segunda-feira, 11 de julho de 2011

GUILHERME DE OCKHAM

"Guilherme de Ockham (c. 1300-50) foi talvez o filósofo mais influente do séc. XIV. Ockham adota o nominalismo, posição inaugurada em uma versão radical por Roscelino (séc. XII), que afirma serem os universais apenas palavras, flatus vocis, sons emitidos, não havendo nenhuma entidade real correspondente a eles. Na verdade, Ockham defende um misto de nominalismo e conceitualismo, pois entende  o universal como um termo que corresponde a um conceito. [...] O universal é assim referência de um termo, e não uma entidade, mas tampouco é apenas uma palavra, já que existe o correlato mental, o conceito, por meio do qual a referência é feita. [...] É em relação a essa questão que devemos entender a famosa fórmula conhecida como "navalha do Ockham": entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem, i. é, não devemos multiplicar a existência dos entes além do necessário. Isto significa que NÃO DEVEMOS SUPOR A EXISTÊNCIA DE ENTIDADES METAFÍSICAS como no realismo platônico, já que  essas entidades não só não explicam adequadamente a natureza das coisas particulares, como carecem elas próprias de explicação. A "navalha de Ockham", é, portanto, um "princípio de economia", segundo o qual nossa ontologia (teoria sobre o real) deve supor apenas a possibilidade de existência do mínimo necessário. Termos e conceitos são suficientes, assim, para dar conta do problema dos universais, não havendo a necessidade de supor a existência de entidades reais universais. 
O contexto de Ockhan, o séc. XIV, é conhecido como o período de "dissolução da síntese da escolástica". Com efeito, a partir desse momento o modelo característico da escolástica, a integração entre as verdades da razão, campo da filosofia, e as verdades da fé, campo da teologia, em um sistema unificado, racional e logicamente construído, começa a enfrentar dificuldades. A própria introdução do sistema de Aristóteles a partir do final do séc. XII já representa de certa forma uma ruptura no interior da filosofia cristã, cujo paradigma dominante fora até então o platonismo, basicamente em sua versão agostiniana."
(Extraído do livro Iniciação à História da Filosofia, dos Pré-socráticos a Wittgenstein, de Danilo Marcondes, páginas 133-35.)

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