quinta-feira, 31 de março de 2011

HISTÓRIA ESQUECIDA

A História do Brasil de 1961 a 1964 (anterior a 31 de março) corre o risco do esquecimento, uma vez que nenhum professor se dignifica a incluí-la como contexto necessário do período subsequente. 
Bertold Brecht continua ininteligível:
"Do rio que tudo arrasta se diz que é violento, mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem". 

terça-feira, 29 de março de 2011

ETERNO RETORNO

A flor assegura o eterno retorno do perfume;
o fruto, o eterno retorno da doçura;
a manhã, o eterno retorno dos pássaros;
a vida, o eterno retorno da felicidade.

CRASE

No estudo da crase, que uma vida não é suficiente para concluí-lo, nossos professores de Língua Portuguesa sempre batem na mesma tecla das regras e dos pecados, condicionando a fusão apontada pelo acento grave às palavras subsequentes. 
Eles nos ensinam que devemos trocar o substantivo feminino por um substantivo masculino após o “a”; se, com a troca, a contração “ao” for necessária, então há crase (encontro da preposição “a” e o artigo ou pronome “a”). 
Eles nos ensinam que antes de verbo, por exemplo, não ocorre a crase pela ausência do segundo “a”. 
Todavia, continuamos a indicá-la onde não existe e a ignorá-la onde é obrigatória. 
Eles não nos ensinam o “pulo do gato”, que consiste em mostrar a importância do que vem antes do “a”. 
Os verbos e nomes que exigem um complemento são chamados regentes ou subordinantes. Os verbos transitivos indiretos requerem uma preposição para se ligar ao complemento, ou objeto indireto. Os nomes (substantivos, adjetivos e advérbios) necessitam de um complemento nominal, sempre introduzido por preposição. 
O verbo “obedecer” constitui um exemplo muito conhecido de transitivo indireto: obedecer a. O substantivo “obediência”, o adjetivo “obediente” e o advérbio “obedientemente” também seguem a regência de origem: obediência a, obediente a, obedientemente a. 
A relação de verbos, substantivos, adjetivos e advérbios que necessitam de complemento é imensa, impossível de ser apreendida ou memorizada. 
Dessa forma, ninguém sabe tudo sobre crase (como já ficou subentendido acima). 
Para dirimir as dúvidas que surgem na hora da produção escrita, o mais correto é fazer a consulta de um bom dicionário, que tenha a transitividade do verbo e exemplos de construção frásica (como o grande Houaiss). 
Essa pesquisa metalinguística, diga-se de passagem, não basta.

segunda-feira, 28 de março de 2011

EXAGEROS VERDADEIROS (E FALSOS)

Entre as sentenças publicadas pelo Zero Hora de ontem, destaco esta do jornalista Fábio David Crestani, de Tapera: 
"O Japão vai reconstruir o país inteiro antes de o Brasil terminar seus estádios para a Copa do Mundo de 2014. E por menor valor".
O hipérbole é uma figura de pensamento que, por intermédio do exagero, reforça uma ideia. O autor da frase em tela foi ao âmago de um problema que já vem sendo anunciado: a demora das obras para a Copa, por um lado, e o pessimismo realista que passa a caracterizar o brasileiro de um modo geral, por outro.
Hoje o presidente da Fifa, Joseph Blatter, discursou nesse tom hiperbólico (e verdadeiro), dizendo que o Brasil está mais atrasado que a África do Sul três anos antes do grande evento futebolístico. A Copa é amanhã, e o Brasil pensa que é depois de amanhã. Blatter disse que Rio de Janeiro e São Paulo podem perder a sede dos jogos. 
O exagero ameaçador do dirigente da Fifa descamba para a ingenuidade, para a mentirinha. Nenhum brasileiro imagina uma Copa do Mundo no país fora do eixo Rio - São Paulo. Provavelmente, o Beira-Rio (Porto Alegre) também não esteja em condições. Dessa forma, onde serão realizados os jogos? Em Cuiabá, Manaus, Natal...?
Penso que o Brasil não conseguirá atender às exigências da Fifa, principalmente as que demandam maior orçamento. Por um lado, isso será bom... porque atinge a soberba dessa organização. 

BELA IMAGEM


Uma imagem, diz-se, vale por mil palavras. Essa de Liz Taylor quando jovem, na capa da última Veja, beira o indescritível. Dispensa 999 palavras, para ficar com uma apenas: beleza. A revista quebra a práxis de estampar a realidade, geralmente de suas entranhas mais horrendas, para remeter à arte (do Cinema), ao mito hollywoodiano. Por sua capa, a edição 2210 está salva. 

sábado, 26 de março de 2011

UMA PENA!

Três eventos são enormemente prejudicados com a chuva deste final de semana: Rodeio do Coxilha de Ronda, Abertura da Temporada Hípica da 1ª Brigada de Cavalaria Mecanizada e Olimpíadas Rurais na Vila Florida. Todos eles exigem tão demorada organização que é quase impossível um adiamento em cima do laço (do obstáculo ou da prova). Único consolo: enquanto chove, não faz seca (como ainda diz muita gente no interior). 
Outro evento da mesma importância foi cancelado devido ao mau tempo:  o Aberto de Tênis de Santiago. 

ESTE # ESSE

Ao abrir o Zero Hora deste sábado, leio "Escrevo diante da sala do diretor de Redação da Zero Hora, que nesse momento conversa com o proprietário desta coluna, meu generoso amigo Paulo Sant'Ana". A frase é de Milena Fischer, jornalista que substitui interinamente o velho colunista. Ela deveria grafar "neste momento". Ao visitar determinado blogueiro nesta tarde, leio "essa semana" (querendo se referir à semana presente, a esta semana). 
Para dirimir todas as dúvidas, quanto ao uso dos pronomes demonstrativos, clicar aqui.

sexta-feira, 25 de março de 2011

18º ENCONTRO DA FAMÍLIA MACHADO

Neste sábado, no Grupo Nativista Os Tropeiros. Uma oportunidade de rever parentes e amigos. 

(RE)LANÇAMENTO DE LIVRO

Hoje recebi a visita da Fátima Friedriczewski, poetisa que relança Descaminho neste sábado, às 20 horas, na Casa do Poeta de Santiago. Trouxe-me um exemplar autografado de seu livro de poesia. A propósito, os poemas da Fátima são de uma delicadeza que só confirmam a fonte, essa pessoa bastante evoluída intelectual e afetivamente.
Desejo muita alegria a minha amiga. Não irei ao evento, mas isso não diminui a admiração, o respeito mútuo entre mim e ela.

quinta-feira, 24 de março de 2011

NÃO ENTENDO

Na hora do café, acompanhei pela televisão a matéria sobre a votação no Supremo Tribunal Federal sobre a Lei da Ficha Limpa. Mais uma vez, surpreendo-me com o resultado dos votos, que foi de 6 a 5. Antes do voto do ministro Luiz Fux, não entendo por que o empate. Independentemente da matéria em questão, como pode ela ser tão subjetiva a ponto de dividir um tribunal de primeiríssima instância? Penso que tal subjetividade não pode interferir na lógica do julgamento (mas interfere). Salvo melhor juízo, o placar deveria ser dilatado, para um lado ou para outro. Não entendo por que há o empate (como não entendo a mudança radical de absolvição para condenação, ou vice-versa, que ocorre para um mesmo crime, por exemplo, do assassinato da Irmã Dorothy Stang).
Ruy, Prates... estou equivocado?

quarta-feira, 23 de março de 2011

EVOLUÇÃO PSÍQUICA

A despeito de ter experimentado uma privilegiada transformação física ao longo de milhões de anos, como o desenvolvimento das mãos, a perda dos pelos, o aumento do cérebro etc., o homem necessita acelerar sua evolução psíquica, em busca daquilo que ele se diz caracterizar espiritualmente. Capaz de se transportar da Terra para outros planetas, dentro de uma nave que assombraria há um século, ele continua suscetível de se arrastar pelos instintos e de se lançar violentamente contra seus semelhantes.

ÚNICO E VERDADEIRO

A civilização a que pertencemos, fundada na metafísica judaico-cristã, equivoca-se ao acreditar que seu deus é único e verdadeiro. Nosso deus. (Não afirmo isso como nietzschiano, mas na condição de um pensador livre que alcança um estágio avançado de consciência autocrítica.) Primeiro aspecto do equívoco: ao invés de pensarmos, ainda acreditamos. Toda crença nos remete (inequivocamente) a um tempo pretérito do desenvolvimento humano. Segundo aspecto: a crença num deus superior a todos os deuses de diferentes povos ou civilizações (sobreviventes ou extintos). Brahma, Amon-Ra, Zeus, Odin, Tupã, entre outros, quando comparados com Jeová, o deus bíblico, não passam de mitos, lendas, personagens antropomórficas, deuses menores. Com o beneplácito de nosso deus supremo, invadimos o continente americano para cometer o genocídio de vários povos e civilizações. Mais tarde, escravizamos o continente africano, para, entre outros objetivos, converter os "gentios" ao nosso deus. Muitas guerras terríveis foram feitas apenas para preservar ou recuperar lugares sagrados. A belicosidade está tão impregnada em nós, em nosso espírito cristianizado, que, em certos períodos, lutas internas, fratricidas, ensanguentaram campos e cidade. Motivo: diferença na descrição do mesmo deus, único e verdadeiro.

COMENTÁRIOS E ADMOESTAÇÕES

A postagem abaixo me rendeu admoestações, comentários que insinuam a importância das minhas reflexões anteriores. De repente, provoquei um anacoluto discursivo, estranho para alguns visitantes. Não vejo motivo para tanto. Com bastante frequência, destaco matérias de jornais, revistas, sites... ou cito algum livro. Foi o que fiz no post anterior, sem qualquer julgamento sobre o assunto. A revista Época é das mais lidas no Brasil. O autor da biografia, José Paulo Cavalcanti, que foi secretário-geral do ministério da Justiça no governo Sarney, confessa-se um grande admirador de Fernando Pessoa. Decerto a homossexualidade ainda constitui um tabu (que incomoda muito mais do que pode imaginar nossa indisfarçável hipocrisia). Em respeito aos incomodados, retorno à crítica continuada que faço ao teísmo ocidental.

terça-feira, 22 de março de 2011

PESSOA, HOMOSSEXUAL E VAIDOSO

Soneto Já Antigo


Olha, Daisy: quando eu morrer tu hás de  
dizer aos meus amigos aí de Londres,  
embora não o sintas, que tu escondes  
a grande dor da minha morte.  Irás de
  
Londres p'ra Iorque, onde nasceste (dizes...  
que eu nada que tu digas acredito),  
contar àquele pobre rapazito 
que me deu tantas horas tão felizes, 
  
Embora não o saibas, que morri... 
mesmo ele, a quem eu tanto julguei amar,  
nada se importará... Depois vai dar
  
a notícia a essa estranha Cecily  
que acreditava que eu seria grande...  
Raios partam a vida e quem lá ande
.
Segundo seu mais recente biógrafo, o pernambucano José Paulo Cavalcanti, Fernando Pessoa escondia sua homossexualidade, assumindo-a por intermédio de seu heterônimo Álvaro de Campos. Os versos 7 e 8 do soneto acima revelam poeticamente a inclinação pelo mesmo sexo, corroborada por Antonio Botto, amigo do poeta: "(ele) olhava  de certa maneira para os rapazinhos". Quanto à vaidade, Cavalcante escreve: "Os cobradores viviam na porta da casa dele, mas ele continuava a se vestir no melhor alfaiate". 
(Para saber mais detalhes da personalidade de Fernando Pessoa, ler a revista Época desta semana e o livro de Cavalcanti, Fernando Pessoa, uma quase autobiografia.)

segunda-feira, 21 de março de 2011

O ARGUMENTO

Meu argumento é mais amplo. Ele inclui todos os deuses criados até hoje. Sem "viajar" com a imaginação (apenas com conhecimento de História), pergunto aos visitantes quem era Tupã para os povos que viviam nestas terras antes da chegada dos portugueses. Um deus verdadeiro. Quem era Odin para os povos nórdicos? Para não ficar no passado, pergunto quem é Brahma para os hinduístas. O que os cristãos pensam de Brahma? Não aceito a resposta de que são diferente representações para o mesmo deus. Todos sabemos que a Bíblia é exclusivista: o único deus verdadeiro é Jeová, (simplesmente) Deus. Por que a nossa civilização estaria certa, ao contrário das demais? Isso é etnocentrismo absoluto, noutras palavras, preconceito, soberba. Por incapacidade de distanciamento, de superação do que Francis Bacon chamou de ídolos, cremos que o nosso deus é verdadeiro, e o deus dos outros (povos, civilizações que desapareceram) não o eram. Tupã, Odin, Zeus, Amon-Ra, entre tantos, não passavam de mitos, embora por milênios e milênios esses deuses figurassem como verdadeiros para aqueles que acreditavam neles.   

SANTIAGO - KARNAK - SANTIAGO

Convido os visitantes a uma viagem no tempo pretérito. (Na falta de uma máquina, dispomos da imaginação para isso, cuja potência é infinita.) Com um pequeno esforço, incontinenti, encontramo-nos em Karnak, Egito, há 3.000 anos. 
Lá chegados, assumimos a condição de egípcios, em todas as acepções que a designação implica em termos civilizatórios. Do grupo, coloco-me como voluntário para defender publicamente que Amon-Ra não existe.
O que vocês acham que aconteceria comigo? Por muito menos, um filósofo foi morto por envenenamento em Atenas, Grécia (601 anos mais tarde). NUma civilização muito mais livre.
Amon-Ra não existe!
Entre um mero artífice e o deus supremo dos egípcios, não há dúvida de quem seria condenado à execução. 
Com o advento de uma nova civilização (cujas origens remontam à Grécia e a Judá), Amon-Ra deixa de existir definitivamente, como deus dos egípcios, não passando de uma figura mítica.
Já retornados de Karnak, em Santiago, repito o discurso da inexistência  agora do deus judaico-cristão. Sim, o deus judaico-cristão é, para a nossa civilização, o equivalente a Amon-Ra para os egípcios de 3.000 anos atrás.
Num futuro...  quando outra civilização... 
(Não gosto de usar reticências, mas aqui elas são necessárias como um recurso de grande eloquência. Esse é um dos argumentos que uso para convencer sobre a inexistência de um deus pessoal, como o mitificado pelos judaísmo/ cristianismo. Não há apoio de qualquer um dos pensadores que leio (entre os quais Voltaire, Nietzsche, Russel, Clément Rosset e Richard Dawkins). Esta postagem, portanto, constitui o registro de autoria.)


NÃO TENHO RAZÃO?

Leio num site noticioso:
"Um polêmico pastor evangélico americano queimou um exemplar do Alcorão na noite de domingo em uma igreja de Gainesville, Flórida. O partor Terry Jones programou um 'julgamento' dentro de sua igreja, no qual o livro sagrado muçulmano foi declarado 'culpado' de várias acusações, entre elas assassinato. Em seguida a pena foi executada: o exemplar foi queimado".
Transcrevo essa notícia por uma razão pessoal: interesso-me pelas guerras religiosas. Antes de ser ateu, sou convictamente agnóstico, contra qualquer forma de religião, contra a necessidade do homo religiosus. Toda religião não passa de uma "organização" (segundo Krishnamurti). Uma organização terrena, enfatizo, cujo principal objetivo é criar um deus, via de regra, à semelhança do homem.
Um dos meus prazeres (inconfessáveis) é de provocar a discussão entre indivíduos de religiões diferentes. Jamais chegam à síntese, numa demonstração explícita do fundamentalismo (para não dizer fanatismo) que alimenta o espírito de quem diz "eu creio".
O pastor Terry Jones (esse "jones" me faz lembrar de outro fanático: Jim) deveria ser colocado face to face com um soldado xiita, capaz de se transformar em "homem-bomba" pela vitória do Islã. O evangélico, se não fosse covarde, queimaria mais um exemplar na presença de seu antagonista. Este, em contrapartida, volatizaria o pastor e mais um grupo de pessoas que estivesse em volta com uma explosão.
O que será desses fiéis representantes, o que será de suas religiões num futuro não muito distante, quando ficar certo que não existe(m) o(s) deus(es) por elas professado(s)?

domingo, 20 de março de 2011

ESCRITORES DO DIA / ESCRITORES DA NOITE

Roland Barthes dedica algumas páginas de seu A preparação do romance para escrever sobre o horário de trabalho dos grandes escritores. 
"Todos os que conhecem um pouco "a lenda dos escritores (suas biografias com seus traços memoráveis) sabem que há escritores do Dia (e sobretudo da manhã) / escritores da Noite.
"Escritores da manhã: o mais puro é Valéry; 5 horas da manhã, café, abajur, todas as manhãs durante a vida toda. 
"Escritores da Noite: os mais notáveis - Flaubert (em parte, porque ele escrevia noite e dia). Rimbaud [...] em carta a Ernest Delahaye, descreve muito bem a 'poiética' do trabalho noturno: 'Agora, é à noite que trabalho. De meia-noite às cinco horas da manhã. [...] todos os passarinhos gritam ao mesmo tempo nas árvores: acabou. Não trabalho mais. [...] Às cinco horas, descia para comprar algum pão; é a hora. Os operários estão a caminho por toda parte. Para mim, é a hora de tomar um pileque nas vendas de vinho. Voltava para almoçar, e me deitava às sete da manhã, quando o sol fazia os tatuzinhos saírem de baixo das telhas'.
"Kafka, sua alegria por ter escrito O veredicto de uma assentada, das dez da noite às seis da manhã.
"Proust: tão conhecido que não insistirei; inversão completa do dia e da noite. [...] quando ele ia ao Ritz, às duas da madrugada, pedia a Olivier 'um café bem forte, um café que valha por dois'. Proust acreditava que, à noite, suas crises de asma eram menos frequentes.
"Trabalhar à noite? Claro, boas razões práticas (silêncio, calma, ausência de interrupções).
"Kafka só podia trabalhar se tivesse, à sua frente, uma continuidade, portanto à noite, no mais completo isolamento. [...] Balzac, que não podia trabalhar se não dispusesse de pelo menos três horas à sua frente."
Barthes confessa ser um escritor da manhã, nunca da noite. 
No livro Cheiro de goiaba - Conversas com Plinio Apuleyo Mendonça, García Márquez responde que só trabalha de manhã, "das nove às três da tarde". 

sábado, 19 de março de 2011

LUA CHEIA



Do centro da cidade não vejo a linha do horizonte. Sou frustrado por não contemplar o Sol e a Lua em seus melhores momentos, respectivamente na primeira hora do dia e da noite. A estrela ofusca meus olhos com uma luminosidade intensa ao longo de sua parábola, voltando a apresentar outro espetáculo ao se pôr a oeste, realçando as nuvens com um debrum dourado. O plenilúnio, todavia,  me encanta noite adentro, alta madrugada. (Engraçado, a Lua não se põe, desaparece.) Neste instante, por exemplo, a janela deste apartamento se encontra luarizada pela maior proximidade do satélite da Terra.  

CICLO MISANTRÓPICO

Conheci Santiago aos 13 anos. Nascera e me criara no interior, Rincão dos Machado (entre a fazenda dos Marchiori e o Mato da Erva). Nessa localidade, era muito difícil encontrar alguém nas estradas que  cortavam os campos do vô Fermino. Sob um cinamomo, de vez em quando, o pai levantava a mão para cumprimentar um conhecido que cruzava além da cerca, a duzentos metros. Foi grande meu espanto com a quantidade de gente que vi na cidade que até há pouco chamavam de Povinho. Uma verdadeira multidão andando nas ruas, dezenas de milhares. Alguns anos mais tarde, me mudei de mochila para Porto Alegre (onde cursei um ano de Belas Artes). Novo choque. O número de gente era mil vezes maior, passando de um milhão. Boquiaberto, me atontava em plena Rua da Praia. Três anos depois, passando por São Paulo, fui morar no Rio de Janeiro. Pessoas às dezenas de milhões. Difícil para o interiorano aqui aguentar um ano, preso a uma metrópole. Imaginava como seria na Cidade de México, Tóquio, Pequim, Nova Iorque... Então me dava conta que há muita gente no mundo, acima de seis bilhões. Por nove anos, residi em Curitiba. Cidade sorriso até os anos oitenta, antes de congestionar de gente. A Rua das Flores, em certos momentos, parecia uma Loja Americana em liquidação. No Pantanal Mato-Grossense, voltei aos braços da mãe Natureza. Forte de Coimbra, Vila das Cobras, seria agradável não fosse o calor e o mosquitada. Doze anos depois de ter saído pela segunda vez, retorno para Santiago. Nos fins de semana, pego minha mochila e me vou ao Rincão dos Machado. Gosto de lá, onde as manhãs são feitas de pássaros, e as noites, de estrelas. 

sexta-feira, 18 de março de 2011

SUPERESTIMAÇÃO

Há algumas postagens abaixo, escrevi um contraponto à superestimação da classe médica por parte do senso comum. Entre outras coisas, acusei de ser patente a incompetência e (o que é pior) a falta de ética profissional que caracterizam não poucos "doutores" do jaleco branco. Obviamente (não consigo outro advérbio melhor), há bons médicos aos milhões, conhecedores da ciência e humanitários. Na Santa Casa,  por exemplo, eles andam em fila nos corredores. Não estou conjecturando, a prova do que falo está viva em minha memória ou sentida em meu próprio corpo. Faz cinco anos que minha mãe faleceu de leucemia. No momento em que a doença se manifestou, dois médicos se destacaram em Santiago, um negativamente (diagnosticando que ela esperasse a próxima semana para uma melhor avaliação), outro positivamente (encaminhando-a sem demora a Porto Alegre para consultar com um hematologista). Isso não significa que o percentual de médicos ruins (nos sentidos já declinados acima), seja de cinquenta por cento. Certamente, é bem menor, o suficiente para manchar a reputação dessa classe tão necessária. Ao procurar um médico, ninguém sabe se ele é bom ou ruim. Não é uma dúvida que possa afligir o doente ou seus responsáveis. Todavia, nestes tempos de degeneração moral, duvidar não é demais (embora isso possa comprometer a cura, sem a fé no médico, sem o efeito placebo do que ele prescreve). 
(Numa próxima postagem, relato meu problema com a artrite gotosa, com as absurdas contradições entre os médicos até agora consultados. Não citarei nomes.) 

FESTIVAL DE CELULARES


Ontem, no ônibus das 17:30 h, vindo de Santa Maria, chamou-me a atenção os celulares que tocavam as mais diferentes musiquinhas. Não bastasse o toque, iluminavam aqui e ali feito cibernéticos vaga-lumes. Conversa que não acabava mais. A senhora do lado esquerdo deve ter falado com a filha uma meia hora (por baixo). Outra à retaguarda dialogava com quem logo logo se encontraria: "Espera só eu chegar em casa!".  Qual o motivo para falar tanto? Simplesmente, amenidades. Cada um tem a liberdade de gravar a música mais ridícula em seu telefone, falar tantas vezes que lhe der na telha, o tempo que lhe aprouver, grudar-se afetivamente aos seus, ou até mesmo brigar com eles. Todo mundo é livre para tais coisas, mas sem ser piegas. Sempre pensei (e disse) que falar mais que três minutos no telefone, salvo raras exceções, constitui uma prova de descontrole, desnecessidade, alienação que acaba enriquecendo as empresas de telefonia.  

quinta-feira, 17 de março de 2011

BOOMERANG IMPREVISÍVEL

Não querendo ser exagerado (e já sendo), arrisco dizer que a sobrenatureza, o artifício tecnológico, ao mesmo tempo que alça o homem a alturas inimagináveis torna-o cada vez mais e mais fragilizado. O vazamento nos reatores nucleares no Japão, resultado do recente terremoto, prova esse aparente paradoxo. Hoje o dilema das autoridades mundiais é saber qual distância alcançam as radiações. Os japoneses defendem que é de 30 km; os americanos, que é de 80 km. O desastre é inegável, cuja responsabilidade não pode ser atribuída inteiramente aos "inimigos" naturais. Desde o princípio do desenvolvimento nuclear, o mundo sabe que essa tecnologia é uma faca de dois gumes (sem cabo), um boomerang imprevisível, qualquer coisa que possa representar bem e mal.

quarta-feira, 16 de março de 2011

FRAGILIDADE HUMANA

Terremotos e tsunamis têm causado bastante estrago aos humanos, com muitas mortes. Outras espécies não sofrem tanto com a manifestação desses fenômenos naturais. Em algumas praias e ilhas, é quase certo que animais de grande porte (da classe dos mamíferos) morram por afogamento, arrastados entre as pedras. A despeito da inteligência, do espírito, do artifício empregado etc., o homem continua sendo, paradoxalmente, o mais vulnerável, o mais frágil.

terça-feira, 15 de março de 2011

HAPPY HOUR NA WIZARD


Neste final de tarde, estive na Wizard para um encontro especial. A Naíse é uma pessoa muito simpática e competente. A função de relações públicas é importante dentro de qualquer instituição. A escola ganha com uma maior inserção na sociedade. Wizard - show de organização.  

A CABANA (II)

Há três meses, o livro A cabana, de William Young, mantém-se como o mais vendido no Brasil (segundo publicação da Veja). Raríssimas vezes, li algum título incluso na relação tripartite da revista: ficção, não-ficção e autoajuda. O motivo é óbvio: os campeões de venda, via de regra,  são literariamente ruins. A única justificativa para essa aparente contradição é o grande público consumidor, constituído pelo senso comum, homem-massa, alienado esteticamente (que lê por entretenimento, para administrar o ócio, por uma crença espiritualista etc.). Dediquei um dia e meio à leitura de A cabana, apenas para expressar, com conhecimento de causa, esta crítica depreciativa. Aquém da boa literatura, como os  livros escritos por Paulo Coelho, a obra é uma paráfrase bíblica pelo seu conteúdo. A história é apenas um meio de demonstrar a necessidade de obediência a Deus e do perdão incondicional aos outros e a si mesmo (como condição para superar o sentimento de culpa, a má consciência). Neste aspecto, o livro melhor se classificaria como de autoajuda. Deus-Pai é personificado numa mulher negra, “enorme e sorridente”, chamada de Papai; o Espírito Santo, personificado numa mulher chinesa, chamada de Sarayu; e Jesus, humanizado outra vez bas feições de um homem do Oriente Médio. Cito tais personagens por entender que o autor desfere um golpe contra o antropomorfismo* europeu, masculino e branco. Em vista da formação religiosa de Young, duvido que ele tenha tido esse propósito. Com a personificação da divina trindade cristã, distante dos cânones da civilização ocidental, salvo melhor juízo, Young pretendeu destacar a relevância da espiritualidade, sempre condicionada ao mundo físico, terreno.
* Tendência de se atribuir a(os) deus(es) características humanas.

segunda-feira, 14 de março de 2011

DIFÍCIL APRENDIZAGEM

Um filósofo deve ter escrito (ou o faço agora por minha conta) que o indivíduo humano aprende  que o fogo queima se queimando, do contrário, seu conhecimento é incompleto, apenas teórico. O sofrimento na experiência de se queimar imprime inapagavelmente na memória do aprendiz o saber que lhe será útil para toda a vida.

domingo, 13 de março de 2011

EIXO DA TERRA


Cassal Brum, companheiro de blogosfera, questiona sobre um possível deslocamento do eixo da Terra* com o último terremoto acontecido no Japão. O Zero Hora de hoje publica que, segundo o Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia, sediado na Índia, houve um deslocamento de 10 centímetros. Li na internet que o terremoto que atingiu o Chile em 2010, segundo os cientistas da NASA, teria encurtado a duração do dia em 1,26 microssegundo (um microssegundo é a milésima parte do segundo), em consequência da mudança no eixo da Terra, cerca de 8 centímetros. 
Como leitores leigos no assunto, temos duas opções: confiar nesses cientistas (pessoas também suscetíveis de serem atingidas pelo sensacionalismo que caracteriza um modo de existência baseado no parecer); ou ignorá-los completamente. Nenhuma dessas opções é a mais inteligente (leigo sim, acrítico não).
Nosso interesse deve estar voltado para as consequências naturais de tais deslocamentos. Os dias realmente ficaram mais curtos? O clima foi alterado? A Lua "ganhou terreno"? (A Lua se afasta continuamente da Terra.)  Penso que qualquer mudança ainda não representa um verdadeiro perigo para a sobrevivência da nossa espécie, ou humanidade (como preferem os românticos). 
* O eixo da Terra é uma linha imaginária que atravessa o globo, unindo os dois polos geográficos, em torno do qual gira o planeta. 

sábado, 12 de março de 2011

COMENTÁRIOS DIVERSOS

As cadeias de montanha (a Cordilheira dos Andes, por exemplo)  são consequência do choque entre as placas tectônicas. Rebarbas geológicas que se elevam acima da superfície continental. Elas constituem pontos mais vulneráveis à pressão interna do planeta. Em contrapartida, também sofrem a pressão externa exercida pela força gravitacional. Muitos vulcões ocorrerão mais frequentemente nessas regiões, muitos terremotos também, num jogo de forças naturais que tende a assentar o relevo saliente. No futuro, não será inteligente construir cidade sobre as terras altas. Todo o alicerce não passa de uma fina crosta ligeiramente endurecida, flutuando sobre o visgo. 
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Nesta linda tarde de sábado, com nuvens e bem-te-vis a atravessarem o azul que transcende o acúmulo de cimento das construções terra a terra, não era minha intenção continuar com um assunto tão denso. Também não vou discorrer sobre a catástrofe no Japão, à maneira desses telejornais (que aumentam a audiência com o apelo sensacionalista). 
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Há alguns anos leio Theodor Adorno. Penso que ele é o melhor filósofo da chamada Escola de Frankfurt. Adorno é autor de um contraponto memorável sobre o otimismo de Walter Benjamin quanto à "dessacralização" da obra de arte possibilitada pela reprodução técnica. 
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Alto! Outra vez: assunto denso.
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Do Zero Hora de hoje, destaco o quê? (De traz para frente.) O Paulo Santana mais uma vez se manifestando contra a realização da Copa do Mundo no Brasil. Fora de foco: a copa já está marcada para se realizar no Brasil. Mal ou bem (e aposto que será mal, não em decorrência do meu pessimismo). No caderno de Cultura, o professor Cláudio Moreno escreve sobre vocábulos que mudaram de significado ou o ampliaram, como "temporão" e "literalmente". No caderno Vida, uma ampla reportagem sobre o poder do pessimismo e do otimismo. Títulos dos editoriais e artigos de opinião: Reação às catástrofes; A crise do Estado; Novo governo, velhas práticas; O Papa e a Copa de 2014; Tentações da terceira idade. Oito páginas destinadas ao tsunami no Japão.
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Da blogosfera, destaco a desistência do Rafael Nemitz  de não mais atualizar seu blog. O argumento ad misericordiam que usou para confessar sua intenção é compreensível, perdoável. Depois de criar um dos blogs mais acessados em Santiago, não seria inteligente de sua parte inteligente ceder a "forças ocultas". Basta ser menos opinativo, mais noticioso. 
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Desejo uma boa noite e um domingo dourado a todos os visitantes.  

VIÉS ESPECISTA

Antes de o homem tomar consciência de si mesmo, de se colocar como apoteose de uma criação divina, as grandes manifestações naturais (vulcanismo, glaciações...) não provocavam catástrofes, simplesmente porque não havia se desenvolvido esse especismo humano. Clãs, tribos, povos inteiros eram dizimados sem que tal fosse considerado uma "vingança" da Natureza, um mal sequer atribuído a forças de outros mundos. Nosso ancestral sobrevivente continuava instintivamente agarrado à vida, o bem maior. O desenvolvimento da consciência transformou-o num ser dual, fechado em relação aos instintos básicos (como sempre fora antes) e aberto em relação ao mundo do artifício, da cultura (que se descortinou como uma antinatureza). Deslocamentos e choques entre as placas tectônicas, terremotos e tsunamis continuarão a ocorrer, independentemente da existência do homem, portanto, para muito além da existência do homem (que não mais viverá para registrar essas catástrofes). 

sexta-feira, 11 de março de 2011

BRAGA E TSUNAMI

Ao ver as imagens nos sites e nos telejornais do tsunami que atingiu o Japão, lembrei de uma crônica de Rubem Braga (que lera há muitos anos). Para fazer esta postagem, fui obrigado a encontrar o tal texto. Não consegui por intermédio do Google, uma vez que não sabia o título e as palavras-chave que digitava me levavam a outras crônicos desse cronista proficiente. Antes de ir à feira, passei pela biblioteca pública e, num lance de muita sorte, fui direto ao Volume 2 de Para gostar de ler, onde encontrei A outra noite (que transcrevo abaixo): 
Outro dia fui a São Paulo e resolvi voltar à noite, uma noite de vento sul e chuva, tanto lá como aqui. Quando vinha para casa de táxi, encontrei um amigo e o trouxe até Copacabana; e contei a ele que lá em cima, além das nuvens, estava um luar lindo, de Lua cheia; e que as nuvens feias que cobriam a cidade eram, vistas de cima, enluaradas, colchões de sonho, alvas, uma paisagem irreal.
Depois que o meu amigo desceu do carro, o chofer aproveitou um sinal fechado para voltar-se para mim:
- O senhor vai desculpar, eu estava aqui a ouvir sua conversa. Mas, tem mesmo luar lá em cima?
Confirmei: sim, acima da nossa noite preta e enlamaçada e torpe havia uma outra - pura, perfeita e linda.
- Mas, que coisa...
Ele chegou a pôr a cabeça fora do carro para olhar o céu fechado de chuva. Depois continuou guiando mais lentamente. Não sei se sonhava em ser aviador ou pensava em outra coisa.
- Ora, sim senhor...
E, quando saltei e paguei a corrida, ele me disse um "boa noite" e um "muito obrigado ao senhor" tão sinceros, tão veementes, como se eu lhe tivesse feito um presente de rei. 
Mas o que tem a ver a crônica acima com o tsunami? 
Quando via aquelas imagens de destruição, pensei que este mundo, feito de coisas boas e ruins, deixa de existir de um ponto qualquer do espaço, fora da atmosfera terrestre. Por um momento, me imaginei tão ignorante quanto o chofer que acabou sendo imortalizado por Rubem Braga. Ao invés de um táxi, uma nave interestelar. Ao invés de um terráqueo, um alienígena. Caso eu não fizesse ideia de que abaixo da camada azulada que envolve o planeta há um mundo de seres vivos que se debatem para sobreviver, certamente ficaria surpreso se outro tripulante mais inteligente me falasse desse mundo. Claro, eu poderia estar na pele desse tripulante, não do outro. 
De uma perspectiva extraterrestre, tudo o que acontece aqui, inclusive as piores catástrofes naturais, não existe. Na melhor das hipóteses, o que existe não passa de um sistema limitado a um espaço e tempo exíguos. 

A CABANA

Li A cabana em dia e meio, enquanto descansava de A preparação do romance, de Roland Barthes. Autoajuda bíblica. O livro está aquém da grande literatura. Chama a atenção a forma como William Young representa Deus-Pai, chamado de Papai: uma negra gorda e sorridente. Como discípulo de Xenófanes, achei oportuno esse golpe no antropomorfismo masculino e ariano, de origem europeia. 

quinta-feira, 10 de março de 2011

???

Na esteira de uma academia o usuário anda-anda-anda, corre-corre-corre por meia hora, uma hora, hora e meia. Depois sai, entra em seu automóvel estacionado em frente e retorna para casa (distante dali algumas quadras).

SANTIAGO (NAUD) E SANTIAGO

Agradeço ao Júlio Prates pela lembrança do meu nome para patronear a próxima feira do livro de Santiago. Sem falsa modéstia, penso que há outros nomes melhores capacitados, incluindo o do próprio Prates. O santiaguense José Santiago Naud, hoje residente na Capital Federal, também seria uma ótima indicação. Esse grande poeta foi, em 2008, anfitrião de uma das sessões magnas da I Bienal Internacional de Poesia de Brasília. A escolha de Santiago Naud seria uma forma de reconhecimento da Terra dos Poetas a um de seus filhos mais ilustres. Outro nome de peso é Neltair Abreu, o Santiago. 

quarta-feira, 9 de março de 2011

DEPOIS DO CARNAVAL?

O visitante do meu blog está no direito de estranhar o título das postagens abaixo. Numa quarta-feira de cinzas em que excede o número de mortos durante o carnaval? Falar em alegria numa hora destas não parece ser um tema oportuno. Por isso, a frase que coloca esse estado sempre desejável como um contraponto.  

ALEGRIA, DOÇURA...

De repente, a alegria é o contraponto. A doçura, idem. Dessa forma, peço para entenderem minha postagem anterior. Espero que tenham gostado. Não fui original, uma vez que vi (e ouvi) postagem semelhante no blog da Erilaine. 
Já vivi uma experiência semelhante a que o Júlio Prates vive hoje, cuja exultação quase não encontra palavras à altura. Em suas postagens intimistas, em que não falta uma foto da Nina, o Júlio tem feito um registro inédito (pelo menos no âmbito eletrônico) da felicidade que é ser pai. Esse acontecimento forçou-lhe a mostrar a face da ternura, contraponto da outra face sempre endurecida pelo embate discursivo. Seu blog ganhou em qualidade, não apenas justificada pelo número de acesso, mas pela doçura, pelo amor a Nina. 
Apesar das nossas divergências ideológicas (diminuídas agora com certas análises que o Júlio tem feito do establisment político estadual, federal e internacional), respeito-o como um dos nossos maiores intelectuais. Pouco compreendido numa Santiago que não se caracteriza por uma  intelectualidade mais apurada pela leitura. 
Ainda não tive oportunidade de lhe agradecer pela defesa que fez deste blogueiro perante certos difamadores. Este post não cumpre esse objetivo, edito-o pelo motivo sincero de ter pensado na Nina ao escolher a imagem da menina abaixo.

ALEGRIA


Música, por favor. (Clicar aqui.) 

terça-feira, 8 de março de 2011

MAIS VENDIDO

Desde que passei a assinar a Veja, o livro mais vendidos é A cabana, de William Young, ocupando o topo de uma relação tripartite: ficção, não ficção e autoajuda/ esoterismo. Mais de uma vez, pensei em fazer uma crítica no sentido de dissociar o fenômeno da vendagem das qualidades literárias do livro. Não poderia fazê-lo sem a leitura atenta desse romance. Acusar sem provas? Neca! Há pouco, comecei a ler A cabana. Amanhã ou depois, farei um comentário aqui, com conhecimento de causa.  

DIA DA MULHER?

Quem presta homenagem às mulheres? Formalmente, os homens. A princípio, tal homenagem evidenciava uma abissal desigualdade. Ao  longo do século XX, pontes foram lançadas entre os gêneros, em grande parte pela iniciativa corajosa do chamado "sexo frágil". Nas últimas décadas, as pontes já são obsoletas, uma vez que o abismo está quase terraplenado. Persiste a parcimônia, digo, a sovinice dos prestadores de homenagem: apenas um dia. Muito fácil para quem se sente dono do ano todo. Por isso, não reivindicam uma data para eles. Não necessitam. As mulheres não necessitam também. A igualdade é que deve ser festejada, não um passado de jugo e sofrimento. 

segunda-feira, 7 de março de 2011

CARNAVAL É CIRCO

Carnaval é circo: o folião é saltimbanco e plateia ao mesmo tempo. 

USO DO DEMONSTRATIVO

Antecipadamente, solicito aos leitores desta postagem que não me considerem impertinente, chato, porque volto à velha gramática. Por favor, minha intenção é das melhores, trazendo à baila a norma do escrever bem. 
Neste momento, em decorrência dos sucessivos erros cometidos em nossa blogosfera, discorro sobre o correto emprego do pronome demonstrativo.
O quadro abaixo é esclarecedor:

PESSOA
SITUAÇÃO
NO ESPAÇO
SITUAÇÃO
NO TEMPO
PRONOMES
VARIÁVEIS
PRONOMES
INVARIÁVEIS
primeira
proximidade da pessoa
que fala
presente
este, esta
estes, estas
isto
segunda
proximidade da pessoa com quem se fala ou coisa
pouco distante
passado
ou futuro
próximo
esse, essa
esses, essas
isso
terceira
proximidade da pessoa de quem se fala ou coisa muito distante
passado
remoto
aquele, aquela
aqueles, aquelas
aquilo

Numa referência à semana em que estamos vivendo, portanto, à semana presente, o correto é escrever esta semanaEssa semana é a que já passou (lembrando que a semana começa no domingo). Analogamente, essa noite é a noite que já passou; esta noite é a noite em que estamos ou que virá. Essa foto está acima ou à esquerda do texto escrito; esta foto está abaixo ou à direita. Esta foto é a foto que está mais próximo de quem fala; essa foto é a foto que está mais próximo da pessoa com quem se fala; aquela foto é a foto que está distante das duas pessoas. Istoisso e aquilo se referem a algo não determinado, segue a lógica de esteesse aquele
Algumas outras palavras podem desempenhar o papel de pronomes demonstrativos; é o caso de o, a, os, as, tal, semelhante, próprio, mesmo
(O quadro acima foi extraído da Gramática Contemporânea da Língua Portuguesa, de José de Nicola / Ulisses Infante.)  

domingo, 6 de março de 2011

BOM RETIRO


A Festa do Bom Retiro se realizou neste domingo (o primeiro de março). Tempo e lugar para reencontros. Pessoas da família, amigos e conhecidos. Mesmo não sendo um período pré-eleitoral, alguns políticos compareceram, não justificando a queixa popular de que eles desaparecem depois de eleitos. Lá estavam o deputado José Francisco Gorski (Chicão), o prefeito Júlio Ruivo, os vereadores Pelé, Bianchini, Bassin, Gavioli e Arlindo Alves. O Cap R1 Dionei Sarturi diz que foi à festa porque soube dela lendo meu blog. Agradeço-lhe pela interação. Outros vieram me parabenizar pela coluna no Expresso Ilustrado. Levei uns dez exemplares do jornal para distribuir a pessoas que julguei mais merecedoras. Muita carne (a propósito, em Bom Retiro fica a maior churrasqueira do município de Santiago (quiçá da região). Muito doce (a propósito, 21 mil doces secos foram vendidos apenas pela manhã). Já fui um consumidor guloso por doce, hoje me basta o açúcar que tem no café, no suco e no refrigerante. Felizmente, não tenho problema com a doçura. A propósito... Um dos problemas dessas festas grandes é que os melhores assados são escolhidos no dia anterior (geralmente, por encomenda) ou nas primeiras horas da manhã, restando poucas opções para quem chega mais tarde. O risoto da primeira panela costuma ser mais gostoso, servido para os mais pacientes (os apressados), que se postam numa longa fila muito antes de ficar pronto. Ainda não há árvore suficiente para dar sombra a todos (menos mal que a temperatura estava agradável). Graças à colaboração do vereador Bianchini,  novas árvores (entre elas, o jambolão) deverão aumentar a área de sombra para os anos vindouros. Elas devem transcender as piores geadas, caso contrário... Festa tranquila, sem briga e sem brigadiano (não obstante). Bom Retiro merece sua denominação toponímica. 
(Foto emprestada do blog  Está morto quem não peleia, do Miguel Bianchini.)     

sábado, 5 de março de 2011

LUIZ DE MIRANDA

Zero Hora traz uma pequena matéria sobre a (auto)candidatura do poeta gaúcho Luiz de Miranda à Academia Brasileira de Letras (cadeira nº 31, que fora ocupada por Moacyr Scliar). Até o momento, Miranda junta-se a Antônio Torres, autor de Um Táxi para Viena d'Áustria, e Merval Pereira, jornalista de O Globo. Qualquer um pode se candidatar à vaga, cabendo à ABL a escolha do novo imortal entre os inscritos. Um dos maiores poetas brasileiros vivos, Ferreira Gullar, continua fora da Academia, que tem José Ribamar Sarney, Ivo Pitanguy, entre outros menos merecedores. Com a morte de Scliar, Carlos Nejar é o único gaúcho ocupando uma cadeira atualmente.  Há uma campanha de escritores gaúchos para Luiz Antônio de Assis Brasil. Nosso melhor romancista.
Para ser sincero, não gosto da poesia de Luiz de Miranda, prosaica, discursiva. Sua obra é a mais extensa do mundo (coisa de Guinness). Na página do Almanaque Gaúcho (ZH) de hoje, o poema publicado é do candidato: Canto para Juarez. Bem sem-gracinha.  

sexta-feira, 4 de março de 2011

POESIA

a arte
não é uma arte
de parecer
que o ser
é 
o (di)verso
o revés
o avesso
de uma  forma 
                       prosaica 
.
a arte
é a arte
do ser
e de como dizer
que é
o (di)verso
o revés
o avesso
de uma forma 
                      poética

quinta-feira, 3 de março de 2011

LER E ESCREVER

Roland Barthes, em seu A preparação do romance, escreve isto: "Minha vida é, de certo modo, consagrada ao escrever, estou constantemente preocupado com ter tempo e forças para fazê-lo; preocupado = desejoso e culpado, se não consigo fazê-lo. Ora, tenho frequentemente este sentimento monstruoso (esquizoide): vendo, à minha volta, outros seres, muitos dos quais meus amigos (que, por profissão, teriam tempo para escrever), vagar, entretanto, em ocupações, lazeres, em suma, passar o tempo, e muito bem, sem escrever, sem pensar nisso, ou ainda não terem ainda posto o escrever em sua pertinência de vida, eu fico mais do que espantado: perplexo; não compreendo como eles podem passar o tempo, para qual tempo eles podem se voltar ".
Há muito me é recorrente um pensamento análogo ao do escritor francês no que diz respeito à leitura. Num momento de autocrítica, pergunto-me pela vantagem de ter lido tanto e de continuar lendo, quando não me beneficio dela (se é que existe) diante de meus semelhantes que não leem desde que foram alfabetizados. Quantas horas, dias, meses e anos da minha vida debruçados sobre os livros! 
Não entro em parafuso com a autocrítica, a ponto de "dar um tempo" na relação bibliófila. Logo racionalizo (a razão é minha tábua): a leitura sustenta minha escrita. Ler não me faz diferente dos outros, mas escrever me faz. Por isso continuo um leitor incansável, a ponto de sentir um orgulho (como o confessado por J. L. Borges). 
Em página anterior, Barthes responde a Por que escrevo?: "Poderia ser, entre outras coisas, por dever: por exemplo, para servir a uma causa, uma finalidade social, moral, instruir, edificar, militar ou distrair. Essas razões não são negligenciáveis; mas eu as vivo um pouco como justificativas, álibis, na medida em que elas fazem com que o escrever dependa de uma demanda social, ou moral. [...] Só posso dizer que o desejo de escrever tem um ponto de partida, que posso localizar. Esse ponto de partida é o prazer, o sentimento de alegria, de júbilo, de satisfação, que me dá a leitura de certos textos, escritos por outros. Escrevo porque li".

quarta-feira, 2 de março de 2011

FESTA DE MARÇO

Afora o aniversário do vovô e os casamentos de suas sete filhas, só um acontecimento movimentava o demorado calendário do Rincão dos Machado: a Festa do Bom Retiro. O Ano-Novo constituía-se apenas num alerta de que o primeiro domingo de março estava mais próximo. Nesse grande dia, subíamos o Capão Bonito de calça, camisa e sapatos novos. A emoção de ir à festa mal cabia no peito, engendrada ao longo de uma espera interminável. Todos vivíamos a mesma alegria, desde os que passavam a se conhecer por gente ao vô Fermino. Este se aprontava ao vir do sol e buzinava sua caminhoneta, impaciente com a demora da patroa. Antes das nove, chegávamos à igreja de Nossa Senhora do Monte Bérico, já circundada por centenas de pessoas. Os Machado, os Boff, os Sampaio, os Gavioli, os Catelan, os Alpes, os Carlosso, os Damian, famílias de diferentes rincões ali se reencontravam depois de um ano.  Os toques do sino e os fogos que explodiam no céu chamavam os mais arredios para a festa religiosa (pelo menos na hora da missa). A Mesa dos Cavalinhos era uma atração à parte, cujas apostas tinham a organização do "seu" Negro. Os pequenos trazíamos o dinheiro exato para a soda laranja e o doce, os grandes comiam muita carne e risoto ao meio-dia e bebiam cerveja toda a tarde. Antes da construção do clube, a festa se constituía na única oportunidade de começar um namoro (ou de terminar outro). O dia acabava pequeno para isso, em razão do vacilo ou da timidez. À exceção dos cavalinhos, da soda laranja, do namoro acanhado e das pessoas que marcaram nossas vidas (entre as quais minha mãe, vô Fermino, vó Dorilda), a festa do Bom Retiro continua sendo um acontecimento no primeiro domingo de março. 

NOVO CONTRAPONTO

"... juro cumprir, segundo meu poder e minha razão, a promessa que se segue: estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens; ter seus filhos por meus próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, sem remuneração e nem compromisso escrito..."
(Excerto do Juramento de Hipócrates, atualizado pela Declaração de Genebra.)

A medicina é, desde a Antiguidade, uma das profissões mais admiradas, mais respeitadas e mais valorizadas pela humanidade. O médico, com o grande desenvolvimento técnico-farmacológico dos últimos séculos, passou a realizar "milagres", sendo visto quase como um semideus. 
Na história santiaguense, por exemplo, não são poucos os nomes que se destacaram pelo trabalho de grande relevo social, não limitado à saúde (entre os quais, Aureliano de Figueiredo Pinto e Rubem Lang).
Profissão e profissionais, quando submetidos ao escantilhão da ética, sempre foram considerados fiéis observadores do juramento de Hipócrates. De segunda-feira a sábado, ouvindo o Jornal Falado da Rádio Santiago,  são feitos agradecimentos a este ou àquele médico que atendeu pessoas internadas no Hospital de Caridade (?), independentemente se houve recuperação da saúde ou óbito.
Poucos acreditariam, todavia, caso disséssemos que Santiago já foi notícia em âmbito nacional nos anos setenta. Alguns de nossos médicos formaram uma quadrilha para extorquir o INPS. 
Com a ubiquidade dos meios de comunicação, nestes dias, acompanhamos as barbaridades cometidas pelos hipócritas juramentados de Hipócrates. A crise ética e moral por que passa nossa sociedade, nosso país, não exclui os profissionais da medicina, cujo jaleco branco nem sempre reflete o caráter imaculado, mas disfarça um criminoso da mais alta periculosidade (como é o caso de Roger Abdelmassih). 
Todos sabemos ou calculamos o quanto ganha um jogador de futebol, um juiz, um deputado, um bancário, um general, um gerente de loja etc., uma vez que consta no contrato ou no contracheque. Na autonomia é diferente, conquanto o cidadão tenha que declarar todos os seus proventos no Imposto de Renda (IR). Em princípio. 
Aqui, numa região de economia primária, sabemos que ele ganha muito, pelos palacetes que constroem na cidade, pelas fazendas que tem no interior.  Se a saúde das pessoas é um bem maior, aqueles que são autorizados a preservá-lo sabem perfeitamente como transformar tal exclusividade num bem econômico. 
Interessante observar que a crise ética e moral (acima referida), não raro, constitui uma condição para o sucesso profissional. Este sucesso, com a mesma frequência, não depende da constante especialização e, por conseguinte, da competência de quem o alcança. 
O crédito que usufrui o médico junto ao senso comum, da mesma natureza do mito, no entanto, funciona como uma redoma contra a exposição de seus erros, geralmente atribuídos à instituição hospitalar a que ele está vinculado (ou aos planos de saúde usurpados por uns e outros). 
Não bastasse o apoio popular, tal credibilidade é corroborada pela lei, que delega poderes absolutos ao denominado (quase metafisicamente) de "doutor".