quinta-feira, 17 de novembro de 2011

COMPORTAMENTO PARADOXAL

Nestes dias, a comoção pela morte de José Francisco Górski (Chicão), amigo de todos, desportista reconhecido e político em ascensão, obliterou nosso censo crítico – tão atento às questões atuais que urgem uma análise fria, racional. Entre essas questões, o trânsito é de uma relevância a toda prova, em vista dos acidentes fatais que continuam a ceifar vidas. Em nossa defesa, designamos como “fatalidade” aquilo que não evitamos, ainda que tivéssemos condições de evitá-lo. Eis o paradoxo. Os santiaguenses somos forçados a pensar por que a questão do trânsito é paradoxal. Nossa cidade é atravessada pela BR 287, rodovia que tem sido cenário frequente de acidentes gravíssimos. Seus 300 quilômetros, entre São Borja e Santa Maria, também se encontram sinalizados pelas cruzes (símbolos da morte na mítica cristã). Certamente, esse trecho apresenta um dos menores movimentos de veículos no Rio Grande do Sul, tratando-se de rodovias federais. Sequer há pontos de pedágio. Nos últimos anos, todavia, o asfalto se mantém sem os buracos indesejáveis – obstáculos que obrigam o condutor a diminuir a velocidade. A propósito, a alta velocidade constitui a causa principal de acidente, uma vez que não há defeito na pista e tampouco fluxo intenso (que exigisse a duplicação). A placa de regulamentação que estabelece a velocidade máxima permitida é a menos observada, tanto quanto à de parada obrigatória. Principalmente nas rodovias, onde as mortes por acidente ocorrem de uma forma lamentável, ninguém se comporta moralmente (para obedecer à lei), ou eticamente (para saber o limite e dirigir de acordo com o que sabe). Paradoxal é o comportamento do homem. Seu eu consciente (ainda um bebê) não resiste aos desejos, às pulsões, às forças poderosíssimas do inconsciente. A vida, como um todo, manifesta-se por meio dessas forças. Em razão de sua impetuosidade, às vezes, ela avança o sinal.

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