sábado, 30 de abril de 2011

ERNESTO SÁBATO



O escritor argentino Ernesto Sábato morre neste sábado, às vésperas de ser homenageado na Feira do Livros da Argentina. Com 99 anos, Sábato vivia recluso em sua residência na cidade de Santos Lugares (Grande Buenos Aires). Doutor em Física em 1938 pela Universidade Nacional de La Plata, trocou a carreira científica pela literatura.
Da extensa produção do escritor, destaco os seguintes livros: O túnel, Homens e engrenagens, Heterodoxia, Sobre heróis e tumbas e O escritor e seus fantasmas. (Li os grifados.)

sexta-feira, 29 de abril de 2011

ARCO-ÍRIS


Um arco-íris à minha janela. Essa é a visão do céu agora.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

INCLINAÇÃO ESTÉTICA

Meu sonho desde adolescente era fazer carreira nas artes plásticas, mais exatamente  em desenho e pintura. Fui morar na capital com esse sonho. Em Porto Alegre, frequentei o Instituto de Belas Artes, na UFRGS, mas não completei o segundo semestre. Em 1982, ocorreu a maior greve dos professores federais, fato que também contribuiu para que eu abandonasse o curso. Um excesso de leitura me arrastou ao limite da normalidade, cujo resultado foi concluir que a pintura não me propiciaria uma ponte para a alteridade, para o outro. Naquele momento, ainda não conhecia o Expressionismo (uma tela como O grito, de Edvard Munch). O mundo a minha volta era pior do que eu imaginara. Dentro dele, uma das formas artísticas mais sublimes não teria espaço, não daria e não receberia nada. O país vivia o tecnicismo (em que minha geração foi muito bem escolarizada). No Rincão dos Machado, a família questionava sobre meu futuro como pintor. Tudo isso constituiu o grande motivo de ter desistido das Belas Artes, retornando da capital sem o sonho de menino. A partir de então, racionalizei, optaria pela palavra, pela escrita. As leituras me levavam a esse caminho. Ao invés da representação pictórica, de difícil acesso, o discurso na forma do martelo nietzscheano, direto e contundente contra esse mundo feio e perverso. Escrevi seis cadernos entre 1987 e 1994. Primeiros passos de uma longa caminhada feita com olhos bem abertos, sem a mínima chance para o sonho. Mas a minha inclinação pelo estético volta a se manifestar na poesia. Sem sonhar? Sem sonhar. Para os românticos, isso é impossível. Sou moderno. Gosto dos poetas modernos, que transformam o coração em razão, numa extensão da máxima de Pascal, "O coração tem razões que a própria razão desconhece". Depois de dois livros publicados, coloco a poesia no mesmo plano da pintura. Ela é para poucos, no entanto, continuarei poeta. Não posso vacilar duas vezes.  

quarta-feira, 27 de abril de 2011

VARIAÇÃO PENDULAR

Em meio à algaravia em que se torna o hipertexto, requeiro o direito de expressar o que penso, desde a mais sincera autocrítica (a ponto de reconhecer a impotência para mudar qualquer coisa) à crítica mais incisiva contra quem quer que seja. Pelas postagens anteriores,  insisto que é quase inútil a publicação de uma ideia neste espaço. Poucos a perceberão em sua extensão ou profundidade (para não falar universalidade e sabedoria). Poucos irão se condoer no caso de me considerar impotente. Poucos se sentirão ofendidos com a ousadia do meu contraponto. Dessa forma, continuo a apostar na produção hipertextual (com a manutenção deste blog, por exemplo) e a considerá-la simplesmente inútil. Por isso, não posso ser acusado de pernosticismo quando melhor elaboro meus argumentos, citando um grande pensador, um grande poeta. Essa variação pendular entre o julgamento (auto)depreciativo e o (auto)apreciativo talvez constitua minha mais evidente contradição.

NÃO TENHO RAZÃO?

"Pode ter-se um grande fogo na alma, mas ninguém vem nunca se aquecer nele, e os que passam só avistam um fumozinho no alto, a sair pela chaminé, e seguem seu caminho"
Van Gogh

segunda-feira, 25 de abril de 2011

ALGARAVIA

A postagem abaixo ilustra o que tenho denominado de "babel às avessas". Tavares e Rolim personificam tão somente dois sujeitos, em meio a uma infinidade deles, que tentam dialogar inutilmente. Cada um desses sujeitos corresponde a uma fala distinta, personalíssima, preocupado em falar e não a ouvir. Há como uma superestimação do fator inicial da comunicação: o emissor.  
Quanto à ideia acima expressa, por exemplo, quem irá tomá-la como original, respondendo-a ativamente? Ninguém.

domingo, 24 de abril de 2011

TAVARES OU ROLIM

Ao abrir o Zero Hora de hoje, deparo-me com dois artigos interessantes, pela oposição não apenas de página em que foram publicados: A maconha no poder, de Flávio Tavares; e Sem limites, de Marcos Rolim. O primeiro acusa Tarso Genro de ter cometido uma tolice em sua aula magna na UFRGS, ao quase fazer uma apologia à maconha. O segundo, naturalmente, faz a defesa de Tarso, acusando de idiotas os críticos do governador. 
Tavares ou Rolim?

PÁSCOA?

Beira o risível o número de definições elaborado para o que seja a Páscoa. Os mesmos cristãos destoam em seus discursos, numa afirmação do relativismo e da subjetividade umbiguistas. Em síntese, o significado para "páscoa" pode ser quase tudo. Quanto mais grandioso (que esconda a mediocridade dos beneficiados), melhor. Como essas pessoas acreditam que um dia ressuscitarão? Por que motivo? Para quê? Toda a fé é que Jesus Cristo ressuscitou, fé ensinada pelo pregador Paulo de Tarso, sem a qual o cristianismo não seria possível. Fé que não tem correspondência nas obras executadas, nos valores vividos (humanos, demasiadamente humanos). 

sábado, 23 de abril de 2011

LEO FETT

Semana passada, encontrei-me com Leo Fett no escritório do Dr. Valdir. A despeito dos  88 anos, o homem é cheio de energia, com uma disposição física e uma lucidez psíquica que batem orelhas. Em seu Memórias vivas, meu amigo cita Will Durant, como leitura à bordo do Moline Victory, navio que transportava burros e mulas para a Grécia. Ele fora contratado pela UNRRA (Socorro de Ajuda e Reabilitação das Nações Unidas) para organizar esse transporte de animais, destinados ao trabalho agrícola nas montanhas do sudeste da Europa. Durante a viagem, ansioso para conhecer o berço de sua civilização, lê A nossa herança clássica, de Will Durant (filósofo e historiador norte-americano). Ao trazer esse autor à conversa, fui obrigado a interrompê-lo, dizendo-lhe que A História da Filosofia e Os Grandes Pensadores fazem parte da minha biblioteca de cabeceira.    

LEITURA DA VEJA

Como recebi a revista com atraso, fiz uma rápida leitura ontem  (que me força os seguintes comentários):
O entrevistado das páginas amarelas é o padre Marcelo Rossi, o qual não pôde realizar o sonho de cantar para o papa Bento XVI, quando visitou o Brasil em 2007. Ele foi impedido pelos integrantes da Arquidiocese de São Paulo. Seus colegas religiosos temiam desagradar ao papa com o estilo da Renovação Carismática, empregado por Rossi. Em suas queixas, o padre das multidões fala que sofreu um boicote, inclusive pela CNBB (que não o procurou após um prêmio recebido do Vaticano que condecora evangelizadores modernos). Esse desdém, mais   uma queda da esteira ergométrica, causaram  uma "dor profunda" no padre extremamente sensível, que chegou a se sentir abandonado por Deus, qual Cristo no Horto das Oliveiras. Ad misericordiam.
As eleições no Peru apresentam dois candidatos escolhidos pelo povo (que terá o governo que merece): Ollanta Humala e Keiko Fujimori. O primeiro é amigo de Hugo Cháves (prometia nas eleições anteriores mudar a Constituição e instituir um regime autoritário). A segunda é filha do ex-presidente Alberto Fujimori. Segundo a reportagem, Chávez ou Fujimori - um dos dois terá grande influência sobre o próximo governo. "Em ambos os casos, a preservação do estado de direito no Peru está ameaçada", diz Felipe Ortiz de Zevallos, presidente de um instituto de opinião pública de Lima. 
Em "Jogada ensaiada", "Governo aponta atrasos em obras da Copa de 2014 e, em seguida, defende o afrouxamento da sua fiscalização - a mesma estratégia que multiplicou por dez os gastos com o Pam". Um relatório feito pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) adianta possível vexame do Brasil como anfitrião da Copa do Mundo de 2014. "Dez dos treze aeroportos que estão em obras para o campeonato não apresentam condições de conclusão até 2014", diz o relatório. A solução apontada pelo governo é de que o TCU (Tribunal de Contas da União) afrouxe a fiscalização sobre as obras (que acabarão superfaturadas). Já tramita um projeto no Congresso que flexibiliza a Lei das Licitações. 
Na lista dos livros mais vendidos, finalmente, A Cabana cede lugar para O Pequeno Príncipe, de Saint-Exupéry. Nessa história, destaco uma das páginas mais belas da literatura, mais exatamente o diálogo do Pequeno Príncipe com a raposa. 

sexta-feira, 22 de abril de 2011

QUESTÃO NÃO-RELIGIOSA

Sexta-feira Santa é um prato cheio para o colunista que escreve sobre o assunto. O símile “prato cheio” nega um dos costumes antigos deste dia: a obrigatoriedade do jejum e a abstinência de carne (exceto peixe). O contexto metafórico, todavia, permite tal contradição. A propósito, poucos sabem o significado religioso do costume, mas não deixam de segui-lo por esse motivo. Na semana santa, há uma corrida desenfreada atrás de peixe. Os menos santos são os consumidores mais fiéis. O mercado acaba não atendendo a demanda, por razões óbvias: não há disponibilidade suficiente do produto (por um lado), e a venda se limita a apenas uma vez ao ano (por outro). O comércio de carne com sangue no Sábado de Aleluia é incomensuravelmente mais rentável e se mantém o ano todo, a despeito do preço, do colesterol, da ética defendida pelos vegetarianos (ainda uma reduzida minoria). O gaúcho das Missões e da Campanha gosta de churrasco feito com carne fresca de preferência. Por isso, cria muito gado. Não é comum gostar de peixe, acabando com ele ao assorear e envenenar os rios (na produção do arroz e da soja). O máximo que permitem alguns produtores é a criação em cativeiro da única espécie que se adapta ao barro dos açudes: a carpa. Na escala dos sabores, ela perde até para o grumatã, que vive a comer o limo das pedras. O Rosário da minha infância era um paraíso dos prochilodus lineatus (grumatã), antes das redes, das bombas, dos agrotóxicos. Do alto das pedras, dava gosto observá-los a reluzir suas escamas à flor d’água. Hoje restam peixes miúdos (jundiá, lambari, joaninha, entre outros). A traíra, coitada, não lhe dão tempo para se desenvolver ao natural. Peixe que o pantaneiro não come, o gaúcho enche a boca para dizer que é o melhor. Nesta Sexta-feira Santa, resolvi escrever sobre a questão não-religiosa acima, sem problemas.
(Texto escrito para a edição de hoje do Expresso Ilustrado.) 

quinta-feira, 21 de abril de 2011

FERNANDO PESSOA (OUTRA VEZ)

A última Veja traz outra reportagem sobre o grande Fernando Pessoa, "talvez o poeta  mais citado da língua portuguesa por aquilo que quase escreveu - 'tudo vale a pena quando a alma não é pequena' - e por aquilo que não escreveu - 'navegar é preciso, viver não é preciso'. No primeiro caso, é 'se', não 'quando'. A segunda fala não é sua, mas do general romano Pompeu. Pessoa apenas a citou para criar a sua própria divisa: 'Viver não é necessário; o que é necessário é criar'". A reportagem é muito boa, motivada pela biografia de FP escrita por José Paulo Cavalcanti Filho. 

terça-feira, 19 de abril de 2011

POSIÇÃO IDEALISTA

Um fato pode suscitar grandes questionamentos. O massacre de estudantes no Realengo, por exemplo, reabriu o debate sobre o desarmamento. Também escrevi sobre esse assunto muito polêmico no início da minha participação como colunista do Expresso Ilustrado:
"O filme 2001 - Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, começa com uma sequência de imagens que julgo das mais inteligentes do cinema. A cena mostra um ancestral do homem segurando um osso, um fêmur talvez, com o qual bate inadvertidamente contra a caveira do que tinha sido um animal de grande porte. O objeto-alvo se fragmenta cada vez mais, à medida que o primata imprime maior força aos golpes. De repente, o insight: armar cada indivíduo de sua tribo com um osso semelhante e, juntos, enfrentarem o grupo inimigo pela disputa de um manancial. O novo recurso dá certo, invertendo-se a condição de seu bando, de fraco e derrotado para forte e vencedor. 
"Essa adaptação de um conto de Arthur Clarke resulta num filme-tese sobre a origem da humanidade (tema que me fascina bastante, tanto quanto a Astronomia), coerente com a teoria evolucionista e com estudos antropológicos. A mitologia hebraica, equivocadamente, colocou um paraíso no cenário anterior ao nascimento do homem, mas acerta em imaginar um ato de violência no momento da ruptura, do surgimento da humanidade. Coisa que Otto Rank descreve psicanaliticamente como "trauma do nascimento". O fratricídio cometido por Caim [...] corresponde àquela primeira guerra entre duas tribos primevas. 
"A disputa pela água, todavia, precede a questão agropastoril e, certamente, irá sucedê-la também. 
"O mundo começou muito antes do que imagina o mito sacralizado pelos cristãos. Antes de ser divino, o homem foi, é e continuará sendo terreno. Humano, demasiado humano. E, graças à sua natureza agressiva, chegamos todos até aqui, vivos da silva de oliveira. 
"Mas, porém, contudo... isso não justifica que continuemos a usar armas, uma vez que estamos inseridos num processo de dominação dos instintos a que chamamos civilização, o qual preceitua a boa vizinhança, a negociação, a paz, o amor [...]. 
"O estigma de Caim já desapareceu de nossa fronte e a água terá de ser dividida. Ao invés de armas, ideias para um mundo melhor".
Em 2003, eu manifestava certo idealismo. Não tenho vergonha disso.

REFLEXÃO DE UM BLOGUEIRO

Em minha primeira coluna do Expresso Ilustrado (12 dez 03), escrevi o seguinte:
"O fluxo de informações nestes dias não permite ao seu receptor - seja leitor, ouvinte, telespectador ou internauta - um tempo necessário para refletir criticamente sobre o que lhe é informado. A velocidade, como herança do século XX, alcança seu auge nas comunicações. A palavra e a imagem, numa realização do desejo expresso por Einstein*, hoje viajam com a rapidez da luz. O impacto disso pode ser prejudicial à saúde psiquicamente frágil do homem (ainda um incorrigível sedentário). [...] Dentre os gêneros textuais mais empregados (para a comunicação), a notícia ocupa a maior parte do espaço visual e auditivo. [...] Não sobra tempo para se perguntar o porquê das coisas acontecerem desta, dessa ou daquela forma. Ao consumista não é dada outra alternativa senão aceitar tudo o que é apresentado, dito ou escrito como real, verdadeiro. [...] A partir da presente edição, este espaço oferece ao leitor uma possibilidade de contemplação, de reflexão, de (auto)crítica".
* Como se me apresentaria o mundo se eu pudesse viajar em um raio de luz.
A propósito, a coluna acima já foi até parafraseada por um outro colunista do jornal, mais precisamente deste período: "Muitos fatos noticiados, por suas causas e consequências, também suscitam uma leitura mais demorada - ao longo de toda a semana".
Em nossa blogosfera, está ocorrendo uma polarização da informação, com a criação do superblog novapauta. Esse fenômeno já é conhecido na Espanha, por exemplo, onde o jornalismo 3.0, participativo, com a colaboração dos leitores já toma conta da mídia. Os demais blogs informativos, esta é uma impressão inicial, são como que eclipsados, tornando-se meros links acessórios, disseminadores da informação e ponta da linha do diálogo com o público. 
Durante os dias agitados do desaparecimento e morte do Cléo Bonotto, professor da URI, a blogosfera santiaguense girou em torno do novapauta
Retorno ao que transcrevi acima, para defender que o âmbito eletrônico também necessita de questionamentos e reflexões (necessários para entender o mundo a nossa volta, política, sociológica, jurídica, filosófica ou esteticamente). Nesse aspecto, destaca-se o blog do Júlio Prates. 

segunda-feira, 18 de abril de 2011

LIÇÃO DE POESIA

Um senhor (que declama Jayme Caetano Braun  e canta nas rodas de cerveja) me chama para a conversa ao dizer que a rima é parte obrigatória da poesia crioula, que eu é que escrevo versos modernos, sem me utilizar desse recurso sonoro. (Obviamente, diz isso com outras palavras.) 
Ato contínuo, recito a primeira estrofe de Paisano, de Luiz Menezes: 
Um dia chegou de longe,
nunca se soube de donde...
Chapéu quebrado na testa
e um lenço preto ao pescoço,
negro como o pensamento
de uma china despeitada. 
Meu interlocutor recita a estrofe seguinte:
E afinal ficou de peão
da estância de "Seu" Quirino.
Ele é obrigado a reconhecer que nem sempre o poema crioulo é rimado. 
Aproveito-me de sua vocação para o assunto e vou mais longe, dizendo-lhe que tampouco o ritmo regular é obrigatório. Como exemplo, cito-lhe Herança, de Apparício Silva Rillo. Este, sim, um dos mais belos textos produzidos no gênero.
Infelizmente, meu interlocutor nunca leu meus poemas, nos quais ritmo e rima são recorrentes. 

RACIONAL (RACIONALIZAÇÃO)

A melhor definição dada ao homem é a que o caracteriza como ser racional. Por alguns milhões de anos, desde a origem, ele evoluiu da irracionalidade generalizada para a racionalidade exclusiva. Escapa ao óbvio é que o estágio de racionalidade continua a evoluir, não chegou ao fim. 
Uma das grandes realizações do homem consiste em ter conhecido seus sentimentos, expressando-os por intermédio de uma linguagem. Escapa ao óbvio é que não há a antípoda racional versus sentimental. Não há um homem racional diferente de um homem sentimental. 
É risível o senso comum (o óbvio) rotular quem pensa como oposto de  quem sente, na intenção de depreciar o primeiro. 
Um blogueiro vive a contrapontear minhas ideias, postando justamente o contrário. Arroga-se um homem de grandes sentimentos. Não sabe (ou finge não saber) que esse conceito elevado de si mesmo não passa de racionalização.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

CAÇADOR - ARTISTA


Arco e flecha foram a arma que o homem empregou por longos milênios, para matar a caça e vencer o inimigo (não necessariamente nessa ordem). Sua invenção tem uma importância que nunca será corretamente superestimada, a ponto de dizer que o homem não teria sobrevivido sem ela. Milhões e milhões de guerreiros a usaram com o mesmo fim, de uma forma eficiente os nossos ancestrais. Até que um dia, um belo dia, distraidamente, alguém percebeu o som que emitia a corda retesada pelo arco. Um som diferente, não produzido pela natureza. De repente, num dos insights mais brilhantes da cultura humana, esse alguém fez repetir o som, vibrando várias vezes a mesma corda distendida. Ao juntar dois arcos, vibrou as cordas ao mesmo tempo ou uma de cada vez. A princípio, gostou do que fez, do que ouviu. Para não juntar dois ou mais arcos para a brincadeira, ele prendeu duas ou mais cordas no mesmo arco. Percebida a música, inventou-se a harpa (necessariamente nessa ordem). Por isso, ela é tão antiga, anterior aos caldeus, egípcios, gregos e romanos. Não mais necessitando da arma, o homem a transformou em instrumento musical. O caçador virou artista. O mundo ganhou mais sentido a partir dessa evolução estética.

OLHOS AZUIS

No dia de hoje, minha mãe faria 74 anos de idade. Infelizmente, o tempo verbal indica algo que não mais se realiza. A partir de 2006, o 15 de abril me faz lembrar a morte dessa pessoa especial. Uma triste coincidência: ela faleceu no dia de seu aniversário. Desde então, passei a sofrer uma crise emocional ainda não superada. 
Dalva Fiorenza de Oliveira nasceu no distrito de Ernesto Alves, filha de Camilo Fiorenza e Maria Colpo. A menina de olhos azuis, franzina, auxiliava no trabalho pesado com a cana-de-açúcar. A família sobrevivia numa encosta inacessível que termina abruptamente no Rosário (alguns quilômetros da vila, rio acima). 
Por mais difícil que fosse a vida naquele tempo, a mãe trazia boas recordações. Ao longo da minha infância, contava-me algumas histórias interessantes. Numa das melhores, ela acompanhava sua mãe ao Curussu, onde o trem talvez trouxesse uma carta do irmão mais velho (que fora embora para o Rio de Janeiro). 
Uma longa caminhada até a estação, cheia de expectativa; uma longa caminha de volta para casa, com o coração partido pela saudade. 
Quando moça, já de namoro com Átilo Soares de Oliveira, mudou-se com os pais para a Sédia (Ernesto Alves), em processo de urbanização. 
O casamento levou-a para o distrito de Vila Florida, dos campos bonitos que se perdem de vista. 
Cinco vezes deu à luz: eu, Maria, Tânia, Marcos e Cláudio. Todos crescemos com roupas sempre limpas, como trazia a casa. O capricho constituía uma de suas características pessoais. A comida preparada por ela era bem feita e deliciosa. 
Mulher laboriosa e inteligente, disposta para as grandes jornadas. Muitas vezes, fomos a Ernesto Alves a cavalo. 
Esses passeios eram memoráveis: do Brasil à Itália. 
O tempo passou - e passa. Leva-nos sem compaixão. Há cinco anos, foi a vez da minha mãe, fechando para sempre seus olhos azuis. 
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(Coluna do Expresso Ilustrado deste dia 15 de abril.)

quinta-feira, 14 de abril de 2011

MAU TEMPO?

O tempo amanheceu fechado, com uma agitação que quase sempre precede a chuva. 
Mau tempo?
Não.
Não há mau tempo, exceto na visão curta e interesseira de alguns. Para os que vão à praia, mau tempo é vento, céu encoberto, chuva. Aos que esperam  para deitar a semente na terra, mau tempo é a repetição de dias limpos, sem uma nuvem que umedeça sua esperança.
O Ruy Gessinger me acompanha na crítica a esse relativismo constituinte da grande contradição em que vivem os homens.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

RETRETA COM PARTICIPAÇÃO ESPECIAL

Em comemoração ao Dia do Exército (19), a Fanfarra da 1ª Brigada de Cavalaria Mecanizada fará uma retreta no auditório do Colégio Medianeira dia 16 de abril de 2011, às 20 horas. Os ensaios sob a batuta do mestre ST Roger começaram ontem. No repertório: Êxodus, Missão Impossível, The Final Countdawn, Conquista do Paraíso, Flor de Lis, Lately, Nostalgia 5, Janjão, entre outras. 
O evento musical terá a presença de Mário Meira, de São Luiz Gonzaga, que fará uma apresentação com sua harpa melodiosa (para aqueles que desenvolveram em alto grau a sensibilidade auditiva).
Os santiaguenses estão convidados desde já. A entrada é franca.  

INFERÊNCIAS CONDENÁVEIS

Um dos livros de Platão, Apologia de Sócrates, constitui o relato mais fidedigno da acusação, julgamento e morte de Sócrates. Entre os principais acusadores do grande sábio grego, havia um político (Ânito), um poeta (Meleto) e um zé-ninguém, sem expressão, representante do populacho. 
Vocês sabem quais eram as acusações contra o filósofo?
Não reconhecer os deuses do Estado, introduzir novas divindades  e corromper a juventude. 
Dessas três, a mais objetiva, sem defesa, consistia na primeira. 
Os deuses gregos estavam em fim de carreira. Todos os olimpianos, a começar pelo mais poderoso entre eles, Zeus. A filosofia, que ali teve seu nascedouro, prestou esse serviço de grande monta, reduzindo a religião grega ao mito, e o mito, a ricas metáforas e alegorias (como o fez Freud na Psicanálise).
Volto a tocar numa mesma tecla: quem teria coragem de dizer que Zeus não existia, mesmo na época de Sócrates? Ninguém. Não obstante, Zeus não existia, a não ser imaginariamente na cabeça daqueles que criam nele (daqueles que o criaram). 
Sócrates era decadente (escreveu Nietzsche em O crepúsculo dos ídolos). Toda a civilização grega o era naquele momento histórico. 
Nossa civilização não estaria em processo degenerativo ao revelar sinais de desmistificação do deus judaico-cristão que a caracteriza ab origine
Ao fazer tais inferências, acaso serei acusado por isso? A propósito, já bebo a cicuta que destila do coração de certos crentes em Yhwhy-Deus.

  

ARGUMENTOS

Argumento persuasivo em favor do desarmamento: a existência da arma de fogo facilita o crime.
Argumento persuasivo contra o desarmamento: a lei não exclui a arma clandestina (de que se serve o bandido). 

terça-feira, 12 de abril de 2011

(DES)ARMAMENTO

Interessante a discussão sobre o desarmamento, que se retoma a partir do crime cometido por Wellington Menezes de Oliveira, o assassino de doze alunos numa escola de Realengo (bairro carioca).
A propósito, o assassino tinha uma bomba que não foi acionada. Esse artifício é o preferido dos terroristas que intentam causar maior destruição possível (com o mínimo de esforço). Sem os revólveres, ele a detonaria dentro da sala de aula? Menos crianças seriam mortas?
Caso o sargento da Polícia Militar não alvejasse o assassino, com um tiro de revólver, quantas crianças a mais seriam feridas ou mortas?
Quem condena a ação do policial (por usar uma arma de fogo)?
Os revólveres empregados por Wellington eram raspados, clandestinos, isto é, fora do controle legal. Essas armas estariam disponíveis no mercado negro, independentemente da lei proibitória? 

segunda-feira, 11 de abril de 2011

ATÉ QUE ENFIM

Dizer a verdade está fora de moda. Nestes tempos de nivelamento rasteiro, Lobão é démodé: "O Brasil não investe no mérito". 

ESTOU LIGADO

Por duas ocasiões, falando com meus colegas da Comunicação Social do QG, toquei no mesmo assunto, qual seja, da influência que Wellington poderá ter sobre outros psicopatas brasileiros. 
Na última hora do expediente, recebo a revista Veja, que traz como uma das matérias O efeito viral das matanças
Estima-se que mais de cinquenta massacres em escolas - a maioria deles fracassados - tenham sido inspirados em Columbine. 
"Tiroteios em escolas em geral ocorrem em sequência, com pequeno intervalo entre eles, influenciados por eventos anteriores", diz o sociólogo americano Eric Madfis, especialista em violência juvenil.
No dia seguinte ao massacre em Realengo, as redes sociais brasileiras estavam cheias de comentários assustadores e enaltecimentos a Wellington. "Se Deus existe, ele estará do seu lado, irmão, viva a minoria", dizia um comentário no Orkut. "Olhem pelo lado dele, ele tinha problemas pessoais e sociais, era uma pessoa fraca que se deixou abater pelo prazer da vingança", lia-se no YouTube. "Pior é que eu sei o que se passava na cabeça dele", escreveu um integrante do Twitter.
A Internet, além de fonte de inspiração, é utilizada pelos potenciais matadores para aprender a usar as armas e treinar para os ataques.
Considerando os elementos em comum com chacinas ocorridas em outros países, é de temer que Realengo tenha posto o Brasil no circuito do terror escolar.
Esses são excertos da reportagem.

ESCLARECIMENTO

Certas postagens que faço (como a anterior), reconheço, versam sobre assuntos impopulares, que não merecem aplauso. Uma estratégia para diminuir o efeito negativo que elas acabam gerando na pequena plateia, algumas vezes já utilizada neste blog, consiste em diminuir o peso das minha ideias com uma outra postagem mais leve (poema, crônica, anedota...). Algumas vezes. Não ando à  procura de aplauso (como pensam comentaristas indiretos do que escrevo), tampouco cultivo "abobrinhas".

domingo, 10 de abril de 2011

IMAGEM E SEMELHANÇA DO HOMEM

Com o retorno da energia elétrica, venho ao computador para a navegação (que é mais necessária que precisa). De tudo que visitei e li, destaco o seguinte excerto da postagem do Júlio Prates: "[as religiões] assentam-se em bases fantasiosas, são construções abstratas, mas operam num sistema neurolinguístico eficaz. As pessoas são chamadas ao arrependimento, à sujeição a Deus e a aceitação de um conjunto de dogmas, entre os quais o não duvidar, posto que a dúvida não provém de Deus".
Em poucas palavras, característica de quem possui um poder de síntese muito grande, o Prates expressa uma verdade que detonaria o objeto de sua crítica, mas isso não acontece, em razão dessa mesma verdade ser desconsiderada a priori. 
O atento fundador do cristianismo, pregando aos coríntios (numa Grécia em colapso religioso e filosófico), exclui toda a sabedoria deste mundo. Paulo de Tarso dogmatiza, rebaixando o sábio ao nível do astuto. Como se fosse possível sua peregrinação evangélica em território helênico se não o precedessem alguns sábios, como Sócrates, que acabaram com o que havia da antiga religião grega, tornando favorável o advento de um deus estrangeiro.
A dúvida é um princípio do saber que provoca a quebra de velhos paradigmas, entre os quais o judaico-cristão. Por isso, os hereges eram queimados na fase de maior poder terreno do cristianismo, condenação que não acontecia para os piores assassinos. 
Um deus que não se importa com o sangue derramado em seu nome, mas que persegue aqueles que duvidam dele, não passa de uma "construção abstrata", antropomórfica. Não pode estar morto, como sentenciou Nietzsche, uma vez que nunca existiu a não ser na cabeça doentia de homens que o criaram a sua imagem e semelhança.   

ESTRANHO SILÊNCIO

A cidade amanheceu mais silenciosa neste domingo. Mais silenciosa e inerte. De quando em vez, ouve-se o ruído de um automóvel, descendo a Pinheiro Machado. Com uma frequência também irregular, o canto de um bem-te-vi se destaca na manhã inteiramente azul. O leve movimento das árvores (que emergem do cimento) é bastante suave, provocado pela brisa fresca, anunciadora de uma nova estação. O sino da Matriz já tocou duas vezes, com o objetivo de acordar estes edifícios para a vigília do dia. Dentro de um apartamento qualquer, ouvindo o tique-taque dos relógios que se espalham pelas paredes e armários, leio filosofia na área de serviço. De repente, sou instigado pela vontade de registrar o sossego da cidade (às nove horas), como se algo estranho estivesse a ocorrer exceto uma simples falta de energia. 

sábado, 9 de abril de 2011

UMA REFLEXÃO APENAS

A morte não é a única certeza, pois uma outra também requer o status de verdade: a vida. Pelo menos para o sujeito que tem consciência de uma e de outra. Uma certeza que aumenta em relação à própria morte, à medida que o tempo passa (ou que passa o sujeito), e que diminui em relação à própria vida. Não obstante toda a angústia que a certeza do fim causa ao vivente (atenção para o real significado dessa palavra!), a vida continua sendo o que há de mais valioso para ele. Um bem tão extraordinário que chega a extrapolar a capacidade de avaliação, principalmente se quem deve assim avaliar ainda é jovem. Toda depreciação desse bem encontra-se na origem de sua perda (quase uma tautologia), quando a morte pode advir de uma forma abrupta.

TRISTE EQUÍVOCO

Infelizmente, eu não estava certo. 

sexta-feira, 8 de abril de 2011

CLÉO BONOTTO

O Cléo é primo-irmão das minha primas Luvânia, Ludânia e Fernanda Fiorenza. Não somos parentes, mas temos parentes em comum. Em relação ao seu "desaparecimento", ainda tenho uma opinião menos alarmista. Nessa tarde, cheguei a ouvir que ele pode ter sofrido uma forma de violência (assalto seguido de sequestro). O blog Nova Pauta informa que a polícia realiza buscas em Santiago, Ernesto Alves e São Borja. Caso ainda estivesse num desses três lugares (ou passado para a Argentina, via ponte de São Borja), seu automóvel seria facilmente encontrado. Por que apenas nesses três lugares? Por que não nas outras cidades mais próximas? Por que não Livramento/ Rivera? Santa Maria? Numa hipótese bastante otimista, arrisco-me a dizer que ele se encontra muito bem. Mais: seremos surpreendidos pela história de seu "desaparecimento". 

PREVISÍVEL

Por volta das 15 horas, editei a postagem abaixo, quando/ onde escrevi: "Não demora, vão descobrir um bullying sofrido por Wellington em seu tempo de estudante".
Saí depois. Nas sextas-feiras, sempre vou à feira do produtor.
Volto a navegar às 18 horas. 
Leio a seguinte manchete no Bol Notícias (publicada às 17:34 h): 
"Autor do massacre em Realengo sofreu bullying, dizem ex-colegas de escola".
Para ler, clicar aqui.

REALENGO - COLUMBINE

O massacre que ocorreu numa escola municipal do Rio de Janeiro assemelha-se ao de Columbine, Colorado, Estados Unidos, em 1999, e que motivou a produção do documentário Tiros em Columbine, de Michael Moore.
Na pequena cidade norte-americana, 13 estudantes foram executados a tiro por dois de seus colegas, que, à maneira de Wellington Menezes de Oliveira, premeditaram a matança.
A primeira reação ao fato é de comoção, seguida da avaliação generalizada, primeiramente expressa pela mídia: uma tragédia. A essa valoração negativa, seguem-se as explicações. A carta deixada pelo assassino não basta para os psicólogos de plantão (em que todos se tornam numa hora dessas). Não demora, vão descobrir um bullying sofrido por Wellington em seu tempo de estudante. 
Qualquer explicação para o fato, baseada em depoimento de parentes e conhecidos do rapaz, não servirá para diminuir a tristeza que sentem mais intensamente os pais dos adolescentes mortos, tampouco para evitar que algo parecido venha a se repetir no futuro.
Wellington planejou e executou um cenário para o seu suicídio, ato principal (e derradeiro) de sua tragédia pessoal.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

NÃO ENTENDO

Não entendo a Economia, em razão do pouco interesse que ela me desperta. Às vezes, pelo que ouço e vejo, tampouco os economistas conseguem dominar essa preterciência.
O ministro Mantega, hoje de manhã, falou que precisa reduzir o consumo, sem intervir nos investimentos (na medida do possível, incentivando-o). Estou enganado, ou seu discurso constitui uma contradição?

quarta-feira, 6 de abril de 2011

ATLAS DO CÉU

Nas bancas, o primeiro número Especial Temática (conforme imagem acima), acompanhado de um Planisfério. Sou ligado a tudo que se refere às estrelas, às galáxias, aos céus... A Astronomia é a segunda área do conhecimento científico que mais me chama a atenção, atrás apenas da História Natural, à frente da Psicanálise. Nos últimos anos, tenho lido muitas publicações a partir dos livros de Carl Sagan e Marcelo Gleiser. Toda revista, específica ou que traga uma matéria sobre o assunto, não passa despercebida nos pontos de venda da nossa cidade. Na internet, há infinidade de artigos e imagens que contribuem para elucidar uma ciência de raras cabeças. Logo comprarei um telescópio (de amador mesmo). Já disponho de um ponto favorável para instalar meu observatório particular:  Rincão dos Machado. 
(Há instantes, faltou luz em Santiago. Fiquei à janela, esperando pelo retorno da eletricidade. As estrelas se avivaram além das silhuetas escuras dos edifícios. Ainda bem que a ferramenta salva de forma automática.)
A pouca compreensão que tenho de como é o mundo das distâncias astronômicas já é suficiente para me deixar maravilhado. Tal conhecimento me leva a compreender outras coisas, algumas delas do âmbito da Filosofia. Isso fecha com o paradigma da complexidade expresso por Edgar Morin.

TOSA DE PORCO

Alguns blogs, não me refiro à blogosfera santiaguense, assemelham-se à tosa de porco: muito grito e pouco lã. As imagens editadas são de uma espetaculosidade inimaginável, copiadas com uma rara percepção do pool disponível nos sistemas de busca. No entanto, ao deslizar a barra de rolagem para baixo, percebe-se uma discrepância qualitativa no texto que se segue, geralmente de autoria do blogueiro. Os poemas, principalmente, são de uma pobreza, de uma falta de originalidade extrema.

GÊNERO OU SUPORTE?

Sou um estudioso dos denominados gêneros digitais. A princípio, o blog foi classificado como um gênero por L. C. Marcuschi, à semelhança de um diário íntimo. Da noite para o dia, todavia, evoluiu muito, hiperonimamente. Penso que desde o início nunca foi gênero, mas um suporte eletrônico para gêneros textuais já consagrados (diário, poema, crônica, notícia, artigo de opinião, charge, anedota, entre outros). Claro, com as novas características do hipertexto que lhes são anexadas. Antes de publicar meu último livro, editei seus textos neste espaço. Na tela do computador ou na folha de papel, a forma de cada poema continuou a mesma, com um pequeno acréscimo no conteúdo de alguns deles pela sobreposição de uma imagem.

terça-feira, 5 de abril de 2011

ACERCA DA CONTRADIÇÃO

A contradição é um dos grandes defeitos de que poucas pessoas conseguem transcender (a partir do autoconhecimento). Sob o viés cristão, ainda muito influente no mundo ocidental, ela é um pecado. "Ninguém pode servir a dois senhores", preceitua o primeiro evangelho. A propósito, essa lei moral não é evidenciada pelos pregadores bíblicos, uma vez que eles mesmos não a vivenciam efetivamente. Os fiéis, então, independentemente da seita católica ou evangélica a que se relacionam, são vivas incoerências entre seus discursos e suas ações. Antes disso, contradizem-se nos próprios discursos. Num momento, defendem suas rezas (orações), suas igrejas (templos), sua fé, seu Deus; em seguida, falam em suas casas, em seus automóveis, em seus negócios, sempre exaltando suas conquistas materiais. A espiritualidade é afrontada pela sensualização, pelo hedonismo. A alma, afrontada pelo culto ao corpo. A moda é um monumento à aparência, denegação da já esquecida "beleza interior" (uma criação dos poetas idealizadores). Homens e mulheres se contradizem no que falam e no que vivem. Discursos versus ações. Por mais avançados em idade, eles não passam de crianças ingênuas, amplamente dominadas pelos instintos, com escasso desenvolvimento da (auto)consciência. Nessas condições, tais pessoas se tornam políticos, médicos, juízes, advogados, militares, padres, pastores, empresários, jornalistas, professores, enfim, alguém com destaque social, ou continuam, via de regra, formando a multidão anônima, terra a terra, que se move feito placa tectônica do senso comum. Diante de um observador inteligente, o ser contraditório é plenamente compreensível, justificável, uma vez que caracteriza como um todo nossa civilização.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

REI PESCADOR

- Sabe a história do rei pescador?
- Não!
- Começa com ele menino. Deve passar a noite na floresta para provar sua coragem e ser rei. Enquanto está só ele tem uma visão sagrada. Do fogo, surge o Santo Graal. Símbolo da graça divina. Uma voz lhe diz para guardar o Graal, a fim de curar o coração dos homens. Mas o menino só pensava numa vida de poder, glória e beleza. E em estado de surpresa total sentiu-se, não como menino, mas invencível, como Deus. Aproximou-se do fogo para pegar o Graal e o Graal sumiu. Ele ficou com as mãos no fogo, queimando-se gravemente. E enquanto ia crescendo a ferida se aprofundava. Até que um dia, a vida perdeu sentido para ele. Não tinha fé em ninguém, nem em si mesmo. Não podia amar ou sentir-se amado. Ficou transtornado com a experiência. Começou a morrer. Certo dia, um tolo entrou no castelo e viu o rei sozinho. Sendo tolo, era ingênuo e não viu um rei. Viu apenas um homem só. E sofrendo. Perguntou-lhe por que sofria. O rei respondeu: Tenho sede, preciso de água para molhar minha garganta. Então o tolo pegou um copo ao lado da cama, encheu de água e deu ao rei. Ao beber, o rei percebeu que sua ferida havia sarado. Olhou para as mãos e viu o Graal que tanto buscara. Virou-se para o tolo e perguntou: Como achou algo que meus homens não conseguiram? O tolo respondeu: Não sei, só sabia que você tinha sede.
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Nos anos noventa, vi o filme O pescador de ilusões, com Robin Williams e Jeff Bridges. Anotei a passagem acima, que achei muito interessante. 

PARTIDA DIVINA

O xadrez é tão interessante que Deus e o Diabo jogaram uma vez. Em certo momento da partida, Deus, com as brancas, anunciou xeque-mate em 7 lances. A posição do jogo era esta:

O Diabo não acreditou (como sempre). Deus fez seu lance: 1. TxC+. (Essa notação significa que Deus tomou o Cavalo preto com a Torre, dando xeque ao Rei.) O Diabo joga forçado: R3B (Rei na terceira casa do Bispo). 2. DxT+, TxD; 3. TxT+, D3D; 4. TxD+, PxT; 5. C7B, P4D; 6. CxP+, P3R; T7R mate. O sinal de + representa o xeque ao Rei. D = Dama; P = Peão. 
Relata-nos Idel Becker, em seu Manual de Xadrez, que "no sétimo lance de Deus, o Diabo soltou um grito desesperado - e sumiu!". 
A posição final (o Rei sem saída) era a seguinte:

As peças brancas e pretas formavam uma cruz no centro do tabuleiro.

TOCAIA (MICROCONTO)

MEA CULPA

Para esta retratação, primeiro expresso um aspecto do meu caráter: a seriedade. Desde menino, vejo-me como um indivíduo muito sério, quase incapaz de me envolver numa pândega qualquer. Não escondo a influência da minha mãe, que era austera e intolerante com os deslizes e licenciosidades. Algumas vezes, diante de uma brincadeira do grupo, acabo provocando mais riso ao não me comportar de acordo com o socializado.
No dia 1º de abril, início da noite, via-me um tanto macambúzio, com pensamentos (auto)depreciativos. Ao publicar isso no blog, não me passou pela cabeça o Dia da Mentira". A princípio, queria apenas reverter a introspecção, apostando no poder catártico das palavras. Editada a penúltima postagem abaixo, ainda não me ocorrera brincar com meus visitantes. Todavia, minha serotonina chegara ao mais baixo nível, a ponto de pensar seriamente em anunciar o fim do blog na última postagem. Como o fiz. 
Ato contínuo, decidi transformar o comunicado numa "pegadinha". Na manhã de sábado, postaria que se tratava de uma brincadeira. Nova e imprevisível crise de gota me impediu de vir ao computador. A dor inclemente não me deu tréguas ao longo do dia, diminuindo na madrugada de domingo, sob o efeito dos analgésicos e anti-inflamatórios.
À medida que passavam as horas, mais difíceis se tornavam as explicações para o meu desmentido. Em consideração aos visitantes que se dignificavam a protestar por e-mail, vivi um impasse ao longo do domingo: ou justificar a brincadeira, como o faço agora, ou não justificá-la, transformando-a num fato consumado (o encerramento do blog).
A seriedade das mensagens recebidas me acusavam indiretamente do morcego que fizera ao intentar um beija-flor. Decididamente, não sei brincar. Caráter apolíneo, tenho dificuldade com o oposto dionisíaco, algo de que se ressente até minha poesia.
Peço desculpa aos leitores que consideraram verdadeira minha decisão de excluir este blog e agradeço-lhes pelas palavras elogiosas.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

FIM DO BLOG

Depois da postagem abaixo, desço para a rua. Apenas para dar uma volta na quadra (a mesma da Matriz), na expectativa de ver as estrelas mais luminosas. Antes de quinze minutos, retorno para casa. Ao abrir a geladeira, vejo o vidro com pera em calda. O doce é uma delícia. 
Ainda meio obnubilado por pensamentos depreciativos, venho ao computador outra vez para anunciar uma amarga decisão: o fim deste blog. 

AD MISERICORDIAM

Hoje senti um cansaço das leituras. Meus olhos andam fazendo água. O físico interfere no psicológico: acabo não vendo vantagem em ler, ler e ler. As últimas postagens já demonstram certo enfado, apesar de compensar a pouca extensão com o máximo de profundidade. Estilo poço. Nesta noite, tentei escrever sobre a Guerra Fria, mas não gostei do texto. No editor do meu blog, acumulam-se os rascunhos. Antes de sair para a URI, a Erilaine me mandou escrever um poema, mas nem isso sou capaz nesta hora. A poesia pegou rumo, por minha culpa. 
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