domingo, 26 de dezembro de 2010

HISTÓRIAS DO CEMITÉRIO DE BOM RETIRO


Os cemitérios continuam a gerar histórias de assombro, de humor, de vida e de morte. No Bom Retiro, interior do município, algumas são contadas pelo espirituoso zelador do cemitério dessa localidade. Ele é muito convincente, uma vez que se coloca como principal ator das histórias que narra. Numa vistoria dos túmulos, Ademar encontrou caída a tampa de uma sepultura. Imediatamente, pegou o celular e ligou para a família do (há muitos anos) falecido: “Alô! Alô! Seu Fulano não apareceu por aí? O que faço: espero ele voltar ou fecho agora?” Numa tarde de agosto, quando capinava em volta dos sepulcros, notou a presença de dois meninos. Fingindo não percebê-los, puxou um cigarro, suspirou profundamente e conversou com sua voz grave: “Izidro, me empresta o fogo!”. Os pequenos ganharam o portão numa desabalada carreira. Noutra tarde, uma família visitava os parentes fotografados em sépia. Conta o Ade que se escondeu (com o propósito de pregar uma peça). Um dos visitantes ousou se despedir do sepultado: “Tchau, compadre Sicrano!”. Ele esperou que o grupo se virasse em direção à saída e, com a mesma voz grave, arrematou de entre os túmulos: “Tchau, compadre Neno!”. História mais antiga conta meu pai. Nos anos cinquenta, durante a construção do cercado da área atrás da igreja para a destinação dos mortos, um dos participantes do mutirão perguntou quem seria o primeiro a entrar ali na horizontal. Em tom de pilhéria, responderam que seria o mais velho dos presentes, conhecido por Turco. Na noite subsequente ao trabalho realizado, o mesmo senhor que fizera a pergunta veio a sofrer um infarto fulminante. Não era dos mais velhos, mas teve o triste privilégio de inaugurar o cemitério de Bom Retiro.  

Nenhum comentário: