comprei e li esse livro em 1997, ano de sua publicação.
Hoje estou lendo o romance Solidão continental, de João Gilberto Noll.

domingo, 11 de novembro de 2012

PATO(TÔ)


Ontem fui ao circo, porque ir ao circo em Santiago já constitui uma representação social, isto é, um consenso popular. Depois de uma prova com duração de quatro horas, abarcando Psicologia Social e Sociologia, decidi ir ao circo. Muito caro o ingresso (30,00). O show começou com Patati-Patatá. À frente do Palácio da Fantasia, pouco importava ali se eram eles os autênticos Patati-Patatá. Neste aspecto, abri mão da minha racionalidade (coisa rara de acontecer). Certamente, eles não eram os caras do SBT, programa que nunca assisti na televisão. Propaganda enganosa? Sim, mas não para ser levada a sério. Vive-se de autoengano também. O que fizeram no palco foi cantar com o público ao longo de uma hora (mais entediante impossível). As crianças de até 5 anos adoraram. De tanto que repetiam Patati-Patatá, quase me senti um pato(tô). Na segunda parte, o show mudou de figura: uma contorcionista, um equilibrista, uma dançarina nas alturas, um palhaço para todas as idades (Mexicano) e uma imitação de Carlito. O apresentador falou de um blog santiaguense que questionou sobre a identidade de Patati-Patatá. Outro apresentador tentava um sotaque espanhol, num portunhol ridículo. Hoje é o último espetáculo com Patati-Patatá, pato(tô). 

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

FEIRA DO PRODUTOR

Hoje fui à Feira do Produtor. O mel acabara, precisava comprá-lo outra vez. A oferta é diversificada, de primeira qualidade. O mel produzido aqui (eixo Betânia - Cerca de Pedras - Vila Branca) é muito mais delicioso que o mel de Pinhal (a capital desse produto). Para aproveitar a viagem, comprei pão caseiro. Nada que se compara ao pão que a mãe fazia no Rincão dos Machado. Mel, pão... Ovos crioulos, queijo, queijo-de-porco, rúcula. Rúcula para sábado e domingo. Duvido que alguém goste mais de Eruca sativa, da família das crucíferas. Ordem necessária para temperá-la: sal, gotas de vinagre ou limão e azeite de oliva. Antes de colocar o azeite, convém escorrer o excesso de líquido. Não encontrei peixe e figada na feira. Em compensação, reencontrei muitas pessoas conhecidas, entre as quais seu Otelo Ribeiro, dr Disconzi, dr Cogo, os próprios feirantes. Na feira, não há distinção de classes (no sentido marxista). Fazendeiros e pequenos agricultores, doutores e enfermeiros, coronéis e soldados, professores e alunos, industriais e empregados, como sujeitos numa relação de unidade social. Todos a comprar os mesmos produtos. Outra reflexão de cunho sociológico que a feira pode suscitar: algumas pessoas que residem na cidade, mas oriundas do campo, vão ali em busca de um cadinho terrunho que pertence ao passado, seu sítio na serra, seu minifúndio. O gosto da terra está presente naqueles produtos (que um dia também cultivaram). A lembrança de um modo de vida que marcou profundamente corpo e alma. Reflexão que beira a poesia. O conhecimento beira a poesia. Por isso leio Nietzsche.   

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

NENHUM GALO

no centro desta cidade,
não há um galo que cante
às quatro da madrugada;
não há um galo que cante
às cinco, às seis para q'outro
responda às cinco e um minuto,
às seis e dois da manhã;
não há um galo que cante
como se fosse subúrbio,
como se fosse campanha;

no centro desta cidade,
ouvem-se gritos, freadas,
cachorros, gatos, sabiás,
orgasmos (no condomínio);
nenhum galo, todavia,
que cante de madrugada
e faça mais claro o dia

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

SENSACIONALISMO



Já me expressei mais de uma vez sobre o sensacionalismo que, expandindo-se dos meios de comunicação, invade o campo das hipóteses científicas. É lamentável que passou a ter seguidores dessa nova modalidade de (a)parecer entre os cientistas (até há pouco tempo tidos como pessoas sérias).
O imagem acima (sensacionalista, diga-se de passagem) copiei de uma revista, cuja reportagem pergunta "Como surgiu a água na Terra?". 
"A explicação mais aceita atualmente", informa a seção de ciência, defende que cometas e asteroides - que têm água em sua constituição - bombardearam nosso planeta e deixaram esse elemento na sua superfície."
(Elemento? Aprendi que a água é uma substância.)
Na época em que rebaixaram Plutão, se não me falha a memória, escrevi sobre o SENSACIONALISMO que, expandindo-se dos meios de comunicação...

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

CERTEZA

um bando de andorinhas 
faz verão

domingo, 4 de novembro de 2012

AS ÁRVORES NA BR

Transcrevo abaixo o publicado na última edição do Expresso Ilustrado, produzido por Oraides Floriano Maciel para a coluna DO LEITOR:
"Sou filha de um ex-funcionário do Daer, o qual tinha muito orgulho de levantar cedo e, acompanhado de seus colegas, ir plantar as tais árvores na BR 287. Ele dizia, com orgulho, que o trajeto de Santiago a Jaguari ficaria lindo. Onde meu pai estiver, deve estar triste (como eu estou), de quererem destruir o que eles plantaram com amor. Que culpa as árvores têm se uma pessoa apressada entra no carro, pisa no acelerador e não mede as consequências?
"Dia desses, viajei com meu marido e não íamos mais do que 90 km, apreciando a paisagem. Enquanto que os apressados buzinavam, xingavam para sairmos da frente. Presenciei várias ultrapassagens perigosíssimas nas curvas. Agora, digam, quem é o culpado? Se cortar as árvores vão culpar o que pelos acidentes: os buracos ou os penhascos? Não seria melhor que os motoristas se tornassem conscientes?".
Este blogueiro poderia encerrar a postagem com o chavão mais eloquente do discurso: sem comentário. Mas uma das perguntas feitas por Oraides me provoca: "Não seria melhor que os motoristas se tornassem conscientes?".
Ano passado falei num seminário de trânsito da URI, no  qual tentei responder essa pergunta. A volúpia da velocidade, a raiva (são duas coisas citadas acima) e tantas outras paixões têm origem naquilo que Freud denominou em 1915 de "pulsões do Eu". A consciência é algo muito frágil, recente, incompleto. O que me leva a escrever, por exemplo, no fundo, é estímulo pulsional. No motorista que corre, idem.
Há uma placa de velocidade máxima permitida, o indivíduo a vê, é consciente do que ela significa, sabe tratar-se de uma lei que necessita obedecer (moral), sabe que se deslocando à velocidade determinada estará seguro (ética), assim mesmo ultrapassa a velocidade máxima permitida. Por quê?