sábado, 30 de outubro de 2010

PRESIDENTE - PRESIDENTA

A língua portuguesa teve origem no latim vulgar, falado pelos romanos na Península Ibérica (desde 219 a.C.). Esse latim era bem diferente do falado ou escrito pelos grandes oradores ou poetas de Roma, entre os quais destacam-se Cícero e Ovídio. Na evolução posterior da "última flor do Lácio" é que os estudiosos passaram a tomar o latim clássico como referência etimológica, o que nunca impediu a inserção de outras línguas (no Brasil, as faladas pelos índios, pelos negros e pelos imigrantes).
O parágrafo acima infere dois aspectos interessantes: a língua é imutável, fixa, sujeita a regras que a normatizam e é dinâmica, flexível, sujeita a mudanças. A escrita segue o padrão e a fala inova. Quando a inovação é aceita pela maioria dos falantes, começa a ser aceita também pelos escritores e gramáticos. Exemplo perfeito é o feminino de presidente: presidenta.
Há pouco tempo, presidente era considerado particípio presente (ou ativo) do verbo presidir. Não formava o feminino com a desinência a. Isso era inconcebível. Do particípio ativo passou a constituir um substantivo de dois gêneros. O artigo determina o masculino e o feminino: presidente, a presidente.                                                                                                          
O povo começou a falar presidenta e os grandes dicionaristas já incluem a novidade no universo léxico da nossa língua. O Grande Houaiss (para citar o mais volumoso dicionário brasileiro) registra o seguinte: presidenta s.f. 1 mulher que se elege para a presidência de um país (a p. da Alemanha) 2 mulher que exerce o cargo de presidente de uma instituição (a p. do Centro Cultural) 3. Mulher que preside algo (a p. da sessão do congresso) 4 p. us. mulher do presidente.                                                                                                                                      
Diz-se que a língua é machista, e é. A definição 2 acima o prova.                                         
Dessa forma, somos testemunhas de uma evolução que não trai a origem popular, vulgarizada ou enriquecida com a participação dos falantes. A sociolinguística contribui enormemente na rápida oficialização dessas inserções, para o dissabor dos gramáticos mais conservadores.
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O João Lemes, ao defender uma escrita mais coloquial possível para o Expresso Ilustrado, de maior alcance popular, está certíssimo em determinar que seus redatores grafem presidenta, chefa, generala...  
Obviamente, por uma questão de estilo até, a opção por a presidente ou a presidenta continuará sendo facultativa.                                                                                                            

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