terça-feira, 1 de setembro de 2009

LÓGICA DO PIOR

Hoje recebi o e-mail abaixo:
Bom dia, não sei se por sorte ou coincidência, encontrei um dos seus textos aqui na internet e percebi que vc é um estudioso de filosofia, ou melhor, estuda filósofos como Nietzsche, Clément Rosset, entre outros. Pois bem, eu, Erick Max Humberto que resido atualmente em Brusque, Santa Catarina, curso faculdade de filosofia na Faculdade São Luizt, estou desenvolvento um trabalho sobre Clément Rosset e venho por meio deste pedir alguma orientaçao ou ajuda. Posso parecer um pouco ousado, mas já viu estudante tem que correr atrás.
Desde já agradeço.
Atenciosamente
Academico Erick Max Humberto
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É a segunda vez que me escreve.
De Porto, Portugal, Thiago Sales me pediu para enviar-lhe Lógica do pior, de Rosset, uma vez que lá se tratava de um livro raro.
Li outros livros de Rosset: O real e seu duplo, Princípio de crueldade e Antinatureza. Em breve, procurarei ler tudo o que já foi publicado em português desse que é o maior nietzscheano vivo.
No Capítulo I, Do terrorrismo em filosofia, o pensador pergunta sobre a possibilidade de uma "filosofia" trágica. Sete páginas adiante, responde que sim. O livro Lógica do pior é essa resposta afirmativa.
O texto começa assim:
A história da filosofia ocidental abre-se por uma constatação de luto: a desaparição das noções de acaso, de desordem, de caos. Disso é testemunha a palavra de Anaxágora: "No começo era o caos; depois vem a inteligência, que arruma tudo". [...] Todos aqueles para os quais a expressão "tarefa filosófica" tem um sentido - quer dizer, quase todos os filósofos - concordarão com efeito em pensar que essa tarefa tem por objeto próprio a revelação de uma certa ordem. [...] O exercício da filosofia recobre uma tarefa séria e tranquilizadora: um ato simultaneamente construtor e salvador. [...] Opostamente e à margem dessa filosofia, houve, de quando em quando, pensadores que se determinaram uma tarefa exatamente inversa. Filósofos trágicos, cujo alvo era dissolver a ordem aparente para reencontrar o caos enterrado por Anaxágoras; por outro lado, dissipar a ideia de toda felicidade virtual para afirmar a desgraça. [...] A filosofia torna-se assim um ato destruidor e catastrófico. [...] Assim apareceram sucessivamente no horizonte da cultura ocidental pensadores como os Sofistas, como Lucrécio, Montaigne, Pascal ou Nietzsche - e outros. Pensadores terroristas e lógicos do pior. [...] O que há de comum aos Sofistas, a Lucrécio, a Pascal e a Nietzsche, é que o discurso segundo o pior é reconhecido de saída como o discurso necessário.
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Clément Rosset distingue os filósofos trágicos dos pessimistas, como Schopenhauer: "O pessimista fala após ter visto; o terrorista trágico fala para dizer a impossibilidade de ver".

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