sexta-feira, 12 de novembro de 2010

DOZE E MEIA

.....O toque de mensagem no celular interrompe o devaneio que levava Guilherme a lugar nenhum. Antes de tirar o aparelho da mochila, o sino da matriz vem sobressaltá-lo de novo. Distraído da realidade, sua cabeça readquire as noções básicas da vigília mais ou menos consciente, como as de tempo e de espaço. Ele sabe que é meio-dia, que volta para casa.
.....No display, lê o recado
.....:(/=(/ :/
.....Isadora está decepcionada com suas evasivas. Para complicar ainda mais, alguém gritou na saída da sala “O Guilherme é gay”. Tudo porque ele se esquivara de um beijo.
.....Tropeça na calçada irregular. Merda!
.....Ao poucos, passa-lhe o dedão. Não o estômago. Logo chegará em casa. A mãe anda muito brava com ele. Certamente, espera-o com um discurso antes do almoço. Outra vez de exame. Já fora reprovado no ano anterior. Odeia a professora de Matemática.
.....Isadora o despreza agora.
.....Na esquina, um acidente faz o chamariz de pessoas. Uma camioneta colide com uma moto, cujo condutor recebe o primeiro atendimento. Seu pescoço sangra sobre os paralelepípedos. Guilherme tem uma rápida visão do acidente. Há algo mais sério acontecendo dentro dele.
.....A mãe vê o filho atravessar o portão, passar a soleira da porta e pegar o corredor em silêncio. Prometeu a si mesma não perder o controle, ser menos dura.
.....O corredor é escuro. Guilherme se dirige ao quarto de casal. Abre o guarda-roupa atrás de uma caixa. O pai a mantém sob as blusas dobradas. Encontra-a no fundo. Não há pressa, tampouco medo em seus passos. Como se devaneasse outra vez. Entra em seu quarto no exato momento em que o pai acelera o carro na rampa da garagem.
.....O almoço está pronto. O homem ocupa seu lugar na ponta da mesa. Pergunta por Guilherme. Ele se encontra no quarto ou no banheiro, responde-lhe a mulher.
.....O relógio de parede marca doze e quinze.
.....A mãe chama da cozinha: Guilherme?!
.....Um grande estampido sacode a casa, revirando suas entranhas (violentamente). 

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