quarta-feira, 3 de março de 2010

TRADIÇÃO VERSUS UNIVERSALISMO

O Rio Grande do Sul vive o entrechoque de culturas diametralmente opostas. Uma das razões é a sobre-exaltação do passado gaúcho (cuja singularidade não encontraria igual noutros estados ou regiões do país). A figura compósita homem–cavalo, por exemplo, mesmo forçada a se desfazer ante o processo crescente de urbanização, mantém-se como representante orgulhosa de um modus vivendi exclusivamente rural. Em todas as expressões, a começar pela linguagem, distinguem-se a raiz fincada no campo e o fruto sazonado no meio urbano. A diferença cultural, gritante entre gerações, persiste de uma forma minimizada e, algumas vezes, contraditória, entre indivíduos co-geracionais. Há casos em que o próprio indivíduo vive a contradição. Um fazendeiro conhecido mesclava costumes sem problema: parava rodeio de camioneta na fazenda e desfilava em belos tordilhos nas avenidas da capital. A propósito, foi numa Porto Alegre universalizada que se instituiu o tradicionalismo, antes da vinda dos agregados e peões empobrecidos no interior. O movimento estabeleceu uma série de padrões comportamentais que reavivassem a herança social deixada pelos nossos antepassados. Todavia, os dois eventos de maior prestígio entre os tradicionalistas nestes dias, o rodeio e a cavalgada, são muito recentes. Nada mais universal do que andar a cavalo, e laçar por esporte teve origem muito distante do pampa. A tradição, sem evitar a modernidade, finca pé em valores (ultra)passados, alguns fantasiosos. Exige status de cultura com uma disposição pronta para a briga. À guerra!

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