quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

MAIS LIVROS


Mais dois livros para enriquecer de conhecimento minha biblioteca (para não dizer a mim): Romance das origens, origens do romance, de Marthe Robert; e A preparação do romance, de Roland Barthes. 
"A fortuna histórica do romance deve-se evidentemente aos privilégios exorbitantes que a literatura e a realidade lhe concederam ambas com a mesma generosidade. Da literatura, o romance faz rigorosamente o que quer: nada o impede de utilizar para seus próprios fins a descrição, a narração, o drama, o ensaio, o comentário, o monólogo, o discurso; nem de ser a seu bel-prazer, sucessiva ou simultaneamente, fábula, história, apólogo, idílio, crônica, conto, epopeia; nenhuma prescrição, nenhuma proibição vem limitá-lo na escolha de um tema, um cenário, um tempo, um espaço; nada em absoluto o obriga a observar o único interdito ao qual se submete em geral, o que determina sua vocação prosaica: ele pode, se julgar necessário, conter poemas ou simplesmente ser 'poético'. Quanto ao mundo real com que mantém relações mais estreitas que qualquer outra forma de arte, permite-se-lhe pintá-lo fielmente, deformá-lo, conservar ou falsear suas proporções e cores, julgá-lo; pode até mesmo tomar a palavra em seu nome e pretender mudar a vida exclusivamente pela evocação que faz dela no seio de seu mundo fictício. Se fizer questão, é livre para se sentir responsável por seu julgamento ou sua descrição, mas nada o obriga a isso: nem a literatura nem a vida pedem-lhe contas da forma como explora seus bens."
(Excerto de Romance das origens, origens do romance.)
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"Origem e ponto de partida - Por que escrevo? - Poderia ser, entre outras coisas, por dever: por exemplo, para servir a uma Causa, uma finalidade social, moral, instruir, edificar, militar ou distrair. Essas razões não são negligenciáveis; mas eu as vivo um pouco como justificativas, álibis, na medida em que elas fazem com que o Escrever dependa de uma demanda social, ou moral (exterior). Ora, tanto quanto me permite minha lucidez, sei que escrevo para contentar um desejo (no sentido forte): o Desejo de Escrever - Não posso dizer que o Desejo é a origem do Escrever, pois não me é dado conhecer inteiramente meu Desejo e esgotar sua determinação: um Desejo sempre pode ser o substituto de outro,e não compete a mim, sujeito cego, mergulhado no imaginário, explicar meu Desejo até seu dado original; só posso dizer que o Desejo de escrever tem um ponto de partida, que posso localizar."
(Excerto  de A preparação do romance.)

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