terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

VOCABULÁRIO ORTOGRÁFICO

Por diversas vezes, falei que o emprego do hífen era o "calcanhar de Aquiles" do último Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. No Brasil, mormente. Em Portugal, há vulnerabilidades maiores, como a eliminação do c, com valor de oclusiva velar, das sequências interiores ct, por exemplo. Os portugueses deixariam de pronunciar (o que mais grave) e de grafar acto, porque o acordo assim o normatiza. 
Hoje recebi o "aquiles", digo, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. Com o arco retesado, aponto uma flecha para a palavra "dia-a-dia". Coloco-a entre aspas, uma vez que constitui o pivô da discussão que provoco nesta postagem. O VOLP traz "dia a dia", substantivo masculino. No Aurélio (não  disponho do Houaiss pós-acordo), a grafia é "dia-a-dia", substantivo masculino.
Antes do Acordo Ortográfico, "dia a dia" tinha a função de advérbio, equivalente a "dia após dia", "diariamente", "cotidianamente" etc. Exemplo: "O trânsito em todas as cidades piora dia a dia". Não perdeu essa função. Dessa forma não pode ser classificado como substantivo, por é advérbio.  "Dia-a-dia", por sua vez, exercia a função de sujeito, equivalente a "cotidiano". Exemplo: "O dia-a-dia de todas as cidades é uma luta facilmente observada no trânsito". 
O VOLP, ao grafar "dia a dia sm", não se refere a "dia a dia" com função de advérbio. Falha ao não fazer tal referência. O Minidicionário Aurélio traz "dia-a-dia sm", com hífen, juntando os dois significado: "a sucessão dos dias" e "o viver cotidiano". Por isso, falha também.
Nas demais palavras compostas, tipo s+p+s (substantivos repetidos com uma preposição no meio), o VOLP grafa sem hífen. Exemplos: corpo a corpo, terra a terra... Tais palavras não têm uma homográfica com significado distinto, como é o caso de "dia a dia". O contexto frasal basta para justificar a extinção do hífen? 
Pronto, lancei a flecha. 

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