quarta-feira, 3 de março de 2010

MANOEL DE BARROS

Hoje de manhã (re)li Manoel de Barros: Poemas rupestres. O poeta é surpreendente em cada verso que escreve, diz o que a gente jamais imaginaria que dissesse. Seu discurso é marcado pela ruptura de campos semânticos. Lição de poesia. Os neófitos deveriam ler Manoel de Barros.
Primeiro poema do livro:
.
Por viver muitos anos dentro do mato
moda ave
o menino pegou um olhar de pássaro -
contraiu visão fontana.
Por forma que ele enxergava as coisas
por igual
como os pássaros enxergam.
As coisas todas inominadas.
Água não era ainda a palavra água.
Pedra não era ainda a palavra pedra.
E tal.
As palavras eram livres de gramáticas e
podiam ficar em qualquer posição.
Por forma que o menino podia inaugurar.
Podia dar às pedras costumes de flor.
Podia dar ao canto formato de sol.
E, se quisesse caber em uma abelha, era
só abrir a palavra abelha e entrar dentro
dela.
Como se fosse infância da língua.

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