terça-feira, 20 de dezembro de 2011

NATAL OUTRA VEZ


Neste Natal, desisto de apontar a contradição entre religiosidade e consumismo, entre lembrança do Menino Jesus e encontro com Papai Noel, entre seguir a Deus (num plano ideal) e seguir o materialismo (na realidade). O padre Hermeto Mengarda discursa sobre o "espírito natalino", sobre o nascimento de Jesus Cristo, o salvador. Ele opõe o conteúdo de um anúncio que vocifera uma mensagem de que para garantir um natal feliz é necessário comprar na loja tal à anunciação expressa nos evangelhos. Se o padre (que é uma autoridade religiosa) fala e ninguém o ouve realmente, o que esperar de um ateu, que se libertou da ilusão, do imaginário, e passou a acusar o duplo comportamento dos cristãos? Por um lado, imaginam salvar suas almas pequenas, acreditando no mais fantástico dos mitos já engendrados pelo homem, criador de deus(es). Por outro, como indisfarçáveis hedonistas, deixam-se levar pelos desejos consumistas, pelo sensualismo, pelas pulsões. Posso expressar verdades desmistificadoras (que o futuro há de demonstrá-las ao senso comum), como o faço amiúde em meus escritos, mas ninguém se importa com elas. Não ouvem o padre, que sobre-exalta aquilo em que dizem acreditar, tampouco me ouvirão, livre-pensador que classifica tudo em que creem como ilusório. O viver em contradição, entre dois senhores (Deus e os bens materiais), constitui a causa de grande sofrimento, que já fez infeliz muita gente. Pelos menos, foi assim até o século XX, a partir do qual a moral cristã começou a ser questionada. Nestes dias, ninguém mais se candidata a santo, ninguém mais se importa em tornar coerente fé e obra pessoais, ideal e realidade (como o acima expresso). Na coluna retrasada, resumi essa questão a uma palavra: hipocrisia. Estou me cansando de pensar e de escrever sobre isso. Natal é Jesus Cristo e Papai Noel ao mesmo tempo. Viva a contradição!

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