quarta-feira, 30 de setembro de 2009

QUARTA-FEIRA

Depois de alguns dias sofridos, com gripe e gota, volto a colocar sapato e respirar aliviado. Para o ano que vem, prometo a mim mesmo tomar todas as vacinas disponíveis e atacar com vitamina C. Difícil será eliminar o salame do café. A colchicina resolve depois de três ou quatro dias, mas seu efeito colateral é terrível.
De repente, a quarta-feira cresceu em minha agenda minguada de eventos (em decorrência dos problemas de saúde). Sou solicitado a revisar uma dissertação de mestrado (159 páginas), preciso adiantar minha coluna para o jornal, comparecer ao lançamento do livro Balaio de Causos, de Odilon Abreu, apanhar as provas no Expresso Ilustrado para revisão, passar no Mercado Camelo e, por fim, fazer esta postagem.
A sala do Centro Cultural lotou para o lançamento do livro. A família Rebés Abreu estava presente, pessoas agradáveis. A mesa foi composta pela esposa do autor (falecido há pouco), Santiago (irmão de Odilon e ilustrador do livro), Denise Flório Cardoso, Davi Vernier e Dr. Disconzi. A solenidade foi simples, as falas objetivas. O Davi gostou de uma citação que fiz de Nietzsche (leitura atual da professora Ayda Bochi).
A propósito, o autor da dissertação supracitada também gosta de Nietzsche, citando-o no início de seu trabalho:
"Não poríamos a mão no fogo pelas nossas opiniões: não temos assim tanta certeza delas. Mas talvez nos deixemos queimar para podermos ter e mudar as nossas opiniões".
BOA NOITE!

terça-feira, 29 de setembro de 2009

BALAIO DE CAUSOS

Há uma década venho colaborando com o Centro Cultural de Santiago, mais precisamente no Departamento de Literatura. Em 1998, criamos o Concurso Aureliano de Poesia. Entre os ganhadores de edições passadas, lembro-me de Larí Franceschetto (Veranópolis-RS) e de Odemir Tex Jr. (Santa Maria-RS). Excelentes poetas. Minha ideia sempre foi de oferecer um prêmio em dinheiro, mas isso é impossível para o Centro Cultural. Nos últimos anos, vários livros foram lançados sob a coordenação protocolar do Departamento de Literatura. Amanhã, será a vez de Balaio de Causos, de Odilon Abreu (como já postei abaixo). Fiquei de fazer uma apreciação crítica do livro, que será apresentado pelo diretor do Departamento de Memória, meu amigo Valdir Pinto. Para isso, li e reli Balaio de Causos. Pouco antes de fazer esta postagem, escrevi o que se segue:
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Balaio de Causos vem a público muito bem apadrinhado por Fausto Domingues, Aparício Silva Rillo, Marques Leonam e Renato Dalto, gente iluminada que escreve acerca dessa produção de Odilon Abreu.

A obra é semioticamente enriquecida pelo traço inconfundível do Santiago, cuja genialidade criativa já é do conhecimento do outro lado do planeta, onde clareia o dia quando aqui anoitece. Sob esse aspecto semiótico, o ilustrador constitui-se em co-autor do livro.

Odilon Abreu é original no gênero tão conhecido dos gaúchos criados à volta do fogo de chão, ouvindo estórias e histórias. O autor insere a biografia da própria família no contexto literário (e vice-versa), uma prova irrefutável de que a arte é vida (e a vida melhor se justifica como fenômeno estético).

Afora os dois contos escolhidos por Rillo como dignos de figurarem em qualquer antologia que se preze, O Cabo Chibano e Más valiente do que feo, outros merecem destaque, seja pela linguagem que faz lembrar o estilo simoniano; seja pelos elementos da narrativa (como o fato em si, o ambiente, as personagens...); seja pelo desfecho que surpreende pelo humor “superdosado” (no dizer do poeta e professor Marques Leonam).

Alguns finais são extraordinários:

Do narrador-menino, o próprio autor, vendo o piloto tirar gasolina de seu Teco-Teco: “Mãe, sangraram o bicho lá no rodeio”.

Do Miro, que, depois de muito chinear na cidade, resolveu se casar. Depois da primeira noite com a esposa, levantou-se ainda com sono e lascou uma pergunta: “Quanto le devo, dona Joana?”.

Balaio de Causos se soma a outras publicações tão escassas no gênero, que, antes do rádio e da televisão, era muito popular, contado e recontado pelos nossos pais, tios, avôs... Uma vez que a tradição oral parece ter chegado ao fim, o registro escrito das histórias contadas e recontadas se reveste de tamanha importância.

ESTE LIVRO É UM PANEGÍRICO À MEMÓRIA.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

FALECIMENTO

Nessa tarde cinzenta e fria, no 19º GAC, recebemos a notícia do falecimento de José Gilvam Flôr. A causa mortis: acidente de trânsito. Por volta das 14 horas de hoje, vindo de São Borja, seu automóvel saiu da BR 287, numa curva em Nhu-Porã.
O 1º Ten Gilvam há pouco se transferira para a Reserva, depois de 30 anos de efetivo serviço. Oriundo da Brigada Paraquedista (RJ), veio para Santiago no início dos anos noventa. Na Artilharia, desempenhou várias funções militares e desportivas (como atleta de voleibol e de tiro de pistola). Trabalhamos juntos por muitos anos no Seção de Manutenção do GAC.
A notícia de sua morte nos abalou bastante.

LANÇAMENTO DE LIVRO

O livro Balaio de Causos - contos & patacas, de Odilon Abreu, será lançado dia 30 de setembro (quarta-feira), às 19 horas, no Centro Cultural de Santiago. O autor, recentemente falecido, manifestara a vontade de fazer esse lançamento na Terra dos Poetas. A obra é apadrinhada por Fausto J.L. Domingues (orelha), Aparício Silva Rillo (prefácio), Marques Leonam (prefácio poético) e Renato Dalto (posfácio e contracapa). As ilustrações são do irmão do autor, Neltair Abreu, o Santiago. O cartunista virá para o evento, trazendo suas obras na mala de garupa.

sábado, 26 de setembro de 2009

OS MELHORES DO ANO

Nesta noite, o Clube União abrigará um evento de primeira magnitude em nossa cidade. Os Melhores do Ano já faz parte da agenda santiaguense, cuja realização surpreende positivamente seus partícipes. O prestígio é assegurado pelos empresários, profissionais liberais, líderes políticos e comunitários em destaque e pelos artistas reconhecidos em âmbito nacional. Hoje teremos o show de Ivo Pessoa. Antecipadamente, felicito os organizadores da festa, principalmente Sandra Siqueira, jovem empreendedora que muito justifica o título de cidadã da Terra dos Poetas.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

EXPOSIÇÃO NA USINA







Exposição da artista visual Magna Sperb na Usina do Gasômetro. Gostei da leitura dicotômica do título: (des)encontros.

ABRIL DESPEDAÇADO

O romance Abril despedaçado, de Ismail Kadaré, tem 201 páginas. Há pouco, suspendi a leitura na página 90. Transcrevo o texto da contracapa:
É o mês de abril de algum ano da década de 1930. O cenário são os montes Malditos do norte da Albânia. Ali o século XX se manifesta apenas pela passagem esporádica de um avião. Sob os cumes nevados há um reino de bruma, um universo medieval que deita raízes em tempos homéricos.
Um código de leis não escritas, o Kanun, rege a vida e a morte dos montaneses. Seu valor supremo é a honra. Em nome dela, famílias inteiras passam gerações a se matar - a "recuperar o sangue" em rituais infindáveis de vingança. O Kanun é implacável: determina quem matará e quem será morto, especifica minuciosamente quando, onde e como.
À sombra dessa "Constituição da morte", Ismail Kadaré recorta a silhueta trágica de suas personagens e as acompanha até a fronteira da loucura.
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O livro foi adaptado para o cinema brasileiro. O filme homônimo é dirigido por Walter e Salles e tem Rodrigo Santoro no papel principal.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

ADORNO, AO ACASO

No fragmento 28, da Primeira Parte de Minima Moralia, Theodor Adorno escreve:
Paysage. - O que falta à paisagem americana não é tanto, como gostaria uma ilusão romântica, ausência de reminiscências históricas, e sim o fato de que nela a mão do homem não tenha deixado pistas. Isso se refere não somente à falta de campos cultivados, às matas não desbravadas, geralmente densas e não muito altas, mas sobretudo às estradas. Estas irrompem subitamente em meio à paisagem, e quanto mais planas e largas elas são, tão mais desprovidas de qualquer relação e com mais violência destaca-se sua pavimentação cintilante em face da vegetação demasiado selvagem do meio ambiente. Elas são desprovidas de expressão. Como não possuem faixas para pedestres ou ciclistas, nenhum caminho para passeios às suas margens - à maneira de uma transição para a vegetação -, nenhuma trilha lateral que conduza pelo vale adentro, elas carecem da qualidade suave, tranquilizante, não-angulosa, das coisas feitas à mão ou pelos instrumentos imediatos desta. É como se alguém jamais tivesse acariciado essa paisagem. Ela é desolada e desoladora. A isso corresponde a maneira de percebê-la. Pois o que o olhar apressado viu apenas de dentro do automóvel não pode ser retido e, como lhe fazem falta os traços, assim também desaparece sem deixar traços.

GRANDES POETAS

Na contracapa do livro Os adeuses, de Paulo Hecker Filho, lê-se o seguinte:
"Eu só tenho dois poetas prediletos no Rio Grande. Paulo Hecker Filho e... eu."
O autor dessa declaração é Mário Quintana. Convencidos, Hecker e Quintana? Não. O grandes poetas não se acham. Devemos perdoá-los pela autenticidade.

WILLIAM BLAKE

"A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê."
Convido meus silenciosos visitantes para comentarem a frase (enunciado) acima.

CARTA RECEBIDA

Em dezembro passado, conheci José Ilton Pinheiro Jornada no escritório do Dr. Valdir Pinto. Professor de Química na Universidade do Rio de Janeiro, disse-me que gostava muito de Literatura. Não sei por que motivo, falamos no romance Abril despedaçado, de Ismail Kadaré. O professor Ilton me prometeu enviar o livro quando retornasse para casa. No mês seguinte, mandei-lhe meu Ponteiros de palavra pelo correio. Qual minha surpresa nesta quinta-feira? Recebi o livro dentro de um envelope pardo, acompanhado de uma carta (forma de comunicação cativante, ainda não ultrapassada com o advento dos gêneros digitais).
Rio, 17 de setembro de 2009
Caro Froilam
Peço desculpas pela demora. Adquiri o livro em fevereiro, mas o tempo foi passando e as tarefas e o ritmo de uma cidade grande me afastaram do compromisso de enviá-lo como devia.
Transmita minhas saudações aos amigos, especualmente ao Dr. Valdir Pinto.
Grato pelo livro.
Boa leitura.
Um grande abraço e até dezembro.
.........................Ilton Jornada

CASADAMÃE


ZELA O BRASIL

POR ZE

............LAYA


quarta-feira, 23 de setembro de 2009

PROTESTO FUNDADOR

Em Porto Alegre, pensei em ir ao Olímpico para ver Grêmio e Fluminense. Desisti no último momento, ao saber que o preço do ingresso mais barato era de 40 reais. (No início dos anos oitenta, o valor da arquibancada custava o equivalente a 10 reais, mais ou menos.) Mesmo dispondo do dinheiro, resolvi protestar não indo ao estádio.
Com os 40 reais, adquiri o livro A cabana, de William P. Young, e duas garrafas de vinho.
A propósito, ontem passei pelo mercado da Tritícola e simulei uma compra no valor do ingresso. Eis a relação: 05 kg de arroz (tipo 1); 05 kg de açúcar; 01 l de óleo comestível; 01 kg de farinha de trigo; 01 kg de feijão; 01 kg de sal; 01 kg de erva-mate; 01 cx de leite; 01 kg de banana; 01 kg de tomate; 01 kg de cebola; 02 l de coca-cola; e 01 kg de massa.
O que acontece? Ou o alimento está barato, ou o ingresso a um jogo de futebol está muito caro?
O povo necessita de pão e circo, já satirizava um poeta romano do primeiro século. Hoje o sabem os espertalhões. Pelo preço baixo, o pão é transformado no “carro-chefe” de políticos, principalmente dos que tiram proveito da popularidade para se reelegerem. Pelo preço alto, o circo é transformado na “galinha-dos-ovos-de-ouro” de cartolas e empresários.
Mesmo que o povo continue necessitando de pão e circo (desde a Roma de Juvenal), explorado ele não será para sempre. Um dia, aprenderá a multiplicar 40 vezes 4, por exemplo. Para assistir quatro jogos de seu time, a maioria dos torcedores terá de destinar 160 reais de seu salário mensal. Quando tal ocorrer, haverá protestos conscientes (contrários aos apelos da paixão). O povo não irá aos estádios. Os clubes sofrerão falência (à maneira do vendedor de banana que prefere vê-la apodrecendo a baixar o preço).
Meu protesto, todavia, não será lembrado como fundador.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

BANHO DE CIVILIZAÇÃO


Por volta de 1940, Heráclito Machado residia na Vila Florida, onde era farmacêutico e autodidata. Regularmente, vinha a Santiago. Na parada do ônibus, perguntavam-lhe aonde iria, e ele, dentro de um terno impecável, respondia que ia a Santiago "tomar um banho de civilização". No retorno, amigos e conhecidos indagavam-lhe sobre a viagem, sobre as novidades. Heráclito, depois de uma pausa proposital, enunciava com o discurso já conhecido na vila: O "povinho" está o mesmo de sempre.
Guardadas as proporções, poderia dizer que ir a Porto Alegre equivale a um "banho de civilização". Mas os tempos mudaram muito em meio século. Hoje não devo imitar Heráclito, a despeito de ter a mesma expectativa e da frustração, mas porque conceitos e valores civilizacionais mudaram (e continuam mudando). As grandes cidades, antes polos irradiadores de um modelo de vida pretensamente mais "civilizado", decepcionam por um excesso que muitos confundem com barbárie ou selvageria. A sujeira nas ruas, os assaltos, os engarrafamentos, o corre-corre consumista, a baixa qualidade do ar e da água, entre outros fatores atestam o lado não idealizado para uma evolução urbana (em que se perdeu o caráter de urbanidade).
As opções artístico-culturais que encontro em Porto Alegre ainda me possibilitam parafrasear o antigo morador da Vila Florida. Isso me faz lembrar Nietzsche mais uma vez: a única saída para o homem é a de compreender e de aceitar a existência e o mundo como um fenômeno estético.

PORTO ALEGRE


Esse fim de semana, fui a Porto Alegre para a festa de aniversário de 15 anos da minha sobrinha, Natália de Oliveira Pulcinelli (filha da Tânia e do Aurélio). No sábado, com a tarde disponível, ciceroneei a Erilaine pelo centro da capital. O comércio estava aberto, exceto os sebos e livrarias. Um indicativo de que o livro vende pouco. Lugares visitados: Instituto de Belas Artes da UFRGS (onde frequentei em 1982); Mercado Público; Praça da Matriz; Museu Júlio de Castilhos; Catedral; MARGS (em reforma para a Bienal); shopping (xópin) em frente à Alfândega; Usina do Gasômetro... Na Usina do Gasômetro, fomos para observar o Sol se pôr. Durante os dois anos em que residi na capital gaúcha, contemplei o pôr do Sol (ou pôr-do-sol?) no Guaíba de outros lugares. Nunca com tal exclusividade. No alto do 5º piso, tiramos umas dez fotografias da estrela tocando a linha do horizonte, que a essa hora se desfaz pela incidência da luz. Os barcos faziam o passeio no rio (que querem transformar equivocadamente em lago), alguns pássaros faziam seu voo rente a água, e os turistas se acotovelavam rente à mureta privilegiada. Na Usina, ainda vimos uma exposição de desenho e uma apresentação de dança. Para uma tarde de sábado, estava ótimo.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

DIA DA LEITURA

Sexta-feira é o dia internacional da cerveja, dizem os cervejeiros. Dia da maior expectativa do fim de semana. Ainda que alguns possam se queixar de cansaço (mais mental que físico, uma vez que apenas uma minoria trabalha pesado), a sexta já antecipa a folga, o lazer, a festa. Em Santiago, ela pode ser designada como o "dia da leitura". São quatro jornais santiaguenses: Folha Regional, Pampa Regional (editados na quinta) e Expresso Ilustrado. Dois santa-marienses: Diário e A Razão. Dois porto-alegrenses: Zero Hora e Correio do Povo. Outros jornais circulam em Santiago: Correio Regional e Comércio do Povo. Com a entrada em circulação do Expresso, a oferta se completa. O interessante é que há demanda.

PALPITE

Dos escritores abaixo, conheço Silviano Santiago, João Gilberto Noll e (de nome) António Lobo Antunes. De Silviano Santiago li Nas malhas da letra, crítica literária de alto nível. De Noll, li Hotel Atlântico. Um romance ruim. Depois de um comentário de Juremir Machado, dizendo que Lobo Antunes é superior a José Saramago, preciso ler esse autor português. Em 2007, ele ganhou o Prêmio Camões de Literatura, o mais importante em língua portuguesa. Aposto nele.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

PRÊMIO PORTUGAL TELECOM DE LITERATURA

17/09/2009 - 15h25
Prêmio Portugal Telecom de Literatura anuncia os dez finalistas
Foram anunciados nesta quinta-feira (16) os dez livros finalistas do Prêmio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa 2009, que será entregue no próximo dia 10 de novembro em São Paulo.
Estão classificados livros dos escritores brasileiros João Gilberto Noll, Nuno Ramos, Lourenço Mutarelli, Eucanaã Ferraz, Silviano Santiago e Maria Esther Maciel e os escritores portugueses António Lobo Antunes, Gonçalo M. Tavares, José Luis Peixoto e Inês Pedrosa.
Os autores dos livros que ficarem em primeiro, segundo e terceiro lugares receberão prêmio de R$ 100 mil, R$ 35 mil e R$ 15 mil, respectivamente.
As obras foram selecionadas por onze jurados e quatro curadores que, também elegeram o júri final.
Livros finalistas
"A arte de produzir efeito sem causa", de Lourenço Mutarelli (Cia das Letras)
"A eternidade e o desejo", de Inês Pedrosa (Alfaguara - Objetiva)
"Acenos e afagos", de João Gilberto Noll (Record)
"Aprender a rezar na era da técnica", de Gonçalo M. Tavares (Cia. das Letras)
"Cemitério de pianos", de José Luís Peixoto (Record)
"Cinemateca", de Eucanaã Ferraz (Cia das Letras)
"Heranças", de Silviano Santiago (Rocco)
"Ó", de Nuno Ramos (Iluminuras)
"O livro dos nomes", de Maria Esther Maciel (Cia das Letras)
"Ontem não te vi em Babilônia", de António Lobo Antunes (Alfaguara - Objetiva)
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Júri final:
Antonio Carlos Secchin
Beatriz Resende
Benjamin Abdala Júnior
Leyla Perrone-Moisés
Regina Ziberman
Sérgio Sá
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(Transcrito do UOL)

CAMINHO


meus olhos
cegam na luz
e cegam
na escuridão
.
sigo assim
pela penumbra
em dias claros
.
em noites
escuras
sigo o coração

em dias
escuros
sigo noites
..................claras

ENTREPALAVRAS

há discursos
entrepalavras
que levantam
catedrais

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

EVOLUÇÃO

Nessa tarde, falando no evolucionismo, um dos ouvintes me interrompeu para perguntar por que o chipanzé não evoluiu mais. Quanta vezes já me perguntaram isso? Essa inquirição, eivada de preconceitos religiosos, criacionistas, não serve como argumento contrário à teoria elaborado por C. Darwin. Primeiro, o homem não descende do chipanzé. O chipanzé e o homem descendem de uma espécie primordial, anterior a ambos. A partir de uma variação genética, o caule se bipartiu (entre seis e sete milhões de anos atrás). O chipanzé passou a sofrer menores e mais espassadas modificações, quando comparado com o hominídeo. Certamente, o chipanzé continuará evoluindo como chipanzé; e o homem, como homem. Acasos não acontecem com frequência. Essas duas espécies tendem a se diferenciar cada vez mais, mesmo que o homem faça o chipanzé aprender a ler. Um dos preconceitos (a que me referi acima) tem um nome: antropomorfismo, tendência a tomar o homem referencial absoluto. Por que a evolução do chipanzé deveria rumar para a forma humana? Basta o(s) deus(es) ter(em) essa forma.

SACOLA PLÁSTICA (II)

Agradeço ao Reiffer pelo comentário que fez à postagem abaixo. Sua discordância procede: todo plástico abandonado ao ambiente natural é ecologicamente incorreto. Meu desafio era escrever quase automaticamente, sem autocorreções, argumentando sobre um ponto de vista, qual seja, de que as sacolas plásticas blá blá blá, blá blá blá. Era um contraponto ao exagero de tomá-las como motivo de uma campanha ecológica. O pior, muito pior, consiste em contaminar a água, a ponto de acabar com qualquer forma de vida no meio aquático. Façamos o seguinte teste: coloquemos um pedaço de sacola plástica dentro de um aquário, esperemos de cinco a dez dias e descrevamos o que aconteceu com o peixinho; depois disso, entornemos uma gota de veneno, esperemos de cinco a dez minutos e descrevamos o que aconteceu com o peixinho. No lugar do peixinho, geralmente muito frágil, coloquemos uma indivíduo humano, infinitamente mais forte. Coloquemos uma sacola plástica em sua jarra com água potável, blá blá blá; depois disso, façamo-lo beber outra jarra com água de nossos córregos urbanos, blá blá blá. Coliforme fecal não faz mal, já outras bactérias...

terça-feira, 15 de setembro de 2009

SACOLA PLÁSTICA

Ontem, fui ao mercado da Rede Vivo da Neri G. Peixoto. Na hora de passar no caixa, pedi ao rapaz que colocasse minhas compras numa sacola retornável, aquela de alça que foi responsável por todo um marketing ecológico da Rede. Na época desse marketing, empurravam a dita sacola para os clientes, que retornavam às compras sem ela. A resposta que me deram é que deveria comprar a sacola retornável. Fui obrigado a rir, com a vaga lembrança de ter lido em alguma parte que a opção que fiz me daria um desconto de centavos. Pelo contrário: teria de pagar pela sacola (no momento, muito apropriada para levar o arroz, o leite, a cebola, o tomate, batata, queijo e quejandos para casa). Lá fui com uma dezena de sacolas plásticas. O puxa-saco já não comporta mais, obedecendo à lei da física: para cada sacola forçada a entrar na parte de cima, uma escapa por baixo (quando não arriam duas, três ou quatro). Ao cruzar por várias bocas-de-lobo (com hífen, mesmo que o VOLP tenha normatizado que não), uma ideia me ocorreu, digna de contraponto. Qual é o problema das sacolas plásticas? Dizem os ecologistas (que também sujam o ambiente natural) que elas são antiecológicas, seja porque demoram a ser desintegradas, seja porque entopem as bocas-de-lobo, fazendo com que as águas não escoem com maior rapidez. Pois bem, em que estado se encontra a líquida substância, ao transitar pelas fétidas bocas-de-lobo? Limpa ou putrefata? Em Santiago, como de resto em todas as cidades deste Brasil grande e relaxado, o esgoto leva o carimbo indesejável de "não-tratado", tanto o que corre pelas tubulações subterrâneas, quanto o que desce pelas sarjetas, a céu aberto. A interferência dos plásticos (sacolas, garrafas e o escambau), em relação ao fluxo das águas, diz respeito apenas ao retardo desse fluxo e consequente aumento de seu nível. As bocas-de-lobo são parcial ou inteiramente obstruídas, fazendo com que ocorra um fenômeno inverso, qual seja, do esgoto retornar para dentro das casas, lugares de onde ele foi gerado. Isso é muito comum quando chove, independentemente do índice pluviométrico. O mal das sacolas plásticas é de má consciência, denunciadora de um preconceito especista, pouco preocupado com as outras formas de vida, dependentes, como os próprios humanos, da água limpa, substância pura, vital para a sobrevivência. Dos elementos poluidores, certamente, a sacola plástica é das menos nociva. Seu uso massivo evita que o lixo que produzimos todos os dias se perca antes de ser recolhido, acondicionado precariamente. Depois desse contraponto peripatético, cheguei em casa, guardei minhas comprar na geladeira e no armário, dobrei as sacolas e as enfiei no puxa-saco. A despeito de ser pequeno o volume de lixo produzido aqui em casa, uma sacola é destinada para o orgânico, outra para os papéis e plásticos em geral e uma terceira para vidros e latas.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

PATRICK SWAYZE


Um dos bons atores hollywoodiano morreu neste dia: Patrick Swayze. Dos filmes que lembro dele atuando, cito Amanhecer violento, Dirty Dancing, Matador de aluguel, Ghost - Do Outro Lado da Vida, Cidade da Esperança, entre outros.

HOMEM-CAVALO


Ao iniciar a Semana Farroupilha, mais uma vez, escrevo sobre a compósita figura homem-cavalo. No passado, os dois se constituíam nos principais elementos da paisagem sulina, cuja relevância histórico-geográfica já chamou a atenção inclusive de José de Alencar (escritor do século XIX, nascido no Ceará, autor do romance O gaúcho). Esse passado a que me referi é tão recente que, tomando a evolução animal no planeta como referência, não há exagero em dizer que foi há pouco. (A palavra-chave é evolução.) Os fósseis e a filogenética molecular falam de eras anteriores aos mamíferos, classe a que pertencem o homem e o cavalo. Com a extinção dos dinossauros, há 65 milhões de anos, os mamíferos iniciam um processo de diversificação e ocupação dos nichos ecológicos vagos. Muitos milhões de anos se passariam para ocorrer uma subdivisão dos mamíferos: monotrenatas (que põem ovos), marsupiais e placentários. Os placentários, muitos milhões de anos mais tarde, subdividir-se-iam em várias ordens, entre as quais os perissodactylos (a que pertence o cavalo) e os primatas (a que pertence o homem). Antes dessas divisões, no entanto, a maioria dos genes que caracterizavam os primeiros mamíferos iriam se repetir (replicar) nas espécies subseqüentes até dar origem ao cavalo e ao homem. Isso significa dizer que os dois animais já pertenceram a uma mesma espécie ancestral (entre 71 e 75 milhões de anos atrás). A propósito, todos os seres vivos se originaram da primeira molécula replicadora que surgiu na Terra (discursa Richard Dawkins). O homem, dotado de um cérebro maior, domesticou o cavalo, inventou um deus para si, faz história e desfila na Semana Farroupilha.
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(Com alguns ajustes, a postagem acima será a próxima coluna do Expresso Ilustrado.)

sábado, 12 de setembro de 2009

CADERNO CULTURA (ZH)

O caderno Cultura do Zero Hora está interessante, interessantíssimo. Manchete exclusiva da capa: Ocaso de um povo, sobre um estudo de pesquisador uruguaio que mostra o genocídio dos índios charruas. Nas páginas 4 e 5, ampla matéria com o título O fim chegou em Salsipuedes (nome do riacho no interior do Uruguai, às margens do qual ocorreu o massacre dos últimos charruas).
A história é terrível, como o é a História, que o poeta Shelley não lia porque lhe parecia "uma abominável enumeração de misérias e crimes" (Will Durant). O "herói" que comandou esse extermínio foi Fructuoso Rivera, que deu nome à cidade muito conhecida dos gaúchos.
(Os períodos em azul são deste blogueiro.)
Na página 2, José Ivo Follmann, padre jesuíta, doutor em Sociologia, escreve sobre um simpósio internacional na Unisinos, que debaterá as melhores formas de falar sobre Deus. "Como falar sobre Deus numa sociedade pós-metafísica?" A primeira conclusão a que chega o autor é do "diálogo interreligioso". A segunda é da diversidade religiosa. A terceira, a "desmistificação do religioso". Não entendi o doutor jesuíta: defende a multiplicidade religiosa e a desmistificação do religioso? Por favor, alguém me ajuda a aceitar isso.
Toda forma de falar sobre Deus é autoafirmação do homem, seu criador.
Página 3, sobre a imprensa: Um poeta do espaço gráfico, sobre Anibal Bendati.
Página 6, Bicca à beira do rio. Renato Mendonça escreve um excelente artigo sobre José Lewis Bicca: "O coração silenciou Zé Bicca, 71 anos, um dos criadores do Festival da Barranca, em São Borja, e do grupo Os Angueras".
Página 7, Celso Loureiro Chaves escreve um artigo sobre a música eletroacústica: "De todas as músicas de concerto que há por aí, a única que é produto único e exclusivo do século passado é a música eletroacústica".
Na última página, Luís Augusto Fischer dedica sua coluna tripartida ao gaúcho: O gaúcho teme a cidade; O gaúcho acampado; e O gaúcho domesticado. Vale a pena ler.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2010

Já escrevi dois ou três textos para exaltar o sexto capítulo de Mateus, especialmente o versículo 24: "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um, e amar ao outro; ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas".
Apesar de não acreditar na revelação, de não mais me considerar um cristão, meu objetivo era (e é) expor a contradição daqueles que creem, que citam exaustivamente a Bíblia, mas que vivem apegados às coisas mundanas, aos negócios, aos bens materiais (consumidores que são).
Com o propósito de solucionar essa discrepância entre fé e obra, geradora de contradição, o cristão Edir Macedo criou a doutrina da "prosperidade (terrena) como uma das promessas de Deus". A maioria dos cristãos vive atrás dessa properidade. A pobreza voluntária faz parte do passado.
O tema da Campanha da Fraternidade para 2010 já foi escolhido: Economia e Vida. O lema: "Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro" (Mt 6,24).
A despeito de seu ecumenismo, com objetivos interessantes, essa campanha não mudará o coração das pessoas. Elas continuarão servindo a dois senhores, a Deus e a Mamom. Ao primeiro, discursivamente, com algo meio doentio chamado de crença. Ao segundo, praticamente, com os desejos, com uma doença psíquica chamada de consumismo.
Execram o ateu, mas ele está a salvo dessa contradição (e da hipocrisia consequente).

PAMPA REGIONAL (II)

Após a postagem de ontem, saí na esperança de encontrar um exemplar do novo jornal de Santiago. Na lanchonete da esquina da Bento com a Neri, encontrei o que procurava. Durante a leitura, recebi uma ligação do Rafael Nemitz. Em cinco minutos, o editor do Pampa Regional mandou-me o primeiro número do jornal, o qual está sendo distribuído nesta sexta-feira.
Agradeço ao Nemitz pela deferência, o que me impõe a postar novamente sobre o novo semanário.
O compromisso que o jornal assume é com a verdade, a tão desejada verdade, questionada por Pilatos e respondida filosoficamente por Heidegger.
Os fatos se sucedem, e a verdade de sua informação também.
O jornal caprichou na reportagem com o prefeito de Unistalda, Moisés Gonçalves, mas, ainda ontem, o blog do Júlio Prates já editava sobre a cassação do político unistaldense.
Os blogs estão obrigando os jornais a serem mais ágeis, mais cuidadosos na escolha da informação, sob pena de não corresponder à verdade do momento. Em Santiago, a blogosfera ainda é reduzida, para sorte das formas de jornalismo ortodoxas.
Todo semanário, coerente com a sua periodicidade, deve manter o interesse do leitor pelo menos dois ou três dias. Por isso, minha preferência pelos editoriais e artigos de opinião. Tais gêneros não se desatualizam com a rapidez das notícias, por exemplo.
Os erros gramaticais, de digitação ou diagramação são normais, não há jornal que não os cometa involuntariamente. Mesmo assim, a participação de um revisor é indispensável.
Novos colunistas, certamente, virão para o próximo número.
Desejo sucesso ao Pampa Regional

BOYER

Uma comentarista anônima me pergunta onde pode encontrar o livro de Boyer (em português ou inglês). Boyer?, pensei, pensei... Boyer? Por algum tempo, boiei. Logo me ocorreu que em minha biblioteca há um livro chamado Porque não somos nietzscheanos. (Também leio o outro lado, ora.) Os autores dessa contestação a Nietzsche são filósofos franceses da atualidade, entre os quais Alain Boyer (que escreve o ensaio Hierarquia e verdade). Li duas vezes o livro. Nietzscheano convicto, prefiro Gilles Deleuze e Clément Rosset. Atualmente, não tenho acesso à minha biblioteca (cômico, se não fosse trágico). Não poderei atender a leitora anônima, que deu a pinta de estar me testando ao lançar um "Boyer" descontextualizado. Ela foi apenas lacunar, lacônica demais.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

PAMPA REGIONAL

Eis o nome do mais novo jornal de Santiago (e região). A propósito, "e região" já se constitui numa redundância, uma vez que a nossa cidade é polo de uma microrregião muito fácil de ser desenhada: Jaguari, Nova Esperança, São Francisco de Assis, Unistalda, Itacurubi e Capão do Cipó. Forçando uma abrangência um pouco maior: Manuel Viana, Bossoroca, São Vicente e Mata. O Expresso Ilustrado, no que cabe a um veículo de comunicação, já representa um elo a interligar tais municípios.
O jornal deverá fortalecer os traços do espectro microrregional, com sede na Terra dos Poetas. Isso é adiantado nas palavras de Rafael Nemitz em sua última postagem: "Nesta primeira edição, imprimimos apenas 1.500 exemplares mas, a partir das próximas edições, aumentaremos gradativamente a tiragem".
A primeira edição será decisiva para conquistar o público leitor, mais exigente nestas alturas. Quanto ao segundo qualificativo (o primeiro é ser de âmbito regional), "um jornal de compromisso" (de quê?, com o quê?), apenas o tempo confirmará ou não.
O discurso deve corresponder à obra.
Como santiaguense e leitor (não necessariamente nessa ordem), estou ansioso para conhecer o novo jornal. Fotos, manchetes, diagramação, layout, tudo conta para a qualidade, que deve ser o primeiro compromisso. O Beto Menegat é competente nesse mister.
Entre todos os gêneros reunidos num jornal, tenho uma preferência pelos editoriais e artigos de opinião. Os fatos necessitam de uma análise.
De posse de um exemplar do Pampa Regional, farei nova postagem sobre esse fato jornalístico.

CICLONE, TORNADO, FURACÃO...

Após a repostagem no Bom Dia Brasil dessa manhã, mostrando os estragos na cidade de Guaraciaba (SC), perguntei aos meus colegas qual a diferença entre ciclone e tornado. Um chute aqui, outro ali, mas nada de uma resposta categórica. Um rapaz mineiro, "chei de" convicção, arriscou que um deles se formava no continente e outro no mar. As dúvidas em relação a esses fenômenos climáticos têm duas causas: a empírica (pela falta da experiência) e a conceitual (pela falta de conhecimento linguístico). Os gaúchos sabemos o que seja um redemoinho, um pé-de-vento (com hífen, mesmo que o VOLP normatize que não).
Abaixo, transcreverei o que Houaiss define como ciclone, tornado, furacão e quejandos (essa palavra significa "que ou que é da mesma natureza, do mesmo jaez").
ciclone s.m 1. MET centro de baixa pressão atmosférica que se caracteriza pelo movimento intenso de corrente de ar, as quais convergem dos bordos para o centro e se deslocam para fora a alturas mais elevadas da troposfera [..] 2. MET tempestade de ventos muito violentos que giram em turbilhão e se deslocam a grande velocidade 3. p. ex.infrm. vento devastador.
furacão s.m 1 MET espécie de ciclone, ventania devastadora; tempestade, tufão [Fenômeno comum na América Central, Flórida, Pacífico e Atlântico Norte, onde se caracterizam por ventos que chegam a alcançar o número 12 na escala de Beaufort.]
tornado s.m MET tempestade de grande violência representada por um núcleo ou nuvem em forma de cone no centro e que, girando velozmente, se afunila a partir de um pequeno diâmetro na superfície terrestre, onde derruba e arranca árvores, destrói construções, arrasa cidades etc.
tufão s.m 1 furacão nos mares do Oriente, esp. no da China 2. p. ext. vento muito forte; ventania, vendaval, pé-de-vento.
O que diferencia um ciclone de um tornado é pouca coisa. O conceito, per se, não é suficiente para evidenciá-la. A melhor resposta no Yahoo confunde ainda mais, uma vez que o ciclone, quando ocorre no mar, vira tornado, ou tromba d'água.
Como ninguém é louco para querer viver perigosamente uma experiência no meio de um ciclone ou de um tornado, continuemos ignorantes e saudáveis.
Agora me lembro de Gibran Kahlil Gibran, escritor libanês, que escreveu para o homem amar as tempestades, em vez de fugir delas. Sim, as tempestades "que matam as flores, mas nada podem contra as sementes". Gibran era poeta.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

DE VOLTA ÀS ESTRELAS


Corpo celeste em formato similar ao de uma borboleta é captado pelas lentes do Hubble. Trata-se de uma estrela moribunda, com massa cinco vezes superior à do sol, rodeada por gases de mais de 19.000 graus centígrados. A nebulosa foi apelidada de Mariposa.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

ESTRELA E ESTRELA

Depois de algumas postagens sobre estrelas referenciais, quebro a sequência com esta sobre uma estrela no sentido figurado: Scarlett Johansson.
Notícia no www.uol.com.br
"Sempre quis ser Frank Sinatra", diz Scarlett Johansson (que já foi eleita a mulher dos seios mais belos do mundo pela revista americana In Touch).
A atriz Scarlett Johansson, que lança seu segundo disco, disse em entrevista ao jornal britânico "The Times" no último domingo, que Frank Sinatra foi um de seus ídolos na infância e que pretende ter uma voz como a dele no futuro.
Muita pretensão da jovem atriz ("Encontros e desencontros", "Match Point", "Moça com brinco de pérola", "Homem de Ferro 2"). Não contente com seus atributos naturais, quer ter a voz de Sinatra. Sua declaração apresenta duas figuras de linguagem: a metonímia (explícita), a voz pelo cantor; e a hipérbole (implícita), exagerado desejo de cantar bem.
Sua vontade não seria descabida, se tomasse Madona como modelo.
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escandal:
Scarlett d'escarlate

UM OLHAR ESPECIAL


Caro leitor, o que vês ao olhar para o céu? Durante o dia, o Sol, nuvens, pássaros... À noite, a Lua e as estrelas. Alguns planetas são visíveis, com destaque para Vênus (denominada de Estrela D’Alva). Três galáxias podem ser vistas sem o auxílio de instrumento: Grande Nuvem de Magalhães, Pequena Nuvem de Magalhães e Andrômeda. Essas galáxias são manchas de luz: as Nuvens de Magalhães ao sul, nas cercanias do Cruzeiro do Sul; Andrômeda ao norte, nos costados da Constelação de Andrômeda (que são estrelas da nossa galáxia). Uma curiosidade: a Grande Nuvem de Magalhães é a mancha pequena; a Pequena Nuvem, a mancha grande. À exceção das três galáxias, tudo mais pertence à Via Láctea. Dessa forma, poderás dizer que o aqui, belvedere de onde observas, encontra-se lá, em meio àquelas estrelas. A Via Láctea, o Caminho de Leite, tem uma extensão de 100 mil anos-luz (cada ano-luz equivale a 9,46 trilhões de quilômetros). A velocidade da luz é de 300 mil km/s – que devem ser multiplicados pelo número de segundos contidos num ano. O diâmetro da Via Láctea multiplicado por 25 vezes é a distância que nos separa de Andrômeda, o objeto mais distante que tu podes ver em noite sem luar, longe das luzes da cidade. Imagina o espaço vazio que há entre uma galáxia e outra! Esse espaço não é nada comparado àquele que está à frente do universo em expansão. A alguns bilhões de anos, a força que impele todas as estruturas para fora cederá, provocando a contração, o big crunch. Ao olhares para o céu, não te esqueças de ti, como ser que contempla, como ser que pergunta. A consciência humana representa um momento extraordinário. O próprio universo é que se olha por intermédio de ti, caro leitor.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

VERSOS ESPARSOS

o ar
no mar
é maresia
.
medo
me dá
de andrô
..............meda
.
ávida
de vida
viu-se grá
..............vida

domingo, 6 de setembro de 2009

ANDRÔMEDA A OLHO NU

Para observar Andrômeda, basta olhar para o norte, um pouco acima da linha do horizonte. Noite sem luar, longe das luzes da cidade. A galáxia de Andrômeda é a mancha branca enquadrada à direita das três estrelas que formam a cintura da "Princesa acorrentada", Andrômeda, figura celeste formada por estrelas da nossa galáxia. Isso mesmo! A constelação e a galáxia são coisas diferentes, a despeito do nome.

PERGUNTA AOS ASTROFÍSICOS


A Lei de Hubble diz que as galáxias se afastam umas das outras com uma velocidade proporcional à sua distância. A distância de uma galáxia é determinada pela "deslocação para o vermelho", submetendo a luz emitida por ela a espectroscópio. A partir da descoberta de Hubble concluiu-se que o universo se encontra em expansão, o que infere um ponto comum de onde divergiu todas as estruturas existentes - o big bang. E se não fosse a força da grande explosão a determinar esse afastamento? No mesmo pensamento, e se não fosse a força graviacional a responsável por um possível retraimento do universo expandido? A matéria escura não poderia ser a determinante desses movimentos opostos, comparáveis à sístole e à diástole? A cada big bang se seguiria inexoravelmente um big crunch?

Minha pergunta seguinte é dirigida aos astrofísicos: como explicar que a Via Láctea, nossa galáxia, está em rota de colisão com Andrômeda, há 2,5 milhões de anos-luz de distância e a uma velocidade absurdamente grande.

Essa colisão contradiz a Lei de Hubble. Depois de tanto tempo se afastando, como explicar o arco de aproximação? O "canibalismo" aparente de Andrômeda, aumentando sua força gravitacional ao engolir galáxias menores que encontre pelo caminho, determina o encontro futuro com a Via Láctea (quase a metade do seu tamanho)?

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

A LUA (ESTA NOITE)



a lua
sobe nos meus olhos
quando desço
a rua

a lua
desce dos meus ombros
quando subo
a rua

a lua
soubesse
que desço
quando subo
a rua

nos meus ombros
ficaria
para sempre
nos meus olhos
lua
....rizada
e nua

GRANDE RUI BARBOSA!

"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto".
Quase um século depois, o discurso de Rui Barbosa, que na época tinha um tom profético de indignação, descreve a crise de valores do presente. Nos últimos cinco anos, o Brasil retrocedeu uns cinquenta. Exemplos não faltam de uma degeneração ética da sociedade, principalmente na figura de nossos governantes. No âmbito eletrônico, incluindo o blog, o novo caráter dominante é caracterizado pelo throll - sujeito que gosta de comentar, de preferência anonimamente, criar confusão, tripudiar, bazofiar... Sempre de plantão, diante da postagem abaixo, por exemplo, o throll não se manifesta; em contrapartida, abrirá um bocão contra o que direi a seguir. Em Santiago, o tempo das nulidades e das desonras já chegou, com a santificação de um assassino.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

IDEIAS DE UM BLOGUEIRO


I
O big bang não é uma teoria que intente explicar a origem deste universo; designa, isto sim, a verdade sobre o fenômeno mais recuado no tempo a ser descoberto pelo homem. Ainda que representado por uma metáfora, esse começo não poderá mais causar o deboche dos deturpadores do conhecimento científico. Os criacionistas logo emendarão seus discursos, para tornar equivalentes a grande explosão e o “fiat lux” divino. Não há outra forma de evitar a quarta frustração da parcela judaico-cristã da humanidade (depois do que se conheceu com Copérnico, Darwin e Freud).

II
O avanço da ciência sempre veio precedido da especulação filosófica. Sem a pergunta inaugural, não há resposta definitiva. Aristóteles, o primeiro grande sistematizador, só foi possível a partir de Tales de Mileto, Anaxágoras, Demócrito, todos os denominados pré-socráticos. Não obstante o conhecimento tenha se fragmentado, cada especialidade conta com grandes teóricos, perguntadores. A resposta a que chegou Edwin Hubble (1929), sobre a expansibilidade deste universo, permitiu novas perguntas acerca do big bang.

III
Como apologista da ciência (e da filosofia que a precede), arrogo-me o direito de especular sobre este universo. Por que “este” universo (repetido nos fragmentos acima)? A resposta é que pressuponho outro(s) universo(s). Este universo, com princípio, meio e fim, representa uma parte do todo, momentaneamente estruturada. O todo é eterno. Matéria e energia. Milhões e milhões de galáxias foram geradas a partir do big bang, num processo que imitaria, em escala inimaginavelmente maior, a formação do Sistema Solar, por exemplo. O pensamento, que viaja trezentas duodecilhões de vezes mais rápido que a luz, permite-me ver este universo como não sendo o único, contrariando um preconceito atomista.
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(Até o século XX, confundia-se a Via Láctea com todo o universo. Hoje se sabe que Andrômeda, por exemplo, uma das três galáxias vistas da Terra a olhu nu, é maior que o nosso conglomerado de estrelas. São milhões e milhões de galáxias neste universo que, por enquanto, sabe-se ser único.)

terça-feira, 1 de setembro de 2009

CIRCUNCISFLÁUTICO

Uma palavra para me autodefinir exatamente agora: CIRCUNCISFLÁUTICO. Depois da postagem abaixo, o visitante deste blog poderá me atribuir o primeiro significado dado por Houaiss: que parece ter muitos méritos e qualidades, pretencioso, afetado, pedante. Pré-julgamento equivocado. Da mesma forma, não é a segunda acepção do termo que melhor fará um retrato de mim. Por derradeiro, restará ao caro leitor chegar à conclusão de que me encontro meio sorumbático, meio macambúzio esta noite. Triste, para ser fiel à terceira definição metalinguística.

LÓGICA DO PIOR

Hoje recebi o e-mail abaixo:
Bom dia, não sei se por sorte ou coincidência, encontrei um dos seus textos aqui na internet e percebi que vc é um estudioso de filosofia, ou melhor, estuda filósofos como Nietzsche, Clément Rosset, entre outros. Pois bem, eu, Erick Max Humberto que resido atualmente em Brusque, Santa Catarina, curso faculdade de filosofia na Faculdade São Luizt, estou desenvolvento um trabalho sobre Clément Rosset e venho por meio deste pedir alguma orientaçao ou ajuda. Posso parecer um pouco ousado, mas já viu estudante tem que correr atrás.
Desde já agradeço.
Atenciosamente
Academico Erick Max Humberto
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É a segunda vez que me escreve.
De Porto, Portugal, Thiago Sales me pediu para enviar-lhe Lógica do pior, de Rosset, uma vez que lá se tratava de um livro raro.
Li outros livros de Rosset: O real e seu duplo, Princípio de crueldade e Antinatureza. Em breve, procurarei ler tudo o que já foi publicado em português desse que é o maior nietzscheano vivo.
No Capítulo I, Do terrorrismo em filosofia, o pensador pergunta sobre a possibilidade de uma "filosofia" trágica. Sete páginas adiante, responde que sim. O livro Lógica do pior é essa resposta afirmativa.
O texto começa assim:
A história da filosofia ocidental abre-se por uma constatação de luto: a desaparição das noções de acaso, de desordem, de caos. Disso é testemunha a palavra de Anaxágora: "No começo era o caos; depois vem a inteligência, que arruma tudo". [...] Todos aqueles para os quais a expressão "tarefa filosófica" tem um sentido - quer dizer, quase todos os filósofos - concordarão com efeito em pensar que essa tarefa tem por objeto próprio a revelação de uma certa ordem. [...] O exercício da filosofia recobre uma tarefa séria e tranquilizadora: um ato simultaneamente construtor e salvador. [...] Opostamente e à margem dessa filosofia, houve, de quando em quando, pensadores que se determinaram uma tarefa exatamente inversa. Filósofos trágicos, cujo alvo era dissolver a ordem aparente para reencontrar o caos enterrado por Anaxágoras; por outro lado, dissipar a ideia de toda felicidade virtual para afirmar a desgraça. [...] A filosofia torna-se assim um ato destruidor e catastrófico. [...] Assim apareceram sucessivamente no horizonte da cultura ocidental pensadores como os Sofistas, como Lucrécio, Montaigne, Pascal ou Nietzsche - e outros. Pensadores terroristas e lógicos do pior. [...] O que há de comum aos Sofistas, a Lucrécio, a Pascal e a Nietzsche, é que o discurso segundo o pior é reconhecido de saída como o discurso necessário.
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Clément Rosset distingue os filósofos trágicos dos pessimistas, como Schopenhauer: "O pessimista fala após ter visto; o terrorista trágico fala para dizer a impossibilidade de ver".