quarta-feira, 30 de novembro de 2011

LITERATURA E MÍDIA

Literatura é arte, e mídia é o conjunto dos meios de comunicação. Uma tem na palavra sua matéria-prima. A outra tem na palavra o signo mais utilizado como linguagem. Dessa forma, literatura e mídia têm algo essencial em comum. O romance, por exemplo, nasceu folhetinescamente, publicado em jornais e revistas. Com origem burguesa, o gênero logo alcançou a aristocracia. A crônica nasceu e continua  a evoluir  nas páginas desses periódicos, mais jornalística que literária. Com a ascensão social do homem-massa na segunda metade do século XX e consequente declínio das classes evoluídas, a literatura sofreu como que um exílio cultural. A televisão transformou-se no maior fenômeno midiático. Os jornais a acompanharam. A despeito da internet, os dois dominam a chamada “grande mídia”, em razão da escassa conexão ao hipertexto. Em raros momentos, eles se dão ao luxo de repatriarem a literatura para o âmbito popular. Dois escritores que vieram à 13ª Feira do Livro de Santiago são provas desse fenômeno: Letícia Wierzchowski e Fabrício Carpinejar. A primeira é conhecida como autora do romance A casa das sete mulheres, transformado em minissérie pela Rede Globo. Seus demais livros (produzidos de um a dois por ano) são desconhecidos. Carpinejar, um dos maiores poetas do Rio Grande do Sul, filho de Carlos Nejar, passa a ser conhecido pela maioria dos gaúchos porque escreve uma coluna no Zero Hora. Seu livro Canalha! (de crônicas) ganhou o Prêmio Jabuti de Literatura em 2009, mas poucos entre os escassos leitores de nossa cidade o liam antes da série Beleza Interior - editada e 2011. Conclui-se disso que a literatura necessita estreitar sua relação com a mídia para sobreviver. A escola deixou de ser sua aliada a partir de novas diretrizes do MEC (que hoje se encontra em poder do homem-massa, alçado à condição de novo burguês, ou aristocrata, mas sem o apuro estético). 

terça-feira, 29 de novembro de 2011

EDUCAÇÃO NÃO É "CIRCO"

Há um discurso equivocado ao considerar o desenvolvimento cultural de nossa cidade (ou, antes disso, o que o poder público está fazendo com esse fim) como "circo". A expressão metafórica, cuja genealogia remonta à Roma antiga, diz respeito ao espetáculo oferecido ao povo, para mantê-lo ocupado. Não é o caso dos santiaguenses, que necessitamos não apenas de automóveis, asfalto, comércio, dinheiro, bens materiais (que refletem o desenvolvimento econômico); necessitamos também de educação no trânsito, de uma nova consciência ecológica, de livros, de culturas que nos façam evoluir da condição agropastoril (pouco diferente da vivenciada miticamente pelos filhos de Adão). O programa Cidade Educadora excede tudo o que foi feito no passado, consiste em colocar o valor humano à frete do valor material, a mente à frente do corpo, o ser à frente do ter etc.  

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

VOLMAR OU VOLMIR?

Quem foi o motorista imprudente que capotou sua caminhoneta no centro da cidade, Volmar ou Volmir? 

domingo, 27 de novembro de 2011

FEIRA DO LIVRO DE SANTIAGO (IV)

Na tarde de ontem, muita gente boa na mesa de autógrafos: Rogério Madrid, com Ebulição; Auri Sudati, com No reino das crianças felizes / A lagoa encantada e outras historinhas; José Luiz dos Santos, com Rodeio de versos; Lígia Rosso, com Nas entrelinhas; Rossano Cavalari, com Dicionário de Cruz Alta: histórico e ilustrado; Breno Serafini, com Geração pixel; e Tadeu Martins, com Juras e Narrativas de um bom dia. O Iotti também autografou seu gibizon Radicci e deu um show de humor antes do encerramento da feira.
Este ano, a feira me surpreendeu positivamente com a presença do público (sempre a mais esperada recompensa de quem organiza um evento dessa natureza). Neste aspecto, rendo homenagens àqueles que iniciaram e que persistiram com uma feira de livro em Santiago desde antes da Terra dos Poetas. Entre essas pessoas abnegadas, certamente o professor Noé de Oliveira é inesquecível, como o será Rodrigo Neres. Por várias vezes, citei seu nome neste blog (13 de setembro de 2007, 13 set 2010...). 
O professor Noé vislumbrou em 2007 que a próxima edição da feira seria maior do que a atual. Foi e continua sendo a cada ano, culminando com a 13ª edição, que se encerrou ontem. O Júlio Ruivo é outra pessoa que destaco como grande responsável, em vista de sua aposta na cultura. Por ele, a feira se re-edita no próximo ano, exatamente na Praça Moysés Vianna.
A política é tão acertada que outras cidade vizinhas já seguem o exemplo, entre as quais São Francisco de Assis. Sua próxima feira do livro já tem patrono: João Lemes. Parabéns, João! Espero pelo teu convite para lançar meus livros na vizinha cidade.  

sábado, 26 de novembro de 2011

FEIRA DO LIVRO DE SANTIAGO (III)


O terceiro dia da Feira do Livro foi o mais agitado, no todo, porque recebemos a visita do Carpinejar, e na parte, porque lancei meu O Fogo das Palavras - contra o preconceito e suas construções discursivas. 
Apenas para contrariar as opiniões do Ruy, pergunto ao leitor visitante o que é melhor entre a realização da Feira do Livro e sua não realização no próximo ano. Qual outro evento reuniria em Santiago Letícia Wierzchowski, Carpinejar, Kalunga, Neltair Abreu, Tadeu Martins, Oracy Dornelles, artistas de múltiplas semioses? Qual outro evento disporia de espaço e público gratuitos para o lançamento de autores que se iniciam na produção de algum gênero literário? Qual outro evento ofereceria tantos livros, principalmente para crianças e adolescentes?
O leitor veterano que visita uma feira de livro, certamente frequenta os sebos, compra pela internet etc. Dos sete livros do Carpinejar para autografar, alguns deles foram adquirido pelos serviços da estantevirtual.com - a maior rede de sebos do país. Todas as vezes que vou a Porto Alegre (que ainda continua longe para muita gente), não deixo de ir aos sebos da Riachuelo ou da Ladeira. 
Os livros continuam caros na feira (com a tapeação de algum desconto). Isso precisa ser questionado, é verdade. Nos saldos, encontrei Ensaios frankfurtianos, livro que "traz elementos básicos para a compreensão do pensamento dos autores da Teoria Crítica", entre os quais Theodor Adorno (meu preferido da Escola de Frankfurt).  Paguei apenas cinco reais. 

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

FEIRA DO LIVRO DE SANTIAGO (II)

No segundo dia da feira, houve as seguintes sessões de autógrafos: Oracy Dornelles, (re)lançando poesia y chronica; Mariza Vitória Pivoto da Rosa, lançando Eu e a Felicidade; Fortunato dos Santos Oliveira, com Além dos Muros sem Portões; Alberto Freitas, com Provas de Amor; e Letícia Wierchowski, autografando suas obras. A autora de A casa das sete mulheres falou por uma hora sobre sua vida, seus livros. Respondeu-me que suas maiores influências são Erico Veríssimo, Tabajara Ruas, Philip Roth, García Márquez, entre outros.  À semelhança de J.L.Borges, orgulha-se de ser leitora desde a infância. Sua carreira iniciou-se aos 25 anos, com o romance O anjo e o resto de nós. Nos primeiros cinco anos de sua carreira de ficcionista, produziu cinco romances. O reconhecimento, nacional e internacional, ocorreu com A casa das sete mulheres (transformada em minissérie televisiva pela Globo). 


quinta-feira, 24 de novembro de 2011

FEIRA DO LIVRO DE SANTIAGO


Ontem me surpreendi positivamente com a presença do público na abertura da 13ª Feira do Livro de Santiago. Um evento dessa natureza sem público é semelhante a um texto sem leitor. Ratifico o convite: vamos visitar a feira. A pé mesmo, porque lá dentro não há estacionamento. 
Após a abertura oficial (encerrada com um vídeo em tributo a Chicão), o patrono Neltair Rebés Abreu autografou seu livro Caminhos do Santiago. Ele veio acompanhado de seus irmãos. Um timaço de boa gente. 

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

FLORIANO(POLIS)

O Ruy escreve sobre Florianópolis em sua última postagem. A turística capital catarinense traz no próprio nome um de seus paradoxos, que remete (em linguagem atual) ao "Complexo de Estocolmo". 
Durante a Revolução Federalista (1893-95), a fortaleza de Anhatumirim (SC) serviu de abrigo para os revoltosos. Floriano Peixoto, presidente da República, madou uma esquadra do Rio de Janeiro, que prendeu os federalistas e fuzilou impiedosamente 185 deles.  Entre os executados, encontravam-se renomadas personalidades barrigas-verdes e gaúchas (a exemplo de Manuel de Almeida Lobo D'Eça, Barão do Batovi, patrono do nosso 19º GAC). 
O Estado de Santa Catarina não honrou seus mortos, homenageando o Marechal de Ferro (em contrapartida), trocando o nome de sua Desterro para Florianópolis.
O Prim, meu adversário de xadrez em Curitiba, era natural da Grande Florianópolis, mas torcia fanaticamente para o Flamengo.
Ruy, parabéns pela postagem.

FATALIDADE(?)

Leio no clicrbs.com que 15 pessoas morreram nesse final de semana nas estradas gaúchas. As últimas mortes ocorrem em Agudo, na 287. A matéria parece uma repetição do outro final de semana, em que o Chicão sofreu o acidente. 
Ouço muito a classificação de "fatalidade" para essas mortes no trânsito. Ratifico o que penso (e nisso sou um pouco idealista): não há fatalidade, uma vez que é possível a intervenção do homem, no sentido de se evitar o acidente. A realidade está a me provar o contrário, mas não continuará assim.

domingo, 20 de novembro de 2011

LEI DO SILÊNCIO(?)

Alguns vizinhos reclamaram do som alto emitido pelo Central Bailes, e o clube passou a realizar seus eventos dançantes no limite mínimo de decibéis. Alguns vizinhos do G.S.S.G.S., incomodados com o som alto, entraram na justiça contra o clube. Um vizinho ligou para a polícia, e a banda (que animava um aniversário no apartamento de Cristina) foi abrigada a suspender seu show de rock-and-roll.
A partir desses três exemplos, há uma clara indicação de que a "lei do silêncio" parece se impor na cidade, exigindo-lhe o que Freud descreveu (em O futuro de uma ilusão) como "uma compulsão e uma renúncia do pulsional". 
Todo o centro de Santiago deixou de dormir nessa noite, em razão de um baile de formatura no Clube União. A música estava num volume tão alto que fazia vibrar as janelas do meu apartamento (na Pinheiro Machado). 
Não entendo (ou faço de conta que não entendo) por que certos lugares e certos eventos são inatingíveis pela dita lei. Eles continuam a emitir seus decibéis amplificados por aparelhos potentes, sem que haja reclamação, denúncia ou processo dos moradores próximos.
O Júlio Prates está corretíssimo em suas análises sociológicas: ainda prevalece aqui uma cultura imposta pela aristocracia formada na primeira metade do século passado, quando era evidente a distinção entre as classes sociais.
O Clube União, a despeito da decadência econômica (ou da imiscuição cultural) sofrida pela aristocracia santiaguense, ainda se mantém altivo, a cavaleiro de quem o contempla da calçada. Noutro clube, não seria realizável com a mesma imponência uma simples formatura de Ensino Médio.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

CONVITE PARA LANÇAMENTO


No meu próximo livro, um dos temas amplamente desenvolvido é justamente o preconceito antropocêntrico. O homem, ao acusar todos os males que ele faz ao planeta, colocando em risco a própria sobrevivência, não esconde um viés que o levou a criar deuses à sua imagem e semelhança. Ele continua sendo ator principal no grande teatro da vida. 

BEM-VINDO (AO ANTROPOCENO)


Não é só a Caixa Econômica Federal (e muita gente boa que ainda não entendeu o Novo Acordo Ortográfico), a revista da imagem acima também incorre no erro de grafar "bem-vindo" sem hífen. A seriedade do assunto exige correção gramatical, sob pena de virar chacota ou de perder o crédito. 
Após essa digressão linguística, destaco o conteúdo da matéria publicada. Alguns cientistas, especialmente Jan Zalasiewicz, geólogo inglês, defendem uma nova era geológica para o planeta: o Antropoceno. 
A princípio, atribuo essa nova designação como um discurso ainda eivado do preconceito antropocêntrico, especista. 

LANÇAMENTO DE LIVRO

LANÇAMENTO DE LIVRO


quinta-feira, 17 de novembro de 2011

COMPORTAMENTO PARADOXAL

Nestes dias, a comoção pela morte de José Francisco Górski (Chicão), amigo de todos, desportista reconhecido e político em ascensão, obliterou nosso censo crítico – tão atento às questões atuais que urgem uma análise fria, racional. Entre essas questões, o trânsito é de uma relevância a toda prova, em vista dos acidentes fatais que continuam a ceifar vidas. Em nossa defesa, designamos como “fatalidade” aquilo que não evitamos, ainda que tivéssemos condições de evitá-lo. Eis o paradoxo. Os santiaguenses somos forçados a pensar por que a questão do trânsito é paradoxal. Nossa cidade é atravessada pela BR 287, rodovia que tem sido cenário frequente de acidentes gravíssimos. Seus 300 quilômetros, entre São Borja e Santa Maria, também se encontram sinalizados pelas cruzes (símbolos da morte na mítica cristã). Certamente, esse trecho apresenta um dos menores movimentos de veículos no Rio Grande do Sul, tratando-se de rodovias federais. Sequer há pontos de pedágio. Nos últimos anos, todavia, o asfalto se mantém sem os buracos indesejáveis – obstáculos que obrigam o condutor a diminuir a velocidade. A propósito, a alta velocidade constitui a causa principal de acidente, uma vez que não há defeito na pista e tampouco fluxo intenso (que exigisse a duplicação). A placa de regulamentação que estabelece a velocidade máxima permitida é a menos observada, tanto quanto à de parada obrigatória. Principalmente nas rodovias, onde as mortes por acidente ocorrem de uma forma lamentável, ninguém se comporta moralmente (para obedecer à lei), ou eticamente (para saber o limite e dirigir de acordo com o que sabe). Paradoxal é o comportamento do homem. Seu eu consciente (ainda um bebê) não resiste aos desejos, às pulsões, às forças poderosíssimas do inconsciente. A vida, como um todo, manifesta-se por meio dessas forças. Em razão de sua impetuosidade, às vezes, ela avança o sinal.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

FEIRA DO LIVRO DE POA

No sábado, realizei um desejo que se renovava a cada ano: ir à Feira do Livro de Porto Alegre. A última vez que fui a essa feira, lembro como se fosse hoje, ocorreu em 1987. Na época, morava em Curitiba e vim à capital para fazer um estágio sobre freios pneumáticos na Mercedes Benz. Há 15 anos em Santiago, nunca me decidi ir a esse grande evento cultural. Desta vez, a Lígia Rosso organizou uma excursão com as turmas de Letras da URI para prestigiar o lançamento de seu Nas entrelinhas. Depois do restaurante e de uma visita ao Centro Cultural Erico Veríssimo, onde se realizava a exposição Caminhos do Santiago (Neltair Rebés Abreu), permaneci por nove horas entre os estandes da Feira. Não gostei da arte conceptual em exposição no MARGS. Entre os livros adquiridos, destaco a Antología general, de Pablo Neruda (um espesso volume de setecentas e poucas páginas). Também no setor internacional, estande do Peru, comprei dois volumes de Los Libros Más Pequeños del Mundo: Assim falava Zaratustra, de Friedrich Nietzsche, e  Os melhores pintores de todas as épocas. Dimensão dos volumes: 6,5 x 4,2 cm. Texto integral (no caso de AFZ). Trouxe alguns livros para o meu amigo Juarez colocar à venda banca. Enquanto descansava da caminhada, assisti a uma conversa, mediada por Sofia Cavedon, tendo como convidados Luciano Alabarse, Juremir Machado e Zoravia Bettiol. Acessar aqui, para ler o que cada um deles falou sobre livro, cultura etc. Na mesma hora em que a Lígia autografou seu livro, a ministra Maria do Rosário lançava o opúsculo Resgate da memória da verdade: um direito histórico, um dever do Brasil. Às 22 horas, deixamos a capital, de retorno para Santiago.  

domingo, 13 de novembro de 2011

APENAS IMAGENS

Às 3:45 h., vindo de Porto Alegre, passei pelo local do acidente que vitimou meu amigo Chicão, deputado estadual que ajudei a eleger na última eleição. Mesmo que o micro-ônibus diminuísse a marcha, quase parando, não pude identificar o homem que estava deitada no asfalto,  sem camisa, cercado pelos primeiros socorristas. Uma das colegas da Erilaine pediu às demais que não olhassem para fora. Seguimos viagem para Santiago, sem saber quem havia se acidentado. Apenas imagens. As árvores mais finas vergadas à beira do asfalto, o automóvel queimado... Ainda encontramos uma viatura policial se dirigindo para lá. No sentido de Jaguari a Santiago, passando a entrada para o Buriti, numa reta, sem inclinação alguma... Mais uma vida se vai antes do tempo. O choro é inevitável.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O ORGULHO DE BORGES

Numa cidade com poucos leitores, a escrita é um ato de ousadia, de sorte. O texto se configura uma ponte lançada sobre o improvável. Para se constituir num evento linguístico, ele necessita de quem o tenha na mão, que o leia e o compreenda como tal. A esse receptor fortuito, indispensável no processo sociocomunicativo, atribui-se a coautoria do texto que lê.
Ao desenvolver a necessidade de levar adiante a enunciação, que Bakhtin qualificou de atitude responsiva ativa, o leitor se nobilita, ao produzir algum gênero textual de sua escolha, uma vez que assim o exige a condição de sujeito.
O papel do leitor é exaltado por Jorge Luis Borges com o exemplo pessoal: “Que otros se jacten de las páginas que han escrito, a mi me enorgullecen las que he leído”.
Uma vida de leitura – iniciada há trinta e muitos anos na biblioteca do Colégio Polivalente – também me faculta o sentimento acima expresso pelo escritor genial. Orgulho aliviado do fardo pejorativo como o define o senso comum, diga-se de passagem.
Meu próximo livro é o resultado de leituras que realizei desde os pré-socráticos aos pensadores vivos de nosso tempo. A primeira parte revela a influência de alguns filósofos, em especial F. Nietzsche. Na segunda parte, sobressaem-se as reflexões de cunho sociológico. Nas demais, escrevo sobre meio ambiente, psicologia, educação, trânsito, política, astronomia, religião, lingüística, poesia etc. Algumas crônicas mesclam os assuntos e tornam mais leve o gênero argumentativo.
Numa cidade com poucos leitores, repito, a escrita é um ato de ousadia, de sorte, principalmente na textualização de ideias (que brincam com o fogo das palavras). 

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O VERÃO VEM VINDO

O calor que faz nesta segunda-feira é uma pequena amostra do que será o verão (muito próximo), do calvário que terei de passar em silêncio, sem reclamar, para não ser equivocadamente admoestado como hedonista. Por que o equívoco? Em primeiro lugar, prefiro 0ºC a 40ºC, não reclamando do frio no inverno. Em segundo lugar, o calor me causa pequenos problemas de saúde, como pressão baixa, inchaço nos pés, perda de sono (pelo desconforto). Hedonistas são os outros, que reclamavam do inverno e, certamente, reclamarão do verão a partir de hoje.   

domingo, 6 de novembro de 2011

CAIS DA CINTURA

Dorme em minha reza
até minha voz desaparecer
em tua respiração.
Dorme que ainda não sou real.
Não te mantenho acordada.


Vivo das palavras
que não me recordo inteiras.
Recolho o vazio das garrafas,
artefando asas
com os restos de mel e cevada.


Permanece imóvel
enquanto parto.
Os arames do ar,
sem o disparo de tua boca.


A água se arredonda como pedra,
mas não há limo
para mantê-la de pé.
A água poderia ser figo
se não tivesse tanta pressa.


Prendo o ritmo
no tambor da seiva.
Não coincidimos 
nos olhos.


Almavas o corredor.
O perfil de cisne,
a pluma dos gestos
e as tâmaras.
Tua elegância me isolava.


Na trégua do temporal,
o assoalho de vozes.
A vida é uma trégua
ou o fim dela?


Dorme, como quem joga
cabra-cega com meus mortos.
Dorme, até tua solidão
adubar a minha.


As solas do sol
pisavam os olhos.


Reconheci a antiguidade do teu rosto
pela fumaça apressada do prado -
ela encorpava,
ardilosa,
uma cobra que endurece
o couro
na estocada da faca.


Como as vinhas,
vou engolindo as sobras,
carregando as uvas ressequidas.


Deixo a esponja do pulso
no balde dos invernos
com as honrarias
de uma bússola.


Minhas córneas bovinas
param a estrada.

(Do livro As solas do sol, de Carpinejar)

sábado, 5 de novembro de 2011

CARPINEJAR

A princípio, li Carpinejar, porque era filho de Nejar (o maior poeta vivo da língua portuguesa). Gostei tanto de lê-lo, que ele cresceu, amadureceu, ficou independente. Hoje o leio, porque é Carpinejar.  
Não vejo a hora de encontrá-lo na Feira do Livro de Santiago. Ele terá que me autografar sete de seus livros: Um terno de pássaros ao sul; Caixa de sapatos; Biografia de uma árvore; Cinco marias; Livro de visitas/ Como no céu; As solas do sol; e Canalha!

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

CONSCIÊNCIA VERSUS INSTINTO

Nossa espécie atingiu o número de 7 bilhões de indivíduos. Esse dado exige uma reflexão séria, independente do sensacionalismo midiático (que se apoia, via de regra, em opiniões alarmistas). Inicialmente, a espécie humana é a única que sabe o número de indivíduos de que se constitui no tempo e no espaço. O privilégio da (auto)consciência, resultado da evolução natural dos últimos milhões de anos, eleva-nos às alturas, inclusive ao sonho metafísico. A realidade, isto é, a condição animal, está constantemente nos puxando para baixo. A despeito do desejo de nos parecermos divinos, jamais nos desvencilhamos dos instintos comuns aos outros seres pertencentes ao Reino Animalia. O mais poderoso desses instintos é o da reprodução, da sobrevivência genética. A consciência já consegue interferir em alguns lugares da Terra, no sentido de controlar o crescimento da população. Em certos países europeus, o número de nascimentos já é inferior ao de mortes. Uma projeção, até certo ponto tranquilizadora, permite-nos vislumbrar que, até o final deste século, a humanidade se estabiliza no topo da parábola desenhada por sua trajetória. O arco descendente, todavia, representará um dos grandes desafios para os pensadores, cientistas  e políticos do futuro. Os problemas com o crescimento populacional desordenado, que caracterizam nosso tempo, são incomparavelmente menores em relação aos problemas com o decréscimo populacional também desordenado que ocorrerá nos próximos séculos. O risco de sobrevivência é mais factível, mais iminente. Essa capacidade consciente de antever, de projetar, de pensar o futuro, deve ser considerada na resolução dos problemas atuais. Um deles consiste em diminuir os efeitos que 7 bilhões de humanos causam ao meio ambiente, não apenas precipitando os riscos à própria sobrevivência, mas também à preservação de outros espécies. A transcendência especista é uma das prerrogativas da consciência mais evoluída.