terça-feira, 8 de junho de 2010

A CERTOS CRÍTICOS

Algumas pessoas, intentando criticar meu racionalismo, citam Sócrates. Aliás, citam a única frase que sabem dele (transcrita por Platão a primeira vez): "Só sei que nada sei".
Antes de desferir um golpe contundente contra o argumento desses ignaros, lembro que Sócrates era extremamente irônico e jocoso. Há outra frase dele, mais séria, que meus críticos deveriam analisar, descobrir seu teor enigmático: "Oh, Críton, devo um galo a Asclépio".
Essas foram suas últimas palavras sob o efeito da cicuta (uma morte que ele aceitou racionalmente).
Ao citar Sócrates como argumento de autoridade, tais pessoas são risíveis. Sócrates, o grande moralizador, submeteu a vida à razão, substituindo o instinto (que Nietzsche associava ao espírito criativo dos gregos) pelo daimon, o elemento racional de sua filosofia. Anterior a Sócrates, a vida dos gregos era justificada pela existência dos deuses (criados a partir de um anseio pela existência). Os gregos eram apaixonados pela vida, a despeito de um estado de tensão permanente entre a paixão e a racionalidade (Dionísio versus Apolo). Sócrates nega toda a grandeza da cultura grega da Antiguidade com o culto à razão, com a qual quis julgar o valor da vida.
Isso é uma coisa muito difícil de compreender. O julgamento da vida, a partir da condenação dos sentidos, como fizeram Platão e o Cristianismo mais tarde, deu origem à moral que comanda nossa civilização.
Meus críticos tomam a frase de Sócrates como uma apologia à humildade, uma humildade que eles não fingiriam ter se soubessem um pouquinho mais.

Um comentário:

Anônimo disse...

Não há nada de irônico da frase de Sócrates. Porém, concordo que ela esteja longe de ser uma apologia à humildade, pois mesmo sabendo pouco - ou nada (em relação ao objeto a ser conhecido, que não pode ser vislumbrado apenas com os sentidos), ele sabia que se encontrava num patamar muito acima dos seus companheiros gregos.