quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

JUREMIR, OUTRA VEZ

                          MEDIDAS IRANIANAS
Estou começando a simpatizar com o Irã. A turma do Ahmadinejad resolveu proibir unha comprida. Fez muito bem. Eu detesto unha comprida, especialmente aquela do dedo minguinho de cobrador de ônibus. Proibiu também piercing na língua e joia nos dentes. Agiu bem. No Brasil, está cada vez mais perigoso beijar. Pode-se engolir uma bolinha de metal. Tenho um amigo que quebrou um dente dessa maneira. Homem de cabelo tingido também não pode. Que alívio. É insuportável ver tanto marmanjo moreno de cabelo louro ou azul espetado. Sobrou até para as tatuagens. Bela medida. É uma grandeza o que tem de gente exibindo enormes tatuagens bregas por aí. Tatuagem de dragão deveria ser proibida no mundo inteiro, como atentado à estética global. Transformar braço em tela de serigrafia também.

Só não gostei da decisão do Irã de censurar os livros do Paulo Coelho. Compreendo que, depois de 6 milhões de exemplares vendidos, fosse necessário tomar alguma medida para evitar que a poluição continuasse a se espalhar. Entendo que o presidente iraniano lamente não ter sido avisado por seu amigo Lula da ruindade das obras. Admito que para um iraniano culto deve ser insuportável ver histórias exuberantes da antiga Pérsia transformadas em mensagens de autoajuda barata. Percebo que para o Irã os livros de Paulo Coelho poderiam converter-se num problema tão sério quanto os dejetos nucleares, que ninguém sabe onde colocar com segurança, restando tentar comprar espaço nalgum lixão do Terceiro Mundo. Vejo que o Irã quer evitar uma metástase. A proliferação de livros de Paulo Coelho deveria ser tratada no mundo todo como questão de segurança nacional, internacional, global, como um vírus sem fronteiras.

Alerto que de nada adianta proibir Paulo Coelho como medida profilática se não proibir também Dan Brown e, especialmente, Harry Potter, o grande formador de leitores de Paulo Coelho e Dan Brown, e toda essa parafernália sobre vampiros, lobisomens e Ronaldinho Gaúcho. Enfim, dito tudo isso, reafirmo minha oposição à censura. Ainda mais que ela só beneficiará o falso mago, que já está se vendo como um Salman Rushdie retardatário ou um Michel Houellebecq sem ironia, um perseguido pelo obscurantismo islâmico. A decisão dos aiatolados produzirá certamente um efeito perverso, nefasto, incontrolável: a disseminação radical de obras de Paulo Coelho como objetos proibidos, o que sempre aguça o desejo e dá legitimidade ao censurado. Paulo Coelho está rindo sozinho. É o melhor marketing do mundo. Gratuito.

Tomara que o Irã tome outras medidas de bom gosto. Por exemplo, proibir, sob pena de prisão imediata, sem direito à fiança nem progressão de regime, o uso por homens de rabo de cavalo. Sei que escapa da alçada iraniana, mas seria interessante proibir jogador de futebol de usar cabelo moicano e correntão de ouro. O Irã poderia ser a última barreira ao mau gosto ocidental. Será, porém, garoto-propaganda do esoterismo brasileiro.
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(Coluna do Juremir Machado da Silva de hoje, 12 de janeiro de 2011.)
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Indiretamente, já fiz propaganda para Paulo Coelho e Harry Potter em Santiago.

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